sábado, 24 de janeiro de 2009

Revista A Rede

Uma câmera na mão do povo

10 de Novembro de 2006
Nas periferias metropolitantas, em cidades pequenas, em áreas remotas, nas várias regiões do país, jovens, índios e artistas independentes estão fazendo filmes.É a semente de uma indústria criativa nacional, e o caminho para a construção de uma identidade cultural para populações à margem da grande mídia.
Verônica Couto
Cinema todo o domingo, no Vale do Cariri O direito ao espelho. O direito à criação e à percepção da sua própria imagem, o direito de comunidades e indíviduos decidirem como querem ser vistos. Na opinião de Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, assegurar esse direito é a única forma de construir uma sociedade de ampla participação. E também explica o impacto das experiências audiovisuais em áreas marcadas pela exclusão social. São jovens de periferias pobres de grandes metrópoles, povos indígenas, populações de pequenas cidades, detentoras de vasto saber popular, todos de câmera na mão, filmando, editando, montando e tentando descobrir um novo ponto de vista para o mundo e para si mesmos.Pesquisa feita em 152 dos primeiros Pontos de Cultura conveniados no programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura (MinC), mostra que 66% deles trabalham com linguagem audiovisual. Uma surpresa para quem imaginava que a cultura popular se concentrasse no artesanato, como dita o senso comum. Na verdade, o artesanato foi o item menos apontado, segundo o levantamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), presente em apenas 33% dos pontos, atrás de música (61%), teatro (56%), dança e fotografia (42%), e artes plásticas (40%).O próximo passo do MinC é encontrar formas de divulgar os filmes e vídeos criados nos Pontos de Cultura ou a partir da articulação com eles. Desde outubro, a Radiobrás, por meio da TV Nacional, da NBR e da TV Nacional Brasil-Canal Integración (em TVs pagas ou via parabólica), está exibindo, aos sábados,12h30, o programa “Rede Comunitária”. Com 25 minutos de duração, é produzido por equipes de Pontos de Cultura, com a coordenação do “Pontão” de Cultura Rede Comunitária de Produção Audiovisual, de Brasília-DF, e do ministério. Mesmo acordo foi firmado com a TV Comunitária de Goiânia (GO), e com a TV Cidade Livre, de Brasília. A partir de fevereiro de 2007, os cineastas dos Pontos de Cultura poderão contar, ainda, com meia hora semanal na TVE (emissora educativa, mantida por uma instituição sem fins lucrativos, em parceria com o Ministério da Educação), que contratou 26 programas.A reconquista da identidade cultural, em aldeias do Acre. “Nosso alvo, agora, é aproximar os pontos das áreas de educação e difusão”, adianta Turino. A Associação Brasileira dos Canais Comunitários (Abcom) propôs ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, que cada emissora comunitária se torne um Ponto de Cultura. “Vemos a idéia com bons olhos”, diz o secretário do MinC.Outra oportunidade para expandir e descentralizar o mercado audiovisual anuncia-se com a TV digital. “Esse movimento (dos Pontos de Cultura) vai ter uma repercussão grande com a entrada da TV digital, que já contaria com fontes de produção comunitária de vídeo”, afirma Turino. Além disso, o presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou que pretende criar novos canais educativos e públicos. Sem falar nas novas mídias, que envolvem transmissão de imagem pela web, por exemplo, para celulares. Por isso, a política pública para apoiar essa produção, idealizada pelo MinC, trabalha com dois eixos: o político, de apropriação da tecnologia para abrir um espaço de expressão a segmentos sociais excluídos da grande mídia; e o econômico, para ocupação de postos de trabalho e geração de renda.Por que as oficinas de audiovisual fazem tanto sucesso nos Pontos de Cultura? “Porque os grupos organizados estão buscando o empoderamento da tecnologia na perspectiva de ter voz”, responde Turino. Outro aspecto tem a ver com o envolvimento dos jovens. A pesquisa da UERJ revela que 97% do público atendido pelos pontos têm entre 16 e 24 anos. “O que mais atrai a juventude é o elemento do protagonismo. Além disso, as políticas tradicionais para a juventude não dão mais respostas às aspirações dos jovens de hoje. Sem desmerecer as profissões tradicionais, o jovem contemporâneo convive com outro tipo de informação e desenvolve outra expectativa, para as quais as novas tecnologias abrem espaço”, explica Turino.Começam a surgir, assim, embriões de pólos de produção audiovisual popular e articulações entre eles para furar o bloqueio