segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Augusto Franco na RedeCCom

Palestra no JPPS.Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, uma realização NETCCON.UFRJ, ANDI e SESC-RioSegunda, 23.11.2009, das 9h30m às 13h-Entrada Gratuita!Auditório da CPM-ECO.UFRJ, Campus da Praia Vermelha, ao lado da piscina Como fazer para as Redes Sociais acontecerem:um desafio para os “tecelões” da DemocraciaPalestra de Augusto de Franco“Embora a chamada ciência política ainda não tenha se dado conta da existência desse nexo conotativo entre rede social e democracia, a democratização está co-implicada no aumento da distribuição das redes sociais (e não na aposta no padrão organizativo centralizado ou multicentralizado da maioria das instituições políticas, públicas e privadas, como os partidos e os chamamos movimentos sociais, as corporações, os sindicatos, as associações ou outras formas tradicionais de arrebanhamento), o que significa enfocar e valorizar o cidadão desorganizado e conectado que compõe o imenso contingente da sociedade civil.”
Na próxima segunda, dia 23, das 9h30m às 13h, o JPPS, o curso de extensão de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais oferecido pelo NETCCON-Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência.ECO.UFRJ, em convênio com a ANDI, e em parceria de realização com o SESC-Rio e seu projeto Redes Comunitárias, tem a alegria de receber para uma conversa Augusto de Franco, um dos maiores especialistas no Brasil na relação entre Redes Sociais e Democracia. Mais informações pelo e-mail evouriques@terra.com.br e pelo cel. 21.9205.1696.
Para ele, “Para a democracia não se trata de sonhar com coisas ideais, irrealizáveis, e sim de mudar a forma como nos comportamos política e administrativamente em termos orgânicos. É bom repetir: trata-se de mudar a matriz de projetos, programas e ações governamentais e não-governamentais em todos os níveis. Tudo ou quase tudo que organizamos atualmente a partir do padrão-mainframe, pode ser reorganizado segundo um padrão-network. Quem faz netweaving faz, pois, democracia. Afinal, é necessário reconhecer que tinha razão o pioneiro das redes, Robert Muller, quando escreveu há mais de 20 anos: “conforme caminhamos para o terceiro milênio, talvez a participação em networks se torne a nova democracia, um novo elemento importante no sistema de governança, um novo modo de vida nas complexas e miraculosas condições globais do nosso estranho e maravilhoso planeta vivo, girando e circulando no universo prodigioso em uma encruzilhada de infinidade e eternidade.
“Os netweavers são os "tecelões" (para aproveitar uma expressão de Platão, no diálogo “O Político”, que poderia ter sido feliz se não se referisse ao homem régio, possuidor da ciência régia da política) e os animadores de redes voluntariamente construídas. Na verdade, eles constroem interfaces para "conversar" com a "rede-mãe". Os netweavers não são necessariamente os estudiosos das redes, os especialistas em Social Network Analysis ou os que pesquisam ou constroem conhecimento organizado sobre a morfologia e a dinâmica da sociedade-rede. Os netweavers, em geral, são políticos, não sociólogos. E políticos no sentido prático do termo, quer dizer, articuladores políticos, empreendedores políticos e não cientistas ou analistas políticos.”
Augusto de Franco nasceu em 1950, no Rio de Janeiro. Foi membro do Comitê Executivo do Conselho da Comunidade Solidária, juntamente com Ruth Cardoso e Miguel Darcy e coordenador da AED -Agência de Educação para o Desenvolvimento. Elaborou várias tecnologias de desenvolvimento, como o DLIS -Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável, a Governança Solidária Local e o Pacto pela Democracia Local. É consultor da FIEP para a Rede de Participação Política do Empresariado, escritor, desenvolvedor de Nan Dai e netweaversda Escola-de-Redes. Publicou 16 livros sobre desenvolvimento, redes sociais e democracia, dentre os quais destacam-se “Capital Social”, “A Revolução do Local” e “Alfabetização Democrática”.
