quarta-feira, 28 de setembro de 2022

 

Lula no SBT: Bolsa Família de R$ 600 e reunificação do Brasil

Em entrevista na noite desta terça-feira (27), ex-presidente afirmou que o Brasil é um país de paz, amor, carinho, fraternidade e solidariedade

Lula: "Isso é um sonho de qualquer política pública governo, gerar empregos, salário, mais empregos, e não ter mais programa de distribuição de renda se todo mundo estiver trabalhando" (Foto: Ricardo Stuckert)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, em entrevista ao Jornal do SBT nesta terça-feira (28/09), o Programa Bolsa Família no valor de R$ 600, com as contrapartidas em saúde e educação, a reunificação do país e uma nova política tributária e sobre o preço dos combustíveis.

“O Bolsa Família é um programa que não é apenas uma distribuição de dinheiro. Ela tem condicionantes, a mulher tem que colocar os filhos na escola, vacinar e, se ela estiver grávida, precisa fazer o pré-natal”, explicou.

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O ex-presidente acrescentou que vai manter o R$ 600, com acréscimo de mais R$ 150 por filho com até seis anos de idade. “Isso vai perdurar até que a gente consiga criar empregos necessários para que as pessoas consigam viver às custas do trabalho. Isso é um sonho de qualquer política pública governo. Gerar empregos, salário, mais empregos, e não ter mais programa de distribuição de renda se todo mundo estiver trabalhando.”

Reforma Tributária e reunificação do país

Na entrevista, Lula afirmou a necessidade de uma reforma tributária e do reajuste na tabela do Imposto de Renda. “Quando eu era presidente, fui na porta de fábrica anunciar que íamos reajustar o Imposto de Renda para não prejudicar o trabalhador. A verdade é que quem vive de renda e lucro não paga imposto e a sonegação no Brasil é muito grande. Então, nós vamos ter que fazer uma reforma tributária, com debate com empresários, políticos e sindicalistas. Tem que ser uma vontade da sociedade”, disse ele. “Uma nova política tributária é uma exigência da sociedade brasileira.”

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Lula defendeu também a reunificação do Brasil. “Esse país é de paz, amor, carinho, fraternidade e solidariedade. É isso que nós vamos fazer. E nós vamos voltar a divergindo, rindo um do outro, por que é assim que se faz política.

Preço da gasolina

O ex-presidente criticou a decisão de Bolsonaro em de mexer no ICMS para reduzir o preço da gasolina. E disse que o país precisa ter um preço justo. “A Petrobras precisa que o preço seja em real. Ele [Bolsonaro] não teve coragem, se acovardou diante dos acionistas estrangeiros e internacionais. Nós vamos enfrentar isso. Um país do tamanho do Brasil, que descobriu o pré-sal, precisa refinar petróleo e ser exportador de derivados, não de óleo cru.”

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O Brasil não precisa de teto de gasto, afirmou Lula. “Isso é para alguém que não tem competência de governar. Quando eu fui presidente nós reduzimos a dívida pública interna, pagamos a dívida do FMI, criamos uma reserva, combatemos o desemprego e a inflação”, explicou.

Segundo o ex-presidente, para isso, é preciso ter credibilidade, estabilidade e previsibilidade. “Quando o presidente falar as pessoas precisam acreditar. Não pode mudar toda hora. As pessoas precisam saber o que vai acontecer. O atual presidente não tem nenhuma dessas, ele prefere viver de fake news, contar causo, mentir todo dia, então ninguém acredita nele, ninguém investe, a economia não cresce.”

Do site lula.com.br

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Em evento com atletas, Lula fala em fazer 'revolução' no esporte: "precisamos mudar a visão dos governantes"

 

Em evento com atletas, Lula fala em fazer 'revolução' no esporte: "precisamos mudar a visão dos governantes"

"Se o Estado não intervir, não acontecerá. Nenhum empresário, por mais avançado que seja, vai investir em um atleta antes de esse atleta provar que pode dar retorno", afirmou

www.brasil247.com - Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reprodução)
 

247 - No evento 'Esporte pela Democracia', organizado com a presença de esportistas nesta terça-feira (27), o ex-presidente Lula (PT) falou sobre a importância do papel do Estado no financiamento da carreira de atletas e na implementação de estruturas que favoreçam a inclusão social nas mais diversas modalidades esportivas.

