domingo, 31 de março de 2024
Dulcina de Moraes: uma vida em cena, um legado a ser preservado
Dulcina de Moraes: uma vida em cena, um legado a ser preservado
Após 27 anos da morte de Dulcina de Moraes, o legado de uma das maiores damas do teatro permanece vivo por meio de acervo guardado no Teatro Dulcina
"A personalidade mais importante do teatro brasileiro do século 20". É assim que Fernanda Montenegro costuma descrever Dulcina de Moraes, uma das grandes damas do teatro nacional. Responsável por revolucionar o mundo das artes cênicas no país, Dulcina, morta há quase 30 anos, ainda vive por meio de seu legado, imortalizado no Teatro Dulcina de Moraes, localizado no Conic. Dentro do prédio que abriga a instituição, a herança deixada pela carioca se estende em um acervo inestimável que reconta a história da cultura brasileira.
Figurino parte do acervo do Teatro Dulcina - (crédito: Josuel Junior/ Acervo FBT)Em meio a revistas, fotos, cenários e figurinos datados desde 1930, o material começou a ser inventariado e catalogado pela primeira vez na história da instituição no fim do ano passado. A partir da pesquisa, foram encontrados álbuns de fotografia com bastidores da primeira montagem de O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, exemplares do histórico jornal O Pasquim e até mesmo diários de classe de aulas ministradas por Cecília Meireles.
Documentos oficiais também fazem parte do acervo deixado por Dulcina de Moraes, como o Diário Oficial em que foi publicada a instauração da profissão de artista no Brasil. Decisiva, Dulcina foi uma das responsáveis pela regulamentação da lei. Ainda estão guardados documentos originais da época da censura que solicitavam o licenciamento e a liberação de peças, e a carteira de trabalho da carioca, que, anos anos 1930, já recebia salário mensal pela profissão de atriz.
Para além das artes cênicas, Dulcina era referência na moda e ditava tendências com os figurinos utilizados em suas peças. Nos guarda-roupas do teatro, encontram-se peças de algumas das marcas de luxo mais famosas do mundo, como Dior, feitas especialmente para a dama do teatro. Os vestuários são registrados com nome de Dulcina, datados da década de 1950, período em que o próprio estilista Christian Dior fazia peças exclusivas.
A professora de teatro Gabriela Pedron, formada pela Faculdade Dulcina de Moraes, chegou a fazer uma visita ao acervo durante a disciplina de Indumentário e Caracterização, em 2009, mas garante que só no ano passado, com o início do processo de inventariação, entendeu a imensidão da herança deixada pela atriz carioca. "Acho que ninguém tinha noção da quantidade de preciosidades que tinham nesse acervo", conta a professora de teatro. "Não são só figurinos, textos, fotos. É a história do teatro. Você vê uma roupa e você tem toda uma referência histórica de como era naquele período", exemplifica.
Gabriela ressalta que o acervo é de enorme importância para a memória de Dulcina. "A visibilidade desse material é uma herança para o teatro brasileiro, é a gente entender que ali está a história, importância e legado que a Dulcina deixou. Nós, atores da atualidade, temos que ter noção da importância que essa mulher teve, e como o teatro hoje anda a partir de pessoas que lutaram pelo nosso direito", declara. "Acho que não é só sobre o legado, é sobre a obrigação de dar visibilidade para essa mulher e o que ela nos deixou", complementa.
Fundador do Teatro Caleidoscópio e aluno de Dulcina, André Amahro ressalta o valor do acervo da atriz. "Dulcina de Moraes foi considerada a maior personalidade das artes cênicas do século 20. É uma mulher que construiu grande parte do teatro desenvolvido no Brasil, então as peças que ela fez e esse material físico, esse patrimônio simbólico e objetivo que ela nos deixou é muito importante para a história do país. O Brasil também se conta por meio das artes, do teatro. Esses objetos, documentos, figurinos têm muita história para contar sobre o teatro brasileiro", opina.
Para André, acervos como esse pertencem aos museus. "Onde está o museu do teatro brasileiro? Eu falo isso não só em relação ao acervo de Dulcina, mas ao acervo de muitos outros artistas brasileiros que contribuíram enormemente para o desenvolvimento do teatro nacional", indaga. "É um material valiosíssimo que poderia estar aí. Acredito que Brasília poderia dar o exemplo, porque, afinal de contas, grande parte da história de Dulcina também foi vivida aqui. Ela escolheu Brasília para viver e para construir a faculdade dela, justamente para irradiar daqui, do centro do Planalto Central, a cultura", aponta o ator. "Espero que as próximas gerações tenham o privilégio ou a oportunidade de conhecer a história do nosso teatro", torce.
Segundo Gilberto Rios, atual presidente da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), responsável pela gestão do teatro e da faculdade, o lançamento de um museu virtual deve ocorrer até meados de agosto, após a finalização do inventário. "No ano passado, chegamos a catalogar 80% do acervo, deixá-lo bem armazenado no ar-condicionado. Nós iremos dar continuidade a esse processo este ano, haja vista aprovamos uma lei Paulo Gustavo para dar continuidade. O projeto será coordenado pelo museólogo Márcio Vianna, aposentado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e ele dará uma total cobertura para nós nesse sentido", detalha.
Em fevereiro, a FBT chegou a comunicar nas redes sociais que o acervo da Fundação e de Dulcina de Moraes estava devidamente inventariado e 100% armazenado de forma adequada e segura. No entanto, ao Correio, Gilberto afirmou que a catalogação ainda está em processo. "Já está bem adiantado. Nós temos um mapeamento feito, um trabalho muito interessante pela equipe anterior que fez uma radiografia muito interessante daquele acervo. Acredito que em meados de agosto o museu virtual esteja pronto", adianta.
