domingo, 6 de julho de 2025

IA: Será que chegamos à era da estupidez?

IA: Será que chegamos à era da estupidez?

O importante é o que fazemos com a inteligência que nos resta

Os usuários do ChatGPT apresentaram o menor engajamento neural e o pior desempenho nos níveis linguísticos, comportamental e cognitivo na pesquisa do MIT. Foram os que menos usaram o cérebro.

A Inteligência Artificial nos torna estúpidos? Uma pesquisa recente do MIT diz que sim. Intitulado "Seu cérebro no ChatGPT", o estudo concluiu que, embora a IA torne as tarefas mais fáceis, os efeitos colaterais podem ser devastadores para nossa autonomia cognitiva.

Durante quatro meses, 54 adultos foram divididos em três grupos para escrever uma série de ensaios. O primeiro usou o ChatGPT, o segundo o Google. O terceiro, o bom e velho cérebro analógico. Para monitorar a atividade cerebral, os pesquisadores acompanharam, por eletroencefalograma, o funcionamento de 32 regiões do cérebro enquanto cada participante escrevia.

O resultado foi desconfortavelmente previsível. Os usuários do ChatGPT apresentaram o menor engajamento neural e o pior desempenho nos níveis linguísticos, comportamental e cognitivo. Resumo: Foram os que menos usaram o cérebro. Para piorar, o declínio intensificou-se com o tempo. Tornaram-se mais passivos, mais dependentes e mentalmente letárgicos.

O estudo foi recebido de forma apocalíptica. Reacendeu o velho temor de que a tecnologia esteja roubando aquilo que restava da consciência crítica. Mais relevante do que perguntar  se a IA nos emburrece ⁶ é pensar no que temos feito com a inteligência que ainda nos resta.

Se depender desse estudo, a era da estupidez talvez ainda não tenha chegado. Ao menos  não se comparada ao grau de estupidez que somos capazes de alcançar naturalmente.

Lembremos quando as calculadoras surgiram. Elas nos deixaram mais burros? Depende. Quem usa para calcular 7x8, provavelmente. Se for para dedicar os esforços cognitivos para tarefas mais complexas, eu diria que não. Fazer divisões longas não é exatamente  uma demonstração de produtividade mental.

O cálculo mais importante a ser feito não é técnico, mas existencial: o quanto a conveniência pode nos alienar. Esse cálculo nenhuma máquina pode fazer por nós - a IA não é pensamento artificial.

Pensar exige energia. Se existe uma tecnologia que nos poupa de tarefas mecânicas e libera espaço mental para elaborar melhor o pensamento, deveríamos agradecer, não demonizar. O problema é que nem sempre usamos esse espaço para colocar o cérebro para trabalhar. O essencial, no fim das contas, é o que fazemos com o tempo e a energia que a IA nos devolve.

O estudo do MIT ignora essa nuance. Foca no que foi economizado, sem considerar o que poderia ser feito com essa economia. Se uma tarefa exige menos esforço, é evidente que a carga cognitiva  diminui. Foi isso que os autores registraram. Ponto.

por 

Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

PT faz primeira eleição pós-Lava Jato com candidato de Lula como favorito

PT faz primeira eleição pós-Lava Jato com candidato de Lula como favorito
O presidente Lula na comemoração dos 45 anos do PT, no Rio de Janeiro: seu candidato é favorito Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

 PT elege hoje um novo presidente em meio a um debate sobre o reposicionamento do partido e com o candidato do presidente Lula (PT), o ex-ministro Edinho Silva, como favorito.

O que acontece

A eleição acontece depois de oito anos de gestão de Gleisi Hoffmann. Então líder do PT no Senado, ela assumiu o partido em junho de 2017, em meio à Operação Lava Jato, momento mais delicado da história da sigla. Hoje ministra das Relações Institucionais, ela passou o posto temporariamente ao senador Humberto Costa (PT-PE).

Edinho é o nome da corrente majoritária do PT. A CNB (Construindo um Novo Brasil), da qual o presidente Lula faz parte, representa quase 50% dos votos de filiados. Seu principal adversário é o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), que já dirigiu a sigla anteriormente e se lançou como independente. Os petistas históricos Romênio Pereira e Valter Pomar correm por fora.

Lula e o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva Imagem: Ricardo Stuckert/Instagram Edinho Silva

Para onde vai o partido

O PT encara um debate sobre como se posicionar frente ao crescimento da direita. De volta ao poder depois de seis anos, petistas dizem que o pior já passou, mas também avaliam que esperavam estar numa situação "mais estável".