"É preciso que o Estado se coloque de acordo de que nós precisamos mudar o padrão para que a gente possa acreditar na prática do esporte. Se o Estado não intervir, não acontecerá. Nenhum empresário, por mais avançado, progressista que seja, não vai investir em um atleta antes de esse atleta provar que ele pode dar retorno financeiro. Por isso que criamos o Bolsa Atleta. Era para garantir que as pessoas que não são famosas, mas que têm qualidades esportivas, possam praticar. Como é que uma criança que mora em Heliópolis vai treinar natação? Como é que vai treinar basquete, vôlei, qualquer esporte? O que nós precisamos fazer é uma revolução, é mudar a visão da prática esportiva na cabeça dos governantes, a nível municipal, estadual e federal. E tem que ter dinheiro, porque se não tiver dinheiro não acontece", declarou o presidenciável petista.

O candidato também aproveitou o espaço para desmistificar a ideia de que a carreira esportiva é sempre altamente lucrativa: "Quando a gente fala em jogador, a gente só pensa nos caras que estão na Seleção [Brasileira], nos caras que estão na Inglaterra, na Espanha, que estão ganhando muito dinheiro. A verdade nua e crua é que no Brasil inteiro, 90% dos jogadores de futebol ganham nada, os caras ganham no máximo um salário mínimo. Essa é a realidade do futebol brasileiro, da maioria."

Lula também falou em mudar o conceito de que aplicar dinheiro na estrutura das escolas para a prática de esportes é 'gasto'; para ele, isso é 'investimento': "Vocês (atletas) têm que aproveitar o fato, se eu ganhar as eleições, (...) é o momento de vocês dizerem o que tem que fazer. Precisamos mudar as nossas escolas, precisamos mudar a cabeça dos nossos prefeitos. O problema é que quando vai fazer o orçamento da prefeitura e você faz uma escola que tem uma piscina, duas quadras, mais não sei o quê. Sabe o que acontece? O secretário da Fazenda chega para você e fala: 'prefeito, não tem como fazer isso porque esse gasto a gente não pode fazer'. Ora, é só mudar o conceito. Em vez de colocar na rubrica de gastos, coloca na rubrica de investimento para saber se vai conseguir fazer ou não. O benefício que ganha a sociedade, a cidade, é muito grande. E você utiliza esse lugar para as pessoas da terceira idade andarem".

"Não tem mais campo de futebol em quase lugar nenhum. Então a molecada está cerceada. Quem é que pode virar jogador de futebol? Aquele que tem um pai que pode pagar uma escolinha", analisou. "Quando a gente for construir uma proposta de esporte, a gente primeiro precisa pensar o esporte como um instrumento para cuidar da saúde de uma parte da nossa sociedade. Como uma coisa que garante a segurança e a formação do ser humano em vários outros esportes na idade escolar. Uma criança fica na escola, da creche ao ensino fundamental, dá quase 14 anos, é aí o lugar onde a gente tem que pensar na iniciação esportiva para todos os esportes. E aí vamos ter que mudar o conceito da nossa escola. É preciso fazer uma revoluação na arquitetura brasileira, porque todas as escolas têm padrão igual. É um monte de concreto, de preferência vertical, com uma quadrinha de basquete e futebol de salão sem rede. Então precisamos mudar o conceito. A escola tem que ser um instrumento de múltipla funcionalidade".

O presidenciável petista celebrou o esporte como forma de ascensão social e afirmou que o crescimento esportivo de um atleta deveria ser acompanhado por uma formação intelectual, carregada de consciência política: "A coisa que me dá mais orgulho é ver um menino pobre da periferia vencer na vida, e a coisa mais fantástica ainda é o cara que vence na vida e a primeira coisa que ele fala é que ele quer comprar uma casa para mãe. Qualquer jogador pobre, quando ele fica famoso e ganha dinheiro, quer comprar uma casa para mãe, dar conforto para a família. Uma coisa que eu acho que falta é um pouco de consciência política, para que eles passem a mensagem para o restante da sociedade brasileira."