Em setembro de 2023, o prédio que abriga o teatro e a faculdade, projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, correu risco de ser colocado em leilão, devido a uma dívida milionária. "O leilão foi postergado. Ainda existe uma dívida somatória beirando os R$ 30 milhões, que nós herdamos dos administradores anteriores do teatro. Agora, estamos no compasso da negociação dessas dívidas", garante o presidente da FBT.
De acordo com Gilberto, a instituição, atualmente, está em processo de negociação com um mecenas. "Os próximos passos são bem promissores. Estamos negociando com um mecenas de São Paulo e, nesta semana, avançamos muito. Acredito que, nos próximos 15, 20 dias, a sociedade brasileira deve ter alguma novidade em relação a esse mecenas, que é uma grande empresa de São Paulo", promete. "Em 30, estourando 45 dias, devemos ter uma solução definitiva para a FBT", estima o responsável.
Em nota, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Cláudio Abrantes, assegurou que a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) vem participando ativamente dos desdobramentos em relação ao acervo do Teatro Dulcina. "Tanto o Teatro Dulcina de Moraes quanto os acervos Fotográfico, Textual e Cênico da atriz são tombados através do Decreto nº 28.518 de 07/12/2007. No seu parágrafo único, o decreto informa que qualquer intervenção precisa ser aprovada pela Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal/Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico — DEPHA (hoje chamada de Subsecretaria do Patrimônio Cultural). Portanto, acompanhamos com atenção o desenrolar dos processos judiciais em que a Fundação Brasileira de Teatro e o próprio Teatro Dulcina são partes interessadas", declarou.
"A Secec participou ativamente do mapeamento dos acervos do Teatro Dulcina. Ele aconteceu através de uma contratação da Fundação Brasileira de Teatro, que tem a responsabilidade legal pela preservação dos bens que estão em sua posse. Entretanto, a Secretaria de Cultura orientou, auxiliou e aprovou o produto final do mapeamento, que foi realizado por equipe qualificada e profissional. Seguiremos atentos aos desdobramentos dos processos legais e vigilantes acerca da preservação do prédio e dos acervos, herança da grande dama do teatro brasileiro", finalizou o secretário.
Quem foi Dulcina de Moraes?
Nascida em 1908, em Valença, Rio de Janeiro, Dulcina de Moraes se apaixonou pelo teatro ainda na adolescência, ao ingressar na Companhia Brasileira de Comédia de Viriato Correa. Após anos investindo na carreira de atriz, no final da década de 1920, Dulcina criou a Companhia Dulcina-Odilon, ao lado do marido Odilon Azevedo, ator e empresário. Posteriormente, o casal inaugurou a Associação Brasileira de Teatro, semente do que hoje é a FBT e responsável por dar início à história da carioca como diretora e professora. Com a morte de Odilon, em 1966, Dulcina foi incentivada por personalidades como Darcy Ribeiro e Sarah Kubitschek a transferir a fundação para a recém-inaugurada capital federal.
A atriz mudou-se para Brasília em 1972 e se dedicou à construção do edifício que abriga até hoje a Fundação Brasileira de Teatro, a Faculdade de Artes Dulcina de Morais, a Galeria de Arte e o Teatro Dulcina. O espaço, por muitos anos, movimentou a cena artística local e foi palco de espetáculos nacionais e internacionais, além de mostras, festivais, filmagens, exposições de artes visuais e performances de todos os tipos.
A importância de Dulcina é tamanha que, em dezembro de 2023, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), sancionou a lei do Congresso Nacional que inscreve o nome de Dulcina de Moraes no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, memorial cívico que homenageia heróis e heroínas nacionais que contribuíram para o engrandecimento da história brasileira.
por Isabela Berrogain
sábado, 30 de março de 2024
sexta-feira, 29 de março de 2024
Dos Peabirus as Infovias Aeroporto de Cargas de Anápolis
DOS PEABIRUS ÀS INFOVIAS
O AEROPORTO DE CARGAS DE ANÁPOLIS ESTÁ TAXIANDO PARA ENTRAR NA HISTÓRIA
Dos peabirus percorridos no cerrado em lombo de burro por um cientista viajante há mais de dois séculos até as infovias da indústria de dados de hoje, compreende-se a vocação de entroncamento econômico para a região de Anápolis. Vive-se esta questão em face da federalização do Aeroporto de cargas, assim chamado o empreendimento que há mais de vinte anos busca consubstanciar-se como ponto convergente de rodovias, ferrovias, aerovias e as mais que presentes infovias
Com sua comitiva composta de mulas e dois ajudantes, o botânico e astronomo franco-belga Auguste Saint Hilaire alcançou as nascentes do Rio das Antas registrando a natureza cerratense e costumes do gentio local. Do velho alambique em que se arranchou, deu as primeiras notícias em francês da aprazível região habitada por animais da espécie Tapirus Terrestres que ensejava o nome de Antas para a localidade e a Fazenda em que pernoitou.
Por Antas transitava comitivas viajantes composta de centenas de mulas em múltiplos sentidos, buscando origem e destino das mercadorias como ouro, açúcar, sal, algodão e manufaturados da nascente economia industrial nos litorais. Rio de Janeiro e Salvador eram rotas permanentes destas comitivas, as vezes compostas de mais de trezentas mulas indo por três meses e voltando no mesmo rastro por outros três.
Ainda na região, Saint Hilaire hospedou-se no Engenho São Joaquim a convite de seu proprietário Comendador Joaquim Alves de Oliveira e produziu importantes registros daquele que foi o maior empreendimento econômico da Província de Goyaz no século dezenove, chegando mesmo a se confundir com a contabilidade provincial, tal a magnitude da sua produção de mercadorias e transações comerciais. Nos dias de hoje chama-se Fazenda Babilônia, empreendimento turístico sustentado pelo Memorial do Engenho São Joaquim
AERODOFERIA contempla como expressão verbal, nestes tempos de Inteligência Artificial, as múltiplas vias de transporte que sustentam o desenvolvimento econômico que se estabelece a partir de uma região. No caso do município de Anápolis em Goiás, abarca-se importantes momentos que marcaram sua história como polo econômico do centro do Brasil, estrategicamente localizado entre duas capitais que ajudou a construir. A capital estadual Goiânia e a federal Brasília.
