segunda-feira, 30 de maio de 2022

 

Livro com cartas para Lula será lançado nesta terça, em São Paulo

Editora Boitempo lança em São Paulo o livro “Querido Lula”, que reúne 46 cartas, selecionadas entre mais de 25 mil, pela historiadora Maud Chirio. Acompanhe ao vivo, a partir das 19h, pela TvPT
 30/05/2022 15h05 - atualizado às 20h40
Site do PT

No evento, as cartas serão lidas para Lula e diversas personalidades

Ao longo dos 580 dias que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permaneceu detido arbitrariamente na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PF), milhares de brasileiros demonstraram sua solidariedade. Muitos participaram da vigília na porta do prédio. Outros mandaram cartas. Muitas, mais de 25 mil no total.

Nesta terça, 31, a editora Boitempo lança em São Paulo o livro “Querido Lula”, que reúne 46 dessas cartas, selecionadas pela historiadora Maud Chirio, além de um caderno de imagens com fotos de diferentes objetos enviados ao ex-presidente e um prefácio escrito pelo rapper Emicida. O evento acontece no teatro Tuca, na PUC-SP, a partir das 19h.

No lançamento, as cartas serão lidas para Lula, por personalidades como Zélia Duncan, Maria Ribeiro, Cleo Pires, Monica Iozzi, Celso Frateschi, Grace Passô, Erika Hilton, Deborah Duboc, Leandro Santos (Mussum Alive), Camila Pitanga, Denise Fraga, Cida Moreira, Tulipa Ruiz, Cassia Damasceno, Preta Ferreira, Clara Bastos e Ana Rodrigues, entre outros. Alguns missivistas estarão presentes e lerão as próprias cartas.

Serviço
Lançamento do livro “Querido Lula: cartas a um presidente na prisão”
Data: 31 de maio, das 19h às 21h

Do site lula.com.br

 Qual o preço de viver em Portugal? País ainda tem custo de vida baixo, entenda

Casal à beira do Rio Tejo, na Ribeira das Naus, em Lisboa

Nem a inflação recorde de 7,2% afastou os brasileiros de Portugal. A principal comunidade estrangeira aumenta a cada mês, seja pela entrada de novos integrantes ou pela regularização progressiva dos residentes que estão na fila do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. 

Cidadania portuguesaLei é regulamentada, e pedidos de brasileiros disparam

Mas qual o preço de viver em Portugal agora? Ir ao supermercado, por exemplo, tem sido uma surpresa para muitos brasileiros, que estavam habituados a valores que permaneceram quase congelados por anos. E para a sociedade em geral. Tanto que o governo pagou, na última sexta-feira, um apoio de € 60 (R$ 308) para famílias carentes, que já eram beneficiadas pela Tarifa Social de Energia.

O conjunto dos produtos básicos aumentou € 21 (R$108) desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Uma subida de 11,78%, segundo a Associação para a Defesa do Consumidor (Deco). Isso significa gastar cerca de € 205 (R$ 1.056) na compra de bens essenciais.

Ainda assim, o custo de vida em Portugal é um dos menores da Europa, explicou Marcelo Rubin, da consultoria Clube do Passaporte. A informação pode ser confirmada no ranking do Expatisan, especialista em comparações.

Mas este fator depende da cidade, do padrão de vida, renda, objetivo da imigração, profissão, tamanho do núcleo familiar e etc. É preciso ressaltar, ainda, que Portugal mantém uma das políticas salariais mais baixas da Europa, apesar da carga fiscal considerada elevada. 

— Mesmo agora, se comparado com outros países europeus, os valores gerais em Portugal não são altos. Pelo contrário, são os mais baixos entre os países da Europa Ocidental. Por isso, ainda é o destino preferido dos brasileiros que querem deixar o país — garantiu Rubin.

LacunaPortugal termina o ano com 85 mil trabalhadores em falta no turismo

Uma família com dois adultos, vivendo em um apartamento pequeno, de dois quartos e um banheiro, na área central (ou próximo) do centro de Lisboa ou do Porto, gastaria, no mínimo, entre € 1,3 mil (R$ 6,6 mil) e € 1,5 mil (R$ 7,7 mil). A projeção incluiu contas fixas e básicas, sem automóvel (portanto, sem combustível) e com a utilização do Sistema Nacional de Saúde (sem taxas a partir de agora).