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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Ao vivo 26/09 | Super Live Brasil da Esperança

Multidões de vermelho ocupam as ruas do país em apoio à candidatura de Lula

Multidões de vermelho ocupam as ruas do país em apoio à candidatura de Lula

Manifestações aconteceram no fim de semana em todas as regiões do Brasil; Veja os vídeos e fotos

Divulgação

Multidões de vermelho ocupam as ruas do país em apoio à candidatura de Lula

Em apoio à candidatura de Lula, o povo brasileiro ocupou as ruas de todas as regiões do país no último fim de semana. A mobilização nacional, promovida pelos Comitês Populares de Lula, lideranças, movimentos sociais, sindicais e militantes, atraiu multidões.

No Nordeste, brasileiros e brasileiras vestiram vermelho, dançaram “piseiro 13”, cantaram e vibraram por um país sem fome, sem desemprego, sem carestia e sem Bolsonaro.

Leia mais: 13 motivos para Lula voltar a ser presidente do Brasil

Em ritmo de Carnaval, o povo entrou no clima no Rio de Janeiro, Maranhão, Rio Grande do Norte, Brasília, Tocantins, Pernambuco, Minas Gerais, Amazonas, Sergipe, Pará, Paraíba e Bahia.

Motociatas e carreatas também mobilizaram a população do Ceará, Piauí levando centenas de pessoas para as ruas.

Veja os vídeos abaixo:

 

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Leia mais: Brasil Esperança realiza Grande Ato na segunda, 26, em SP; retransmita pelo Facebook

Último grande ato com Lula

Nesta segunda-feira, 26, haverá a transmissão do último grande ato Brasil da Esperança com Lula com uma Super Live, às 16h.

Todo o país vai poder acompanhar esse momento histórico de uma das eleições mais importantes da nossa democracia. Será um ato híbrido, com participações presenciais e virtuais.

VEJA COMO PARTICIPAR DA RETRANSMISSÃO DA SUPER LIVE

 Da Redação

domingo, 25 de setembro de 2022

Lula defende Brasil como potência: “O pré-sal foi fruto de investimento em pesquisa”

 

Lula defende Brasil como potência: “O pré-sal foi fruto de investimento em pesquisa”

Em ato na quadra da Portela, neste domingo, 25, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, lembrou de parceria com o ex-presidente para realizar obras importantes para a cidade maravilhosa

Ricardo Stuckert

Lula e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em evento neste domingo. Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil precisa se posicionar como potência mundial, investindo em ciência, tecnologia e educação. A fala ocorreu neste domingo (25/09), durante comício na quadra da escola de samba Portela, na cidade do Rio de Janeiro.

“A descoberta do pré-sal não foi sorte, foi investimento em pesquisa, muito investimento em pesquisa! Quando nós descobrimos, os pseudo-especialistas, que são chamados para dar palpite na televisão, disseram: ‘é, descobriram o pré-sal, mas não vão conseguir tirar o petróleo porque ele está a seis mil metros de profundidade’”, revelou ele, ressaltando que não vai privatizar a Petrobras.

As reservas do pré-sal foram descobertas em 2007. Três anos depois, em julho de 2010, a Petrobras ultrapassava os dois mil metros de água, dois mil metros de terra e dois mil metros de sal, para começar a extração do recurso natural, como recordou Lula.

“Eles diziam, ‘ah, vocês não vão conseguir tirar, porque não tem tecnologia’. Hoje o barril do petróleo, tirado a 6 mil metros de profundidade, está ao mesmo preço do petróleo tirado na Arábia Saudita a flor da terra. A Petrobras tem tecnologia, e o povo brasileiro não é burro, é inteligente, e ele sabe, que quando tem chance de estudar, os nossos pesquisadores não perdem para ninguém. A Petrobras é a maior empresa de prospecção em aguas profundas”, reforçou.

O ex-presidente explicou ainda que quando resolveu que as plataformas de perfuração de petróleo deveriam ser produzidas no Brasil, para gerar emprego e renda para a população, os mesmos críticos receberam a iniciativa de forma negativa, dizendo que o país não possuía tecnologia.

“Pô, nós vamos fazer aqui! “Ah, o Brasil não sabe mais construir navios”. Então nós vamos voltar a fazer navios. Nós precisamos voltar a governar para a gente poder transformar esse país num país soberano”, completou.

