sexta-feira, 10 de abril de 2015

Corrupção? É a economia, estúpido!

Corrupção? É a economia, estúpido!

Marcel Franco Araújo Farah
Refletindo sobre os acontecimentos recentes me pergunto como e por que a classe média e tanta gente da classe trabalhadora tem se mobilizado para confrontar o governo. Quais as razões do crescimento do ódio, e qual a real relação da corrupção com isso?
Concordo com a tese de que o governo, por sua ação e omissão, fortaleceu a reprodução de relações sociais conservadoras, que se voltaram contra ele próprio, mas não só. Voltou-se também contra toda esquerda e seu projeto de sociedade.
Há outras condicionantes deste processo que temos que considera. Os fatos históricos podem dar várias pistas, assim como certo conhecimento de economia.
Em artigo no portal cartamaior o economista Robert Avilla demonstra como o crescimento do nível de rendimento do trabalho, ou seja o nivel real do salário mínimo subiu nos últimos anos. Fato amplamente conhecido.
O economista compara este crescimento ao momento das crises vividas pelo Brasil em 1954 e 1964, com o suicídio de Getúlio e o golpe contra Jango. Naquelas décadas o nível salarial aumentou frente as décadas anteriores e chegou ao seu pico histórico vindo novamente a cair na década de 1960, 1970, 1980 e 1990, somente voltando a subir na década de 2000, o que coincide com a conquista do Governo Federal pelo PT.
O aumento do rendimento do trabalho, principalmente em comparação com o crescimento da renda do capital (empresas, bancos, alugueis etc) gera um stresse econômico com reflexos na política. A elite econômica, e seu poder politico se voltam contra esta tendência buscando retomar a situação inicial que lhe garante mais rendimentos.
Por outro lado, é notório que há uma pressão intensa de petroleiras internacionais contra o modelo de partilha que garante maior controle nacional (estatal) sobre a extração de petróleo. Estas companhias internacionais e as elites econômicas brasileiras, que nunca foram de alinhar-se à políticas de desenvolvimento nacional, preferindo alianças com a burguesia internacional, buscam reverter esta política. Buscam também questionar e destruir a política de conteúdo nacional. Intuitivamente podemos concluir que estas empresas agem em proveito próprio e não em proveito nacional. Assim como seus “representantes” nacionais, como alguns deputados favoráveis à partilha da Petrobras e não do petróleo.
No início de 2014 a presidenta Dilma fez alterações nas diretorias da Petrobras. Desconfio que havia, naquelas alterações, uma ameaça à continuidade de um processo de desvio de recursos públicos para empresas privadas à muito instaurado na estatal. Lembremos que Paulo Francis denunciava esquemas escandalosos de corrupção na Petrobras em 1999 no governo FHC.
Estas alterações provavelmente visavam desarticular estes esquemas o que gerou a descontinuidade de alguns canais de escoamento de recursos estatais, e previsão de prejuízos financeiros e políticos para quem se beneficiava dos esquemas.
Lembro que quem se beneficia de tais esquemas não são seus operadores, mas principalmente as empresas que colhem recursos com o superfaturamento, depois financiam campanhas para manter sua capacidade de influência politica para que se garanta a continuidade do esquema. Isso só dá certo, se há certo nível de oligopolização do mercado prestador de serviços como é o caso das empresas que prestam serviços para a Petrobras.
Juntando os dois elementos, um das condições econômicas da época atual, e outro do enfrentamento que o Governo Federal levava a cabo contra a corrupção endêmica na administração estatal brasileira, me parece que o ódio e a mobilização vêm muito mais da economia para a política do que do convencimento das classes médias e trabalhadoras que se manifestam.
Não é um movimento orquestrado, mas certamente insuflado pelos setores sociais que desejam o retrocesso econômico e consequentemente social.


-- 
Marcel Franco Araújo Farah

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Honestino Guimarães, morto pela ditadura, será homenageado com diploma da UNB

  Honestino Guimarães, morto pela ditadura, será homenageado com diploma da UNB Se estivesse vivo, Honestino completaria, nesta quinta (28),...