Leia por gentileza abaixo o terceiro capítulo da Versão Completa do artigo "5 Desafios para Reinventar a Políticado ponto de vista da sustentabilidade"..
ARTICULAR E ANIMAR REDES DISTRIBUÍDAS DE PESSOASAugusto de Franco
Com exceção da compulsória obediência às leis democraticamente aprovadas, qualquer tipo de centralismo, ou seja, de exigência incondicional de obediência à vontade do chefe ou de um comando colegiado, mesmo que seja à vontade de uma instância eleita, introduz um mecanismo autocrático, ainda quando se refira a questões decididas por ampla maioria. Decisões democráticas devem ser acatadas por aqueles que concordam com elas ou que, mesmo discordando do seu conteúdo ou da sua forma, admitem, entretanto, a necessidade de acatá-las em função de valores e objetivos que estimam estar em jogo, cabendo ao processo democrático ensejar a possibilidade de convencimento ou de geração de decisões as mais consensuais possíveis. Assim, nenhuma organização política de adesão voluntária que imponha, por exemplo, fidelidade aos seus membros mediante sanção ou ameaça do uso de sanção pode ser democrática, uma vez que fidelidade, na política como em qualquer outro campo da atividade humana, só é efetiva se for conquistada e consentida, jamais imposta. Via de regra o que está em jogo aqui não é o fortalecimento da democracia, mas o fortalecimento do poder (autocrático) dos chefes.
A centralização (como topologia da rede social), entretanto, vai muito além do centralismo (como procedimento político). A democratização é uma horizontalização – no sentido topológico de distribuição – das relações, enquanto que a centralização (tanto a monocentralização, quanto a descentralização, que na verdade é uma multicentralização) é uma autocratização. Em outras palavras, há uma relação intrínseca entre a forma (social) de conexão e o modo (político) de regulação de conflitos.
Embora a chamada ciência política ainda não tenha se dado conta da existência desse nexo conotativo entre rede social e democracia, a democratização está co-implicada no aumento da distribuição das redes sociais (e não na aposta no padrão organizativo centralizado ou multicentralizado da maioria das instituições políticas, públicas e privadas, como os partidos e os chamamos movimentos sociais, as corporações, os sindicatos, as associações ou outras formas tradicionais de arrebanhamento), o que significa enfocar e valorizar o cidadão desorganizado e conectado que compõe o imenso contingente da sociedade civil.
Não há como garantir que uma rede articulada voluntariamente manifestará os mesmos fenômenos que são próprios da rede social que existe em qualquer sociedade independentemente de nossos esforços organizativos (sim, o que recentemente vem sendo chamado de ‘sociedade-rede’ – e. g., Guéhenno, 1993; Castells, 1996 – se refere a qualquer sociedade, pois o que varia é a topologia e a conectividade, não o fato de ser sociedade-rede já que toda sociedade humana o é). As evidências, no entanto, mostram que, quanto mais distribuídas forem as redes que voluntariamente articulamos, mais elas conseguem se sintonizar ou se comunicar com essa rede social que existe desde que existam conexões entre pessoas, independentemente de nossos esforços organizativos (e que poderíamos chamar, como recurso explicativo, de “rede-mãe”).
As evidências mostram também que mais chances teremos de reproduzir, em redes voluntariamente construídas, os fenômenos que se manifestam na “rede-mãe” se essas redes que articulamos forem redes de pessoas (P2P ou peer-to-peer). Isto é, instituições hierárquicas conectadas entre si podem até tentar se articular em rede, mas dificilmente constituirão uma rede capaz de espelhar a “rede-mãe” – quer dizer, uma rede distribuída (P2P) – configurando-se quase sempre como estruturas conectivas com topologia descentralizada. O motivo é quase óbvio: instituições hierárquicas tendem a hierarquizar as redes de que fazem parte, que, assim, deixam de ser redes para se transformar em frentes de entidades ou em coligações de organizações tradicionais e, às vezes, em holdings.
