quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Assinatura da Mensagem de Anápolis por Juscelino Kubitschek POR QUE CONSTRUÍ BRASÍLIA Pags 8 -10

 Assinatura da Mensagem de Anápolis por Juscelino Kubitschek   

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             Antes, porém da remessa da mensagem ao Congresso, julguei que deveria tomar algumas providências - estas de natureza política. Naquele momento, a Oposição tudo vinha fazendo para impedir a aprovação de uma lei sobre o Imposto de Consumo, que era de grande interesse para o Governo. O mesmo iria acontecer certamente em relação ao anteprojeto de lei referente à mudança da Capital. A solução seria transferir o patrocínio da iniciativa para o Governo de Goiás - o Estado mais estreitamente vinculado ao problema. Falei, a respeito, com o Governador José Ludovico, que aceitou, com entusiasmo, a sugestão. Não só atuaria junto aos representantes do Estado - inclusive aos udenistas - no sentido de se criar um ambiente favorável à idéia, mas, também, promoveria a realização de uma cerimônia em Goiânia, que acentuaria ainda mais o caráter regionalista da iniciativa. Tratava-se de um "ato público" a ter lugar na principal praça da Capital do Estado, durante o qual eu assinaria, na presença do povo, a mensagem que seria enviada ao Congresso. Tudo combinado, anunciei a data da cerimônia: 18 de abril de 1956.

             Na época, o único avião de que dispunha a Presidência era um DC-3 - aparelho ronceiro que levava dois dias do Rio a Belém do Pará. Daí o apelido que lhe era dado: "carroça aérea". Era nesse avião que eu iria fazer a viagem até Goiânia, deixando o Rio pouco antes da meia-noite. O Brigadeiro Fleiuss, Ministro da Aeronáutica, considerou uma temeridade o vôo noturno. Iríamos sobrevoar justamente a região mais deserta e sem recursos do interior do Brasil. Além disso faríamos o percurso em plena escuridão. Se houvesse uma pane, estaríamos perdidos.

Habituado aos azares das viagens aéreas, não levei em consideração as ponderações do Ministro da Aeronáutica. Deixamos o Rio às 11 horas da noite, com um céu sem estrelas e prenúncios de tempestade. A viagem transcorreu normalmente até às 3 da madrugada, quando sem qualquer pressão, o avião perdeu a rota e se deixou levar, sem rumo. Voávamos às cegas, pra em círculos, ora em linha reta, na expectativa de um desastre iminente. Quanto amanheceu, vimos uma localidade que o piloto reconheceu ser a cidade de Morrinhos, não muito distante da Capital do Estado. Tomando-se como ponto de referência, orientou o avião na direção que desejávamos.

             Sobrevoamos Goiânia ainda muito cedo e, mesmo assim, pudemos constatar qua cidade estava engalanada com milhares de pessoas nas Ruas. Preparamo-nos, então, para a descida, quando ocorreu um fenômeno curioso, O avião já havia sido colocado na posição adequada, e eis que uma nuvem densa e branca, como imenso floco de algodão, estacionou exatamente em cima da pista, impedindo a aterrissagem. O mais surpreendente era que a nuvem ocultava apenas a pista, como se tivesse o propósito de evitar o pouso. Sobrevoando o local, podíamos ver, com absoluta nitidez, a multidão que superlotação as imediações do aeroporto.

             Após várias tentativas de aterrissagem e todas fracassadas, decidimos seguir para Anápolis, distante meia hora de vôo. Ali o avião pousou sem novidade.

              Encontramos o aeroporto deserto. Não havia vivalma nem no campo de pouso nem no edifício da administração. Deixando o aparelho, atravessarmos o edifício da administração. E entramos num pequeno café, que acabara de abrir suas portas. Sentamo-nos a um canto e pedimos "média com pão e manteiga". Surgiram, pouco depois, quatro ou cinco pessoas, atraídas certamente pelo ruído dos motores. Olharam- nos com surpresa e foram em busca do prefeito e do chefe politico do município. Quando estes chegaram, expliquei-lhes o motivo da inesperada visita e esclareci que, não podendo perder tempo - pois estava de viagem marcada para Manaus, onde me aguardava o Coronel Janari Nunes, então presidente da Petrobrás, a fim de visitarmos, juntos, o poço pioneiro de Nova Olinda -, havia resolvido realizar ali a cerimônia de assinatura da mensagem a ser enviada ao Congresso.

             Assim, o "ato público", que deveria ter tido lugar na principal praça pública de Goiânia e na presença de milhares de pessoas, acabou sendo realizado no interior de um botequim, ao lado do aeroporto de Anápolis, e assistido apenas por meia dúzia de curiosos. Assinei ali a mensagem e solicitei que se redigisse uma ata, a ser subscrito por todos os presentes, consignando, no seu texto, tudo quanto acontecera naquela manhã. A mensagem e a ata tiveram a mesma data: 18 de abril de 1956.


Juscelino Kubitschek 1902-1976

POR QUE CONSTRUÍ BRASÍLIA 

Pags 8 -10


Por que construí Brasília/Juscelino Kubitschek.  - 

Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2000.

XVI+477 p. - (Coleção Brasil 500 anos)

1. Brasília (DF), história. 2. Capital (Cidade), Brasil.

I. Título. II. Série


CDD 981.74

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