segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mesa Alternativa de Debate sobre Cidades Digitais e Provedores Comunitários na 10ª Oficina de Inclusão Digital-Vitória-ES

QUEREM INTERNET COM PREÇO JUSTO, BOA QUALIDADE E QUE TODOS TENHAM ACESSO ?
Convido a todos, para participarem do Evento da 10ª Oficina de Inclusão Digital, onde debateremos vários temas importantes sobre as políticas públicas de Banda Larga e Inclusão Digital do país. Este evento é um dos mais importantes para a sociedade que queira entender de forma fácil sobre tecnologia, internet e inclusão digital, além da importância da presença de todos para debater e provocar mudanças no cenário nacional no tocante a todas estas iniciativas do governo.
Em especial iremos criar uma mesa alternativa, para debater um tema crucial para a universalização da internet; Cidades Digitais e Provedores Comunitários, onde o Brasil será o primeiro país a deliberar de forma legal que entidades sem fins lucrativos e instituições de ensino possam ser provedores de internet comunitária, ou seja, com finalidades exclusivamente para fins não lucrativos e de desenvolvimento sócio-educativo-cultural.

Inscrição : http://oficina.inclusaodigital.gov.br/inscricao/

Confirmem no Facebook ou respondam este email caso queiram participar da mesa alternativa : https://www.facebook.com/events/311595685526284/


Mesa Alternativa de Debate sobre Cidades Digitais e Provedores Comunitários

O objetivo desta mesa é ajudar na questão da sustentabilidade e da governança local das cidades digitais de forma que o desenvolvimento e o progresso sejam garantidos através de metodologia legal a fim de proporcionar modelos que estejam mais condizentes com os anseios da sociedade.

Em breve, o edital de Cidades Digitais do MiniCom irá à consulta pública a fim de construirmos juntos as diretrizes do que queremos nesta política pública e para tal, já estamos antecipando alguns itens que são vitais para esta proposta.

São elas :
· Governança das redes e da internet nos municípios (Criação dos CoLGIns – Conselho Local de Gestão da Internet)

· Criação de subconselho na CGI e/ou CNCS para debater diretrizes e políticas públicas nacionais das redes de ultima milha através de provedores comunitários

· Criação de Conselho e Fundo Municipal para Banda Larga, Inclusão Digital e Infraestrutura (Sustentabilidade e Controle Social)

· Regras de governança partilhada e gestão descentralizada, garantindo a presença dos provedores comunitários como via de sustentabilidade das cidades digitais

· Aplicação de diretrizes com base na cartilha de Cidades Comunicadoras, trabalho feito junto a Casa de Cultura Digital.

· Sustentabilidade das cidades digitais

· Programa de desenvolvimento (tecnológico, educacional e social) das cidades digitais

· Conceituação de Comunidades Digitais


A justificativa se encontra na própria LGT (Lei Geral de Telecomunicações), onde se faz necessário universalizar serviços fundamentais à sociedade e que seja garantida a função social da propriedade, no caso aqui, citando a garantia das finalidades sociais da internet banda larga.

Função Social da banda larga garantida através dos provedores comunitários, que irão usar link da Telebrás, onde o custo de 1 Mega sem limite de download e restrição de acesso a conteúdos sairá a R$ 15,00 mensais. Valores adicionais poderão ser incluídos para agregar mais serviços e comodidade aos usuários, onde todos serão associados dos seus respectivos provedores, que por sua vez serão entidades sem fins lucrativos, onde todos os temas serão deliberados em plenária de forma democrática e participativa.

O evento terá mais 4 mesas de temas relevantes e afins; são elas :
05/12 – 11:00 as 12:45 : Casos de Cidades Digitais SECT-ES (importante)
05/12 – 14:00 as 16:30 : Plenária de Cidades Digitais (importante)
06/12 – 09:00 as 10:45 : Plenária Educação, Formação e Inclusão Digital
06/12 – 11:00 as 12:45 : Plenária Inclusão Digital no Meio Rural (importante)
06/12 – 14:00 as 16:30 : Debate sobre Cidades digitais e PNBL (importante)
06/12 – 14:00 as 16:30 : MDA – Fórum Brasil Rural Conectado (Territórios Digitais)
07/12 – 09:00 as 10:45 : Plenária Inclusão Digital e o PNBL (importante)
07/12 – 11:00 as 12:45 : Anatel – Outorgas de SCM para provedores privados
07/12 – 14:00 as 16:00 : UFES e FAPES – Banda Larga WiMax e WiFi
07/12 – 16:15 as 18:15 : Anatel – Uso de 450 Mhz para Inclusão Digital na área rural

sábado, 26 de novembro de 2011

PROGRAMAÇÃO DO XI ENCONTRO DE FOLIA DE REIS DO DISTRITO FEDERAL

QUINTA-FEIRA - 08/12

19h Refeitório - Início do jantar dos foliões

20h Palco - Exibição e lançamento do DVD “A Marcha dos Três Reis”

20:30h Palco - Abertura Oficial: Presença de autoridades políticas e eclesiásticas

Hino Nacional com Pereira da Viola

Apresentação da folia e catira “Unidos Na Fé” e Marcos e Arthur

21h Show de abertura - ALMIR SATER

SEXTA-FEIRA – 09/12

09h Giro Cultural (Visita as casas de moradores inscritos no concurso de presépios)

12h às 14h Refeitório - Almoço dos foliões

Palco SHOW: FOLIÕES E CONVIDADOS (LUIZ FARIA E SILVA NETO, KLEUTON E KAREN)

14h Giro Cultural (Visita as casas de moradores inscritos no concurso de presépios)

18h Refeitório - Início do jantar dos foliões

19h Representação da Chegada dos Três Reis Magos e Encontro das Bandeiras (Palco)

20h Palco - Início das apresentações das Folias de Reis e danças populares

21h Palco - Bendito de Mesa (Canto de agradecimento)

21:30 Show: MARCOS MESQUITA

22:30h Palco - Show: PEDRO BENTO E ZÉ DA ESTRADA

23:30h Palco - Show: FLÁVIO BRASIL

SÁBADO - 10/12

8h Refeitório - Café da manhã dos foliões

9h às 12h Oficinas, roda de prosa, troca de saberes

12h às 14h Refeitório - Almoço dos foliões

Palco - SHOW: FOLIÕES E CONVIDADOS - (VANDERLEY E VALTECY, DIEGO E GUSTAVO, BADIA MEDEIROS)

14h Palco - Bendito de Mesa (Canto de agradecimento)

14h às18h Espaço de atividades: Oficinas e apresentações de Folias e danças populares

18h Refeitório - Início do jantar dos foliões

18:30h Palco - Apresentações de Folias e danças populares

21h Palco - Bendito de Mesa (Canto de agradecimento)

21:30h Palco - Show: ZÉ MULATO E CASSIANO

22h30 Palco - Show: LIU E LÉU

23h30 Palco - Show: MÁRCIO E MARCELO

DOMINGO 11/12

8h Refeitório - Café da manhã dos foliões

9h Palco - Início das apresentações das Folias de Reis e danças populares

Espaço de atividades: Oficinas

12h - 14h Refeitório - Almoço dos foliões

Palco - Shows - FOLIÕES E CONVIDADOS (REGIONAL DO TICO-TICO, GALVAN E GALVÃOZINHO)

14h Palco - Bendito de Mesa (Canto de agradecimento)

14:30h Palco - Início das apresentações das Folias de Reis e danças populares

16:30h Palco - Resultado do concurso de presépios

17h Palco - Missa Sertaneja com Padre Adão e a Pastoral dos Foliões de Formosa/GO e JOÃO COSTA E EVANILDO.