Para a democracia não se trata de sonhar com coisas ideais, irrealizáveis, e sim de mudar a forma como nos comportamos política e administrativamente em termos orgânicos. É bom repetir: trata-se de mudar a matriz de projetos, programas e ações governamentais e não-governamentais em todos os níveis. Tudo ou quase tudo que organizamos atualmente a partir do padrão-mainframe, pode ser reorganizado segundo um padrão-network.
Quem faz netweaving faz, pois, democracia. Afinal, é necessário reconhecer que tinha razão o pioneiro das redes, Robert Muller, quando escreveu há mais de 20 anos: “conforme caminhamos para o terceiro milênio, talvez a participação em networks se torne a nova democracia, um novo elemento importante no sistema de governança, um novo modo de vida nas complexas e miraculosas condições globais do nosso estranho e maravilhoso planeta vivo, girando e circulando no universo prodigioso em uma encruzilhada de infinidade e eternidade”.
Os netweavers são os "tecelões" (para aproveitar uma expressão de Platão, no diálogo “O Político”, que poderia ter sido feliz se não se referisse ao homem régio, possuidor da ciência régia da política) e os animadores de redes voluntariamente construídas. Na verdade, eles constroem interfaces para "conversar" com a "rede-mãe". Os netweavers não são necessariamente os estudiosos das redes, os especialistas em Social Network Analysis ou os que pesquisam ou constroem conhecimento organizado sobre a morfologia e a dinâmica da sociedade-rede. Os netweavers, em geral, são políticos, não sociólogos. E políticos no sentido prático do termo, quer dizer, articuladores políticos, empreendedores políticos e não cientistas ou analistas políticos.
Nos sistemas representativos atuais os políticos, entretanto, não são netweavers e sim, exatamente, o contrário disso: eles hierarquizam o tecido social, verticalizam as relações, introduzem centralizações, obstruem os caminhos, destroem conexões, derrubam pontes (ou fecham os atalhos que ligam um cluster a outros clusters, separando uma região da rede de outras regiões), excluem nodos; enfim, introduzem toda sorte de anisotropias no espaço-tempo dos fluxos. Fazem tudo isso porque o tipo de poder com o qual lidam – o poder, em suma, de mandar alguém fazer alguma coisa contra a sua vontade – é sempre o poder de obstruir, separar e excluir. E é o poder de introduzir intermediações ampliando o comprimento da corrente, dilatando a extensão característica de caminho da rede social ou aumentando os seus graus de separação (ou seja, diminuindo a conectividade). Não é por outro motivo que os políticos tradicionais funcionam, via de regra, como despachantes de recursos públicos, privatizando continuamente capital social. Pode-se dizer que, nesse sentido, os políticos tradicionais são os anti-netweavers, na medida em que contribuem para tornar a rede social menos distribuída e mais centralizada ou descentralizada (isto é, multicentralizada).
Também não é a toa que todas as organizações políticas – mesmo no interior de regimes formalmente democráticos – têm topologia descentralizada (quer dizer, mais multicentralizada do que distribuída). Essa também é uma maneira de descrever, pelo avesso, o papel dos netweavers.
É claro que a "culpa" por esse comportamento "desenredante" não é dos políticos tradicionais individualmente. Eles são "produzidos" pelo próprio sistema político na medida em que esse sistema não está suficientemente democratizado. Em outras palavras, quanto mais democratizado estiver o sistema político mais o agente político atuará como um netweaver; e vice-versa.
Para articular e animar uma rede distribuída (netweaving) você precisa apenas conectar pessoas em torno de um propósito ou de uma causa. Por exemplo, se a sua causa for o desenvolvimento de uma localidade, você precisa apenas conectar todos os participantes de programas de desenvolvimento, governamentais ou não-governamentais, que existam na localidade. Mas a rede não deve se restringir a tais pessoas; pelo contrário: (no caso, do desenvolvimento comunitário) ela deve ser ampliada com todos aqueles que quiserem colaborar com o trabalho. Muita atenção, porém: trata-se de uma rede de pessoas, não de entidades, instituições ou organizações.