Eduardo Paes: só Lula pode resgatar a esperança no futuro do Brasil

Em encontro de emoção e alegria na quadra da Portela, no Rio de Janeiro (RJ), na manhã deste domingo (25/09), a sete dias do primeiro turno das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu reconhecimento público do prefeito Eduardo Paes, em relação ao trabalho realizado na cidade do Rio. Paes destacou também a importância de Lula aos demais entes federativos, enquanto presidente.

“Lula é maior do que qualquer quadro político do Rio de Janeiro e é maior do que qualquer político brasileiro. Meus filhos, de 18 e 16 anos, perderam a crença no Brasil, perderam a esperança no futuro. A gente só pode resgatar a esperança no Brasil e no futuro se a gente eleger o Lula presidente do Brasil”, afirmou o prefeito Eduardo Paes. Segundo ele, Lula é a figura que materializa a esperança do povo brasileiro.

Em reconhecimento ao legado das gestões do ex-presidente, Paes contou que ia a Brasília discutir com Lula programas e projetos, como as obras do PAC para o Rio de Janeiro, e disse que no atual governo houve fim de projetos e que hoje há uma ruptura do pacto federativo. “No governo Lula, tinha quantidade sem fim de projetos e programas”.

O prefeito ressaltou o momento no país em que o tecido social está fragmentado como nunca ele viu em 30 anos de vida pública, com pessoas passando fome, sem casa e sem esperança. Os municípios estão perdendo recursos para saúde e assistência social. Paes afirmou que, nos tempos de Lula, a negociação entre prefeitos e presidentes existia e não era só porque eles eram aliados. “Vale para todos os prefeitos e gestores. Eu sei que esse homem vai dar condições para fazer com que o Brasil cresça e os serviços possam ser prestados de maneira adequada para a população, principalmente os mais pobres.”

Da Redação, com Site do Lula

sábado, 24 de setembro de 2022

Lula diz sobre vitória no primeiro turno daqui a uma semana

 

Lula diz sobre vitória no primeiro turno daqui a uma semana

"O último ato meu vai ser esperar abrir as urnas e a gente comemorar a nossa vitória", disse o ex-presidente, em Itaquera

www.brasil247.com - Lula e Alckmin em Itaquera
Lula e Alckmin em Itaquera (Foto: Ricardo Stuckert)
 

247 – Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um comício em Itaquera, na zona leste de São Paulo, e disse esperar celebrar a vitória no primeiro turno, daqui a oito dias. "Faltam só oito dias, a semana que vem. Ô Janja [da Silva, esposa de Lula], não é o último da campanha no dia 26 [segunda]. Não é o último ato coisa nenhuma, não. O último ato meu vai ser esperar abrir as urnas e a gente comemorar a nossa vitória no dia 1º [dia 2]", afirmou.

"No Paraná, estão mandando informações mentirosas por mensagem para as pessoas. Como fizeram com o Haddad em 2018. Eu não vou fazer o jogo rasteiro deles", apontou ainda o ex-presidente, sobre o disparo de mensagens golpistas a partir do governo paranaense.

"Faltam só oito dias, não vamos aceitar provocações, não vamos acreditar em mentira", completou Lula.


A família Silva no poder: uma profecia política de Rubem Braga


A família Silva no poder: uma profecia política de Rubem Braga

JULIÁN FUKS

OPINIÃO

A família Silva no poder: uma profecia política de Rubem Braga

Rubem Braga, em 1975  - Alberto Jacob / Agência O Globo
Rubem Braga, em 1975 Imagem: Alberto Jacob / Agência O Globo










Nunca deveríamos esquecer a profecia política de Rubem Braga. Era 1935, e ele publicou uma crônica sentida sobre a morte de um desconhecido, um sujeito pobre chamado João da Silva, morto por hemoptise, enterrado na vala comum da miséria. Na falta de alguma honraria, Braga escreve o elogio fúnebre do homem que nunca viu, escreve em nome da imensa família Silva, uma família sem importância nenhuma, como ele diz, que mora em várias casas e várias cidades do país, que mora principalmente na rua. E então se permite sua sentença final, promessa de redenção futura.