A federação com PCdoB e PV tem a segunda maior bancada da Câmara, atrás do PL, mas tem passado dificuldades. Diferentemente do que ocorreu nos governos petistas anteriores, o partido fica isolado em votações relevantes, com apoio do PSOL e parcialmente do PSB e do PDT, e tem um poder de barganha limitado, mesmo ocupando o Palácio do Planalto.

A discussão, não exatamente uma novidade no PT, se dá entre aumentar o diálogo ao centro ou esticar a corda à esquerda. Edinho, conhecido como conciliador, defende a primeira estratégia, enquanto Falcão é adepto de retornar às origens.

Recheada de governistas, como o ministro Fernando Haddad (Fazenda), Gleisi e o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), a CNB optou pela suavização. Membros da corrente defendem que o partido conseguiu seus maiores êxitos quando dialogou com siglas ao centro e com setores mais distantes do tradicional discurso petista (bancos e mercado financeiro, por exemplo), como ocorreu nos primeiros mandatos de Lula e na eleição de 2022.


Rui Falcão presidiu o PT entre 2011 e 2017 e representa a corrente minoritária Novo Rumo Imagem: Lula Marques/`PT

Rui Falcão defende estratégia oposta. O deputado argumenta que é exatamente por este afastamento das raízes à esquerda que o partido tem perdido sua identidade e, consequentemente, seu eleitorado.

Para ele, a polarização contribui para sua tese. Ele tem citado pautas como o fim da escala 6x1 e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, proposta pelo governo, como exemplos bem-sucedidos de como pautas pró-trabalhador ainda conseguem mobilizar a população.

Aliados dizem que este argumento tem ganhado força em meio ao último embate do governo. Defendendo estas mesmas pautas, os vídeos promovidos pelo PT, feitos com IA, têm viralizado nas redes sociais e furado a bolha de um jeito que nenhuma campanha da Secom (Secretaria de Comunicação) ou fala de Lula conseguiu até agora neste terceiro mandato.

Petistas dizem que as cartas estão na mesa. Com chancela da corrente majoritária e apoio indireto de Lula, que nunca declarou voto publicamente, mas não esconde a preferência, o nome de Edinho deverá ser confirmado no resultado amanhã.

Oito anos depois

O partido volta às urnas depois de oito anos em uma situação totalmente diferente. Em 2017, o PT era o principal alvo da Lava Jato, com grande parte das suas lideranças investigadas, incluindo o então ex-presidente Lula e a senadora e candidata eleita, Gleisi Hoffmann.

Fiel a Lula, Gleisi segurou a legenda durante os anos com menores números de novas filiações. Nas eleições municipais de 2020, o partido teve seu pior desempenho, sem eleger nenhum prefeito em capital pela primeira vez desde a redemocratização.

Agora, de volta à Presidência da República, o cenário é outro. O PT voltou a ver o número de filiados e de prefeitos eleitos subir em 2024 e se mantém como uma das maiores forças do Congresso.

Apesar do aumento, o crescimento está aquém do almejado pela legenda. Mesmo com a terceira bancada, o PT está longe de ter o poder que um dia teve, o que é sentido diariamente nas votações do Congresso, enquanto vê nomes da direita despontarem em diferentes regiões do país.

A renovação será um dos principais desafios do novo presidente. Com o número de jovens —uma marca do PT nos anos 1980— reduzido a pó depois da Operação Lava Jato, novas lideranças têm surgido, mas o partido precisa de volume.

Lula e membros do governo repetem que, se não tiverem bases regionais e nacionais sólidas, de nada adianta estarem no Planalto. Para isso, é preciso, primeiro, ter um alto número de candidatos, segundo analisam membros do diretório.

por Lucas Borges Teixeira

PED 2025: Petistas participam da votação do primeiro turno neste domingo (6)

 PED 2025: Petistas participam da votação do primeiro turno neste domingo (6)

Processo de Eleição Direta, marca registrada do PT, acontece desde 2001 e permite que os próprios filiados e filiadas elejam diretamente seus dirigentes municipais, estaduais e nacionais

PT Nacional

O Partido dos Trabalhadores realiza neste domingo (6) a votação no primeiro turno do Processo de Eleição Direta – PED 2025 para a renovação das direções municipais, estaduais e nacional do partido. No caso de necessidade de um segundo turno, a data já estabelecida é 20 de julho.

O PED é uma marca registrada do PT e acontece desde 2001.

