terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pronera forma 59 pedagogos em Goiás

Um público de mais de 400 pessoas acompanhou atento, na noite desta segunda-feira (21), a colação de grau da I Turma de Pedagogia da Terra, formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em convênio com o Ministério do Desenvolvimento Agrário/Incra, por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). A cerimônia – realizada no auditório da Faculdade de Educação da UFG, na capital goiana – emocionou os 59 formandos, seus familiares e também as autoridades acadêmicas.

“Estou muito feliz e orgulhoso de trabalhar numa universidade que promove um curso dessa natureza e com essa magnitude. A UFG é republicana e preza a igualdade entre todos os povos, sejam eles do campo ou da cidade. Por isso, essa colação de grau é idêntica em formalidade a todas as demais realizadas aqui”, ressaltou o reitor Edward Madureira Brasil, que é também presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

O superintendente do Incra em Goiás, Rogério Arantes, lembrou aos estudantes que a felicidade desta formatura é coletiva pela finalização de um projeto construído a várias mãos. “Vocês, por meio dos seus movimentos representativos, trouxeram ao Incra a demanda pela escolarização no campo. Com o Pronera, aceitamos esse desafio e enfrentamos, com o irrestrito apoio da UFG, todos os entraves burocráticos e jurídicos para garantir o protagonismo dessa I Turma de Pedagogia da Terra em Goiás”, relembrou.

A coordenadora Nacional do Pronera, Clarice Aparecida dos Santos, parabenizou os novos pedagogos, que também são agricultores e agricultoras, pelo esforço, persistência e dedicação durante os nove módulos do curso, que incluiu aulas presenciais (tempo escola) e atividades no campo (tempo comunidade). “A conclusão de um curso superior não é uma conquista apenas pessoal. Vocês estiveram aqui na UFG durante quatro anos e meio porque houve muita gente no campo que lutava há anos por isso. Muitas dessas pessoas morreram sem ter concluído o ensino médio”, disse, referindo-se ao processo histórico de exclusão do trabalhador rural do ensino formal.

A coordenadora do curso de Pedagogia da Terra, professora Walderês Nunes Loureiro, citou o educador Paulo Freire para lembrar aos alunos algo muito importante: “professor e aluno aprendem sempre. A sala de aula é uma troca de conhecimento. Neste curso, novo na UFG, ficou bem resgatada essa ideia de compartilhar. Aprendemos muito com vocês nessa área da educação do campo, ainda pouco explorada no meio acadêmico”. A turma teve como paraninfa a professora Rosana Cebalho Fernandes. O patrono escolhido foi o padre Giuseppe Chiarini.

Inclusão

Laurentina Aparecida dos Santos (42), agricultora do assentamento Andalucia, em Nioaque (MS), é uma das formandas. O curso despertou nela o interesse pela educação inclusiva no meio rural. "Além de continuar com minhas atividades de educadora popular, vou me dedicar, no assentamento onde vivo e na minha região, às atividades direcionadas aos alunos com necessidades educacionais em razão de problemas auditivos, visuais, físicos e até mesmo de aprendizado", disse.

Os formandos fizeram uma homenagem à agricultora Salete Strozak, que deu nome à turma. Aprovada no curso de Pedagogia da Terra no Paraná, Salete não pode ingressar na universidade porque faleceu em um acidente automobilístico uma semana antes do início das aulas. O irmão de Salete, Juvelino Strozak, participou da solenidade na UFG e deu um recado aos formandos. “Nunca parem de estudar. Façam pós-graduação, mestrado, doutorado e incomodem todos que estão no campo para que estudem também”. Juvelino, que é filho de assentado da reforma agrária, formou-se em Direito e concluiu doutorado na área.

Histórico

Os estudantes da I Turma de Pedagogia da Terra são oriundos de Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Rondônia. Foram selecionados por meio de vestibular realizado pela UFG e cumpriram uma grade acadêmica elaborada observando o currículo da graduação convencional em Pedagogia e agregando temáticas referentes à realidade dos assentamentos (meio ambiente, produção agrícola e valorização da identidade rural).

O curso de Pedagogia da Terra é ministrado em dez universidades brasileiras. Entre elas, as universidades de São Paulo (USP), de Brasília (UnB) e de Campinas (Unicamp), além da UFG. O objetivo do curso é formar professores para atuar nas escolas dos assentamentos criados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária do governo federal.

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