A estimativa acima levou em conta o aluguel de apartamentos sem móveis ou eletrodomésticos, encontrados no site de buscas Idealista na última terça-feira: € 630 (R$ 3,2 mil) em Lisboa/Alcântara, e € 610 (R$ 3,1 mil) no Porto/Campanhã. 

Havia apenas um imóvel em cada cidade na faixa de € 600, o que indica a dificuldade de conseguir pagar um aluguel baixo e, por isso, a pesquisa foi incluída na apuração, para destacar a odisseia. Quem fechar um contrato assim no Porto ou Lisboa é considerado inquilino de sorte. Muitos, inclusive, gastam horas e a esperança nas longas filas das visitas. E saem frustrados.

Já os valores máximos desta tipologia se aproximam dos € 2 mil (R$ 10 mil). O mais perto da realidade é pagar entre € 850 (R$ 4,3 mil) e € 1,1 mil (R$ 5,1 mil) por um imóvel de dois quartos. Então, na previsão com aluguel mais elevado, o gasto inicial mensal subiria para cerca de € 2 mil (R$ 10 mil). Porém, no ato da assinatura, é comum o inquilino depositar três meses de caução, prática prevista em lei.

Viver em PortugalBrasil é segundo na compra de imóveis em Lisboa e Porto, com gasto estimado de R$ 2,9 bi em 2020

As demais contas foram apuradas em relação à faturação do mês de maio, informadas por moradores de apartamentos semelhantes. Combo de TV, telefones fixo e celulares e internet (de € 55 / R$ 282 a € 65 / R$ 334 ); luz (€ 60), água (€ 25); supermercado e alimentação eventual fora de casa (€ 400 /R$ 2.056); lazer € 150 (R$ 771); planos de transportes públicos normais (€ 80 / R$ 411). As despesas tendem a subir no inverno devido ao custo das diversas formas de aquecimento dos imóveis.

Caso sejam incluídas despesas com crianças, o valor fixo pode variar um pouco, dependendo dos gastos emergenciais. Mas é preciso levar em conta que a família em questão utilize serviços públicos de creche, escola e saúde. 

aluguel é o responsável por grande parte dos gastos, sendo maior em Lisboa e no Porto. É preciso pesquisar muito para encontrar imóvel bem localizado, que não destrua um orçamento e acomode a família com conforto. Inclusive nas cidades periféricas das regiões metropolitanas das duas maiores cidades. 

A prática de fugir para municípios menores tem sido tendência ao longo do anos, como mostrou O Globo e tem sido tema recorrente aqui no Portugal Giro

— Na maioria dos casos, os apartamentos no centro da cidade tendem a ser menores. Por isso, há uma tendência das famílias irem viver em áreas suburbanas. Obviamente, dependendo do tamanho do imóvel, os valores podem ficar ainda mais altos — explicou Itay Mor, advogado e fundador do Clube do Passaporte.

CidadaniaComo tirar? Netos têm direito? Especialistas tiram dúvidas sobre lei

O custo de vida aumenta se o brasileiro optar por serviços privados, como plano de saúde, que nem é tão caro, dependendo da cobertura: cerca de € 30 por pessoa. Já a escola particular representa uma grande diferença, com mensalidades que podem começar, no Porto, em € 3,6 mil (R$ 18,4 mil) por ano.

— Uma escola particular custa aproximadamente € 9,3 mil (R$ 47 mil) por ano, enquanto uma escola internacional varia de € 23 mil /R$ 117 mil) a € 37 mil /R$ 189 mil) anualmente. Já os custos médios de uma universidade pública (que são pagas) dependem do curso e das bolsas — garantiu Mor.


'Ninguém se importa': ataque a população de rua se intensifica em Brasília '
 
De madrugada, os filhos de ricos, bêbados, que passam a noite na balada, passam por aqui gritando dos carros: Vamos botar fogo em vocês, seus vagabundos, suas putas' À tarde, enquanto parte da população está trabalhando, duas mulheres estão deitadas num colchão em uma barraca improvisada. As duas conversam, fumam, mas não saem dali. Quem passa, das duas uma: uns abrem as janelas dos carros para atirar pedras, papéis e latinhas na direção delas, outros param e deixam doações. As duas mulheres vivem num gramado que beira a via de acesso à L4, em Brasília. A pista também é conhecida como avenida das Nações, pois o trecho leva às embaixadas fixadas na cidade. A barraca fica a cerca de 5 km da Praça dos Três Poderes. Mas as duas mulheres, na verdade, estão longe demais de quaisquer tipos de poder — autoridades, liturgias, protocolos, ritos e regimentos para tocar a vida do país, nada disso as alcança.

