quinta-feira, 28 de abril de 2016

“Jamais pensei em ver novamente processos arbitrários”, diz Dilma sobre impeachment a CNN

Presidenta Dilma Rousseff concede entrevista à CNN. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Presidenta Dilma Rousseff concede entrevista à CNN. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Em entrevista exclusiva para Christiane Amanpour, correspondente-chefe da TV CNN para assuntos internacionais, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que jamais pensou que veria, novamente, um processo arbitrário no Brasil. Dilma fez a referência ao impeachment, após ao ser questionada sobre como se sentirá caso não esteja no comando do País na abertura da Olimpíada Rio 2016, em agosto. A entrevista foi ao ar na tarde desta quinta-feira (28).
“Eu estou mais triste porque acho que a pior sensação que existe para qualquer ser humano é a injustiça. E eu estou sendo vítima de uma grande injustiça, que é esse processo de impeachment, porque com ele eu perco uma conquista democrática do país. Ocorre na minha época histórica algo que eu jamais pensei em ver novamente: processos arbitrários em andamento. Então é assim, eu me sinto muito triste se eu não participar da Olimpíada, e eu me sinto muito triste também por tudo isso que vem acontecendo, de assistir a um comprometimento da democracia na primeira dificuldade. E qual é a primeira dificuldade? É a existência de crise.”
Dilma também falou que a ajuda do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil teria sido fundamental para evitar a abertura do processo de impedimento. Segundo a presidenta, seus adversários fizeram de tudo para evitar a posse do ex-presidente com alegações absurdas, como por exemplo dizer que seu objetivo era apenas o de dar foro privilegiado a seu antecessor.
“Então essa história era, não era bem assim, era para impedir, por que a vinda do Lula me ajudaria. O Lula é uma pessoa com experiência, ele durante oito anos foi presidente da República. Ele como ministro-chefe da Casa Civil me ajudaria e muito no Brasil. Ele conhece totalmente o Brasil, por que não deixaram? Não deixaram porque sabem que ele nos fortaleceria.Veja você que o próprio Supremo recentemente julgou uma parte dessa questão e deu fórum privilegiado para o Lula. Nem por isso eles aprovaram a entrada dele na Casa Civil”.
A presidenta afirmou que a baixa popularidade não pode ser justificativa para um processo de impedimento, classificado como um golpe por ela.
“Não é o processo de tirar presidente, não é. Não pode ser simplesmente você fazer uma pesquisa. Um processo eleitoral é o momento de debate, não é uma fotografia congelada de um determinado momento em que um país passa. Você já imaginou se a moda do impeachment pega? Cada vez que um presidente tiver flutuação de popularidade, ele vai ser retirado do cargo. Você sabe que um presidente, diante da crise, e não fomos nós que criamos a crise, essa crise, ela vem desde 2008, e atingiu de forma muito pesada os países emergentes a partir de 2014 e 2015. “
Ela lembrou ainda que não teve um minuto de paz nos últimos 15 meses, desde que se reelegeu, e passou a enfrentar dificuldades políticas no Congresso. Segundo a presidenta, todas as medidas enviadas à Câmara para enfrentar as dificuldades econômicas foram torpedeadas pela Casa e por seu presidente.
“Porque (eles) não apenas começaram a instabilidade política, tentaram inviabilizar a retomada do crescimento econômico. Do que eu sou acusada? Eu sou acusada, por exemplo, de transferir, porque nós pagamos transferência de renda sim.”
Para Dilma, a reforma política é urgente para que o país volte a crescer. Ela lembrou que, durante as manifestações de 2013, propôs uma Constituinte exclusiva para debater o tema, e que suas propostas não prosperaram.
“Naquela época, em 2013, nós falamos em uma constituinte que desse início a uma reforma política no Brasil, porque o Brasil não precisa só de reforma econômica, precisa também de reformas políticas, uma profunda reforma política, para viabilizar qualquer pessoa que sentar na minha cadeira, conseguir gerir e conseguir gerir de forma republicana esse país, ter uma relação republicana com o Congresso. E o Congresso também terá mais facilidade para os processos, e é necessário diminuir o custo das campanhas eleitorais no Brasil. Eu sou a favor de qualquer transformação no Brasil ser baseada no voto direto secreto. Eu não me apego a um cargo, eu acho que não se pode admitir é eleição indireta. Agora, eleição direta, eu sempre vou admitir.”