Um escritor escreve Este é seu oficio Um escriba tem a missão de anotar tudo aquilo que seré histórica
Escrever é a mistão do escribre que escolhe tema entre muitos
quinta-feira, 28 de março de 2024
Honestino Guimarães, morto pela ditadura, será homenageado com diploma da UNB
Honestino Guimarães, morto pela ditadura, será homenageado com diploma da UNB
Se estivesse vivo, Honestino completaria, nesta quinta (28), 77 anos de idade


Agência Brasil - Quando as aulas na Universidade de Brasília (UnB) começaram em 1965, o novo aluno Honestino Guimarães, do curso de geologia, se destacava. O rapaz loiro, de 18 anos de idade, de óculos de lentes grossas, olhos verdes e baixinho, chamava atenção por onde passava. Ele, que havia ingressado em primeiro lugar geral de toda a instituição, não era de se gabar. Ficou conhecido por ser carismático e engajado politicamente. Era inconformado com as injustiças e com a extinção de liberdades desde o golpe militar do ano anterior. Se estivesse vivo, Honestino completaria, nesta quinta (28), 77 anos de idade.
Honestino nunca pegou em armas, mas seus protestos foram a “acusação” para que, quase quatro anos depois, fosse preso e expulso da universidade em que um dia sonhou estudar. Faltavam poucas disciplinas (11 créditos) para chegar ao diploma de geólogo. Mas essa história do jovem que morreu em 1973 está prestes a ser reescrita.
Isso porque a universidade pretende reverter a expulsão do estudante e entregar à família o diploma post mortem de Honestino. Isso pode ocorrer no próximo dia 21 de abril (aniversário da UnB e de Brasília). “É um ato de justiça e de reparação. O que aconteceu com Honestino e com tantas pessoas naquela época foi brutal e inominável. A família, amigas e amigos de Honestino não puderam enterrá-lo. É um dever da universidade fazer a sua parte”, afirmou a atual reitora da instituição Márcia Abrahão, que é professora de geologia.
“Fico sempre muito emocionada quando toco nesse assunto, mas ele foi, sem dúvidas, uma fonte de inspiração para todo o meu trabalho em prol dos direitos humanos aqui na universidade”. A reitora explica que há um trâmite interno para confirmação da homenagem póstuma, o que inclui a aprovação pelo conselho do Instituto de Geociências. “Seria incrível fazer essa cerimônia na data do aniversário da UnB”.
“Aluno brilhante”
Entre os requerentes para a homenagem a Honestino, está um amigo dele de longa data, o economista Cláudio Almeida. Ele explica o pedido de homenagem a Honestino teve inspiração após decisão da Universidade de São Paulo (USP) de garantir diplomas honoríficos, no final do ano passado, para Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Mouth Queiroz, ambos mortos em 1973 pela ditadura militar. Eles foram alunos do Instituto de Geociências (IGc) e militantes do movimento estudantil da USP.
“Honestino sempre foi um aluno brilhante. Quando estava na clandestinidade, os professores aceitavam que ele fizesse prova onde quer que fosse. É uma homenagem muito justa, eu acho que tardia inclusive, mas que é uma forma de reparar danos”, acredita o amigo, colega desde o ensino médio em Brasília. Cláudio Amaral recorda que, embora a luta estudantil tenha se tornado prioridade na rotina, o rendimento no curso de geologia era muito importante para ele. “Ele fez e cursou até o final”.
Quem também defendeu reparação para a imagem do universitário foi a pesquisadora Betty Almeida, biógrafa do líder estudantil, com o livro Paixão de Honestino. “Ele se interessou por política desde o ensino médio. Na universidade, esse interesse se ampliou e se desenvolveu. Ele assumiu uma posição de liderança nas lutas do movimento estudantil, no enfrentamento da ditadura, que na época estava se acirrando”, aponta a pesquisadora.
“Em defesa da universidade”
Ela avalia que Honestino quis tomar uma posição de luta pela defesa da universidade pública e gratuita. “Naquela época, havia os chamados acordos MEC-USAID, que eram acordos para encaminhar a universidade para privatização e tornar o ensino adequado a interesses de mercado e não a interesses de produção de conhecimento e desenvolvimento de pesquisa nacional”.
Para a biógrafa, os atos de memória, verdade, justiça e reparação ajudam a fazer com que a sociedade tenha conhecimento de que existiram essas pessoas. “Que o Brasil viveu uma ditadura sanguinária que perseguiu seus opositores com ferocidade”. Na UnB, além de Honestino, há mais dois desaparecidos, Ieda Delgado e Paulo de Tarso Silva. Segundo recorda Betty Almeida, os então estudantes chegaram a se formar e depois foram assassinados por causa das atividades políticas.
Honestino foi o único entre os desaparecidos da UnB que foi impedido de se formar. “Ele era um bom aluno, responsável e estudioso. Mas as atividades políticas foram colocando ele em evidência”. Um dos protestos foi no primeiro semestre naquele ano contra um professor chamado Roman Blanco, que era identificado com a prática de dedurar estudantes e professores que ele julgasse subversivos.
“O docente falsificou documentos e aproveitou aquela situação em que a universidade perdeu quase 80% do seu corpo de professores e se incluiu como funcionário à custa de documentos falsos, inclusive”, disse a pesquisadora Betty Almeida.
Os estudantes, liderados por Honestino, queriam que o professor fosse excluído da universidade. Para isso, eles se organizaram e esvaziaram a sala dele de trabalho e também o apartamento onde ele morava no conjunto de prédios que abriga docentes.