Nem a elas nem as cerca de 60 pessoas que vivem ali. Ou as 30 que estão mais abaixo, num dos pontos da L3, pista de acesso à UnB (Universidade de Brasília). Ou mais acima, na 910 Norte. Na Asa Sul não é diferente. Tampouco no Noroeste, bairro mais novo e que já teve o metro quadrado mais caro do país. Na pandemia, o Distrito Federal, uma das unidades mais ricas da federação, registrou o maior crescimento da pobreza do país: em janeiro de 2021, havia 170.871 famílias de baixa renda na capital, segundo a Sedes (Secretaria de Desenvolvimento Social); em abril de 2022, o número foi a 222.430. Nilva Oliveira, 45, e Edilene Alves, 42, viram isso acontecer na vizinhança. Aumentou  o número de pessoas com quem elas dividem o gramado — e aumentaram os ataques contra as pessoas que precisaram se instalar ali. Ninguém dorme uma noite inteira. Há um revezamento subentendido para que haja sempre alguém acordado, em vigília. A história de Galdino Jesus dos Santos é sempre lembrada. Liderança indígena da etnia pataxó-hã-hã-hãe, ele viajou a Brasília para tratar da demarcação de terras no sul da Bahia, em 1997. Dada a hora, depois de não conseguir entrar na pensão em que estava hospedado, abrigou-se em uma parada de ônibus na W3 Sul, importante pista do Plano Piloto, onde foi vítima do crime brutal. Cinco homens da elite brasiliense atearam fogo nele. "De madrugada os filhos de ricos, bêbados, que passam a noite na balada, passam por aqui gritando da janela dos carros: 'Vamos botar fogo em vocês, seus vagabundos, suas putas'. Jogam vidros de bebidas", contam Nilva e Edilene. "Não importa quantas pessoas têm aqui, se tem criança ou não. Ninguém se importa." 


A 5 km da Praça dos Três Poderes, pessoas instalaram barracas no gramado que beira a via de acesso à L4 Imagem: Yasmin Velloso/UOL

A lei da sobrevivência Durante o dia, é importante ter quem fique na barraca mais próxima ao asfalto, pois eventualmente um carro encosta e alguém deixa cobertores, cesta básica, um dinheiro. À noite, ficam mais para dentro, para que a distância do meio-fio dê um pouco de proteção. Um carro estacionou deixando mantas recém-compradas, enquanto o TAB estava lá. "Olha! Chegou uma benção! Vamos tentar uma para a Lucilene. Ela está banhando", disse Nilva. Muitas vezes, quem para dá doações contadas para quantas pessoas conseguir visualizar — e elas têm de argumentar que há mais gente, por exemplo apontando para onde é o banheiro improvisado. "Essa é a lei da sobrevivência da gente." 

No dia anterior, uma mulher deixou um velocípede, conta Edilene. Pouco depois, pai e filho de 2 anos andavam testando a novidade e um carro avançou na direção deles. "Pra matar mesmo. A gente tem é medo desse povo rico."
 "Eles acham que aqui é tudo 'nóia', traficante, ignorante, analfabeto. Bicho", conta Edilene. "Infelizmente funciona dessa forma, mas a gente é ser humano. Vive na pele [a pobreza]. Quem nunca viveu não sabe. E não quer saber.".


Giovana Silva, 22, mora na rua perto do campus da UnB com a filha de 3 meses Imagem: Yasmin Velloso/UOL 

Para elas, ali no gramado há mais humanidade que qualquer ambiente acarpetado. Dividem toda a comida que têm: arroz, feijão, ovo, tudo é dividido entre conhecidos e desconhecidos. O cobertor que ganharam num dia, no outro dão a quem pede alegando não ter nenhum. "Faz uns dois ou três anos que tudo piorou. Tem mais gente aqui. Tudo mais caro. Desemprego. E os ataques aumentaram", relatam..