FOLIAS PARTICIPANTES: Minas Brasília (Gama/DF), Irmãos Vieira (Gama/DF), Folia de Reis de Brazlândia/DF, Unidos na Fé (Planaltina/DF), Renovação e União (Planaltina/GO), Tradicional (Formosa/GO), João Timotéo (DF), Estrela da Guia (Granja do Torto/DF), Devotos dos Magos (Unaí/MG), Estrela Dalva (Urucuia/MG), Folia dos Piuì (Dom Bosco/MG), Pedregal (Novo Gama/GO), Saudade do Interior (São Sebastião/DF), Folia de Reis de Cristalina/GO, Tradicional (Arinos/MG), Folia dos Figueiredos (Bonito/MG), Folia de Santos Reis (Silvânia/GO), Seis Vozes (Sagarana /MG), Feminina (Vazante/MG), Folia de Reis de Água Fria/GO



Oficinas: Presépio (Nanira – Planaltina/DF) Lundu (Seu Badia Medeiros – Formosa/GO), Catira (Os Florianos – Anápolis/GO), Curraleira (Edmilson – Formosa/GO), Construção de Rabecas e Caixa de folia (Sebastião da Rebeca – Chapada Gaúcha/MG), Toque de Viola (Marcos Maciel), Brinquedos Populares (Grupo Circo Boneco e Riso) Origens( Cacai Nunes/DF) Bonecos(Chico Simões/DF)



Atrações diárias e permanentes

Barracas de comidas típicas e artesanato

Cantorias, rezas e terços a cargo dos foliões

Exposições de Instrumentos Musicais das Folias de Reis e Presépios;

Danças Associadas às Folias de Reis - Catira, Lundu, Curraleira, Congo dentre outras



Local: Praça São Sebastião – Planaltina/DF

Informações pelos telefones (61) 3301-5888 / (61) 3301-1267 / (61) 9964-7945 (Volmi Batista – coordenador)/ (61) 9325-8037 (Marcelo Manzatti - produção)

foliadereis2011@gmail.com

www.encontrodefoliadereis.com.br

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

"O mercado sozinho jamais será capaz de universalizar o acesso à internet"

Escrito por Gésio Passos - Observatório do Direito à Comunicação    

Recentemente, o jornalista Flávio Silva Gonçalves concluiu o mestrado no programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Ao longo de dois anos, ele investigou como infraestruturas do setor elétrico podem contribuir para a universalização do acesso à internet. A dissertação teve como objeto uma parceria entre o governo do Pará e a empresa estatal Eletronorte, uma subsidiária da Eletrobras que fornece energia para a Amazônia Legal. Em 2007, as duas instituições assinaram um convênio compartilhando uma fibra óptica para prover serviços de telecomunicações. A conclusão do pesquisador é clara: a utilização de infraestruturas controladas pelos governos é fundamental para a inclusão digital. Confira entrevista exclusiva do pesquisador para o Observatório do Direito à Comunicação.

Observatório do Direito à Comunicação - Por que você decidiu estudar o NavegaPará?

Flávio Silva Gonçalves - Meu interesse era pensar a forma de participação dos governos e de suas estruturas públicas no processo de universalização do acesso à internet, compreendido como um direito do cidadão. Em vários países, os governos estão atuando diretamente nessa área. Procurei uma experiência concreta no Brasil em que algum governo estadual ou municipal que estivesse fazendo algo de inovador, já que o provimento do acesso à internet no Brasil ainda é visto como um serviço do mercado, de poucas empresas privadas. A infraestrutura de telecomunicações no Brasil chega onde tem cliente com relativa renda, sem competição e com preços altíssimos para a maior parte da população. Ou seja, fui procurar um lugar em que um governo estivesse atuando diretamente nessa área. No Pará, encontrei uma ação em parceria do governo do Estado com a Eletronorte. Analisei o programa entre 2007, quando foi implementado, e 2010. Até 2006 apenas quatro dos 143 municípios do estado tinham conexão à internet via cabo. Essa foi a realidade que o programa teve que enfrentar.

Você falou que buscava uma experiência concreta de um governo fazendo algo inovador. Qual foi a inovação que você observou no NavegaPará?

Foram duas. A primeira foi utilizar as linhas de transmissão de energia elétrica para prover serviços de telecomunicações como o acesso à internet. Sabe aqueles cabos de transmissão que cortam o país levando e trazendo energia das usinas até os centros urbanos e rurais? Ali existe um "tesouro": um cabo de fibra óptica que monitora o sistema elétrico por 24 horas (algo exigido por lei). Ele se chama Optical Power Ground Wire (OPGW) ou fibra óptica em cabo pararraio. Esse cabo tem vários pares de fibra óptica que são subutilizados já que a demanda de trafegar dados para monitorar o sistema elétrico é mínima diante do potencial técnico de transmissão de dados. O Brasil é cortado por essas linhas e cerca de 30 mil quilômetros estão sob o controle de empresas que ainda são estatais do sistema Eletrobras. Outra parte está sob controle de empresas privadas, mas a maior parte ainda é patrimônio público controlado por empresas estatais. Está praticamente pronta para ser utilizada como uma grande rede pública. A segunda inovação foi fazer um modelo de negócio híbrido. De um lado, a Eletronorte vendia capacidade de tráfego para qualquer empresa ou provedor interessado em levar o serviço de acesso à internet até um cliente final. De outro, o governo do Pará, por meio de convênio, utilizava parte dessa infraestrutura para conectar órgãos públicos estaduais, prefeituras, telecentros e entidades da sociedade sem cobrar pelo serviço. Era uma fonte de renda para a Eletronorte e uma infraestrutura de desenvolvimento para o estado.

Qual era o papel de cada um no convênio?

Com a assinatura do convênio, 50% da capacidade da fibra ficou com o governo do Estado e a outra parte com a Eletronorte. A empresa cedeu um par de fibra dos 24 disponíveis nas suas linhas de transmissão no Pará. Em contrapartida, o governo fez os investimentos necessários em eletrônicas e em equipamentos para colocar esse par de fibra óptica com capacidade elevada de trafegar dados e disponibilizar o acesso à internet.

Esse processo não gerou prejuízos financeiros para a Eletronorte?

A empresa atua na área de energia e possui essa infraestrutura que está disponível. Ela não teve que investir recursos na parceria, apenas cedeu um par de fibra. Foi colocada uma condição: apenas a Eletronorte poderia comercializar a utilização da rede para outras empresas interessadas em prover serviços de telecomunicações no Pará. Oi, Embratel, Amazontel, Nortelpa, Vivo, Zumpa, CapitalSat e TIM eram clientes da empresa. Cerca de 80% do faturamento da Eletronorte vinha de serviços prestados a Oi e Embratel. Essas empresas de telecomunicação não tem fibra na região e basicamente usam satélite, que é muito mais caro e com uma confiabilidade e qualidade para trafegar dados muito menor. E construir uma rede de fibra é um investimento que estas grandes operadoras não querem fazer. O que elas fizeram? Alugaram a capacidade da Eletronorte para levar o acesso aos serviços de telecomunicações até os consumidores finais. A estatal saiu de um faturamento mensal nesses serviços em janeiro de 2010 de R$ 900 mil para R$ 1,7 milhão em setembro do mesmo ano. Entre os anos de 2006 e 2009, a receita da Eletronorte com a prestação de Serviços de Comunicação Multimídia (SCM) apresentou crescimento elevado saindo de R$ 1,7 milhão para R$ 9,8 milhões. Um aumento superior a 500%. Isso apenas no Pará. A demanda é muito grande e cada vez maior diante de um processo de convergência da comunicação. Se a capacidade da rede instalada no Pará naquele momento fosse completamente contratada, o faturamento poderia chegar a R$ 24 milhões mensais. A capacidade dessas fibras é gigantesca. Para a Eletronorte a parceria permitiu expandir no território paraense sua área de negócios responsável pela prestação de serviços de telecomunicações que atende operadores privados alugando capacidade de tráfego de dados.

Em relação a política de inclusão digital, tocada pelo governo, quais foram os resultados?

O governo tomou uma decisão política de prover acesso à internet com o objetivo de utilizar as tecnologias da informação e comunicação para o desenvolvimento do Pará e ao mesmo tempo economizar recursos com os serviços contratados para os órgãos públicos estaduais e municipais. Estamos falando de um governo que pagava, por exemplo, R$ 15 mil mensais para uma conexão de 256 Kbps em Marabá. Isso quando alguma operadora prestava o serviço. O Estado investiu no convênio recursos financeiros estimados em R$ 4,6 milhões para viabilizar o funcionamento da rede e outros recursos em infocentros e equipamentos para conectar os órgãos públicos e praças com acesso livre. Em 2006, dos 143 municípios paraenses apenas quatro tinham acesso à internet através de fibra óptica. Em 2010, a conexão à internet em alta velocidade estava disponível pela estrutura do NavegaPará para 52 municípios paraenses, sendo que em 23 destes a única opção de conectividade era esta oferecida pelo governo estadual. Desta forma, no mesmo período o governo do Estado aumentou de 400 para 1.389 o número de pontos conectados à internet.

Ou seja, o investimento compensava em termos de retorno social.