“O reitor da época, que era o Caio Benjamin Dias, levou o Roman Blanco para um hotel. E, no dia 26 de setembro de 1968, o Romain Blanco foi demitido da universidade, mas o Honestino foi expulso no mesmo dia”, afirma a biógrafa. O relatório da Comissão Anísio Teixeira Memória e Verdade, que aborda a exclusão do estudante, aponta que teve relação justamente com a ação contra o professor Román Blanco ocorrida meses antes.
Tensão na universidade
Passada a ação que levou à expulsão do professor, Honestino foi preso, no dia 29 de agosto daquele ano, quando a universidade foi invadida por militares que espancaram, prenderam e torturaram estudantes e funcionários. Soldados invadiram até salas de aulas com armas e bombas de gás lacrimogêneo. Na época, o presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB) era o líder estudantil.
Uma das testemunhas do evento, o também estudante de geologia Wilson Pereira ficou assustado, naquela manhã, com as caminhonetes que chegaram e com militares atirando para cima. “Saímos correndo no rumo da Esplanada e eu só voltei três dias depois. Aqueles dias foram de muita tensão. Lembro de militares entrando em nossas salas de aula atrás do Honestino”. Wilson entrou no curso em 1967.
A ação em agosto de 1968 fez com que 300 estudantes ficassem presos na quadra de basquete. “O Honestino era muito visado”, afirma Claudio Almeida, a essa altura, casado e com uma filha. No último encontro, antes do amigo desaparecer, Claudio ouviu de Honestino que, mesmo fora da universidade. manteria a luta. “Ele me disse ‘minha luta é pelo Brasil. E nos demos um grande abraço”.
Sensibilização
Para a família de Honestino, é motivo de felicidade a decisão da UnB de realizar a homenagem. “Alegraria muito o Honestino também. Ele mobilizava os estudantes e fazia toda a agitação em prol da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, enquanto estudava muito outras coisas como economia mundial e política. Ele realmente era um ser muito engajado com os estudos”.
A família pretende aproveitar a ocasião de homenagens e quer preparar uma premiação para os estudantes de geologia conhecerem a história do líder estudantil e expressarem por que Honestino teria escolhido geologia como curso, como explica o sobrinho dele, Mateus Guimarães, que também pesquisa o legado do tio.
“Ele era um estudante inspirador, que lia jornal todos os dias e devorava os livros. Boa parte daquilo que motivou o Honestino a se insurgir contra a ditadura, e a se tornar o líder, foi justamente a defesa do projeto da Universidade de Brasília”, afirma o sobrinho. Honestino, segundo aponta Mateus, defendia a universidade utópica, genuinamente brasileira, voltada para os problemas dos povos oprimidos ao redor do mundo. Com a homenagem, Honestino deve voltar aplaudido mais de 50 anos depois de ameaças, violências, prisões, morte e silêncios.
Governo monta força-tarefa para conter desmatamento no Cerrado
Governo monta força-tarefa para conter desmatamento no Cerrado
Reunião com governadores definiu unificação de base de dados

Uma reunião no Palácio do Planalto, coordenada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, na tarde desta quarta-feira (27), contou com a participação dos governadores Carlos Brandão (Maranhão), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso), Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul), Wanderlei Barbosa (Tocantins), da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão; e do secretário de Meio Ambiente da Bahia, Eduardo Sodré.
Também participaram da agenda os ministros Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro; a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
"Na Amazônia, o governo federal tem um poder de ação muito maior. No Cerrado, são os estados que têm um poder de ação maior", afirmou a ministra Marina Silva a jornalistas, após o encontro. "A grande participação de governadores é uma demonstração de que o problema será resolvido, em um pacto que envolve o governo federal, os governos estaduais, envolve o setor produtivo, a sociedade civil e a comunidade científica", acrescentou.
Além da criação de uma força-tarefa com a participação direta dos próprios governadores, as ações propostas incluem um trabalho de unificação das bases de dados dos estados com o governo federal.
A ideia é retomar a alimentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que foi enfraquecido no governo anterior, levando os estados a desenvolverem suas próprias plataformas de acompanhamento da situação dos imóveis rurais, segundo o governo federal. Além da unificação e cruzamento de informações, de acordo com a Casa Civil, um grupo de trabalho entre ministros e governadores se reunirá periodicamente para acompanhar os dados e tomar decisões.
Fonte de 40% da água doce do país, o Cerrado teve um aumento de 19% nos alertas de desmatamento no mês passado, na comparação com fevereiro de 2023. O bioma perdeu 3.798 quilômetros quadrados (km²) de vegetação nativa, no acumulado de agosto de 2023 a fevereiro deste ano, de acordo com o monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A situação é mais grave e preocupante na região dos estados do Maranhão, de Tocantins, do Piauí e da Bahia - área conhecida pela sigla Matopiba, apontada como a nova fronteira agrícola do país. Quase 75% do desmatamento no Cerrado ocorre nesses quatro estados. Dos 52 municípios responsáveis por metade dos desmatamentos, 50 deles estão no Matopiba.
Durante a reunião, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima fez um alerta sobre os impactos de décadas de degradação do solo com desmatamento, além dos efeitos das mudanças climáticas.
"Estamos observando uma mudança no regime de chuvas, sobretudo naquela região ali do Matopiba, uma diminuição no volume de água dos rios, na vazão dos rios, algo em torno de 19 mil metros cúbicos por segundo (m³/s) e outros problemas que podem criar graves situações em relação aos processos econômicos para a agricultura familiar, para o agronegócio", destacou Marina Silva. A ministra também falou sobre um processo sem precedentes de desertificação de áreas próximas ao Cerrado.