da programação dominante nas emissoras comerciais de TV. O programa “Rede Comunitária”, exibido aos sábados nas emissoras da Radiobrás, está estruturado em um bloco de quatro minutos e três blocos de sete minutos. Trata de arte, cultura, educação, empreendedorismo e geração de renda.Tv Ovo: programção no ônibuse em telões. O produtor George Duarte integra a Rede Comunitária de Produção Audiovisual, “Pontão” de Cultura em fase de constituição, na cidade de Goiás (GO), e é responsável pela coordenação do programa. Ele explica que, além das pautas que são encomendadas às equipes dos Pontos de Cultura, eles também podem enviar, por e-mail (redecomunitariatv@gmail.com), sugestões de conteúdos a serem exibidos.“A força do projeto é a rede. Parte dela começou a se formar em Goiás, e, agora, chega ao Nordeste”, diz George. A Rede Comunitária de Produção Audiovisual, com sede na cidade de Goiás, é um “Pontão de Cultura” porque se articula com 13 Pontos de Cultura do Centro-Oeste. Mais para cima, em Olinda, Pernambuco, o cineasta Lula Gonzaga também organiza iniciativa semelhante, com base no Ponto de Cultura de Cinema de Animação. A Rede Nordeste de Produção Audiovisual vai integrar vários pontos localizados na região, especialmente em Fortaleza (CE). “Deve ser por causa da luz de lá”, acredita George.De fato, só da capital cearense farão parte da rede o Ponto de Cultura Acartes (Academia de Ciências e Artes) de Pirambu, o Ponto de Cultura Amanda-Associação Mundo Animado das Artes (que atende cerca de 150 jovens em cursos de animação), o No Ar Alpendre (cuja série “Anônimos” traz várias pessoas contando suas histórias), e o Núcleo Sócio-Cultural de Arte Audiovisual-Encine. Todos já com acervos de vídeos assinados por alunos de oficinas ou produtores independentes. Para o média-metragem “Poço da Pedra-a saga de um povo”, a Acartes mobilizou cerca de 150 profissionais, dos quais 103 formados no Ponto de Cultura. O roteiro é baseado em romance de Gerardo Damasceno, um dos coordenadores da entidade, e se passa no extinto distrito cearense Poço da Pedra.Ciclo de CataguasesEm Cataguases, a Fábrica do Futuro segue a trilha de Humberto Mauro. Na década de 20, um pólo importante para o cinema do país foi a cidade de Cataguases, na Zona da Mata mineira, onde o cineasta Humberto Mauro liderou o chamado Ciclo de Cataguases. Hoje, na mesma cidade, o Ponto de Cultura Fábrica do Futuro - Incubadora Cultural do Audiovisual e Novas Tecnologias atua com jovens também com o próposito de fomentar ali um pólo de economia criativa. “A Fábrica trabalha com a perspectiva de arranjo criativo e produtivo local, na produção de animação e conteúdo para os novos meios de telecomunicações e comunicação”, explica Cesar Piva, gestor cultural do projeto. Entre dezembro de 2005 e maio deste ano, o ponto formou 65 jovens bolsistas (Agentes Cultura Viva), dos quais 35 continuam no projeto como voluntários, e 14 foram incorporados ao mercado de trabalho formal.A Fábrica do Futuro é mantida pelo Instituto Francisca de Souza Peixoto, da Cia. Indústria Cataguases. Dá oficinas de audiovisual, roteiros, trilhas sonoras, registro de memória oral, produção de TV local, pesquisa tecnológica e metarreciclagem, e de implantação de telecentros comunitários. Conta com duas ilhas de áudio e vídeo. Localizada no centro de Cataguases, tem, ainda, cinco telecentros em escolas municipais. Em 2007, vai receber aparelhos de projeção para um programa de formação de público, via cineclube e exibições em praças, escolas e centros culturais. A relação de vídeos produzidos na Fábrica é extensa, entre eles o “TV Cineport”, um videoclipe da oficina realizada em Lagos (Portugal), este ano, durante o 2º Cineport-Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa, com a participação de 20 jovens, do Brasil, Portugal e África. Ou o vídeo-documentário da Parada Gay de Juiz de Fora, em conjunto com os ativistas do Ponto de Cultura MGM- Movimento Gay de Juiz de Fora. Afinada com o idéia de construção de redes, a entidade mineira apóia a formação de um “Consórcio Intermunicipal de Cultura e Cidadania”, com prefeituras e fundações de cidades vizinhas. Atualmente, diz Cesar, estão em fase de implantação núcleos da Fábrica do Futuro em Muriaé, Leopoldina e São João Nepomuceno.Ovo no ônibusAs oficinas da Fábrica em ação Noutro extremo do país, no coração do Rio Grande do Sul, na cidade universitária de Santa Maria, o Ponto de Cultura Espelho da Comunidade desenvolve, há dez anos, oficinas com adolescentes — o projeto TV Ovo, da ONG do mesmo nome. Atualmente, são duas ou três oficinas por ano, cada