Além disso, existiam dois interesses econômicos importantes que motivaram o governo do Pará a investir nesta parceria. O primeiro era constituir uma alternativa às duas empresas privadas que ofereciam serviços de telecomunicações aos órgãos públicos a preços considerados exorbitantes e com isso diminuir seus custos. E, de fato, os números comprovam que além de levar conexão para pontos que não dispunham da oferta pelas operadoras privadas, o governo conseguiu economizar recursos públicos cancelando 75% (297) das assinaturas de acesso à internet que mantinha junto à OI e Embratel. O valor mensal para custear as conexões à internet dos órgãos públicos que antes do NavegaPará foi superior a R$ 1 milhão, em agosto de 2010 diminuiu para R$ 260 mil. O segundo interesse era comercializar dados também através da Prodepa, a companhia estadual de processamento de dados. Mas aí as regras do convênio com a Eletronorte não permitiram já que apenas a empresa federal poderia fazer esse tipo de operação.

E as empresas privadas? Qual o impacto para elas? A perda de clientes do serviço público não inviabilizou os negócios na região?

As grandes empresas do setor (Oi e Embratel) eram ao mesmo tempo beneficiadas e prejudicadas pela rede da Eletronorte. Por um lado, essas empresas deixaram de faturar com órgãos públicos que passaram a ser atendidos pela conexão oferecida gratuitamente pelo governo do Estado e ganharam concorrentes locais que passaram a contar com a nova rede para também prestarem serviços de telecomunicações. Por outro lado, essas e outras empresas passaram a utilizar a infraestrutura da estatal para oferecerem novos serviços em novas localidades e com isso aumentaram seu faturamento sem que fosse preciso realizar os investimentos para a instalação de fibras ópticas próprias. Prova de que as grandes empresas também foram beneficiadas pela infraestrutura de rede é que em agosto de 2010 a Oi e a Embratel representavam 80% do faturamento da Eletronorte no Pará. O que essas empresas querem é alugar essas fibras e manter o "oligopólio" no atendimento ao consumidor final. Assim elas não precisam investir em infraestrutura e continuam com a assinatura dos serviços pagos pelos clientes. Mas quando a Eletronorte aluga a rede para qualquer empresa, seja ela grande ou pequena, aí pode surgir uma competição.

E essa competição aconteceu de fato?

Qualquer empresa pode alugar essa infraestrutura da Eletronorte por R$ 600 em média para trafegar 1 Mega real (não é aquele 1 mega que contratamos em casa e só recebemos 10%). E com isso ao invés de uma ou duas empresas você pode ter 4 ou 5. Quem sabe 10. Mas aí é dinâmica de mercado. Não dá pra garantir que algumas não vão falir, que as novas terão capital para investir e se não terão clientes. Estamos falando de poucas empresas consolidadas que faturam bilhões e tem capital para fazer investimentos. Surgir um competidor local capaz de fazer frente é difícil, mesmo usando essa infraestrutura de rede pública pagando os mesmos R$ 600,00 das grandes operadoras. A grande questão é se essa infraestrutura pública será utilizada apenas para servir cidadãos e instituições através das empresas ou se o Estado também pode levar a conexão gratuita para as instituições públicas, para quem não pode pagar e até mesmo cobrando de quem pode.

O que essa experiência no Pará mostrou?

A partir do que aconteceu no Pará, verificamos que é possível colocar essa infraestrutura para atender interesses privados, dado que as empresas do setor demandam esse tipo de estrutura e, ao mesmo tempo, disponibilizar gratuitamente para órgãos públicos e cidadãos a conexão à internet visando garantir o direito à comunicação. Agora esse processo é contraditório e instável, permeado de avanços e recuos. Tudo depende da junção de interesses políticos-econômicos representados na constante disputa entre os grupos que estão nos governos, empresas públicas e privadas e cidadãos. É a "velha" luta entre as classes e o impacto dela no funcionamento das infraestruturas que ainda são controladas pelos governos. De qualquer maneira, no mundo cresce o entendimento de que o mercado sozinho jamais será capaz de universalizar um direito como é o acesso à internet.

sábado, 19 de novembro de 2011

Pesquisa mapeia estratégias de persuasão em publicidade infantil

Estudo analisou 182 propagandas e entrevistou 691 pais de crianças de até 12 anos. Os resultados mostram que os pais são excessivamente confiantes na capacidade dos filhos resistirem a persuasão

Francisco BrasileiroDa Secretaria de Comunicação da UnB
Pais de crianças pequenas precisam ficar atentos ao modo como as propagandas influenciam seus filhos. Estudo da Universidade de Brasília identificou 21 estratégias para convencer os pequenos a comprarem produtos em 54 propagandas exibidas durante intervalos de um programa infantil de grande audiência. Mais da metade dos anúncios eram de brinquedos, mas havia também de roupas e lanchonetes. A pesquisa entrevistou ainda 691 pais de crianças de até 12 anos e constatou que a maioria acredita que os próprios filhos são muito menos influenciáveis às táticas do que os filhos dos outros.
Uma das perguntas do questionário pedia que eles classificassem os próprios filhos, os filhos de amigos e os filhos de outros com relação ao grau que a publicidade influencia o consumo das crianças. Em uma escala que variava de 1 (não influencia) a 10 (influencia totalmente) a média das respostas ficou em aproximadamente cinco no primeiro caso, sete no segundo e oito no último. “As questões incluíam perguntas sobre quanto de mesada os filhos ganhavam e as influências positivas e negativas que eles vêem na exposição dos filhos à televisão”, explica o psicólogo Fábio Iglesias, coordenador do estudo. Segundo ele, um resultado mais completo – com 1,5 mil pais – será divulgado antes do próximo dia das crianças.
ANÚNCIOS - A amostra completa de propagandas analisadas incluiu também os anúncios que se repetiram durante as duas semanas anteriores ao dia das crianças do ano passado – o que totaliza 182 peças. As táticas associação, controle do fluxo de informação, justificativas placebo, apelo vívido, distração e humor positivo apareceram em todas, mas ficaram de fora da análise. “A nossa ideia foi fazer uma comparação entre as propagandas, por isso não fazia sentido usar essas, que foram iguais para todos”, explica Stela Lemos, aluna do curso de psicologia que participou do estudo. Dentre as demais se destacaram as de definição de critério de decisão, consenso social, contar uma história e modelagem social.
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Marcelo Jatobá e Ana Grilo/UnB Agência
Para identificar as estratégias a equipe partiu de uma lista de táticas pré-definidas na literatura especializada. A análise foi repetida duas vezes: uma feita por Stela em parceria com o professor Fábio e outra realizada por Lucas Caldas, também aluno da psicologia. “Depois confrontamos as duas análises e fizemos as modificações necessárias”, conta Stela.
Para o professor Fábio, a pesquisa vem acrescentar conhecimento ao debate. “Se fala muita besteira sobre o assunto e ainda existem poucos estudos”, afirma. “Com dados como esse, é possível orientar a criação de políticas públicas para a área”. Ele acredita que a culpa pelo consumo desenfreado entre as crianças não deve ser colocada inteiramente na publicidade. “Vários fatores influenciam, é preciso saber, por exemplo, como a criança está na escola ou se está assistindo muita televisão”, pondera.
O estudo foi financiado por uma parceria da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) com o Instituto Alana.

Análise de elemento químico presente nos dentes dos escravos permitiu saber que eles foram trazidos de diferentes regiões do continente africano

GEOLOGIALaboratório identifica origem de escravos enterrados em cemitério no Rio de Janeiro
Francisco Brasileiro
Da Secretaria de Comunicação da UnB
O Cemitério dos Pretos Novos, localizado no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro, recebeu os corpos de escravos recém chegados da África entre o final do século XVIII e início do século XIX. Desativado em 1830, os restos mortais dos negros só foram redescobertos em 1996. Quinze anos depois, o Laboratório de Geocronologia da Universidade de Brasília prova que os homens e mulheres enterrados no local cresceram em diferentes regiões da África antes de serem trazidos para o Brasil. Registros históricos já apontavam que eles vinham de lugares diferentes, mas os pesquisadores trouxeram uma constatação definitiva.
Para alcançar o resultado, o laboratório analisou o elemento químico chamado estrôncio fixado nos dentes de 30 escravos do cemitério. O estrôncio aparece nos dentes na forma de dois isótopos – variedades com massas diferentes – os de número 87 e o 86. A proporção entre o primeiro e o segundo é sempre igual à encontrada nas rochas mais comuns da região onde os escravos cresceram. “Encontramos uma diversidade muito grande de valores dessas proporções nas amostras”, explica o geólogo Roberto Ventura, coordenador da pesquisa. “A variação ficou entre 0,705 a 0,749”. Para se ter uma ideia, não existem valores menores que 0,703 e maiores que 0,750 na natureza. “Ou seja, os locais de origem dos escravos são igualmente bastante diversos”, conclui Ventura.
Para calcular essa proporção, as amostras tiveram de passar um espectrômetros de massa MC-ICP-MS, tecnologia de ponta que só existe em quatro laboratórios fora da UnB. “O equipamento foi responsável por separar o isótopo 87 e 86 de acordo com a sua massa”, explica Murilo Quintans, biólogo e doutorando em geologia. Antes disso, os dentes precisaram passar por um processo de raspagem com instrumentos semelhantes aos utilizados por dentistas. “O objetivo foi coletar a parte do esmalte do dente que seria analisado”, explica Murilo.