A pasta do Meio Ambiente informou que o apoio dos estados na força-tarefa pode garantir a liberação de recursos do Fundo Amazônia para financiar ações, considerando que até 20% dos recursos podem ser aplicados em medida de monitoramento e controle em outros biomas.
quarta-feira, 27 de março de 2024
No Rio, Lula e Macron lançam ao mar submarino Tonelero
No Rio, Lula e Macron lançam ao mar submarino Tonelero
O Tonelero é o terceiro submarino convencional com propulsão diesel-elétrica construído totalmente no Brasil, através do Prosub - (crédito: Ascom/ PR)
A embarcação faz parte do Prosub, uma parceria entre o Brasil e a França. O programa prevê ainda a entrega de um submarino nuclear até 2033
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente francês, Emmanuel Macron, participaram nesta quarta-feira (27/3) da cerimônia de batismo e lançamento ao mar do submarino Tonelero (S42), em Itaguaí, no Rio de Janeiro. A embarcação faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), uma parceria entre o Brasil e a França firmada em 2008, com orçamento de aproximadamente R$ 40 bilhões.
O Tonelero contribuirá para a defesa da costa brasileira, chamada de Amazônia Azul. O Tonelero é o terceiro submarino convencional com propulsão diesel-elétrica construído totalmente no Brasil, através do Prosub. A iniciativa, que prevê transferência de tecnologia entre os países, pretende entregar até 2033 cinco submarinos, sendo quatro convencionais e um nuclear. Ainda estão previstas a entrega do “Angostura” e o nuclear “Álvaro Alberto”.
Em discurso, Macron destacou a importância da parceria estratégica e celebrou a “amizade” entre as duas nações como “potências pacíficas”.
Lula e Macron firmam aporte de R$ 5 bilhões em bioeconomia na Amazônia
“Defendemos respeito pelo direito internacional em todo o mundo, acreditamos na dignidade humana, acreditamos na paz, porque ela constrói equilíbrio. E isso exige que sejamos fortes, as grandes potências pacíficas como França e Brasil temos que ser capazes de fazer o uso da força para defender credibilidade e ordem internacional’, afirmou o presidente francês.
Segundo Macron, os dois países estão tratando ainda de um programa para produção de helicópteros militares e energia nuclear de uso civil. “Queremos consolidar essa amizade inabalável. Que seja o pretexto de uma ambição ainda maior, do Brasil e da França ainda mais fortes a serviço da paz”, reforçou.
Lula agradeceu o governo francês por posicionar o Brasil dentro do pequeno grupo de países que domina a construção de submarinos. “O Prosub é o maior e mais importante projeto de cooperação internacional em matéria de defesa do Brasil, ele garante a soberania brasileira no nosso litoral, fortalece a indústria naval com geração de emprego e renda e promove o desenvolvimento do setor com muita inovação”, destacou.
O chefe do Executivo lembrou que vários navios da Marinha brasileira foram produzidos na França, reforçando a parceria de longa data. Lula afirmou que o Brasil não quer os conhecimentos da tecnologia nuclear para fazer guerra.
“Nós queremos ter o conhecimento para garantir a todos os países que querem paz que saibam que o Brasil estará ao lado de todos porque a guerra não constrói, a guerra destrói. O que constrói é desenvolvimento, conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico e é nessa área que queremos fortalecer a nossa parceria com o povo francês”, finalizou.
Cerimônia
Conforme a tradição da Marinha do Brasil, a primeira-dama Janja Lula da Silva batizou a embarcação, quebrando uma garrafa de espumante no casco do submarino. O costume, de acordo com a Marinha, remete a rituais vikings. Tradicionalmente, a embarcação é batizada por uma madrinha e recebe seu nome oficial antes de ser submergido ao mar
terça-feira, 26 de março de 2024
segunda-feira, 25 de março de 2024
domingo, 24 de março de 2024
sábado, 23 de março de 2024
sexta-feira, 22 de março de 2024
quinta-feira, 21 de março de 2024
quarta-feira, 20 de março de 2024
ESCREVENDO A HISTÓRIA 50 anos de Brasília
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO — DETAQ COODENAÇÃO DE HISTÓRICO E DEBATES — COHID
18 abr 1956 O Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira assinou a Mensagem de Anápolis, que encaminhou ao Congresso Nacional anteprojeto que dispunha sobre a mudança da Capital Federal e criava a Companhia Urbanizadora da Nova Capital, que tramitou na Câmara dos Deputados sob o número de Projeto de Lei 1.234, de 1956, tendo sido aprovado por unanimidade tanto na Câmara quanto no Senado Federal.
JK, cérebro das altas decisões nacionais
A transferência da Capital Federal do Rio de Janeiro para o interior do País foi uma ideia endossada por Hipólito José da Costa, o primeiro de nossos jornalistas, José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, e defendida por Francisco Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, um dos nossos maiores historiadores. Surgiu na forma de proposta de emenda constitucional, no Congresso Constituinte de 1890; constou das Constituições de 1891, 1934 e de 1946.
No dia 4 de abril de 1955, Juscelino Kubitschek visitava a cidade de Jataí, Estado de Goiás, em campanha eleitoral para Presidente da República. Durante o comício, quando discursava em uma oficina mecânica, em decorrência de forte chuva que caía sobre a cidade, foi interpelado por um cidadão jataiense chamado Antônio Soares Neto, sobre se o candidato, uma vez eleito, cumpriria artigo das Disposições Transitórias da Constituição Federal que previa a mudança da Capital Federal para o Planalto Central, o que Juscelino prometeu cumprir. A partir daí, esta decisão ganhou plataforma em sua campanha eleitoral.
Já empossado na Presidência da República, Juscelino assinou, no dia 19 de abril de 1956, na cidade de Anápolis, Estado de Goiás, a Mensagem nº 156 – que dispunha sobre a mudança da Capital Federal – e a enviou ao Congresso Nacional, onde tramitou sob a forma do Projeto de Lei nº 1.234, de 1956, aprovado, na Câmara, em 23 de agosto de 1956 e transformado na Lei nº 2.874, de 1956, sancionada em 19 de setembro do mesmo ano.