O processo permite que os próprios filiados elejam diretamente seus dirigentes municipais, estaduais e nacionais, num exercício amplo de participação política interna.

O processo de votação ocorre das 9h às 17h nos diretórios municipais do PT respeitando o fuso horário de cada região. Brasileiros (as) filiados (as) ao partido que residem no exterior também poderão votar para a chapa nacional e para a presidência nacional.

Filiados e filiadas podem acessar o site https://ped2025.pt.org.br/consulta/ para saber se está apto(a) a votar e também conhecer o local onde irá votar.

O mandato dos membros efetivos e suplentes das direções partidárias eleitas no Processo de Eleição Direta, dos Conselhos Fiscais e das Comissões de Ética eleitos é de quatro anos.

As direções partidárias, delegações e cargos com função específica de secretarias deverão ter paridade de gênero (50% de mulheres e 50% de homens), além de cotas de, no mínimo, 20% das vagas para jovens com menos de 30 anos de idade e pessoas negras ou indígenas nas chapas, delegações e instâncias de direção.

Estão aptos a votar no primeiro turno das eleições internas um total de 2.959.823 filiados e filiadas, conforme registro atualizado no Sistema de Filiação (Sisfil) do partido.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Lula acena à reeleição: "Pela primeira vez, presidente eleito quatro vezes"

 Lula acena à reeleição: "Pela primeira vez, presidente eleito quatro vezes"

Lula falou em reeleição durante discurso realizado em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, para anunciar investimentos em refino e petroquímica

"Eles não sabem o que eu estou pensando. Então, se preparem porque, se tudo estiver como eu estou pensando, esse país vai ter pela primeira vez um presidente eleito quatro vezes", afirmou Lula - (crédito: AFP)

















O presidente Luiz Inácio Lula da Silva projetou, nesta sexta-feira (4/7), concorrer à reeleição no pleito do próximo ano. Segundo ele, caso ganhe mais quatro anos no poder, o país terá, pela primeira vez na história, um presidente eleito quatro vezes.                                  "Eles não sabem o que eu estou pensando. Então, se preparem porque, se tudo estiver como eu estou pensando, esse país vai ter pela primeira vez um presidente eleito quatro vezes", afirmou Lula, em discurso realizado em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, para anunciar investimentos em refino e petroquímica.                                                                  Na ocasião, o presidente também elogiou a chefe da Petrobras, Magda Chambriard, e criticou os altos preços dos combustíveis nos postos. “Quem olha pra Magda assim, à primeira vista, essa mulher frágil, que anda devagar, que fala manso, às vezes eu tenho até dificuldade de entender, pensa que ela não tem condições de dirigir uma empresa da magnitude da Petrobras”, afirmou. “E a surpresa é que a companheira Magda é extraordinariamente competente, não pra dirigir uma Petrobras, pra dirigir duas Petrobras, ela teria competência”, completou.                                                                                                                                                                                                                          Conflito com a oposição                                                                                                  Lula ainda negou haver uma "briga" entre o governo e o Congresso. Segundo ele, divergências entre os poderes são resolvidas por meio da negociação.                                 "Deixa eu falar uma coisa para o Congresso, porque parece que tem uma guerra entre o governo e o Congresso. Eu sou muito agradecido à relação que eu tenho com o Congresso Nacional. Até agora, nesses dois anos e meio, o Congresso aprovou 99% das coisas que nós mandamos ao Congresso", afirmou.







  

"Competência do IOF é do Executivo", diz Guilherme Dolabella, procurador do DF

 "Competência do IOF é do Executivo", diz Guilherme Dolabella, procurador do DF

Ele explica que a Constituição trata do tema sem controvérsia e frisa: o decreto que aumentou as alíquotas do imposto não é passível de ser sustado pelo Legislativo, conforme estabelecido pelo parágrafo 1 do artigo 1