Ana Grilo/UnB Agência
Em seguida, o material foi exposto à ação do ácido nítrico para ser dissolvido e levado a uma centrífuga. “O aparelho separou o material biológico, que ficou depositado no fundo dos recipientes, do estrôncio dissolvido”, conta Murilo. Depois de todo o processamento, ele foi finalmente levado ao espectrômetro para avaliação da proporção de estrôncio para cada indivíduo.
ORIGENS – Os resultados encontrados nas análises corroboram o que já era conhecido pela história. Flávio Versiani, economista da UnB e grande estudioso do escravagismo, conta que os negros trazidos da África para o Rio de Janeiro realmente tiveram origens variadas. “A maioria veio de portos de Angola, mais muitos eram obrigados a viajar grandes distâncias a partir do interior do continente para o país”, explica. Segundo o especialista, o lugar de origem cobria uma grande área do interior do continente.
O caso do Cemitério dos Pretos Novos é especial porque o cemitério é o único conhecido que recebia principalmente negros recém chegados da África. Hoje o local é objeto de estudo de várias instituições nacionais e estrangeiras como o Museu Nacional e a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceiras da UnB no projeto. “Enquanto Brasília é responsável pela parte analítica e laboratorial, as outras instituições já têm estudos avançados em arqueologia e até sobre as doenças que atacavam os ossos dos escravos”, conta Murilo, que trabalhou em conjunto com os pesquisadores do Rio na separação dos ossos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Governo Federal terá fórum para discutir inclusão digital


Escrito por Minicom, quinta-feira, 17 de novembro de 2011   
Sex, 18 de Novembro de 2011 
Com o propósito de construir uma política nacional para nortear todas as ações de inclusão digital promovidas e apoiadas pelo Governo Federal, o Ministério das Comunicações realizou, nesta quinta-feira, um encontro que contou com a participação de representantes de mais de 20 órgãos do governo que desenvolvem ações de inclusão digital. As iniciativas são muito variadas e vão desde projetos de educação a distância e doação de computadores, até a construção de telecentros em hospitais psiquiátricos.

No debate, foi definida a criação de um fórum de discussão sobre o tema, que deverá ser subdividido em subgrupos temáticos. Cada subgrupo deverá ficar responsável por um assunto, tal como infraestrutura, formação, inclusão de jovens, inclusão da zona rural, entre outros.

Na oportunidade, a secretária de Inclusão Digital do MiniCom, Lygia Pupatto, afirmou que o primeiro passo a ser dado para fortalecer o debate, antes de definir diretrizes para a política de inclusão digital, é ter dados concretos sobre os investimentos e os resultados já obtidos por cada ação. A secretária solicitou que as informações sejam apresentadas por cada entidade até a 10ª edição da Oficina para Inclusão Digital, que ocorrerá de 5 a 7 de dezembro, na cidade de Vitória. O grupo terá uma nova reunião no âmbito da oficina para definir questões como a estrutura e a metodologia de trabalho que o fórum deverá adotar.

O coordenador-executivo do programa Telecentros.BR, Diego Aguilera, sugeriu que o fórum tenha um espaço onde seja possível debater gestão e boas práticas, defendendo a troca de experiências entre as instituições e a análise de ações bem sucedidas. “Dessa forma, fica mais fácil identificarmos exatamente o que funciona e o que não funciona”, ressaltou.

Durante a reunião, a secretária Lygia Pupatto lembrou também os projetos implantados pelo Ministério das Comunicações: já são mais de 8 mil telecentros no país e 13 mil pontos Gesac, a conexão à internet oferecida pelo governo em espaços públicos. “Para o próximo ano, o nosso foco é não a quantidade, mas a qualidade. Queremos resolver os problemas, qualificar os telecentros, capacitar os monitores e, claro, melhorar a conexão”, concluiu.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

VOA VIOLA 2ª Edição


Boletim Voa Viola Nº1

O Voa Viola - Festival Nacional de Viola 2ª Edição já vai começar!


Com curadoria de Paulo Freire e Roberto Corrêa, o projeto faz um mapeamento da viola no país e mostra o quanto ela está viva em todas as regiões! Na segunda edição, vamos ampliar o nosso panorama do uso do instrumento no Brasil.

O edital para inscrições de trabalhos será lançado na rede www.voaviola.com.br neste mês de novembro. Fique ligado!

Assim como em 2010, a rede vai escolher os 12 artistas para subir no palco em 2012! Serão quatro novas cidades que receberão os shows com grandes nomes da viola junto aos novos talentos mapeados pelo projeto.

Violeiros e violeiras, preparem seus trabalhos e não deixem de atualizar o perfil e mostrar o que vocês estão fazendo de novo! Fãs, não deixem de conferir essa comemoração da viola!

Em breve, grandes inovações no portal.

VEJA O QUE FALARAM DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO VOA VIOLA:
"Daqui para frente, nenhuma produção deverá ver a viola como um instrumento insignificante dentro da música brasileira", diz.". Pereira da Viola
"O Voa Viola está no caminho certo. As pessoas estavam precisando disso, de olhar para nossa própria cultura." Arnaldo Freitas
"O que ficou evidente é que a viola não é mais peça de museu." Lenine

Abraços,
Equipe Voa Viola

Voa Viola 2011

Olá violeiros, violeiras e fãs de viola!
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É com muita alegria que o Voa Viola dá início a 2ª edição do Festival! Demorou um pouco, mas em novembro violeiros de todo o Brasil poderão inscrever seus trabalhos e participar!

Em 2010, o Voa Viola foi um sucesso e mostrou a força da viola, que vive entre jovens e adultos, homens e mulheres, em diversas regiões. Além disso, a nossa rede social cresceu e hoje conta com cerca de 14 mil participantes, de todos os cantos, que se comunicam e trocam experiências.

Em 2011/2012, violas vão voar mais alto! Preparem seus trabalhos, afinem seu instrumento e fiquem atentos para a abertura das inscrições!

O QUE É O VOA VIOLA

O VOA VIOLA é um projeto nacional que visa mostrar ao nosso país a força, a variedade e o alcance que a viola tem em diferentes segmentos da música brasileira. O seu objetivo é mapear, valorizar e difundir o uso da viola no Brasil, com o desafio de trazer à luz os mais diferentes usos do instrumento – do mestre violeiro, que preserva o uso da viola na cultura popular, transmitindo-a através de gerações, ao jovem músico que ousa experimentar novos voos com o instrumento.

Na sua primeira edição, em 2010, o FESTIVAL VOA VIOLA levou, a quatro capitais brasileiras, violeiros selecionados e artistas convidados de todo o país. A seleção de trabalhos foi realizada por meio de edital público, com a participação do público, por meio da votação popular no portal do projeto. Puderam participar do edital artistas de várias tendências musicais, desde que a viola fosse o instrumento de destaque em sua expressão artística.

A diversidade marcou a primeira edição do Voa Viola. O resultado do festival apresentou diferentes tipos de viola - caipira, de cocho, de fandango, de buriti e machete – e assinalou várias tendências de uso do instrumento.

O projeto é realizado com o patrocínio exclusivo da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, que já confirmou o patrocínio para a nova etapa do Projeto. Vem aí o Voa Viola 2011. Contamos com a participação de todos. Aguardem!

Para mais informações sobre a edição de 2010, clique em Veja o Voa Viola 2010.