No dia 2 de outubro de 1956, Juscelino foi ao Planalto Central, de onde reafirmou que naquele vazio se construiria o "cérebro das altas decisões nacionais".
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-de-materias/revista-50-anos-de-brasilia
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO — DETAQ COODENAÇÃO DE HISTÓRICO E DEBATES — COHID Brasília, abril de 2010 ESCREVENDO A HISTÓRIA 50 anos de Brasília Realização: • COHID • Projeto de editoração: Elaine Machado Ribeiro Mônica Corrêa Xavier
Nesta edição: JK, cérebro das altas decisões nacionais 2 A mudança da Capital para o interior do país Um projeto em construção 3 Congresso Nacional, palco de grandes acontecimentos 7 Cronologia 8 1 2 3
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO — DETAQ COODENAÇÃO DE HISTÓRICO E DEBATES — COHID
Anápolis e JK, história de muitos encontros
Por conta do destino, a mensagem e o projeto de lei enviados ao Congresso Nacional, propondo a transferência da Capital da República para o Planalto Central, foi assinada pelo presidente Juscelino Kubitschek, em Anápolis no dia 18 de abril de 1956. O ato estava programado para Goiânia, mas com o aparecimento de nuvens o avião presidencial aterrissou em Anápolis. Em solenidade improvisada, no aeroporto local, aconteceu o primeiro encontro da história de Anápolis com o homem mais importante que o Brasil já teve.Asfalto até Anápolis foi decisão estratégica de JKO presidente JK voltou a Anápolis, no final de agosto de 1957, para inaugurar a BR 060, uma estrada asfaltada, no meio do nada, sem ligação com nenhuma outra rodovia pavimentada, ligando o futuro Distrito Federal à ponta dos trilhos. Juscelino tinha pressa e colocara o engenheiro Bernardo Sayão à frente desta obra estratégica, dividida entre cinco empreiteiras, em seus 130 km de extensão. Em menos de um ano, estava pronta a conexão do transporte rodo-ferroviário para a consecução da logística de construção da nova Capital. Sonho que se concretizava a cada carga de material de construção transferida dos vagões para os caminhões enfileirados em volta da estação ferroviária e a cada passo de quantos candangos percorriam a pé o trajeto até a Capital da Esperança.Amizade com Anapolino rendeu visitas a AnápolisApós o término do mandato de Juscelino, o Partido Social Democrático estruturou, em 1961, uma abertura no Senado para conduzir a já convencionada candidatura do estadista às eleições presidenciais de 1965. O deputado Anapolino de Faria foi um dos líderes da campanha de JK, eleito senador por Goiás, em 1961. Ponto de partida da amizade entre ambos, a política rendeu inúmeras visitas do estadista a Anápolis.Em 1964, Juscelino Kutibtschek teve o seu mandato de senador cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos. Retornou do exilo, em 1967, mas somente teve autorização para pisar o solo de Brasília em 1971. Um ano depois, através dos contatos de Anapolino de Faria, JK adquiriu uma fazendola nos arredores de Luziânia, onde construiu casa projetada por Oscar Niemeyer. Ele nada pagou pelo projeto da sede e tampouco pela rede de energia elétrica. Apesar de manipular bilhões durante a construção de Brasília deixou o cargo de Presidente da República sem ser rico e ficou pobre em razão do exílio e das perseguições políticas e pessoais.Serestas na casa projetada por Oscar NiemeyerMais do que dinheiro, as amizades e as serestas alegravam a vida do Presidente, como era chamado pelos amigos. Uma vez por mês ele freqüentava balneários de Caldas Novas, em busca de repouso físico e mental, passando por Anápolis, às sextas-feiras, para visitar o casal Anapolino e Dulce, com quem almoçava. Retornava aos domingos, parando novamente na cidade para dormir na casa dos compadres (era padrinho Maurice, primogênito do casal). Costumeiramente, trazia um violeiro e organizava serenatas no jardim da casa, projetada por Oscar Niemeyer. Na parede da sala, o exótico mural criado pela equipe do maior arquiteto do Brasil, era cúmplice das noitadas que se arrastavam ao até ao raiar do novo dia.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
HISTÓRIA: JK EM ANÁPOLIS GO DEPOIS DE ASSINAR A MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL PROPONDO A TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL FEDERAL PARA BRASÍLIA

As primeiras bandeiras adentraram o planalto central ainda no sec. XVI, vindas dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Já em 1682, sob o comando de Bartolomeu Bueno da Silva, chegaram até o Rio Araguaia atrás de índios de diversas etnias que até então habitavam estas terras. Estas bandeiras escravizavam os índios e os transportavam para os engenhos do sudeste e norte do país. Num segundo momento os Bandeirantes passaram a realizar incursões atrás de minas de ouro, onde muitos se estabeleciam (VAZ, 2009). Com o surgimento dos primeiros povoados foram criadas rotas de transportes de mercadoria entre estes e o sudeste. Assim, movimentações de tropeiros que transitavam entre os povoados de Vila Boa (Cidade de Goiás), Meia Ponte (Pirenópolis), Bomfim (Silvânia), Corumbá de Goiás e Santa Cruz deram origem à povoação das margens do Rio das Antas ainda no século XVIII. Mas as áreas banhadas por este rio e seus tributários não forneciam o cobiçado ouro, produto do lendário Eldorado Brasileiro. Então, o que atraiu os forasteiros a esta remota área do planalto central? Por que este era considerado um lugar de descanso? O que o Rio das Antas oferecia que saltava aos olhos dos que por aqui passavam?