A crônica tem a beleza habitual das coisas de Rubem Braga, sua sensibilidade nua, e merece ser lida na íntegra. Mas o que ele faz em essência ali é a exaltação do homem simples, da mulher simples, a louvação da complexidade e da força desses sujeitos que construíram pedra por pedra o Brasil. E, ao exaltar esse homem singular, faz também a afirmação de uma linhagem tão tortuosa quanto inconfundível. "No fundo, somos os Silva. Quando o Brasil foi colonizado, nós éramos os degredados. Depois fomos os índios. Depois fomos os negros. Depois fomos imigrantes, mestiços. Somos os Silva." Por admiração, por ideologia, Braga cumpre seu desejo de se unir à família e assim se declara mais um João da Silva.

Volto a essa profecia em ano longínquo, às vésperas de uma eleição que o grande cronista não testemunhará, volto pensando em Luís Inácio Lula da Silva. Lula, ainda que em suas contradições e limites, sempre foi um Silva no poder, com sua mão mutilada de torneiro mecânico, com o sorriso calmo de quem passou e já não passa fome, com a voz rouca de quem já clamou demais por justiça. Lula sempre foi o homem simples que ascendeu na política, mesmo quando sua rede de alianças já contava com os antípodas históricos da família Silva, ou com os imemoriais exploradores de seus pobres ofícios. Lula continuou sendo um Silva quando as mesmas elites o traíram e o condenaram a um degredo novo, desconhecido. A profecia que uma vez se cumpriu pode agora se repetir, e é natural que exija essa insistência: ninguém esperaria que um Silva triunfasse em paz na política brasileira, sem suscitar reações enfurecidas.

Não se trata aqui de uma tentativa de mitificar a pessoa que é Lula — de mitos, afinal, já estamos ou deveríamos estar fartos. Trata-se, sim, de contemplar o simbolismo que sempre houve e ainda há em sua candidatura, que excede a si mesma e se ramifica de mil maneiras pelo passado e pelo futuro do país. Lula tem consciência desse limite pessoal, tem consciência de ser menor do que aquilo que representa, e isso talvez explique algo de sua leveza e de sua alegria — na Rua da Alegria vivia João da Silva, registre-se. "Eu não sou um ser humano, sou uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias", foi o que disse Lula quando deixou a prisão pela segunda vez, e a frase foi entendida por alguns como expressão de soberba. Era o contrário, a meu ver: era sua maneira de se reivindicar um Silva, de se afastar de si para se alinhar às lutas históricas dessa família que não encontra limites.

A clarividência se manifesta muitas vezes de forma torta, incompreensível. É evidente que Rubem Braga não fez profecia nenhuma, não viu a eleição de Lula com muitas décadas de antecedência, não se renderia à mística banal dos adivinhos. O que ele viu, sim, foi a inevitabilidade de um movimento maior, a necessidade de uma revolta daquela imensidão de sujeitos condenados à miséria, enterrados em vala comum através dos tempos. E viu que ele próprio não poderia permanecer à margem dessa revolta, mesmo que ele não fosse um Silva. Viu que era aos Silva que ele deveria emprestar a potência de suas palavras. 

Eis a noção elementar que se manifesta na crônica de Rubem Braga, e que talvez nos sirva para compreender o que há de elementar em nosso presente. Neste momento, sente-se com força o imperativo ético de se alinhar aos Silva, a toda essa gente que "trabalha nas plantações, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balcões, no mato, nas cozinhas, em todo lugar onde se trabalha". Neste momento, não há saída senão se juntar à multidão dilatada dos Silva, que responde por uma infinidade de nomes. Não há muito mais a dizer senão fazer coro com as vastas minorias que gritam, cada vez mais alto, contra aqueles que estão no poder e insistem em persegui-las e em submetê-las à dor e à fome. Não há opção melhor do que se juntar à horda de Joões da Silva.



JULIÁN FUKS

Nunca deveríamos esquecer a profecia política de Rubem Braga. Era 1935, e ele publicou uma crônica sentida sobre a morte de um desconhecido, um sujeito pobre chamado João da Silva, morto por hemoptise, enterrado na vala comum da miséria. Na falta de alguma honraria, Braga escreve o elogio fúnebre do homem que nunca viu, escreve em nome da imensa família Silva, uma família sem importância nenhuma, como ele diz, que mora em várias casas e várias cidades do país, que mora principalmente na rua. E então se permite sua sentença final, promessa de redenção futura.