Se para um carro comum, as pessoas correm e se amontoam nas janelas para ver se há alguém disposto a doar. Entretanto, elas também estão prontas para correr na mesma velocidade, para longe, carregando o que podem, caso o veículo seja um carro oficial, com ordens de desmontar acampamento. 
Se um carro oficial quase nunca traz boa nova, ir até a Praça dos Três Poderes tampouco é boa ideia. "Se for é sabendo que vai apanhar, que nem os índios. E levar spray de pimenta na cara. Vou fazer o quê lá? Já estou velha para apanhar." Dado o histórico, também não é prudente ir longe. "Já levaram até o carrinho da minha cunhada. A gente é chamado de vagabundo, mas aí levam embora o carrinho de reciclagem", dizem, referindo-se a operações de agências do governo do Distrito Federal. 

'

Tem gente boa, mas tem outros que humilham a gente no meio da rua. Já chorei muito' 
Imagem: Yasmin Velloso/UOL 

Tão perto e tão longe do poder 

Nilva vai às portas dos mercados do Plano Piloto pedir comida, mas pedir também ficou mais difícil nos últimos tempos. "Semana passada, uma mulher disse: 'A senhora é nova, por que não vai procurar serviço?' Respondi: 'Se a senhora me der um trabalho, varrer seu chão, limpar seu banheiro, começo agora'. Meu marido ainda disse: 'Se quiser que eu pegue sua bosta e me pagar por isso, eu vou agora'. Ela ficou envergonhada e a amiga dela deu R$ 50 
pra gente", lembra. "Não estou pedindo porque quero, não, mas porque não tenho oportunidade de serviço. Não vou entrar nesse mercado e roubar para mim, meus filhos, meus netos. Estou te pedindo. Se você tiver mais do que eu, talvez possa me dar um pouco. Se não tiver, não precisa falar assim, não." 
Luzia Paes Cavalcante, 68, se fixou no acesso à L4 com a filha Geronita, 32, que é cadeirante e tem problemas de cognição. Ela tem uma casinha em Goiás, mas passa parte da semana em Brasília para seguir o tratamento de Geronita, desde que a filha tinha 7 anos. Na capital, o hospital tem uma van que busca as duas. Quando passa um tempo longe da barraca, os pertences delas ficam todos por ali — não veem risco de perdê-los, a menos que uma autoridade as visite. "Leva até documento da gente. Leva tudo, tudo. Deixa nada, só o espaço, limpo, vazio." 


Luzia Paes Cavalcante, 68, mora perto da L4, em Brasília, com a filha Geronita, 32 Imagem: Yasmin Velloso/UOL 

Luzia não teve Bolsa Família, Auxílio Brasil ou qualquer outro benefício do governo federal, a não ser o benefício da filha. Já trabalhou na roça, "no maracujá na Bahia, maracujá e tomate em Brasília, na pimenta, quebrando milho, catando feijão, cortando arroz", exemplifica. "Tudo eu já fiz. Mas hoje não consigo mais. E tem a minha filha pra cuidar." 

Morando acima da UnB, Raquel Santos Rocha, 18, gostaria de voltar a estudar. Ela quer ser cirurgiã, ou música. "Quero é fazer a diferença na vida das pessoas", diz, abraçada a seu violão, que ganhou ao levar ao farol uma plaquinha pedindo ajuda para obter um instrumento. 
A mãe de Raquel morreu de câncer quando ela tinha 6 anos, conta. O pai, de cirrose, quando ela fez 11. A partir daí, ela morou com a avó, uma tia, o irmão e outra tia, que tem um barraco na ocupação a uns metros dali. Elas moravam no Jardim Ingá, em Luziânia, no entorno do DF, e um incêndio destruiu tudo que tinham. As duas seguiram para a Asa Norte, onde poderiam reunir material de reciclagem. 

Raquel junta latinhas perto dos mercados, onde pede ajuda a a quem passa. "Tem gente boa, mas tem outros que humilham a gente no meio da rua. Já chorei muito com as palavras que me dizem." 
"Vai trabalhar!" é uma frase muito ouvida por ela. "Como se fosse fácil", sussurra. E explica que, para trabalhar de doméstica, precisaria ser recomendada por alguém, o que ainda não conseguiu.

Raquel também ajuda a amiga Giovana Silva, 22, com a bebê de 3 meses, Ágata Mirele. Giovana diz que responde afronta com afronta. "Se a pessoa te nega um copo d'água, fica olhando com cara ruim, me xinga, xingo de volta. Um copo d'água, sabe? Não lêem a Bíblia? É de igual para igual", diz. 

