quinta-feira, 2 de julho de 2015

Escala e acesso ao audiovisual brasileiro, por Pola Ribeiro, Secretário de Audiovisual do Ministério da Cultura -

Escala e acesso ao audiovisual brasileiro

Secretário do Audiovisual, Pola Ribeiro. (Foto: Janine Moraes)
Estamos completando 100 dias à frente da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC) e, nesse tempo, chegamos a uma conclusão: é preciso que o audiovisual dê um choque no Brasil, na área da expressão, da identificação, da educação. Ou seja, é preciso que o audiovisual desperte uma sensação de pertencimento no povo brasileiro.

É um momento de "costura", encarando o setor audiovisual como parceiro do sistema. Unindo as políticas, conversando com os setores e fazendo uma revolução na comunicação. Falando para eles o que estamos pensando e escutando as necessidades, as demandas, para que possamos, de fato, fazer um audiovisual potente para dar conta da diversidade brasileira. 

Pesquisadores, professores, cineastas, coordenadores de festival, cineclubistas, todos devem trabalhar conjuntamente em um projeto para fazer o audiovisual ganhar escala e reconhecimento. A SAv vinha se relacionando com o setor de forma muito distanciada e burocrática, sem pensar na coisa viva, e a gente quer trabalhar uma gestão que pense no cinema como uma coisa viva. 

Como exemplo, gosto de citar o Edital de Curta Metragem, que mobiliza, a princípio, umas cinco mil pessoas que pensam em escrever projetos. Dessas, apenas mil conseguem, de fato, desenhar o projeto, pensar em uma estratégia e se inscrever. Apenas 20 projetos são selecionados. A partir daí, com os outros 980 proponentes não tínhamos mais nenhum tipo de relacionamento, de comunicação, de nada. Com os 20 selecionados, a gente começa um processo de inimizade. Os projetos não são conhecidos profundamente pela SAv, pois são escolhidos por uma comissão externa. E no final, sem saber se o filme foi lançado ou que destino teve, recebemos uma caixa com as notas fiscais. Ou seja, é uma maneira muito fria que não pode dar certo.

Agora, buscando entendimento, conversando com os funcionários da SAv, do CTAv (Centro Técnico Audiovisual), da Cinemateca Brasileira, percebemos que precisávamos trabalhar a Comunicação, como política, entre quem está na ponta, realizando os projetos audiovisuais, e as instituições políticas. Assim, começamos a desenhar um novo cenário, no qual vamos priorizar o acompanhamento dos processos, tendo os realizadores como parceiros, apostando em uma relação mais profícua de custo-benefício do que é investido e do que é absorvido pela sociedade.

Então, estamos nos mobilizando internamente e já sentimos os frutos dessa mobilização nos eventos e festivais dos quais participamos. Temos feito um esforço imenso para estar em todos eles, presencialmente ou na formulação de textos e falas nos quais dialogamos e nos comprometemos com esse setor e com sua organização.

Programas estratégicos

Analisamos as ações e projetos que deram certo e que foram descontinuados e transformamos em três programas estratégicos: o Olhar Brasil, que é um olhar para o futuro e que se relaciona com as ações de inovação e de formação, com seu lócus principal no Centro Técnico Audiovisual (CTAv), que está completando 30 anos; a Programadora Brasil, que é toda a parte do momento atual, de produção e de difusão; e o Memória Brasil, que é a parte de pesquisa, de investigação, de preservação do audiovisual brasileiro, que tem a Cinemateca como protagonista. Essas políticas não são estanques; elas dialogam. 

MinC Audiovisual

Estamos pensando em situações de escala – grande desafio desta gestão. Para isso, é fundamental trabalhar a participação social, a comunicação e a escuta. Fortalecer as ouvidorias, reestruturar o Conselho Consultivo da SAv, articular com o Sistema MinC as outras instâncias consultivas. 

Assim, fomos desenhando o MinC Audiovisual. A Ancine, com sua visão de mercado e com a gestão da Secretaria Executiva do Fundo Setorial do Audiovisual; a SAv formulando as políticas e pensando na democratização da produção e do acesso audiovisual; as outras secretarias e vinculadas do MinC com suas competências específicas. A Secretaria de Educação e Formação Artística e Cultural (Sefac), ligada à educação, que tem a possibilidade de dar escala às nossas políticas. Estamos firmes na discussão de Cinema e Educação, e esse foco estará na Programadora e no Olhar Brasil, principalmente. 

A SAv também aposta em uma ação mais forte junto ao Comitê do Fundo Setorial, para que nossas políticas também tenham espaço dentro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Temos também a parceria com a Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC), que trabalha com a questão de quilombolas, indígenas, diversidade e também fortemente na mídia livre, com inovações. Já estamos fazendo, inclusive, editais juntamente com a SCDC. Queremos, ainda, aprofundar a parceria com a Funarte, a Palmares e outros setores do MinC que fazem audiovisual. 

E, para chegar à sociedade, precisamos estar afiados com nossos parceiros, na mesma política, por isso estamos firmemente ligados aos cineclubes, aos polos de festivais, ao Congresso Brasileiro de Cinema. Estamos nos comprometendo a fazer um Seminário do Congresso Brasileiro de Cinema, em 2016, para que possamos ter essas políticas todas debatidas com a ABD, as associações de preservação etc.

Entre os nossos desafios também está a formação do Canal da Cultura, com suas possibilidades de quatro programações diferentes, na área de comunicação, para ampliar o diálogo de participação na sua gestão, mas também colocar conteúdos do MinC e da sociedade ao alcance de mais pessoas. 

Estamos pensamos também a questão da acessibilidade, o acesso ao audiovisual, lembrando que existem brasileiros que precisam de recursos específicos para a fruição audiovisual. A questão da acessibilidade foi transformada em lei, mas temos pouco espaço para desenvolver esse setor. É fundamental dialogar com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), com o canal INES, com outros parceiros, debatendo com os países da América Latina, principalmente a Argentina, que se desenvolveu bastante nisso. Estamos pensando, ainda, em um guia orientador para a produção audiovisual acessível.

Política internacional

Em relação à política internacional, nos locomovemos com o Programa CPLP Audiovisual, que lançamos e está em andamento. Já foi feita a primeira oficina em Lisboa, e nove países de língua portuguesa estão envolvidos no processo. Faremos o lançamento dos editais DOCTV CPLP e FICTV CPLP no mês de agosto, em Salvador. 

Também participamos da reunião da Conferência das Autoridades Cinematográficas Ibero-americanas (Caci), do Observatório do setor audiovisual na Argentina, conversamos com suas TVs públicas, para conhecer o processo que eles desenvolvem, com a Lei dos Meios, importante marco na área de comunicação. Ainda na questão internacional, estamos dialogando fortemente com a Diretoria de Relações Internacionais do MinC (DRI) e formulando uma política potencializada.

A interlocução entre secretarias e vinculadas é uma ação que está sendo realizada em todo o MinC, sendo priorizada pelo ministro Juca Ferreira, para que se crie uma estratégia que seja transversal de verdade, tirando as pessoas de suas ‘caixinhas'. Só vamos conseguir dar a resposta que o ministro pretende dar à sociedade brasileira se cruzarmos as nossas políticas, chegando na ponta com resultados eficientes, para que as pessoas possam, de fato, acessar o MinC e o MinC acessar a sociedade.

Pola Ribeiro
Secretário do Audiovisual

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