Os registros sobre o Rio das Antas remontam ao início do século XIX. Estes evidenciam o que de fato atraiu os primeiros moradores que aqui se instalaram e revelam a intensa ligação entre essas pessoas e a exuberância do vale das Antas. Os escritos do francês Auguste de Saint-Hilaire, datados de 1819, constituem nos mais antigos registros escritos sobre a origem de Anápolis, onde nas páginas 191, 192 e 193 ele diz:
[...] a tres leguas de Forquilha, apeei-me na Fazenda das Antas, situada acima do rio do mesmo nome, ainda um dos affluentes do Rio Corumbá. Essa fazenda era um engenho de assucar que me pareceu em pessimo estado, mas da qual dependia um rancho muito limpo e bastante grande, no qual nos alojámos. Como o de Areas, de que fallei num dos capítulos precedentes (28), este rancho estava cercado de grossos mourões da altura de um homem, que formavam uma espécie de parede e preservavam os viajantes da visita muito importuna dos cães e dos porcos.
[...] Depois de ter deixado a Fazenda das Antas, vi alguns campos onde a terra, de um cinzento amarellado, não produz sinão arvores pouco 31 numerosas, pertencentes a especies corriqueiras e que attingem apenas a metade da estatura corrente.
[...] Então fiquei bastante surpreendido de ver massiços de arvores em algumas elevações, pois que não se encontram ordinariamente sinão nas partes baixas do terreno.
Observe os elementos naturais e as informações geográficas registradas pelo autor. Já neste tempo ele chama o Antas de Rio (Rio das Antas e não Ribeirão das Antas) e o identifica como um afluente do Rio Corumbá. Também é destacada a presença de Cães e Porcos do mato que invadiam as moradias da região à época. Percebe-se também a prevalência de duas fitofisionomias comuns na região: as exuberantes matas ciliares ao longo dos canais fluviais que, em certos pontos, se projetavam até as áreas mais altas do relevo, se entremeado com o Cerrado, predominante nestas áreas. Já em março de 1844, o naturalista francês Francis Castelnau e sua equipe, quando perderam-se da estrada que ia de Bomfim para Meia Ponte, relatou o seguinte:
Ao raiar do dia nos achávamos numa formosa paragem, cheia de agradável vegetação, onde se viam tucanos em grande número, refugiados nas árvores. Nossos companheiros gastaram todo o dia em percorrer o campo à procura da estrada, surpreendendo-os assim a noite. Os guias tinham perdido o caminho e não houve outro remédio senão acamparmos ao ar livre, num lugar próximo da cabeceira de vários córregos afluentes do Corumbá. ... No dia 17 os viajantes tiveram apenas, como almoço, carne de tucano. Enquanto comiam, os tropeiros estavam na perseguição dos burros transviados, só alcançaram, porém, após légua e meia de marcha. ... Continuaram no dia 18 a procurar ainda a estrada real, que afinal conseguiram descobrir. Saindo da fazenda, atravessa-se um bonito ribeirão chamado Antas, nome também da localidade. Lança-se este no Rio Corumbá (CASTELNAU, 1949, pag. 216).
As descrições de Castelnau destacam a beleza do Rio das Antas e faz menção à grande quantidade de tucanos encontrados na região. Também é possível perceber que o naturalista deixa claro que a sede da Fazenda das Antas não estava na rota que ligava Bomfim à Meia Ponte, ou estas à cidade de Vila Boa. Significa então que os atributos ambientais faziam com que os viajantes mudassem suas rotas para se estalarem no rancho da Fazenda das Antas.
O pernambucano Oscar Leal, em sua obra “Viagem às terras Goyanas – Brasil Central”, quando em passagem pelo Vale do Antas, em1887, suspira:
Antas!!! Sepultada no meio do deserto, longe das grandes estradas que ligam a capital goiana (Vila Boa) às principais praças do sul do Estado, a vila ou povoação das Antas surge à vista do forasteiro, depois que se desce a chapada, em extenso vale, cercado de um muitíssimo, tão belo e sedutor arvoredo que seria o bastante para ali fundarem um estado os poetas da antiga Babilônia. Na vila das Antas há meia dúzia de pessoas com as quais se pode travar conversação e uma destas é o Sr. José Batista... Consta de duas ruas paralelas que atravessam o largo da matriz, a qual fica situada bem no centro da povoação... Sua população, segundo os meus cálculos na falta de estatística, orça por uns 800 habitantes... Tem umas seis lojas de fazendas mal sortidas e algumas tabernas que vendem fumo, cachaça e mantimentos. O clima é saudável e as águas magníficas (LEAL, 1887).
Quando Leal passou pelo Vale das Antas muito já havia mudado em relação à paisagem natural de 150 anos antes, quando provavelmente se instalaram os primeiros moradores na região (provavelmente na primeira metade do sec. XVIII). Aquele era um momento histórico, de diversas transformações na pequena Vila das Antas (Vila de Santana ou Freguesia Santana dos Campos Ricos), já que estavam presentes dois grandes ícones da história de Anápolis, Zeca Batista e Souza Ramos. Com aproximadamente 800 habitantes em 1887 o povoado estava prestes a se tornar município e, em 1907, passaria a ser chamada Anápolis. Desde então muitas foram as transformações no cenário ambiental que encantou por várias décadas a todos que por aqui passava, mesmo os mais acostumados com as exuberantes paisagens do Brasil.
Num outro relato, de 1935, a abundância da fauna do vale do Antas e cercanias ainda pode ser notada, porém já se percebia a intensificação de sua degradação em função da instalação da via férrea no município. A essa altura, além de não se ver mais relatos sobre as antas, também os porcos do mato estavam sendo dizimados para a retirada e exportação de suas peles. Estes são relatos de memórias da americana Joan Lowell. Quando mudou para Goiás, vindo morar próximo à Anápolis, quando registrou o seguinte:
[...] Pela trilha, vinha vindo uma tropa de bestas. Pedimos ao tropeiro que viesse falar conosco. Cada animal tinha um carregamento de peles negras. Eram peles de porcos do mato.
- Que vai fazer com elas? Há mercado para essas peles?
- Vamos levá-las até a estação e, de lá, seguem para São Paulo. De São Paulo vão para um lugar chamado Alemanha.
