sexta-feira, 7 de novembro de 2014



Encruzilhada

Marcel Farah




  Estamos diante de uma encruzilhada.
Movimentos sociais e populares, governo federal, sindicatos, partidos de esquerda e pessoas que se organizam esporádica e espontaneamente.
Há algum tempo estamos diante desta encruzilhada.
À medida que a crise internacional pressionava a estratégia de distribuição de renda com manutenção dos lucros dos setores capitalistas no Brasil a encruzilhada se aproximava.
Hoje, após as eleições de 2014, estamos na iminência de escolher nosso novo caminho.
De um lado a continuação de uma política de alianças que até então tem condizido nosso projeto político a conceder os dedos para não perder a mão.
Foi assim com o código florestal, com o kit gay, com a política de juros e a tentativa de redução do spread bancário (lucro dos bancos).
Em todos estes momentos optou-se pelo acordo, que em geral beneficiou os latifundiários, homofóbicos e banqueiros, respectivamente.
De outro lado temos a afirmação de um projeto de mudança, que começa pela luta por uma reforma política que impeça que o poder econômico dê as cartas nas eleições. Passa pela democratização do oligopólio da mídia, pelo “banda larga para todos”, pelo fortalecimento dos meios de comunicação alternativos.
Um projeto que abra à nossa sociedade a possibilidade de discutirmos com profundidade: a reforma agrária, contra a concentração de terras e uso intensivo de veneno para produção de alimentos; a reforma urbana para garantir direito igual à cidade para periferias e centros; a reforma tributária que garanta mais impostos para os ricos do que para os pobres; a reforma educacional que traga à tona os problemas de uma educação que forma para o mercado e não para o mundo do trabalho.
São projetos opostos que estão nos caminhos desta encruzilhada e que se revelaram com mais nitidez a partir das eleições.
Por isso os formuladores de opinião conservadores apostam na tese de que o país está dividido.
Na realidade, um conflito escamoteado há muito tempo pela política de conciliação que predominou nos últimos 12 anos tornou-se nítido. Se queremos reduzir as desigualdades, nossos ricos têm que ser cada dia menos ricos.
A saída da mudança é a saída à esquerda.
O grande desafio do momento para o campo popular é reconstruir a estratégia de governabilidade, sem depender tanto das articulações institucionais e fortalecendo a mobilização social.
Para isso é preciso redobrar o esforço de diálogo e construção de políticas junto à sociedade civil, movimentos sociais, partidos de esquerda, sindicatos e a população que tem se organizado espontaneamente.
O que não significa abandonar as articulações no Congresso, mas equilibrar estas duas frentes de ação.
Como se diz na RECID pé dentro e pé fora na ciranda do poder popular.

Marcel FarahEducador Popular – Departamento de Educação da Secretaria Geral da Presidência da República 
Compas, envio meu texto semanal da Dom Total, uma reflexão curta sobre o momento de escolha de caminhos que tanto movimentos sociais quanto governo vivem.

Na realidade, um conflito escamoteado há muito tempo pela política de conciliação que predominou nos últimos 12 anos tornou-se nítido. Se queremos reduzir as desigualdades, nossos ricos têm que ser cada dia menos ricos.