sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pensadores analisaram, na UnB, o futuro da comunicação no mundo

UnB Agência 

Mário Agra
 
Especialista espanhol e ex-ministro venezuelano discutiram nova arquitetura da mídia desencadeada pela internet 
Diogo Lopes de Oliveira - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Ignacio Ramonet, reconhecido jornalista e escritor espanhol que ficou famoso à frente do jornal francês Le Monde Diplomatique, esteve na UnB na última terça-feira 1º. Ele desenhou o cenário dos meios de comunicação a partir da criação da web, há 22 anos. “Hoje vivemos um mundo novo com a internet. Ela é tão significativa quanto a construção da palavra, o advento da escrita ou as pinturas rupestres”, defendeu.

Para ele, a internet mudou completamente o ecossistema midiático. “A internet é como o meteoro que caiu em Yucatán, no México, e dizimou os dinossauros. Ele permitiu que nós, mamíferos, evoluíssemos para compor os seres humanos. A internet criou novos nichos”, sintetizou.

De acordo com o jornalista espanhol, o sistema está no seu início e não sabemos até onde ele nos conduzirá. Afirmou que a única certeza é que os cidadãos serão importantes na construção do processo de comunicação. “Há três anos quase não falávamos em facebook ou twitter, e hoje eles fazem parte de nossas vidas. Daqui a cinco anos pode ser que não falemos mais deles. Não temos como saber”, acrescentou.

O jornalista espanhol crê que os meios de comunicação de massa enfrentam a pior crise de seus 150 anos de história. “Nos EUA, em quatro anos, foram fechados 120 jornais e demitidos 120 mil profissionais. Enquanto isso, são desenvolvidos outros meios como as redes sociais e os blogs. Esse é um fenômeno com seus prós e contras e não podemos contê-lo”, assinalou. 

O segundo palestrante, o venezuelano Jesse Chacón, ex-Ministro de Interior e Justiça de seu país, explanou suas ideias sobre a informação como um direito e não como mercadoria. Ele entende que os meios de comunicação se distanciaram do modelo de serviço público e passaram a cumprir funções fundamentalmente de produção e reprodução de capital. “Isso gera padrões de consumo e produz excedentes financeiros de alta rentabilidade para investidores privados”, argumentou.

Para Chacón, a informação está relacionada às liberdades de expressão e pensamento. Ele condenou a concentração monopólica dos meios de comunicação e afirmou que as corporações globais impõem uma verdadeira ditadura midiática, determinando os conteúdos informativos que a maioria dos países consome. “Não existem sociedades plurais se o sistema de comunicação não é plural e o acesso, universal”, comentou. 

Mário Agra
 
JORNALISMO - Ramonet disse não ser mais possível fazer jornalismo como antes. Para ele, as pessoas assumiram maior protagonismo, tanto no consumo quanto na produção de informações, pois atualmente é possível corrigir, mudar e acrescentar conteúdos transformando a informação num processo sempre contínuo. Essa explosão do jornalismo criou um estado de insegurança informacional e os jornalistas não detêm mais o monopólio da informação. De acordo com Ramonet, a passividade do público foi perdida assim como a identidade e a especificidade do jornalista. “O jornalismo nunca teve uma idade de ouro porque sempre teve como inimigos o poder político e o poder do dinheiro”, destacou.

Ramonet brincou com a platéia para depois explicar sua teoria. Ele afirmou que a maioria dos super-heróis do século XX eram jornalistas: super-homem, Tintin e homem-aranha, por exemplo. “Eles eram como caçadores que buscavam a notícia como se fossem presas. Hoje elas se parecem mais com enxames. As notícias são como peças de um quebra-cabeça que muitas vezes não conseguimos montar”, defendeu.

Perguntado sobre o que os jornalistas deviam fazem diante da concorrência dos “amadores” que publicam conteúdos noticiosos por meio de blogs, Ramonet disse: “Trabalhem para ser melhor que eles porque a concorrência existe”, finalizou.
Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.

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