Elas dizem temer a ação das "autoridades" — quem tem poder, grande ou pequeno, o fiscal com crachá no pescoço, o fardado ou o engravatado. "Eles vêm com carro de polícia, trator, caminhão, até ônibus pra levar tudo que a gente tem." Ou passam com insultos e agressões e vão embora.

Ele criou um grupo de WhatsApp bolsonarista falso para defender o PT


REPORTAGEM

Ele criou um grupo de WhatsApp bolsonarista falso para defender o PT

O publicitário Roberto Santos - Arquivo Pessoal
O publicitário Roberto SantosImagem: Arquivo Pessoal
Rodrigo Ratier


Às 2h59 do dia 9 de março de 2021, a coluna teve sua conta de celular adicionada sem aprovação num grupo de WhatsApp pró-Bolsonaro. É uma prática corrente entre os apoiadores digitais do presidente: números de telefone que tenham interagido com a extensa rede de comunicação bolsonarista — no meu caso, para uma pesquisa acadêmica — passam a ser incluídos à revelia em grupos de propaganda. O próprio WhatsApp adverte que, na configuração padrão, qualquer pessoa que tenha seu número de telefone pode inseri-lo num grupo.

A tela indicava que pelo menos uma dezena de pessoas havia sido cooptada na mesma leva. A acolhida não foi animadora. "Bolsonaro é o meu p...", poetizou um dos novos integrantes. "Capaz que [vou] ficar seguindo um traidor, mentiroso, e que tá f... com [o] Brasil", elogiou outro. Antes que o Sol raiasse, seis pessoas já haviam clicado em "sair do grupo". O que surpreendeu Roberto Santos, administrador da comunidade. "Eram números que em algum momento já haviam participado de outros grupos pró-Bolsonaro no WhatsApp. Aí eu vi que o bolsonarismo não estava mais imperando"

Não é a única peculiaridade no grupo criado pelo baiano de 44 anos. A timeline costuma estar cheia de ataques e contra-ataques opondo, de um lado, o atual presidente e, de outro, Lula e o PT. Nos grupos bolsonaristas "raiz", quase não há opiniões contrárias, porque eventuais críticos são rapidamente excluídos pelos administradores. No grupo de Roberto também há bastante gritaria: "Não vamos aguentar comunistas aqui defendendo os petralhas", "Que desrespeito com o capitão", "Quem é o tosco administrador do grupo?". Mas nada acontece porque o administrador — Roberto — é também a pessoa que posta as mensagens que despertam a ira dos bolsonaristas.

Publicitário de formação, pós-graduado em educação, Roberto Santos atua desde 2012 com gerenciamento de redes sociais. Ele se define como um militante "cidadão", que sempre fez campanha para o PT embora nunca tenha se filiado a qualquer partido político. "Estudei em uma das escolas mais politizadas de Salvador, o Colégio Estadual da Bahia. Fui construindo minha identidade mais à esquerda e me tornei um militante no dia a dia: na fila do ônibus, quando ligam por engano, no supermercado. Vou te mandar uma foto do meu carrinho de compras".

Carrinho de compras de Roberto Santos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Para o publicitário, eleições sempre foram momentos-chave para a ação. Em 2002, trabalhando como metalúrgico, ele comprava material de campanha nos diretórios do PT e distribuía para os colegas na linha de montagem. Em 2006, aproveitou que o Hotmail possibilitava o envio de até 100 mensagens por dia para desmentir boatos sobre Lula. "Uma prima mandava um monte de enganações em power point. Eu tinha o trabalho de copiar todo mundo na mensagem e responder individualmente, dizendo que era mentira", diz.

O choque com a eleição de Bolsonaro em 2018 gerou uma mudança de estratégia. Roberto passou a frequentar grupos bolsonaristas para "entender como era a comunicação deles". Depois veio a interação crítica no WhatsApp, diversas expulsões e, finalmente, a criação do grupo falso, desenhado com base nos diferentes públicos que o publicitário identificou.

"Tem os disseminadores, que são os primeiros a enviar o conteúdo; os compartilhadores, que espalham para muitos outros grupos; e a maioria silenciosa, que está lá por ter sido adicionada e não saiu". A descrição de Roberto bate com o monitoramento em 10 grupos bolsonaristas que revelou que apenas 1,6% dos usuários postavam 50% dos conteúdos. Durante as 24 horas da medição, 85% dos integrantes não publicaram nada. "Essa turma, que consome o conteúdo sem buscar a verdade, é o meu foco", diz o publicitário.