O PORTAL

O portal VOA VIOLA é o ambiente onde os artistas, violeiros, pesquisadores, críticos, jornalistas, produtores e o público se encontram para falar e conhecer mais sobre viola. Esse é o espaço para discutir, trocar opiniões, ouvir música, conhecer novos violeiros e eleger os melhores trabalhos dentre aqueles inscritos para o FESTIVAL VOA VIOLA. É no Portal que o Festival acontece, por meio da participação de todos nos chats, fóruns e durante as votações.

O portal também disponibiliza conteúdo sobre a viola, causos e histórias, fotos, vídeos, além de informações sobre os músicos e grupos que fazem música utilizando a viola. Criando um perfil, o usuário participa, troca informações, indica artistas, exibe seu conteúdo e vota nos violeiros que quer assistir, nos shows de cada edição.

O VOA VIOLA quer aproximar toda a comunidade violeira, fomentar carreiras, ampliar o público e estimular a troca de informações sobre a viola, tornando-a ainda mais popular. O projeto ganha força e dimensão com a participação de todos - juntos pela viola.

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ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Minha vida antes e depois do Voa Viola

por Arnaldo Freitas.

Sempre sonhei em ser um violeiro de destaque no cenário artístico nacional. Quando morava no interior de São Paulo, lidava com gado, mas nas horas de folga, me dedicava a aprender a tocar viola, assistindo aos vídeos que gravava da televisão dos grandes mestres da viola, entre eles Roberto Corrêa.

Ano passado, quando soube da criação de um festival que divulgaria a viola, fiquei muito feliz e corri para inscrever meu trabalho. Até então, por mais que eu me aperfeiçoasse tecnicamente no instrumento, eu era mais um obscuro violeiro no universo da viola. Quando recebi a notícia que estava entre os selecionados, nem acreditei de tanta felicidade. A partir daí, minha estrada musical começou a se abrir.

A felicidade suprema veio no dia 17 de dezembro de 2010, quando fui agraciado com o prêmio de melhor artista instrumental do Voa Viola. É impossível descrever em palavras a explosão de felicidade que tomou conta de mim naquela noite e nos dias que se passaram. As portas se abriram como que num passe de mágica para mim. Tenho feito apresentações em Sesc’s por todo estado de São Paulo, consegui um contrato de diversos shows com a Secretaria de Educação da cidade para levar nossa viola às unidades educacionais da cidade, em forma de show/workshop. Também participei da virada cultural paulistana em 2011, sem falar nos inúmeros shows em eventos culturais por todo Brasil.

Recebi recentemente o convite do Sesc Pinheiros para a realização de um show onde poderia levar um convidado especial. Minha primeira ideia foi levar o mestre a quem eu assistia nos vídeos quando ainda morava no campo e a quem devo minha carreira e meu sucesso: Roberto Corrêa. Em sua humildade, própria dos grandes mestres, aceitou prontamente meu convite, com muito carinho, o que me deixou mais feliz ainda.

Os ensaios com ele para mim foram uma escola. E dividir o palco com Roberto Correa foi de uma honra e de uma emoção inexplicáveis e esse momento ficará para sempre em minha memória e em minha história.

Fiquei muito feliz quando recebi a notícia da segunda edição do Voa Viola, pois vejo aí a oportunidade de nosso instrumento ser cada vez mais divulgado e prestigiado nas grandes casas de show, capitais, por todo Brasil e de novos talentos, que estão escondidos nestes rincões brasileiros, terem a oportunidade que eu tive de mostrar seu trabalho para todo o Brasil. Com certeza absoluta, o Festival Voa viola é um marco na vida de todos nós violeiros.

Muito obrigado ao mestre Roberto Corrêa! Todo meu carinho e gratidão eterna, pelo que hoje estou vivendo de maravilhoso no mundo artístico.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Consciência Negra - Vissungo




Vissungo - canto de trabalho exclusivamente utilizado por escravos mineradores que, oriundos de Angola, foram levados para as lavras de ouro e diamantes de São João da Chapada e adjacências, próximo à cidade atualmente conhecida como Diamantina, no estado brasileiro de Minas Gerais







A ÁFRICA NO SERRO FRIO


– VISSUNGOS:


UMA PRÁTICA SOCIAL EM EXTINÇÃO


Lúcia Valéria do Nascimento (FEVALE/FAFIDIA)




1. INTRODUÇÃO


Sendo a língua o elemento mais importante da cultura de uma comunidade, quando ela morre, perde-se o saber específico daquela cultura. Assim, tem-se constituídoum dos maiores desafios da Lingüística – ciência que estuda as línguas, a linguagem humana – tentar salvar as línguas que estão em extinção em várias partes do planeta.


É óbvio que temos de repensar seriamente nossas prioridades para que a lingüística não entre na história como a única ciência que assistiu despreocupadamente ao desaparecimento de 90% do campo a que se dedica. Michael Krauss, The World Language in Crisis (1992). In: GIBBS (2002)


Há várias tentativas de descobrir quais línguas podem ser salvas e quais devem ser documentadas antes de desaparecerem. Foram preocupações como essas que deram origem à investigação da qual resulta o presente trabalho.


Era voz comum que em algumas localidades próximas a Diamantina, MG, as pessoas se comunicavam em dialeto africano. Isto veio motivar a realização desta pesquisa, pela qual se constatou o quase desaparecimento do referido dialeto.


Este trabalho vem documentar e expor a situação dos remanescentes de língua africana na região de Diamantina, MG.


O processo de desaparecimento da língua africana nesta região está diretamente ligado à morte dos vissungos – cantos ritualísticos produzidos por negros descendentes de escravos – que por sua vez, existiram enquanto houve contexto para a realização das práticas sociais em que eram envolvidos.


Esta pesquisa visa trabalhar os vissungos do ponto de vista de prática social e morte de língua. Para tal foi feita uma análise social, antropológica, um paralelo desta análise com o estudo teórico sobre morte de língua e um estudo sobre as raízes lingüísticas dos vissungos. Não se pretendeu aqui, fazer uma análise dos vissungos do ponto de vista lingüístico-estrutural.


Nosso objetivo é, portanto, estudar a descrição do gênero vissungo e analisar o seu desaparecimento, na perspectiva da teoria sobre morte de língua.


Na produção científico-literária sobre o assunto, destaca-se a obra de Machado Filho O negro e o garimpo em Minas Gerais editada pela primeira vez em 1943, pelo valor histórico, riqueza de dados e precisão da documentação tanto na letra quanto na música, através dos pentagramas. Nesta obra são documentados os vissungos cantados na região de Quartel do Indaiá/São João da Chapada, MG, numa pesquisa realizada da década de 30.


Para suporte teórico, tomaremos como referência, principalmente, os trabalhos de Ingedore Koch (2002) sobre texto e contexto, os trabalhos de Dell Hymes (1977) sobre abordagem etnográfica na sociolingüística, estudando a interação da língua e vida social, e os trabalhos de Nancy Dorian (1999, 2001, [200-]) sobre a obsolescência da língua, trabalho de salvamento, últimos falantes e morte de língua.


Como os fenômenos sociolingüísticos não são fáceis de serem explicados em sua totalidade pelas teorias, o desenvolvimento desta pesquisa exigiu que fossem feitas várias viagens a campo para realização de entrevistas, observação da vida em comunidade e para fazer as gravações dos vissungos. Leituras sobre a história local, com o objetivo de esboçar um quadro sobre a identidade do cantador de vissungo, foram também de extrema importância.




2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS


No projeto de dissertação Estudo Fonológico dos Vissungos de São João da Chapada, apresentado à POSLIN (FALE/UFMG) em março do ano de 2001, propusemos fazer um estudo comparativo entre os vissungos – cantos ritualísticos produzidos por negros descendentes de escravos – colhidos por Machado Filho e publicados em 1943 no livro O negro e o garimpo em Minas Gerais, na região de São João da Chapada/Quartel do Indaiá, e os vissungos coligidos pela pesquisadora nos anos de 2001/2002, dentro de uma perspectiva fonológica. Esse projeto previa a coleta de dados na mesma região onde Machado Filho fez sua investigação. Da comparação dos dados colhidos por Machado Filho (1985), e dos dados coletados pela pesquisadora, constatou-se que a proposta inicial de um estudo fonológico apresentada no projeto de dissertação não deveria ser realizada, visto os vissungos remanescentes naquela região serem em número muito reduzido e com uma acentuada alteração. Esta constatação conduziu a uma nova proposta: a urgência de registrar tais vissungos e um estudo mais detalhado sobre sua natureza e função.


