sábado, 26 de fevereiro de 2022

 A política econômica que Lula irá fazer

O ex-presidente Lula - Shutterstock
O ex-presidente Lula




José Luiz Portella 

Com a reiteração das pesquisas, os agentes econômicos e empresários almejam vislumbrar a política econômica que Lula efetuará nesse eventual futuro mandato.

Lula é escorregadio, dá sinais para todos os lados, embora a retórica mais forte seja de rompimento com o modelo de Teto de Gastos e preocupação fiscal.

No mercado, os otimistas creem que isso está no preço do discurso populista eleitoral, depois muda.

Os economistas liberais, mais pessimistas, vaticinam que Lula não fará uma política econômica ortodoxa, como fez com Palocci. É verdade, igual, não fará.

Ouvindo alguns diferentes economistas que conversam com Lula, e tirando a média das percepções, Lula não fará uma política econômica ortodoxa, à la Palocci, nem heterodoxa, à la Mantega.

Mesmo os economistas situados mais para a heterodoxia, eles admitem que Lula não irá segui-los por completo. E não sabem dizer até que ponto ele comporá com o mercado financeiro.

Lula é Lula. Quer dizer: um farejador de atalhos para se manter no caminho do Poder.

Ele fabrica miragens, que ora são oásis, ora são desertos. Ora, não são nenhuma das anteriores.

Lula não vai governar contra o mercado financeiro o quanto vocifera. Isso é retórico. Sentado na cadeira, sabendo da importância do mercado, ele arruma um pretexto para negociar.

Ele não perdeu o vezo negociador sindicalista.

Todavia, não cederá como nos tempos de Palocci. Porque o cenário é diferente.

Lá, o risco de Lula colocou o dólar a R$ 4,00, correspondente hoje a mais do que R$ 8,00.

E precisava mais do apoio da elite econômica como um todo do que hoje. Fez primeiro a Carta aos Brasileiros, no governo assumiu de forma ortodoxa. Assim como quando viu Dilma ruindo, indicou Trabuco, que gerou Levy, que foi pior para Dilma, que perdeu o discurso. Lula que colocou o jabuti na árvore, quando viu que a enchente estava se aproximando.

Hoje, dada as circunstâncias que Bolsonaro criou impulsionando a candidatura Lula, este ganhou mais independência com relação ao julgamento do mercado. Pode ser mais herege.

Lula vai acabar com o Teto de Gastos, isso vai, mas terá uma âncora fiscal mais branda e flexível.

Provavelmente, um limite para despesas de custeio e outro para investimentos. Com flexibilidade maior para os gastos com investimentos. Neste ponto, ele vai se aproximar mais de um orçamento de capital que Keynes pregava, no caso de Lula só para investimentos, a permitir que haja um gasto contracíclico, sobretudo na hora que o pêndulo da economia se mova para a recessão.

Dificilmente utilizará uma meta de superávit primário dos tempos do tripé, a não ser que flexibilize a meta, possibilitando fazer déficit primário em momentos áridos de deserto.

Lula nunca privatizará a Petrobras e tende a encontrar um meio, possivelmente o Fundo de Estabilização, para conter o impacto do aumento de combustíveis.

Lula vai tentar mexer na reforma trabalhista sim, mas tende a negociar alguns pontos. E vai taxar mais os ricos, mas deve aliviar a taxação das empresas. Que, se não me engano, foi desenhado por Ricardo Carneiro. Pode ser aprimorado.

Parte de seus economistas não refutam alguma reforma administrativa, mas que atinja só quem ganha salários altos. A definir.

Lula também não descarta a reforma tributária, tem habilidade para lidar com os governadores para tal, mas não irá às últimas consequências, podendo criar um modo de compensação para os governadores, de parte das perdas que alguns terão. Isso não está definido. São ideias em pleno voo, o foco está em vencer as eleições em primeiro turno, para afastar assombrações e começar logo a transição.

Lula sabe que pegará um governo destroçado no sentido institucional, e que não receberá a mesma herança bendita de FHC, que o permitiu surfar na crista da onda quando chegou o "boom" das commodities.

Tem consciência que precisará gastar boa parte de um suposto primeiro ano de governo mudando e alterando a estrutura e o aparelhamento de Bolsonaro. Vai aparelhar com os aliados.

E a mudança suscita retardamento nas ações. Lula se preocupa com o desempenho no primeiro ano, pois sabe em que solo irá pisar, e o tempo que gastará retirando as minas que Bolsonaro deixará enterradas.

Tudo isso são previsões muito prováveis hoje, importante é que Lula é Lula, um ser que tem metamorfoses espetaculares, pode saltar triplo carpado em ocasiões, embora isso esteja mais limitado agora, e que é sagaz, liso e vai se guiar pela estabilidade no Poder.

Quando apertado por um amigo na contradição, usa a afetividade como escapatória, abraça, conta uma piada, serve uma 51.
Se você quer seguir Lula, não use o Twitter, siga o caminho do Poder, ele vai estar lá. Lula é Poder. Vai priorizar consolidá-lo. O que significa agir conforme o movimento nesta direção.

Lula vai se aproximar de parte do mercado, quando estiver no Poder, provavelmente via André Esteves, a ver.

O maior problema de Lula hoje é acertar as alianças regionais, pois se ele é obedecido de forma castrense quando o assunto é presidência, no âmbito regional, o PT tem autonomia que ele procura não mitigar.

Nem ortodoxo, nem heterodoxo, irá na linha que Kassab vai no PSD, nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. Lula acima de tudo.

Na verdade, o economista de Lula é Lula mesmo.

O Poder é o GPS, Waze e satélite.

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