A coluna mantém contato com Roberto desde julho de 2021. As primeiras trocas de mensagens foram cercadas de desconfiança. "Olá, Rodrigo. Prefiro entrar em contato contigo pelo perfil do Instagram por ser verificado", escreveu. Identidades confirmadas de parte a parte — o publicitário enviou seus perfis no Linkedin, Instagram, Twitter e Facebook —, realizamos uma primeira chamada de vídeo gravada em 30 de julho. A ela se seguiram o monitoramento constante do grupo e trocas esporádicas de mensagens até a publicação desta reportagem.

Storytelling com o "inocente" e o "militante de esquerda"

Para apimentar as discussões e simular interações verossímeis, Roberto utiliza vários números de celular em seu storytelling no WhatsApp. "Um dos personagens é o inocente, que compartilha coisas absurdas e sempre pergunta se é verdade. Escreve atropelado e simples e posta conteúdo que possa ser desmentido". No meio da madrugada, entra outro personagem, o "militante de esquerda", que rebate as informações "rasgando o verbo", como diz o publicitário, o que inclui um robusto portfólio de palavrões. "Novamente o inocente entre em cena, dizendo coisas como 'alguém precisa expulsar esse esquerdopata', 'apaguem isso' e assim por diante".

Um terceiro perfil é o de um personagem gay, de esquerda, bem casado, bem-sucedido, com um casal de filhos adotados já na faculdade — um cursando medicina e o outro, direito. Em nossa primeira conversa, em julho de 2021, Roberto estava surpreendido com a acolhida ao personagem. "Há um respeito à orientação sexual, como se valorizassem o cara que se deu bem". A lua de mel, entretanto, não resistiu à inclusão de novos integrantes na virada do ano. "Quer lacrar? Espere a parada gay", "morde fronha", "baiano corno e viado" são alguns dos apupos recentes.

A coluna acompanha o grupo desde sua criação. Entre março de 2021 e fevereiro de 2022, foram trocadas 20.207 mensagens — média de 55 por dia, um número modesto comparado a outros grupos bolsonaristas que ultrapassam a marca de 1.100 mensagens diárias. Em abril, a proximidade da corrida eleitoral fez o número dobrar para 100 mensagens.

Se no ano passado as discussões eram puxadas pelos alter egos de Roberto, a divulgação do link do grupo em comunidades bolsonaristas legítimas trouxe apoiadores incondicionais do presidente e aumentou a temperatura das interações. Seria impreciso falar em "debate": não há troca de opiniões, apenas de conteúdos a favor e contra o presidente, a maioria memes, figurinhas satíricas e vídeos.

A disputa é apertada. Na última segunda-feira (23), o placar registrava 9 mensagens em defesa do ex-capitão, publicadas por 3 pessoas, e 20 conteúdos contra Bolsonaro — 17 deles divulgados por números pertencentes a Roberto. Os outros 30 integrantes do grupo permaneceram em silêncio. Não se pode sequer garantir que viram as mensagens. "Tem vezes que eu posto e volto dois dias depois para ver quem leu. Tem conteúdos que quase ninguém lê. Não sei por que as pessoas entram em grupos e não interagem. Isso é algo que precisa ser estudado."

Ainda assim, a tese do publicitário é que divulgar críticas e desmentidos tem, sim, efeito nas opiniões. "Posso até não transformar as pessoas que só acompanham o grupo em eleitores de esquerda, mas em Bolsonaro elas não votam mais. Acaba aquela história de querer defender porque ele seria honesto. Elas já sabem que ele não é". Atualmente, a militância voluntária toma cerca de duas horas do tempo do publicitário, geralmente de madrugada, estratégia para que as publicações anti-Bolsonaro e pró-PT sirvam como leitura matinal aos integrantes do grupo. Mas a ação tem data para acabar. "Vou apagar o grupo antes das eleições. Tenho de me preservar".

sexta-feira, 27 de maio de 2022

MOVIMENTOS POPULARES COM LULA

 

Lula: “Temos que discutir responsabilidade social, não só fiscal”

Lula recebe propostas elaboradas por movimentos populares e afirma: “É preciso parar de dizer não ao povo trabalhador” 
 27/05/2022 
Ricardo Stuckert

Lula, Alckmin e Haddad se encontraram pouco antes do evento com os movimentos sociais

Lula defendeu, nesta sexta-feira (27), durante encontro com movimentos populares em São Paulo, um governo que não se preocupe apenas com responsabilidade fiscal, mas que tenha compromisso principalmente com a responsabilidade social.