Contudo, a hipótese inicial do projeto poderá ser objeto de estudos posteriores, caso se comprove a existência de um corpus que justifique uma análise fonológica comparativa dos vissungos. Entretanto, constatamos que apenas dois cantadores identificados em toda a localidade são os únicos a reter na memória os cantos, tornando-se necessário partir para o registro dos mesmos em sua forma atual e trabalhar sobre uma perspectiva da lingüística textual, aliada a uma necessidade de abordar os vissungos na perspectiva da morte de língua.


A presente justificativa tem como objetivo demonstrar a alteração da proposta inicial de uma análise fonológica para uma análise em lingüística textual. Essa alteraçãovisa garantir o registro do corpus coletado em 2001/2002, analisar os vissungos como práticas sociais e as possíveis razões que levaram ao desaparecimento dessas mesmaspráticas. Machado Filho coletou 65 vissungos na década de 30 e a pesquisadora encontrou, na mesma região, apenas 14 vissungos guardados na memória dos cantadores.


Sendo a pesquisa conduzida para o novo rumo, realizou-se uma segunda coleta de vissungos, partindo-se para o registro dos dados e, conseqüentemente, para uma análise dos seus usos e funções dentro das práticas ritualísticas. A nova coleta se deu no povoado de Ausente, próximo ao distrito de Milho Verde, pertencente ao município do Serro (MG). Também nesta localidade foram encontrados apenas dois cantadores, dos quais somente um se mostrou receptivo à pesquisa. Os vissungos encontrados em Ausente diferem em grande parte dos cantados em Quartel do Indaiá quanto às letras das músicas, mas não diferem quanto ao uso e às funções.


Os povoados de Ausente/Milho Verde e Quartel do Indaiá/São João da Chapada faziam parte da antiga Comarca do Serro-Frio, existente em Minas Gerais nos séculos XVII e XVIII. Dentro da Comarca Serro-Frio foi demarcado o Distrito Diamantino, que era maior que o Arraial do Tijuco. Quando este arraial se estabeleceu como produtor de ouro e, principalmente, de diamante, o distrito foi demarcado. O arraial era a sede do distrito, da demarcação.


Os vissungos, que estão quase extintos, devido a questões de ordem social e ao desaparecimento dos contextos que os amparavam, foram encontrados em Quartel do Indaiá – São João da Chapada (Diamantina) e Ausente – Milho Verde (Serro).


Os vissungos que eram cantados durante práticas sociais, são de herança africana e foram incorporados ao cotidiano da escravaria, em que eram entoados para aliviar os momentos extremamente árduos da mineração e dos funerais. Essas práticas sociais se caracterizam pela sistematização dos cantos que, além de terem uma forma definida, eram praticados de uma maneira ritualística, com sua execução sempre de acordo com o evento a que se destinava. Os cantos encontrados hoje, apesar de serem diferentes nas duas localidades em estudo, remetem às mesmas práticas, a saber: cantos de trabalho, de multa e de enterro. Os cantos de trabalho são de conhecimento dos cantadores do Quartel do Indaiá. Eles se lembram de cantá-los durante os trabalhos de mineração quando era preciso carregar a roda para secar a água. Os cantos de multa eram entoados quando algum “freguês” (termo usado nas localidades mencionadas para se referir a qualquer pessoa que não pertencia ao grupo – provavelmente pessoa que vinha da freguesia) se aproximava e cruzava o terreno em que estavam trabalhando. Era uma espécie de cobrança de pedágio por deixar o freguês passar pelo local de trabalho dos escravos.


Os cantadores de Ausente não se recordam dos cantos de trabalho. Eles se lembram apenas de um canto de multa, que tem semelhança lexical com um dos cantos colhidos por Machado Filho e que os moradores do Quartel do Indaiá já não recordam mais. Apesar de relatarem a mesma realização ritualística, os cantos de multa encontrados nas duas localidades foram diferentes.


Já os cantos de enterro são totalmente diferentes nas duas localidades. Apesar da prática ritualística ser a mesma, ela foi melhor descrita pelo cantador de Ausente. De todas as três práticas, a que perdurou por mais tempo foi a prática do enterro, sendo registrada em 28 de Setembro de 2001, com a morte de “Bastião”, no Baú, próximo ao Milho Verde.


O povoado do Baú surgiu no meio do mato, no distrito de Milho Verde, município do Serro. Segundo o Sr. Devanir, um dos moradores do Baú, havia uma fazenda nalocalidade onde havia uma única casa de telha - a casa dos senhores - e que seus avós, que eram trabalhadores dos senhores, compraram depois da abolição daescravatura. Seu avô casou-se duas vezes, sendo ele fruto do segundo casamento. Parentes agora, só primos. Já morreram os avós, os pais, os tios e tias. Até pouco tempo atrás, para se chegar ou sair da localidade, só a pé ou em carro de boi. A estrada chegou antes, mas, por falta de tráfego de carros, acabou-se. Quando adoecia algumapessoa, tinha que se fazer um “canapé de quatro” e colocá-la num carro de boi. Muitas pessoas faleciam pelo caminho. Até 1993, ainda morriam moradores do povoado por falta de atendimento médico, segundo ele, agora as coisas estão melhores: “Isso pra nós era brabo. Agora não. Agora nós anda de pé aí até duas hora de viagem, nósvamo lá e traz o carro.”


Neste panorama de isolamento, formou-se uma comunidade de descendentes de escravos, onde se preservou muito do dialeto africano[1] bem como sua cultura e práticas sociais.


Após essa descrição inicial dos vissungos, de seus usos e das comunidades onde eram realizados, passaremos a situá-los enquanto prática social, analisando seu domínio discursivo. Na elaboração do quadro teórico nos basearemos nos estudos de texto desenvolvidos por Koch (2002). Para os comentários sobre obsolescência delínguas, que conduz ao estudo sobre morte de língua, tomaremos como base os estudos de Dorian (1999, 2001, 2003*, 2004).


O presente trabalho visa responder a seguinte questão: O que mantém ou destrói uma face da cultura?


O levantamento e a análise dos dados de campo, embasados nas influências socioeconômicas e históricas das comunidades estudadas no decorrer desta pesquisa, permitiram esboçar uma hipótese para explicar o desaparecimento de uma parte da cultura – a língua – dos negros de Quartel do Indaiá e Ausente.




3. OS VISSUNGOS


3.1. Localização e contexto de uso dos Vissungos


Os vissungos são cantigas que os negros cantavam no trabalho de mineração de diamantes, “... para aligeirar, para tornar o trabalho mais suportável”, segundo Machado Filho em entrevista ao jornal Estado de Minas (1985). Ele dizia que, ainda menino, enquanto convivia com o trabalho de mineração, ouvia vissungos. E se orgulhava de ter sido o introdutor da palavra vissungo nos dicionários:


... é que fui eu quem introduziu esta palavra “vissungo” nos dicionários. Já está dicionarizada pela Enciclopédia do professor Antônio Houaiss. (...) E o Carlos Drummond já registrou em um de seus poemas. Isto é uma grande alegria para mim.


Segundo Feliciano Cangue, aluno de mestrado da UFMG, falante nativo do dialeto umbundo, existe a palavra ocisungo [otSisuNgu] que significa ‘hino’ e que tem a forma plural como ovisungo [ovisuNgu] significando ‘cantos’, ‘músicas’, ‘hinos’. No dicionário recentemente lançado por Houaiss (2001) temos a seguinte definição


vissungo s.m. (sXX) etn mús MG canto responsorial de negros nas lavras de diamantes em Diamantina (MG) com palavras em português e línguas africanas F f. geral não pref.: viçungo ¤ etim umbd. ovisungu, pl. de ochisungu ‘canto’, registra Nei Lopes.


São cantos ritualísticos em línguas africanas que incorporam emoções de ordem social e religiosa.


Havia, dentre os vissungos, grupos temáticos, conforme a coleta de Machado Filho: Padre-Nossos, cantigas de multa, cantigas de rede e de caminho, gabando-se de qualidades, cantos da manhã, canto do meio-dia, pedindo licença para cantar, etc.


Atualmente os cantadores só reconhecem os vissungos de trabalho, de multa e de enterro.