Guilherme Dolabella,  procurador, doutor em direito financeiro pela USP e advogado -  (crédito:  Arquivo Pessoal)Guilherme Dolabella, procurador, doutor em direito financeiro pela USP e advogado - (crédito: Arquivo Pessoal)                                                                                                                             Lisboa — O procurador do Distrito Federal Guilherme Dolabella, doutor em direito financeiro pela USP e também advogado do escritório Barreto Dolabella Advogados, está em Portugal acompanhando os debates do Fórum de Lisboa justamente num momento em que as questões fiscais estão na ordem do dia, com a crise do IOF. Com seus profundos conhecimentos sobre o tema, Dolabella analisou, a pedido do Correio, o debate do ponto de vista técnico. O procurador explica que a Constituição trata do tema sem controvérsia: "O decreto que aumentou alíquotas do IOF é uma competência do Executivo, que não é passível de ser sustada pelo Legislativo, pois está expressa no art. 153, parágrafo 1"        ministro Flavio Dino, em palestra, disse que a questão do IOF é juridicamente muito simples. O problema, segundo ele, é politico. Qual é o foco do debate?                                                                                                        A tese jurídica é a competência do Poder Executivo para alterar a alíquota do IOF, conforme previsão do art. 153, parágrafo 1, da Constituição de 1988. Paralelamente, há a questão relativa à competência do Congresso em sustar atos 
normativos dos Poder Executivo que exorbitem o poder regulamentar ou delegação concedida pelo Poder Legislativo, conforme art. 49, inc. V da Constituição de 1988. Portanto, a essência do litígio institucional relativo ao IOF está na definição constitucional da competência de cada um dos Poderes. Entendi que a solução caminha para reconhecer que a competência, nesse caso, é do Poder Executivo, dado que a alteração de alíquotas do IOF não se insere nos parâmetros constitucionais de exercício de poder regulamentar, definido no art. 84, inc. IV da Constituição ou a delegação legislativa, prevista no art. 68 da Constituição.                                                                                                                                                 O Congresso tem competência para derrubar um decreto presidencial que trata do aumento das alíquotas do IOF?

Por isso é que o ministro Flávio Dino fez o comentário sobre a desnecessidade de uma declaração do STF sobre o tema, já que a própria Constituição estabelece expressamente os limites e as competências do Executivo e do Legislativo nesse caso. O decreto que aumentou alíquotas do IOF é uma competência do Executivo que não é passível de ser sustada pelo Legislativo, pois está expressa no art. 153, parágrafo 1.

O ex-presidente Michel Temer afirma que o IOF não pode ser usado para aumentar a arrecadação porque o imposto existe para regular as relações fiscais. Como avalia esse ponto?

Em relação à declaração do ex-presidente Michel Temer, é necessário fazer uma análise sob dois aspectos: 1) a natureza tributária do IOF; 2) os impactos econômicos da tributação pelo IOF. Sobre o primeiro aspecto, não existe a separação da essência fiscal do tributo de sua característica extrafiscal. Todo e qualquer tributo tem finalidade arrecadatória, pois provê recursos privados para o Tesouro. A discussão é: sob o ponto de vista extrafiscal, vale a pena aumentar as alíquotas do IOF. Ai, é um exame dos efeitos econômicos do tributo e, sob essas circunstâncias, o IOF onera atividades econômicas diversas e o consumidor final, pois é um custo e se insere no preço. Portanto, entendo que a crítica realizada pelo ex-presidente Michel Temer ressalta esse viés regulatório e extrafiscal do IOF e seus efeitos econômicos. Mas todo e qualquer tributo existe para prover recursos financeiros para o Estado e, adicionalmente, a depender das suas características, influencia os agentes econômicos em direção a determinada ação/conduta desejada pelo governo.

Se o STF mantiver a derrubada do aumento, terá de definir de onde vão sair os recursos para cobrir o deficit fiscal ou isso é papel do Executivo?

Se o STF deliberar pela validade do decreto legislativo sob a ótica da competência do Congresso, a decisão irá se restringir à declaração de constitucionalidade do ato legislativo. Eles não podem adentrar no campo legislativo e definir a origem de recursos que o Poder Executivo objetiva obter. Caso contrário, seria também uma usurpação de competência do Congresso. Aliás, essa é uma das competências legislativas clássicas e historicamente uma conquista liberal, pois significa o consentimento da sociedade em relação a tributação por meio de seus representantes eleitos.

Muitos políticos estão falando em conciliação para resolver essa questão, intermediada pelo STF. Como seria?

A ideia de conciliação seria um caminho idêntico a situações em que o STF exerceu o papel de mediador nos episódios de crise entre os Poderes. Tivemos essa iniciativa de convocação de audiências de conciliação entre representantes da AGU e do Senado e da Câmara dos Deputados no caso das emendas Pix e, também, na definição do marco temporal das terras indígenas. Em relação ao IOF, acredito que o STF buscaria uma distensão entre o Executivo e o Legislativo, por meio da revogação do decreto legislativo relativo ao IOF e a apresentação de novo decreto pelo Executivo ou medida provisória que contemple parâmetros de tributação e obtenção de novos recursos aceitáveis sob o ponto de vista político e econômico.