sexta-feira, 17 de abril de 2015



A Cultura Popular como estímulo à leitura dos brasileiros

Como a tradição oral pode contribuir para a formação de uma sociedade leitora.

Ariano Suassuna em sua ultima  aula-espetaculo




Afinal, os brasileiros não leem porque os livros são caros ou os livros são caros porque os brasileiros não leem? Ou nenhuma das alternativas é correta? Evidente que a questão econômica influencia, mas não se torna a única variável desta equação, pois, há sim outros fatores que compensariam a ausência de uma cultura letrada no Brasil e que poderiam servir de estimulo a formação da nossa tão almejada sociedade leitora. 

Tradição oral

O compositor Tom Zé conta em uma entrevista que adquiriu sua visão de mundo ouvindo as histórias dos sertanejos, que iam à loja de seu pai adquirir produtos manufaturados. Ele reforça que muito o impressionou a sabedoria desta gente analfabeta, mas de uma inteligência rara graças a sua rica tradição oral. Quem já escutou uma "embolada" entre dois desafiantes sabe bem desta aguda inteligência.

Literatura de cordel

Possivelmente, este tipo de literatura popular, muito apreciada no nordeste brasileiro, não seja incluída nas pesquisas sobre leitura de livros pelos brasileiros, mas ela é por demais significativa para a formação cultural de toda uma região. O cordel é feito artesanalmente e é vendido muito barato em praças e feiras do sertão. Declamado pelo cordelista (é feito em forma de versos) para os frequentadores da feira e vende como pastel feito na hora.

Teatro de mamulengo

O teatro de bonecos mamulengo, também uma tradição oral nordestina, e é outra forma encantadora de se levar cultura e educação a todos. Em uma roda de poesia, com pessoas em situação de rua, um deles contou para os colegas e poetas presentes parte da história de um teatro de mamulengo que ele tinha assistido na Redenção, um parque muito frequentado em Porto Alegre. 

Contadores de histórias

A contação de histórias é outra maneira lúdica e muito atraente de divulgar a literatura para crianças e adultos. Contadoras de história transformam temas normalmente áridos de palestras e manuais (segurança no trabalho, trânsito, saúde bucal, etc.) em divertidas histórias, utilizando esquetes ou fantoches, que são muito apreciadas pelos trabalhadores.

Aula-espetáculo

Ariano Suassuna, escritor brasileiro, também nordestino, tinha uma maneira muito divertida e infalível de estimular o gosto pela leitura através do riso com suas anedotas, ditos espirituosos e piadas, ao mesmo tempo em que falava sobre poetas e escritores brasileiros.
Com estes poucos exemplos da cultura popular, pode-se deduzir que há uma riqueza significativa à disposição para se formar uma sociedade leitora à altura dos desafios da jovem democracia brasileira, como já fizeram na década de 60 os Centro Populares de Cultura, CPCs, inspirados na 'Pedagogia do Oprimido', do saudoso educador brasileiro Paulo Freire.









terça-feira, 14 de abril de 2015

CULTURA VIVA AGORA É LEI




sexta-feira, 10 de abril de 2015

Corrupção? É a economia, estúpido!

Corrupção? É a economia, estúpido!

Marcel Franco Araújo Farah
Refletindo sobre os acontecimentos recentes me pergunto como e por que a classe média e tanta gente da classe trabalhadora tem se mobilizado para confrontar o governo. Quais as razões do crescimento do ódio, e qual a real relação da corrupção com isso?
Concordo com a tese de que o governo, por sua ação e omissão, fortaleceu a reprodução de relações sociais conservadoras, que se voltaram contra ele próprio, mas não só. Voltou-se também contra toda esquerda e seu projeto de sociedade.
Há outras condicionantes deste processo que temos que considera. Os fatos históricos podem dar várias pistas, assim como certo conhecimento de economia.
Em artigo no portal cartamaior o economista Robert Avilla demonstra como o crescimento do nível de rendimento do trabalho, ou seja o nivel real do salário mínimo subiu nos últimos anos. Fato amplamente conhecido.
O economista compara este crescimento ao momento das crises vividas pelo Brasil em 1954 e 1964, com o suicídio de Getúlio e o golpe contra Jango. Naquelas décadas o nível salarial aumentou frente as décadas anteriores e chegou ao seu pico histórico vindo novamente a cair na década de 1960, 1970, 1980 e 1990, somente voltando a subir na década de 2000, o que coincide com a conquista do Governo Federal pelo PT.
O aumento do rendimento do trabalho, principalmente em comparação com o crescimento da renda do capital (empresas, bancos, alugueis etc) gera um stresse econômico com reflexos na política. A elite econômica, e seu poder politico se voltam contra esta tendência buscando retomar a situação inicial que lhe garante mais rendimentos.
Por outro lado, é notório que há uma pressão intensa de petroleiras internacionais contra o modelo de partilha que garante maior controle nacional (estatal) sobre a extração de petróleo. Estas companhias internacionais e as elites econômicas brasileiras, que nunca foram de alinhar-se à políticas de desenvolvimento nacional, preferindo alianças com a burguesia internacional, buscam reverter esta política. Buscam também questionar e destruir a política de conteúdo nacional. Intuitivamente podemos concluir que estas empresas agem em proveito próprio e não em proveito nacional. Assim como seus “representantes” nacionais, como alguns deputados favoráveis à partilha da Petrobras e não do petróleo.
No início de 2014 a presidenta Dilma fez alterações nas diretorias da Petrobras. Desconfio que havia, naquelas alterações, uma ameaça à continuidade de um processo de desvio de recursos públicos para empresas privadas à muito instaurado na estatal. Lembremos que Paulo Francis denunciava esquemas escandalosos de corrupção na Petrobras em 1999 no governo FHC.
Estas alterações provavelmente visavam desarticular estes esquemas o que gerou a descontinuidade de alguns canais de escoamento de recursos estatais, e previsão de prejuízos financeiros e políticos para quem se beneficiava dos esquemas.
Lembro que quem se beneficia de tais esquemas não são seus operadores, mas principalmente as empresas que colhem recursos com o superfaturamento, depois financiam campanhas para manter sua capacidade de influência politica para que se garanta a continuidade do esquema. Isso só dá certo, se há certo nível de oligopolização do mercado prestador de serviços como é o caso das empresas que prestam serviços para a Petrobras.
Juntando os dois elementos, um das condições econômicas da época atual, e outro do enfrentamento que o Governo Federal levava a cabo contra a corrupção endêmica na administração estatal brasileira, me parece que o ódio e a mobilização vêm muito mais da economia para a política do que do convencimento das classes médias e trabalhadoras que se manifestam.
Não é um movimento orquestrado, mas certamente insuflado pelos setores sociais que desejam o retrocesso econômico e consequentemente social.


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Marcel Franco Araújo Farah