Os vissungos eram cantados atrelados a práticas sociais. No trabalho, por exemplo, como eram em grande número, os escravos utilizavam a música para suavizar o esforço que faziam para levantar a roda d’água. Era também no ambiente de trabalho que os escravos multavam os fregueses. Com a abolição da escravatura, sem o trabalho grupal que anteriormente era exigido, essas práticas foram se dissipando. Hoje em dia é comum garimpar sozinho nestas localidades. Isto nos leva a compreender o esquecimento dos cantos de trabalho e de multa sofrido pelos nossos cantadores. Machado Filho (1985:66), faz referência a essas práticas:


Os negros no serviço cantavam o dia inteiro. Tinham cantos especiais para a manhã, o meio-dia e a tarde. Mesmo antes do sol nascer, pois em regra começava o serviço alta madrugada, dirigiam-se à lua, em uma cantiga de evidente teor religioso.


Registram as canções o momento em que o patrão, saindo de casa, se dirigia para a lavra. Note-se ainda que os trabalhadores não deixavam de rezar seu ‘Pade Nosso’, de que colhemos duas variantes.


(...) Vinda a abolição, os negros só queriam trabalhar com patrão que não proibisse os vissungos. No tempo da escravidão, não tinham direito de escolher senhor.


Já os cantos de enterro, se ligavam a outra prática social. Era necessário levar o defunto que morria nas localidades mencionadas para o cemitério dos respectivos distritos. Como não tinham acesso a meios de transporte, como carro de boi ou similar, eles levavam o defunto enrolado numa rede, amarrada em um pau, que era levada nos ombros por dois homens, e os acompanhantes, que revezavam o carregamento, iam cantando os vissungos ao longo do caminho. Hoje, com a pavimentação nestas localidades, com a chegada do carro (às vezes, funerário), não se faz mais necessária a realização desta prática social.


Segundo BOSI (1987: 336):


o grupo é suporte da memória se nos identificamos com ele e fazemos nosso passado. (...) As lembranças grupais se apóiam umas às outras formando um sistema que subsiste enquanto puder sobreviver a memória grupal. Se por acaso esquecemos, não basta que os outros testemunhem o que vivemos. É preciso mais: é preciso estar sempre confrontando, comunicando e recebendo impressões para que nossas lembranças ganhem consistência.


Os vissungos não estão desaparecendo somente pela morte dos cantadores conforme atestava Machado Filho; as práticas sociais que incluíam esses cantos foram dizimadas e com elas a prática lingüística utilizada para suas realizações. Do ponto de vista sócio-histórico, a estrutura social mudou.




3.2. Os Vissungos enquanto textos


Uma vez situados os vissungos, tomemos como ponto de partida para as reflexões sobre os vissungos, enquanto textos, alguns conceitos básicos que se fazemnecessários para os estudos sobre texto/discurso.


Em Koch (2002) temos um conceito de texto para cada concepção que se tem de língua e de sujeito:


Ø Língua = representação do pensamento ® Sujeito = senhor absoluto de suas ações e de seu dizer ® Texto = produto lógico do pensamento do autor ®Leitor/ouvinte = passivo, capta essa representação mental juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor.


Ø Língua = código, mero instrumento de comunicação ® Sujeito = (pre)determinado pelo sistema ® Texto = simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo Leitor/ouvinte = Passivo, precisa ter o conhecimento do código.


Ø Língua = interacional (dialógica) ® Sujeito = ator/construtor social ® Texto = próprio lugar da interação ® Interlocutores[2] = sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto.


Segundo a autora, adotando-se esta última concepção – de língua, de sujeito, de texto – a compreensão deixa de ser entendida como simples ‘captação’ de umarepresentação mental ou como a decodificação de mensagem resultante de uma codificação de um emissor, para ser uma atividade interativa altamente complexa deprodução de sentidos. “O sentido de um texto é, portanto, construído na interação texto-sujeitos (ou texto-co-enunciadores) e não algo que preexista a essa interação”.


Estas concepções vêm nos mostrar, de uma maneira bastante clara, as relações que são feitas entre os cantadores e o texto que cantam. Conforme já foi dito anteriormente, os vissungos são cantados em língua africana, se é que assim podemos falar. Os cantadores do Quartel do Indaiá, como já estão muito distanciados destalíngua, não sabendo o significado das palavras, não articulando as palavras com proficiência, não alcançam mais o código e, portanto, têm substituído palavras africanas por palavras do português para lhes atribuir algum sentido. Podemos averiguar nos exemplos abaixo:


Em Machado Filho, (1985:73) o Vissungo I


Otê! Pade-Nosso cum Ave-Maria, securo camera qui t’Angananzambê, aiô...


Aiô!... T’Angananzambê, aiô!...


Aiô!... T’Angananzambê, aiô!...


Ê calunga qui tom’ ossemá,


Ê calunga qui tom’ Anzambi, aiô!...




Transformou-se em:


Ê Pade Nosso com Ave Maria segura o kane, Oi Dandaiola...


Ah ê...


Ô kanunga me chama gerê ê...ê[3]


Ô karan me chama gemá a...a...ê


Tê!


Tê...tê...tê...tê


Pade Nosso com Ave Maria segura o kane, Dandaia...


Dandaiê....ê


Ê...ê...


Ô kundero di ê num tem tempo


Oi vero o copo nuá tem tempo


Aiê!


Ô Kaíconde...ê...ê...ê


Ô kalúnga me toma bebê[4]


Ô kalúnga me toma sambá...á


Êi...


Pê...rê...rê...rê


O mico kumbarano num tem tempo


Ô pu kumbarano num tem tempo


Ô...ê...ê...êi


kumbarauê... ê...ê... ê... êi


kumbará...


kumbarauê... ei... ê


kumbarauê... ê... êi.


Há uma tentativa de buscar uma coerência no que estão cantando. Segundo Koch (2002), “também, a coerência deixa de ser vista como mera propriedade ou qualidade do texto, passando a dizer respeito ao modo como os elementos do contexto sociocognitivo mobilizados na interlocução vêm a constituir, em virtude de uma construção dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos”. Essa busca incessante em atribuir sentido a tudo o que faz é uma característica do ser humano.


Esta reflexão sobre a produção de sentido, segundo Koch (2002) esclarece que o processamento textual, quer em termos de produção, quer de compreensão, depende, essencialmente, de uma interação – ainda que latente – entre produtor e interpretador. Assim compreendemos o recurso utilizado pelos cantadores do Quartel do Indaiá e passamos a ver os vissungos de uma maneira diferenciada, partindo do pressuposto de que não somos conhecedores do código e, portanto, a sua realização entre o meio sócio-cultural de sua proveniência e o meio urbano jamais poderá ser interpretada da mesma forma. Quando Sr.Crispim nos embevece com o canto dos vissungos, podemos admirar como um show, coberto de performances, mas infelizmente não alcançamos o sentido que os signos podem trazer. Daí a necessidade de reflexão sobre ocontexto e suas concepções.


São várias as definições atribuídas ao termo contexto. Malinowski (1923) propôs os termos “contexto de situação” e “contexto de cultura”; Firth (1957) propôs “contexto social”; Halliday e Labov também trabalharam sobre a noção de contexto numa perspectiva sociológica e Hymes (1964) propôs o esquema SPEAKING que caracteriza o contexto da seguinte forma:


S – Situação: cenário, lugar


P – Participantes: falante, ouvinte


E – Fins, propósitos, resultados


A – Seqüência de atos: forma de mensagem/forma de conteúdo


K – Código


I – Instrumentais: canal/formas de fala


N – Normas: normas de interação/normas de interpretação


G – Gêneros.


Partindo da proposição de Hymes, podemos fazer uma análise mais detalhada dos vissungos onde, passo a passo, passaremos a conhecer sobre sua contextualização:


S – Os vissungos sempre tiveram como cenário o eixo social e cultural de descendentes de escravos, que viviam em aldeias mais isoladas.


P – Quem participa dos cantos, geralmente são os homens. Tanto no trabalho (nas catas de mineração), quanto nos enterros.


E – No trabalho, eram entoados para aliviar a carga. Os cantos de multa eram entoados com propósito de cobrar uma espécie de pedágio dos estranhos que passassem pelo seu local de trabalho. Nos enterros, eram entoados para encomendar a alma do defunto.


A – São cantos sempre tirados por uma pessoa que inicia e respondidos pelos demais cantadores do grupo. Quase sempre fazem uso de repetições e usam como recursos alguns sons - aproximadamente alveolar lateral flap - que são sons tipicamente africanos. A velocidade de fala difere nos vissungos de multa (mais rápidos) e nos vissungos de enterro (mais lentos).