“É preciso parar de dizer não ao povo trabalhador, ao povo sofrido, aos que querem casa, educação, saúde, saneamento básico, água potável, respeito aos direitos humanos. Ao invés da gente ficar discutindo responsabilidade fiscal para garantir dinheiro a banqueiro, nós temos que discutir responsabilidade social para pagar a dívida com o povo trabalhador”, defendeu.

O ex-presidente acrescentou que, se voltar a governar o Brasil, quer mostrar que o Estado tem sim condições de atender aos direitos da população. “A única razão pela qual temos interesse de disputar a eleição é a gente poder provar que o Estado brasileiro pode atender e tratar vocês com a dignidade que o movimento social e o povo trabalhador precisa.”

A construção desse país mais justo, no entanto, exige muita luta, ressaltou. Por isso, Lula afirmou que os movimentos sociais jamais devem parar de reivindicar, esteja quem estiver no governo.

“O que eu quero com vocês é um compromisso: se a gente voltar a governar este país, nós vamos precisar do apoio de vocês para fazer o que precisa ser feito. Mas o compromisso de vocês não é só com o governo, é com o povo que vocês representam. Não é ceder ao governo e deixar de brigar pelas coisas que vocês acreditam”, defendeu.

Lula lembrou que, quando era presidente, nunca pediu ao movimento sindical para não fazer uma greve. “E quero dizer a vocês: sem vocês reivindicarem, sem vocês escreverem o que vocês desejam, sem vocês aporrinharem a nossa vida, cobrando todo dia, a gente não faz o que precisa ser feito. Então, não se incomodem de cobrar”, disse.

O ex-presidente também convidou a todos os presentes a manifestarem apoio e solidariedade ao candidato a presidente da Colômbia Gustavo Petro, fundador do Movimento Colômbia Humana, que às vésperas das eleições do próximo domingo vem sofrendo constantes ameaças de morte (veja no vídeo abaixo o discurso de Lula logo após todos os presentes gravarem uma mensagem ao povo colombiano).

União de movimentos, partidos e centrais sindicais

No encontro, Lula recebeu um conjunto de propostas para a recuperação social e econômica do Brasil, elaborado por 87 entidades. Antes do evento, ele se reuniu com Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, respectivamente pré-candidatos a vice-presidente e a governador de São Paulo.

Alckmin falou ao público antes de Lula e celebrou a iniciativa e afirmou que é com o diálogo com o povo que se constrói um programa de governo popular e democrático. “Já foi dito que nada segura a ideia a que chegou o seu tempo. Chegou o tempo do emprego, do salário mínimo valorizado, da saúde pública melhor, da esperança. Chegou o tempo de Lula”, disse.

A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, celebrou a união dos principais movimentos populares do país em torno da pré-candidatura de Lula e lembrou que unidades semelhantes foram construídas pelas centrais sindicais e pelos partidos de oposição que integram o movimento Vamos Juntos pelo Brasil – PT, PCdoB, PV, PSB, Psol, Rede e Solidariedade, dos quais diversas lideranças estavam presentes. 

“Não julgo que este será apenas um processo eleitoral, mas uma luta pela salvação do Brasil, contra a desgraça, contra a destruição que está acontecendo. Este é um grande e forte movimento em defesa do Brasil e do povo brasileiro”, definiu Gleisi.

“Nossa grande tarefa é retomar um projeto nacional de desenvolvimento, de direitos e de soberania”, disse Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), que, junto a Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, entregou o documento com as propostas das entidades a Lula.

No evento, estavam presentes entidades, como a União Nacional por Moradia Popular (UNMP), União Nacional dos Estudantes (UNE), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Associação Nacional das Travestis e Transexuais (Antra), Movimento Negro Unificado (MNU), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e muitas outras, representando trabalhadores, estudantes, negros, mulheres, população LGBTQIA+, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua, povos da floresta e diversos outros segmentos sociais.

Assista à íntegra do evento:

Da Redação

Ao vivo 27/05 | Encontro de Lula com dirigentes sindicais e líderes de m...


