terça-feira, 1 de junho de 2010

Bárbara Freitag lança Capitais Migrantes e Poderes Peregrinos

Obra que conta "a história de vida" da Cidade Maravilhosa será lançada nesta terça, no Auditório da Reitoria


Celso Silva Fonseca - Especial para a UnB Agência

Bárbara Freitag, socióloga de reconhecido mérito acadêmico pela proficiência das pesquisas realizadas e pelas obras publicadas, agora nos apresenta sua nova obra Capitais Migrantes e Poderes Peregrinos: o caso do Rio de Janeiro (Ed. Papirus). Bárbara, professora emérita da Universidade de Brasília que se notabilizou pelos estudos realizados no campo da política educacional brasileira, serviu-se do aparato teórico e metodológico construído nos diversos estudos realizados nas universidades alemãs e brasileiras para debruçar-se em novo campo de pesquisa: as teorias da cidade. Em 2006, publicou a obra Teorias da Cidade, coedição da Papirus com a Biblioteca Nacional.

A obra Capitais Migrantes é resultado de pesquisa integrada, desenvolvida na Universidade de Brasília com apoio do CNPq, durante o período 2000 a 2008. Constitui-se de um estudo denso, fruto de compulsão documental de fôlego e reflexões de diuturnas horas. O exercício da escrita e a disciplina da escritora permitiram a elaboração de um texto leve, fluente, no qual o leitor espacializa-se em cenários históricos, políticos e sociológicos com olhos curiosos e, ao término do parágrafo, agradecido pela explicação e correção das informações.

Capitais Migrantes apresenta a história de vida do Rio de Janeiro. Digo história de vida porque a leitura nos faz sentir o pulsar do dia a dia dos habitantes e da cidade numa relação de contrários e consortes, numa comunhão confessa e inconfessa dos senhores do poder e, também, nos odores, sabores e dissabores dos homens na construção e na defesa de suas vidas. Ao longo da obra, nós, “leitores cariocas” – o leitor torna-se cidadão do Rio de Janeiro por artimanha da autora –, recepcionamos a transferência da capital de Salvador para nossa cidade. Igualmente, recepcionamos D. João VI e a família real.

A primeira recepção em meados do século XVIII e a segunda nos primórdios do século XIX transfiguram o Rio de Janeiro. As mudanças ocorrem na arquitetura das construções, nas ruas e calçamentos, mas igualmente ocorrem no vestuário, na linguagem, nas perspectivas e, até mesmo, nas ilusões dos homens. O Rio de Janeiro vai tornando-se Reino Unido; o Rio de nascença americana alça voo para compartir fronteiras europeias, agora metrópole e sede de Reino. Com fôlego juvenil avançamos nas páginas e presenciamos atônitos, admirados e até mesmo alienados à Proclamação da Independência e ao Golpe da Maioridade. Para alguns desses atos, nós, cidadãos do Rio de Janeiro, fomos convidados, para outros, ignorados. Ou melhor, algumas pessoas foram convidadas e outras, a maioria, sequer foram lembradas. Bárbara nos mostra que, na esfera do poder, os cidadãos, nós, habitantes do Rio, valemos pouco. Não raramente, não valemos nada.

Nesse intervalo de atos, o Rio adquiriu conteúdos e suplementos, ganhou novos adereços e matizes, suas esquinas e avenidas respiraram outros ares e os homens aspiraram outros patamares. Afinal, D. Pedro II distribuía benesses para a aristocracia burocrática e política e simpatias para os demais cidadãos. Eis que nos surpreendemos com nova proclamação, agora a da República. Muitos perguntaram por que, o que houve? Aqueles que a fizeram muito bem sabiam porque a faziam. A República era a chave da porta de entrada ao poder para os novos senhores. A seguir, num intervalo de 37 anos, novas escaramuças, articulações, rearticulações e presenciamos a trama do Estado Novo.

O Rio de Janeiro vestiu todas as fardas exigidas pelas circunstâncias, sua personalidade urbana foi sendo maquiada conforme as cores do poder vigente, e os seus homens, os que pisavam o seu solo e os que sobre ele trafegavam em seus veículos, foram mimetizando essas trânsfugas realidades. Muitos resquícios, reminiscências e lembranças se registraram em sua alma e seu corpo, o Rio de Janeiro tornou-se unidade de diversidades, conjunto de pares e ímpares, tornou-se também litoral visto pelos olhos da serra. Muitos homens, embora excluídos, apinharam-se no morro para ainda continuarem no Rio.

Por fim, aconteceu, não foi possível impedir, a capital foi transferida para Brasília. Houve desconsolo e muito desconforto. Houve desolação. O Rio de Janeiro respirou fundo, arregaçou as mangas e prosseguiu. Cumpre, hoje, o destino que nós, moradores do Rio e de todo o País, estamos a lhe conferir.

A leitura da obra Capitais Migrantes, de autoria da professora Bárbara Freitag, é inadiável.

*Celso Silva Fonseca é professor do Departamento de História da UnB.


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