(Se você quiser ter acesso a uma metodologia simples de articulação e animação de redes – netweaving – aplicável à redes de desenvolvimento comunitário, clique no link: http://augustodefranco.locaweb.com.br/publicacoes_comments.php?id=103_0_4_0_C ).
Demos aqui o exemplo de uma rede de desenvolvimento comunitário. Mas tudo isso vale também para redes voluntárias de participação política (como, por exemplo, a Rede de Participação Política do Empresariado, uma experiência interessante que está sendo desenvolvida no Brasil a partir de 2006 com o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná).
As redes de participação política podem, aliás, cumprir um papel importantíssimo na reinvenção da política, em especial em países como o Brasil, onde – ao contrário do que ocorre em outros países da Europa e da América – os partidos ainda detêm o monopólio legal do fazer político. Para assumir um cargo executivo ou legislativo no nosso sistema representativo, uma pessoa deve se filiar a um partido. E, ao fazer isso, um ator isolado certamente não terá forças para contrarrestar a tendência burocrática dominante no interior dos partidos, nem terá condições de quebrar o caciquismo vigente, que transformou os partidos em verdadeiros domínios feudais dos chefes políticos.
É muito difícil transpor tal obstáculo uma vez que as regras que concentram poder no topo da pirâmide organizativa dos partidos estão amparadas por uma legislação antidemocrática (que não será mudada por qualquer reforma política feita pelos interessados em mantê-la). Assim, é praticamente impossível mudar o comportamento partidário por meio da entrada, mesmo em massa, de novos filiados nos partidos que aí estão, a menos que tais filiados estejam suficientemente organizados e capacitados para tanto. E quem fará isso?
Bom, aqui também começamos a tangenciar uma possível solução. Se quisermos potencializar uma vertente de mudança da velha política de baixo para cima é necessário articular programas mais amplos de reforma da política que conectem milhares de cidadãos em torno de uma plataforma básica de ética na política, de defesa da democracia e de promoção do desenvolvimento.
Mas tudo indica que não adianta fazer isso criando um novo partido. Diante das regras, dos procedimentos e dos padrões organizativos hoje vigentes, um novo partido logo sucumbirá à lógica dos velhos partidos, deixando-se contaminar pelo ambiente deletério reinante. É necessário, portanto, fomentar novas formas organizativas, necessariamente segundo um padrão de rede e não hierárquico-burocrático, capazes de inspirar comportamentos mais éticos, mais democráticos e mais comprometidos com o desenvolvimento humano e social sustentável e capazes de funcionar como espécies de “meta-partidos”. Pessoas vinculadas a essas redes voluntárias de participação política cidadã poderão então entrar nos partidos que existem e se candidatar a cargos diretivos internos e a cargos representativos externos. Mas só conseguirão fazê-lo se estiverem suficientemente empoderadas por articulações que estão fora do domínio dos chefes tradicionais, os quais, como sabemos, não têm qualquer interesse na mudança das concepções e das práticas políticas vigentes.
(Para entrar em contato com essa temática (ou problemática), é impossível deixar de ler, por exemplo, o livro seminal de Pierre Levy (1994): “A inteligência coletiva”; o livro de Steven Johnson (2001): “Emergência”; o livro de Manuel Castells (2001): “A galáxia da Internet”; e dois textos recentes de David de Ugarte: “11M. Redes para ganar una guerra” (2006) e “El poder de las redes” (2006). Vale a pena explorar também (e levar a sério) a metáfora “The Matrix”, não apenas assistindo a trilogia, mas lendo a coletânea: Irwin, William (org.) (2002). “Matrix: bem-vindo ao deserto do real”.)

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