quarta-feira, 20 de abril de 2016



Dilma: é terrível alguém ‘homenagear’ o maior torturador que o Brasil conheceu

Terça-feira, 19 de abril de 2016 às 12:57

Dilma: é terrível alguém ‘homenagear’ o maior torturador que o Brasil conheceu  

Dilma: lastimo que, nesse momento no Brasil, tenham dado espaço para esse tipo de situação de raiva, de ódio e perseguição.Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma: “Lastimo que, nesse momento no Brasil, tenham dado espaço para esse tipo de situação de raiva, ódio e perseguição”. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff lamentou nesta terça-feira (19), durante entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros, a  terrível declaração de um deputado federal que ‘homenageou’, em seu voto favorável ao impeachment, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade como torturador durante o regime militar brasileiro.
Eu, de fato, fui presa nos anos 70. De fato, eu conheci bem esse senhor ao que ele se referiu. Foi um dos maiores torturadores do Brasil, contra ele recai não só o acusação de tortura, mas também de mortes, só ler os documentos da Comissão da Verdade. Lastimo que, nesse momento, o Brasil tenha dado espaço para esse tipo de ódio, situação de raiva de ódio de perseguição. E, veja você, em um processo como o nosso em que a democracia resulta de uma grande luta. É terrível você ver no julgamento alguém defendendo esse torturador. É lamentável”.
Questionada por uma jornalista se o fato de ser a primeira presidenta mulher no Brasil influenciou nas tentativas de desestabilização do seu governo, Dilma disse acreditar que a questão de gênero é um forte componente nesse processo. Para ela, certas atitudes não aconteceriam caso o presidente da República fosse um homem.
“Houve, inclusive, recentemente um lamentável episódio de um texto de um órgão de imprensa que mostra uma misoginia. Falam o seguinte, mulher sob tensão tem que ficar histérica, nervosa e desequilibrada. E não se conformam que eu não fique, nem nervosa, nem histérica, nem desequilibrada. Aí tem uma outra ala que diz que não é bem isso, porque eu não estou percebendo o tamanho da crise. Eu até não gosto de falar porque eu tenho uma familiar e acho a forma que tratam essa questão muito desrespeitosa: falam que eu sou autista. Um preconceito tão grande quanto o de gênero.[…] Agora, eu lamento profundamente o grau de preconceito contra a mulher, de que mulher tem que ser frágil. Ora as mulheres brasileiras não têm nada de frágeis, elas criam filhos e lutam”, disse de enfatizar sua percepção sobre posicionamentos machistas. “Tem misturado nisso tudo um grande preconceito contra a mulher. Têm atitudes comigo que não teriam com um presidente homem”.
Imprima:Imprimir

Posts Relacionados

Dilma: é terrível alguém ‘homenagear’ o maior torturador que o Brasil conheceu

Terça-feira, 19 de abril de 2016 às 12:57

Dilma: é terrível alguém ‘homenagear’ o maior torturador que o Brasil conheceu  

Dilma: lastimo que, nesse momento no Brasil, tenham dado espaço para esse tipo de situação de raiva, de ódio e perseguição.Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma: “Lastimo que, nesse momento no Brasil, tenham dado espaço para esse tipo de situação de raiva, ódio e perseguição”. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff lamentou nesta terça-feira (19), durante entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros, a  terrível declaração de um deputado federal que ‘homenageou’, em seu voto favorável ao impeachment, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade como torturador durante o regime militar brasileiro.
Eu, de fato, fui presa nos anos 70. De fato, eu conheci bem esse senhor ao que ele se referiu. Foi um dos maiores torturadores do Brasil, contra ele recai não só o acusação de tortura, mas também de mortes, só ler os documentos da Comissão da Verdade. Lastimo que, nesse momento, o Brasil tenha dado espaço para esse tipo de ódio, situação de raiva de ódio de perseguição. E, veja você, em um processo como o nosso em que a democracia resulta de uma grande luta. É terrível você ver no julgamento alguém defendendo esse torturador. É lamentável”.
Questionada por uma jornalista se o fato de ser a primeira presidenta mulher no Brasil influenciou nas tentativas de desestabilização do seu governo, Dilma disse acreditar que a questão de gênero é um forte componente nesse processo. Para ela, certas atitudes não aconteceriam caso o presidente da República fosse um homem.
“Houve, inclusive, recentemente um lamentável episódio de um texto de um órgão de imprensa que mostra uma misoginia. Falam o seguinte, mulher sob tensão tem que ficar histérica, nervosa e desequilibrada. E não se conformam que eu não fique, nem nervosa, nem histérica, nem desequilibrada. Aí tem uma outra ala que diz que não é bem isso, porque eu não estou percebendo o tamanho da crise. Eu até não gosto de falar porque eu tenho uma familiar e acho a forma que tratam essa questão muito desrespeitosa: falam que eu sou autista. Um preconceito tão grande quanto o de gênero.[…] Agora, eu lamento profundamente o grau de preconceito contra a mulher, de que mulher tem que ser frágil. Ora as mulheres brasileiras não têm nada de frágeis, elas criam filhos e lutam”, disse de enfatizar sua percepção sobre posicionamentos machistas. “Tem misturado nisso tudo um grande preconceito contra a mulher. Têm atitudes comigo que não teriam com um presidente homem”.
Imprima:Imprimir