247 – 
O advogado Augusto de Arruda Botelho, um dos mais notórios criminalistas do País, criticou, em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, o negacionismo do Direito, que prevalece em alguns setores da opinião pública brasileira – especialmente aqueles que dizem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não foi inocentado", mas apenas teve seus processos anulados. "Para dizer que Lula não é inocente é preciso reescrever a Constituição", diz ele. "Lula não tem sentença condenatória, não tem sequer processo", complementa.

Na entrevista, Arruda Botelho, que se filiou ao PSB para disputar o cargo de deputado federal, falou sobre sua decisão de entrar no mundo da política. "Entrar na política é sair da zona de conforto", diz Arruda Botelho. "Tive medo de um novo golpe de estado no Brasil em 7 de setembro do ano passado".

Arruda Botelho, que presidiu o Instituto de Defesa do Direito de Defesa, também falou sobre a atuação do ex-juiz suspeito Sergio Moro. "Ele está longe de ser um desconhecido para quem começou a atuar nos anos 2000. Os desmandos dele já estavam presentes no Banestado. Meu primeiro artigo sobre os abusos da Lava Jato foi em 2014, quando apontei que prisões preventivas eram uma forma de tortura para forçar delações", relembra. "A força-tarefa da Lava Jato e o ex-juiz Moro não tiveram o cuidado de preservar os empregos", acrescentou, ao comentar a decisão que tornou Moro réu pelos prejuízos causados à economia nacional.

Sobre o momento político, ele defendeu enfaticamente o acordo PT-PSB.  "A aliança Lula-Alckmin foi um golaço. O nosso impasse é democracia ou barbárie", disse ele, que adiantou qual será sua agenda na Câmara dos Deputados. "Meu foco será a pauta dos direitos humanos e do acesso à justiça. É a espinha dorsal da minha história. E não dá pra falar de sistema de justiça sem falar na guerra às drogas e no sistema carcerário", apontou. 

Arruda Botelho também afirmou que irá entrar em temas espinhosos. "Defendo a descriminalização das drogas. Haverá também uma reforma do código de processo penal. Preciso estar lá para enfrentar Moro e Dallagnol. A agenda das dez medidas não está derrotada", disse ele.


 

Os Movimentos Sociais realizarão hoje (27), às 16h, na Casa de Portugal em São Paulo, uma grande plenária com o Presidente Lula.

É fundamental dar repercussão nacional a
este ato, envolvendo os Comitês Populares de todo o Brasil.

Chame toda militância, faça um café, um bolo e se reúna para assistir ao vivo pela TVPT, hoje, às 16h.

 

Onda Lula ainda não chegou ao fim e pesquisa Datafolha estimula voto útil para vitória em primeiro turno

 

www.brasil247.com - Luiz Inácio Lula da Silva em Contagem (MG)
Luiz Inácio Lula da Silva em Contagem (MG) (Foto: RICARDO STUCKERT)

247 – A onda de crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que obteve 54% dos votos válidos na mais recente pesquisa Datafolha, ainda não chegou ao fim. "A disparada de Lula em diversos segmentos sugere que o potencial do ex-presidente não se esgotou na onda de crescimento que ele obteve desde que recuperou seus direitos políticos", escreve o jornalista Bruno Boghossian, da Folha de S. Paulo, ao analisar a pesquisa.

"O cenário estimulou a fórmula do voto útil, com a migração de eleitores indecisos e simpáticos a outros candidatos para os principais concorrentes. Lula aproveita a rejeição a Bolsonaro, enquanto o atual presidente pede holofotes como antagonista do petista", diz ainda o jornalista. "Por enquanto, Lula é o principal beneficiário. A prova são os 54% dos votos válidos com o qual ele aparece num cenário com 13 candidatos –o que seria suficiente para vencer no primeiro turno", acrescenta.

Risco para Ciro Gomes


O cenário ainda é extremamente negativo para Ciro Gomes. "A cristalização dos votos de Lula e Bolsonaro dificulta a vida de nomes que se posicionam como alternativas. O petista e o atual presidente têm níveis altos de eleitores convictos, dispostos a manter suas escolhas até o fim: 78% e 75%, respectivamente.

A má notícia que chega para Ciro Gomes (PDT) é que, além de haver menos votos em disputa, seus próprios eleitores dizem que ainda podem trocar de candidato. Só 35% se dizem firmes e 65% admitem uma mudança até o dia da eleição", escreve Boghossian