K – O código usado, tanto pelos moradores de Quartel do Indaiá como pelo morador de Ausente é em língua africana. Mas, apesar de muitas palavras serem de origem kimbundu, não podemos afirmar que todas sejam, uma vez que nem todas foram encontradas no dicionário kimbundu-português de Assis Júnior[s. d.].


I – São sempre cantados. Nada é falado sem melodia. É uma espécie de diálogo, em que um sempre tira e os outros respondem. O único instrumento que se usa nos vissungos é a voz. No máximo, nas cantigas de multa, eles faziam som com os próprios instrumentos de trabalho.


N – Dança-se nas cantigas de multa, mas não se dança nas cantigas de enterro. Algumas interjeições são usadas sempre nos inícios dos cantos e na passagem de um canto para outro; tiradas pelo mestre e respondidas pelos demais.


G – Enquanto prática social, o vissungo é um gênero ligado a três domínios específicos, com pessoas específicas de uma determinada cultura, de uma determinada situação e geração de trabalho.


O contexto, como é hoje entendido no interior da lingüística textual, segundo Koch (2002: 25), abrange não só o co-texto, como a situação de interação imediata, a situação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e também o contexto sociocognitivo dos interlocutores que, na verdade, subsume os demais. “Há um consenso relativo sobre o fato de que, sob a noção de contexto, se oculta a hipótese de que nenhuma análise lingüística, de qualquer ordem que seja, pode ser feita sem levar em conta ou fazer intervir, em algum momento, elementos exteriores aos dados ou fatos lingüísticos analisados”.


Digamos que os vissungos têm o seu contexto interno e externo. No contexto interno seriam as condições acima citadas, ao passo que o externo seria a organização social, que permitiria a sua realização. Ambos se encontram diante de uma situação crucial: enquanto, dentro do contexto interno, assistimos aos últimos cantadores que, senão encontram o respondedor, não conseguem mais cantar; também, no contexto externo, vimos a ausência das condições sociais propícias às realizações das práticas.


Diante das afirmações acima avançamos para um outro aspecto na análise dos vissungos, que é o seu iminente desaparecimento. Os vissungos de trabalho e de multa desapareceram bem antes dos vissungos de enterro. O trabalho de mineração não acabou, mas a prática de mineração grupal, usando o negro como mão-de-obra, onde se juntavam pessoas à força para trabalhar, essa sim deixou de existir, desagregando um grupo que tinha suas práticas sociais específicas. Os vissungos de enterro ainda foram entoados no final do ano de 2001 com o falecimento de um morador de Baú.


Falar da quase iminente morte dos vissungos é também falar sobre morte de língua.




4. CONCLUSÃO


O objetivo principal que norteou a presente pesquisa foi descrever o gênero vissungo e analisar o seu desaparecimento, tendo em vista estudos sobre morte de língua. Para tanto, observamos as interações sociais dadas nos contextos de sua realização e analisamos as relações existentes entre o desaparecimento dos vissungos e as alterações nas práticas sociais, estabelecendo posterior comparação entre as realizações dos vissungos nos anos de 1930/1940 e nos anos de 2001/2002. Aspectos textuais, contextuais, sociais e culturais foram também considerados neste estudo.


Os vissungos, enquanto texto, podem ser o resultado de um colapso lingüístico, de várias línguas africanas – sobressaindo o kimbundo – mais a imperiosa fala dos senhores de lavra ou de terra. Os cantos, mais que cantos, eram uma forma de linguagem em que os escravos se comunicavam (situações que pudemos comprovar com os relatos sobre as práticas de multa e de enterro – quando chamavam o inimigo para o cemitério).


Segundo Hymes (1977: 45) os modos de fala são usados de uma maneira geral como um termo primitivo. Devem ser consideradas todas as manifestações e derivações da linguagem, incluindo escritas, canções, assobios, tambores, berrantes, etc.


No percurso, constatamos a partir dos dados de campo e de sua análise integrada às influências de ordem socioeconômica e histórica, que parte da cultura da população negra das comunidades de Quartel do Indaiá e Ausente, a saber, sua língua, encontra-se em franco processo de desaparecimento. As hipóteses levantadas para responder à pergunta sobre o que mantém ou destrói uma face da cultura, especificamente a língua, tiveram sua explicação a partir de fatores predominantemente sociais.


Uma das possibilidades de trabalhar a manutenção da cultura é através da arte. Ruth Monserrat no 11° COLE (Congresso de Leitura do Brasil), em 1999, em Campinas, em reflexão sobre a morte de línguas indígenas no Brasil contemporâneo, já apontava para a arte como um espaço de preservação dessas línguas. Na ocasião, mencionou como exemplo CD’s de cantos rituais indígenas, divulgados junto ao público jovem, universitário, dos grandes centros urbanos brasileiros. A realização doespetáculo Macuco Canengue, bem como a produção do filme de Pedro Guimarães, a partir desta pesquisa, foram movimentos na direção dessa proposta de preservação dalinguagem – amplo sentido – dos povos que integram a cultura brasileira.


Já os fatores que contribuíram para a destruição da cultura podem ser especificados conforme a seguir:


Primeiramente, a presença da Igreja Evangélica na localidade coibindo as práticas religiosas, os rituais e as manifestações em dialeto; a falta de contextualização para o garimpo em massa onde os negros eram obrigados a trabalhar em grupo, vêm sendo impeditivas à sobrevivência da língua.


A melhoria dos serviços de infra-estrutura nas localidades, como a abertura de estradas públicas, permitindo a chegada do carro funerário; realidade que deixa pouca margem à prática dos vissungos de enterro.


O comportamento da sociedade hodierna, em que os filhos já não se assentam com os pais como se costumava fazer, permitindo que houvesse repasse da cultura (histórias, rituais, vissungos, crenças, etc.) aos descendentes.


Outro fator responsável pela extinção da língua é a falta de prestígio em cultivar sua cultura. Os filhos da população negra não vêem interesse algum em estarcultivando suas origens. Não se interessaram em aprender os vissungos, tampouco o dialeto. A língua padrão, ensinada como a única possível para ascensão social, faz com que os membros das comunidades de fala rejeitem a língua ancestral.


Dorian (1999) afirma que até mesmo onde a transmissão da língua continua prosperamente, o declínio e prestígio da língua ancestral podem conduzir a seu rápido desuso por pessoas mais jovens que têm acesso direto à língua de expansão.


Segundo Schlafman, de uma maneira geral, os homens preferem falar a língua que lhes permita se movimentar fora do seu grupo imediato, não aquela que os retém na aldeia natal. Se é um péssimo negócio para as línguas, pior ainda para as culturas ou religiões que só subsistiam graças à língua. Com cada dia menos uso, o saber pertencente aos velhos não está sendo repassado à próxima geração.


Sendo as práticas sociais realizadas em grupo, e tendo havido a supressão destas práticas, restam aos cantadores as reminiscências que trazem na memória. Para a realização desta pesquisa foi necessário trabalhar na construção social da memória; reunir os irmãos Pedro e Paulo foi preciso para possibilitar a criação de esquemas coerentes nas interpretações dos vissungos. A falta do respondedor, que dentro do contexto interno completa a seqüência de atos, impossibilita a realização dos cantos. Quando o cantador os evoca, não vem o reforço, o apoio contínuo dos outros cantadores. A participação grupal comum seria, portanto, decisiva.


Debruçar sobre o estudo dos vissungos e descobrir que já não são mais o legado de um povo rico em contribuições culturais e sim, vestígios ancestrais de uma comunidade que por falta de dinâmica evolutiva das práticas sociais prenuncia seu desaparecimento, nos coloca diante de uma realidade sobre a qual pouco pode ser feito.


Por fim, vale sugerir futuras pesquisas sobre os vissungos, que contemplem outros aspectos não compreendidos no atual trabalho. O principal deles é relativo à semântica e a fonologia entre as duas localidades pesquisadas, e dentro do próprio texto, visando um melhor aprofundamento sobre o texto dos vissungos.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995. 244 p.




[1] O termo dialeto africano utilizado neste trabalho é apenas para se referir à linguagem dos vissungos como tudo o que não é cantado em português. Pode se tratar de variações dialetais de uma mesma língua ou ser línguas diferentes. Esta expressão está sendo usada como os próprios falantes comumente a usam.


* Textos ainda no prelo, cedidos pela autora para a realização desta pesquisa.


[2] Aqui, já não mais leitor/ouvinte.


[3] Canto do Sr. Pedro.




[4] Canto do Sr. Paulo.