Posts Relacionados

terça-feira, 12 de abril de 2016

‘Ficou claro que existem dois chefes do golpe, que agem em conjunto’, diz Dilma sobre áudio

‘Ficou claro que existem dois chefes do golpe, que agem em conjunto’, diz Dilma sobre áudio

Discurso
Sobre o áudio, Dilma afirmou: “Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa e a traição em curso, não há mais. Há um golpe de Estado em andamento”. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff disse na tarde desta terça-feira (12), durante o Encontro da Educação pela Democracia, no Palácio do Planalto, que a máscara dos golpistas caiu com o vazamento do áudio em que o vice-presidente faz uma espécie de discurso de posse, como se o impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara dos Deputados. Segundo Dilma, ficou claro que há dois chefes do golpe que agem em conjunto.
“Ontem utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração. Agora conspiram abertamente à luz do dia para desestabilizar uma presidente legitimamente eleita. Ontem, ficou claro que existem, sim, dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada. Ontem fiquei chocada com a desfaçatez da farda do vazamento. Vazando para eles mesmos. Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa e a traição em curso, não há mais. Há um golpe de estado em andamento”, afirmou.
A presidenta explicou como funciona a tática dos golpistas para tentar retirá-la do cargo. “Não sei direito quem o chefe e o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz, com desvio de poder, o processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse”, disse. “Cai a máscara dos conspiradores. O Brasil e a democracia não merecem tamanha farsa. O fato é que os golpistas que se arrogam, a condição de chefe e vice-chefe, do gabinete do golpe, estão tentando montar uma fraude para interromper no Congresso um mandato que me foi conferido pelos brasileiros”, complementou.
Dilma ainda tratou de um dos temas citados no áudio vazado e divulgado na imprensa: um suposto ‘pacto de salvação nacional’. “Como acreditar num pacto de salvação ou de unidade nacional, sem sequer uma gota de legitimidade democrática? Como acreditar que haverá sustentação para tal aventura?”, questionou antes de emendar. “Com farsas, fraudes e sem legitimidade ninguém pacifica, ninguém concilia, ninguém constrói unidade para superação de crises. Só as agrava e aprofunda”, destacou.
Em seu discurso, ela também relacionou a divulgação do áudio com o relatório da comissão especial do impeachment, aprovado na segunda (11) na Câmara dos Deputados. A presidenta chamou o texto de “frágil” por não apresentar justificativa jurídica para o impedimento.
“Na verdade, trata-se da maior fraude jurídica e política de nossa história. Sem ela, o impeachment sequer seria votado. O relatório da Comissão do Impeachment é o instrumento dessa fraude. O relatório é tão frágil, tão sem fundamento, que chega a confessar que não há indícios ou provas suficientes das irregularidades que tentam me atribuir. Pretendem derrubar, sem provas e sem justificativa jurídica, uma Presidenta eleita por mais de 54 milhões de eleitores”.
Segundo a presidenta, os próximos dias serão de ataques à sua imagem através de informações falsas, vazamentos ilegais de delações e manchetes escandalosas. “Eles caluniam enquanto leiloam posições do gabinete do golpe. Peço que todos estejam atentos e vigilantes. Tentarão de tudo, nos intimidar, nos tirar das ruas. Não aceitem provocações. Mantenham-se unidos porque não somos do ódio”.