A crônica tem a beleza habitual das coisas de Rubem Braga, sua sensibilidade nua, e merece ser lida na íntegra. Mas o que ele faz em essência ali é a exaltação do homem simples, da mulher simples, a louvação da complexidade e da força desses sujeitos que construíram pedra por pedra o Brasil. E, ao exaltar esse homem singular, faz também a afirmação de uma linhagem tão tortuosa quanto inconfundível. "No fundo, somos os Silva. Quando o Brasil foi colonizado, nós éramos os degredados. Depois fomos os índios. Depois fomos os negros. Depois fomos imigrantes, mestiços. Somos os Silva." Por admiração, por ideologia, Braga cumpre seu desejo de se unir à família e assim se declara mais um João da Silva.

Volto a essa profecia em ano longínquo, às vésperas de uma eleição que o grande cronista não testemunhará, volto pensando em Luís Inácio Lula da Silva. Lula, ainda que em suas contradições e limites, sempre foi um Silva no poder, com sua mão mutilada de torneiro mecânico, com o sorriso calmo de quem passou e já não passa fome, com a voz rouca de quem já clamou demais por justiça. Lula sempre foi o homem simples que ascendeu na política, mesmo quando sua rede de alianças já contava com os antípodas históricos da família Silva, ou com os imemoriais exploradores de seus pobres ofícios. Lula continuou sendo um Silva quando as mesmas elites o traíram e o condenaram a um degredo novo, desconhecido. A profecia que uma vez se cumpriu pode agora se repetir, e é natural que exija essa insistência: ninguém esperaria que um Silva triunfasse em paz na política brasileira, sem suscitar reações enfurecidas.

Não se trata aqui de uma tentativa de mitificar a pessoa que é Lula — de mitos, afinal, já estamos ou deveríamos estar fartos. Trata-se, sim, de contemplar o simbolismo que sempre houve e ainda há em sua candidatura, que excede a si mesma e se ramifica de mil maneiras pelo passado e pelo futuro do país. Lula tem consciência desse limite pessoal, tem consciência de ser menor do que aquilo que representa, e isso talvez explique algo de sua leveza e de sua alegria — na Rua da Alegria vivia João da Silva, registre-se. "Eu não sou um ser humano, sou uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias", foi o que disse Lula quando deixou a prisão pela segunda vez, e a frase foi entendida por alguns como expressão de soberba. Era o contrário, a meu ver: era sua maneira de se reivindicar um Silva, de se afastar de si para se alinhar às lutas históricas dessa família que não encontra limites.

A clarividência se manifesta muitas vezes de forma torta, incompreensível. É evidente que Rubem Braga não fez profecia nenhuma, não viu a eleição de Lula com muitas décadas de antecedência, não se renderia à mística banal dos adivinhos. O que ele viu, sim, foi a inevitabilidade de um movimento maior, a necessidade de uma revolta daquela imensidão de sujeitos condenados à miséria, enterrados em vala comum através dos tempos. E viu que ele próprio não poderia permanecer à margem dessa revolta, mesmo que ele não fosse um Silva. Viu que era aos Silva que ele deveria emprestar a potência de suas palavras. 

Eis a noção elementar que se manifesta na crônica de Rubem Braga, e que talvez nos sirva para compreender o que há de elementar em nosso presente. Neste momento, sente-se com força o imperativo ético de se alinhar aos Silva, a toda essa gente que "trabalha nas plantações, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balcões, no mato, nas cozinhas, em todo lugar onde se trabalha". Neste momento, não há saída senão se juntar à multidão dilatada dos Silva, que responde por uma infinidade de nomes. Não há muito mais a dizer senão fazer coro com as vastas minorias que gritam, cada vez mais alto, contra aqueles que estão no poder e insistem em persegui-las e em submetê-las à dor e à fome. Não há opção melhor do que se juntar à horda de Joões da Silva.

Rubem Braga, em 1975  - Alberto Jacob / Agência O Globo
Rubem Braga, em 1975 Imagem: Alberto Jacob / Agência O Globo



Julián Fuks


JULIÁN FUKS

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A família Silva no poder: uma profecia política de Rubem Braga