quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nevinho Alarcão na RedeCCom

http://sextapoetica.com.br/wiki/index.php?title=P%C3%A1gina_principal, o sítio do Movimento Cultural Literário Libertário, apoiado pela Wikimedia Foundation.
N essas horas de descuidado com as horas, de melhor
cuidado com a vida, eu estava olhando pro céu, perdido
na noite em fantasias e aflições. De repente rasgou o
céu uma pontinha brilhante, singrou o espaço linda, límpida, plácida.
A mais linda
estrela cadente que já vi.
A mais linda que já houve. Escorregou nos meus olhos
e se consumiu, se esfarelou, se apagou. Sumiu. Tive
vontade de mostrar pra alguém mas não havia ninguém.
Pareceu que apareceu só pra mim. Ninguém mais viu.
Lembrei que poderia fazer um pedido. Pensei em mim,
pensei nas amizades, nos amores, pesquisei nas carências,
nos azares, pesares e tristezas. Mas havia muitos desejos.
Escolher um significava excluir outros.
Preferir este era preterir aquele e todos os outros como
se fosse pra sempre. Em meio à confusão da prateleira
de desejos, à indecisão deste ou daquele ou
daquele ou deste, resolvi, num lapso de segundo, apenas decidir que me
viesse outra viajante igual, que não tem desejo, apenas
brilha no caminho traçado, decidida.
Nasce e morre sem desviar do destino.
Apenas pedi outra.
Não veio. Sempre desconfiei dessa estória de pedidos.


Lagoa Feia - Panaltina de Goiás, 1981.
Chinelos na manhã


Os chinelos largados à margem
Os chinelos largados na manhã
Os chinelos, o barco, a lagoa
Resumindo a vida
que é remar e andar
Sem rumo, sem rota
Andar e remar...



Florianópolis 1980

Puxa a rede

Puxa a rede puxa a rede tá duro de puxar

Puxa a vida puxa a vida tá duro de puxar

Puxa puxa puxa puxa

puxa o peixe puxa a rede puxa

A vida inteira é só puxar

Puxa os dias puxa os anos

Puxa o mar

Quem sabe não sopra um vento

E traz o peixe e traz a vida

e traz o tempo

De nunca mais ter que puxar



Fotógrafos
William Santiago

Pai nosso

que estai no sol
dai-nos todo dia
a luz que alumia
e a escuridão do laboratório
o dinheiro do equipamento
e os meios de nossa alquimia
o acaso a sorte pura
e a ciência do olho de peixe
a par da tocaia de onça
à espreita
da presa
da hora
do clic certeiro
que não mata imortaliza
e no vestibular do paraíso
tende tolerância conosco
se achais que é muito pouco
toda uma vida a congelar instantes

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