- Para que usam os alemães essas peles?
- Não sei ao certo. Ouvi dizer que fazem máscaras contra gás venenoso. A pele de porco do mato é tão grossa que o ar venenoso não passa por ela.
[...]
Naquele sertão pouco conhecido os caçadores tinham encontrado um negócio da China. Apenas com espingarda calibre 28, dizimavam manadas de porcos do mato (LOWELL, 1935, pag. 62).
Nesse processo histórico, o espaço do Vale das Antas foi marcado pela exploração dos recursos naturais destinados ao fornecimento de matérias-primas, à substituição das coberturas vegetais naturais pelas culturas de algodão, que dominaram as paisagens de Bom Fim, da qual o vale fazia parte. É preciso destacar que no início do sec. XX, a já então cidade de Anápolis, se tornou num grande produtor e distribuidor de café e arroz do centro oeste para o sudeste e países industrializados. Embora o desenvolvimento tecnológico tenha resultado em melhorias, desencadeou, por conseguinte, uma mudança ambiental significativa com a devastação das coberturas vegetais naturais, e consequente diminuição da biodiversidade local, para o estabelecimento de plantações e o crescimento da mancha urbana.
É importante notar como o espaço geográfico, com seus elementos naturais, atrai o homem, e este, como que insatisfeito, modifica o espaço ao seu modo. Nessa direção, os elementos constitutivos da paisagem natural contribuem para a compreensão dos processos de produção do espaço no qual se estruturou a cidade de Anápolis. Pois, segundo Santos (1997, pag. 51) “o espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoados por sistemas de ações igualmente atribuídos de artificialidades e cada vez mais tendentes a fins contrários à paisagem natural”.
1 DIONE INÁCIO DA SILVEIRA PRESSÃO URBANA SOBRE AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RECURSOS HÍDRICOS – UM ESTUDO DE CASO DA MICROBACIA DO RIO DAS ANTAS, ANÁPOLIS, GO. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente do Centro Universitário de Anápolis – UniEvangélica como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais. Anápolis – GO 2015
http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/240/1/Dione%20In%C3%A1cio%20da%20Silveira.pdf
Quando existiram as antas por estas bandas.
Anta em Cerrado devastado pelo agronegócio
O Tapirus terrestris, nome científico da anta, é o maior mamífero brasileiro. Sua origem remonta 50 milhões de anos, das espécies sucedãneas dos dinossauros extintos, surgidas na época da pangéia, quando a Austrália se desligava da Antártida, entre outros movimentos de afastamento dos continentes.
Sua ocorrência no planalto central brasileiro está ligada a existência de matas densas como a vegetação do mato grosso goiano, identificadas como manchas de mata atlântica, diferenciadas das grandes extensões de cerrado do tipo savana onde dominam planícies abertas de pequenos arbustos e típicas árvores retorcidas, com a presença de nascentes de água formando veredas de buritis.Herbívoras, são consideradas as jardineiras da natureza pela importante função dispersora de sementes ao caminhar longas distancias alimentando-se de frutos e espalhando sementes a partir de seus excrementos.
Por ser um animal de grande porte,seu corpo mede de 1,70 a 2,00 m e pode pesar até 300 kg. Sua coloração é marrom escura e o focinho tem uma pequena tromba móvel. Nas patas anteriores possui quatro dedos e nas patas posteriores três dedos. herbívoras
Além da importante função de dispersora de sementes, sua passagem pela paisagem vai formando caminhos naturais, aproveitado pelos antigos povos autóctenes na formação dos peabirus.Os peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes do descobrimento pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente.
Ser um animal de grande porte na savana aberta é um perigo por causa dos predadores, inclusive os hominidaes. Buscar as matas facilita a sobrevivência, inclusive dos filhotes, que até uma certa idade mantém listras na pelagem assemelhando-se a folhagem.
As fêmeas têm um filhote por gestação. Os filhotes nascem com uma camuflagem de listras e manchas que desaparece até os 8 meses de vida.Frequenta diversos ambientes florestais, desde que se sinta segura nessas áreas. Tem hábitos solitários e geralmente é vista durante a noite.
As fêmeas têm um filhote por gestação. Os filhotes nascem com uma camuflagem de listras e manchas que desaparece até os 8 meses de vida.Frequenta diversos ambientes florestais, desde que se sinta segura nessas áreas. Tem hábitos solitários e geralmente é vista durante a noite.
Historia de Anápolis
1365 palavras 6 páginas
Em 1819, o viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, hospedou-se na região, a qual mencionou de Fazenda das Antas. Um conhecido desbravador da região, o marechal Raimundo de Cunha Matos, chegou a afirmar em suas andanças a citada propriedade, encravada no rio das Antas, nome este por sinal, face o local na época ter grande quantidade de antas.
A origem dessa localidade é quase certa que fica nas redondezas do Córrego Góis, Ribeirão das Antas, Córrego dos Nunes, Córrego Capuava, Córrego Cesário, Córrego Água Fria, Córrego João de Aí, tinha como residência os senhores Joaquim e Manuel Rodrigues dos Santos, José Inácio de Sousa, Manuel e Pedro Rodrigues (Roiz), Camilo Mendes de Morais, Manuel Rodrigues da Silva, todos lavradores e mais comunidade por volta de 1865. Por ser um local aprazível, com bom pasto e muita água, tornou-se logo um ponto de encontro entre viajantes e tropeiros surgindo em seguida casas e palhoças.
Percorrendo a extensa faixa de terras entre Jaraguá e Silvânia, alguns viajantes fixaram ali residência, principalmente na cabeceira do rio/riacho das Antas
A representação de Raimundo José da Cunha Mattos sobre a Província de Goiás na Corografia Histórica da Província de Goiás (1874) revela que a Província de Goiás fora: “descoberta, e povoada por aventureiros, que só procuravam riquezas”
Anta em Cerrado devastado pelo agronegócio
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