uma com duração de seis meses e uma média de 15 jovens, que criam reportagens, filmes de ficção, videoclipes, documentários. As atividades acontecem em três comunidades da cidade: na Nova Santa Marta, uma ocupação que concentra sete vilas, na Vila Nonoai e na Cohab Fernando Ferrari. De novembro de 2005 a maio deste ano, o curso de capacitação de Agentes Cultura Viva em audiovisual atendeu 105 jovens.Segundo Paulo Roberto Tavares, coordenador do ponto, em cada um desses lugares forma-se, após a oficina, um núcleo de produção de vídeo. Os jovens começam com câmeras SuperVHS, passam para a minDV e concluem os trabalhos numa filmadora profissional (formato DVC Pro). “Muitos já estão no mercado profissional”, garante Paulo. Três dos jovens capacitados pela TV Ovo foram escolhidos, este ano, para a 8ª Oficina de Produção de Vídeo Geração Futura, do Canal Futura (mantido pela Fundação Roberto Marinho).Os vídeos feitos nas oficinas do ponto passam em telões e são formatados para o projeto TV Ovo no Ônibus. Este último, em operação desde 2001, “foi a forma encontrada para que as produções chegassem ao grande público”, diz Paulo. Um ônibus de transporte público da cidade, equipado com videocassete e televisor, circula por diferentes linhas durante o mês, exibindo programa de 30 minutos, com quadros que incluem desde reportagens a videoclipes de bandas locais.Por que TV Ovo? Nada a ver com o ovo, avisa o coordenador do Ponto de Cultura. Apenas, quando iniciaram as primeiras oficinas, na Vila Caramelo, zona oeste da cidade, o projeto se chamava Oficina Vídeo Oeste (OVO). Atualmente, o ponto é referência para muitas ações culturais: co-produtor, por exemplo, do Festival Santa Maria Vídeo e Cinema, realizado pela ONG SMVC e promovido pela prefeitura e pela RBS TV. Mais importante, avalia Paulo, “a comunidade criou o hábito regular de estar produzindo, atuando, gerando pautas e enxergando mais o seu próprio dia-a-dia. Qualquer coisa que acontece, está lá a gurizada da TV Ovo, junto”. André Luis da Cunha Campanhol, de 22 anos, um dos selecionados para a oficina da TV Futura, está fazendo o site do Ponto de Cultura, e pretende, este mês, colocá-lo no ar, inclusive com links para os vídeos.Um espaço público na internet para hospedar a produção audiovisual popular é justamente a reivindicação feita pelo cineasta Flávio Cândido, diretor do longa-metragem “A Terceira Morte de Joaquim Bolívar”, premiado em 98 no Prêmio HBO Brasil de Cinema. Ele é diretor pedagógico da ONG Oficina do Parque, base do Ponto de Cultura Eduardo Abelin, no bairro de Maceió, em Niterói (RJ). No ponto, cujo nome homenageia um pioneiro do cinema de rua, funciona o PADOP - Programa de Inclusão Audiovisual e Digital da Oficina do Parque. A proposta é atuar como uma escola técnica, com cursos que levam, em média, de seis a oito meses. A oficina está na terceira turma, conta com três filmes prontos, mais um institucional da ONG, e três em fase de finalização. Entre os concluídos, o “Maceió é aqui”, de Rafael Moreno, de 24 anos, levou o prêmio de melhor diretor de documentário no II Curta Três Rios. “O Ministério da Cultura poderia prover um espaço de hospedagem online para os filmes. A Net (operadora de TV por assinatura), que tem 40 mil assinantes na região, poderia colocar a produção comunitária no seu cabo. Ou os vídeos poderiam ser incluídos na grade de conteúdos da TV Escola”, sugere Flávio. A TV Escola é um canal do Ministério da Educação, que transmite conteúdos educativos, via antena parabólica, às escolas públicas de ensino fundamental e médio. George Duarte, que atua no MinC e na Rede Comunitária de Produção Audiovisual, em Goiás, diz que futuras negociações com a TV Escola já estão na agenda do projeto.Enquanto essas portas não se abrem, Flávio está negociando uma parceria com a TV Câmara de Niterói. Atualmente, um canal público é destinado, meio a meio, à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e à Câmara niteroiense. “Acontece que a Câmara não tem nem pessoal, nem equipamento para manter o canal 12 ou sete horas no ar. Conseguem ocupá-lo por cerca de três horas, e apenas com as sessões dos vereadores”, diz Flávio. A idéia é preencher o espaço ocioso com produção comunitária da Oficina do Parque.
Parcerias com estadosAtualmente, o Programa Cultura Viva mantém uma rede de 480 Pontos de Cultura. De acordo com o secretário de programas e projetos culturais do Ministério da Cultura, Célio Turino, cada unidade recebe, em média, 5 mil pessoas por mês. E o MinC firmou 40 convênios com estados e municípios para apoio à sustentabilidade dos pontos. Já estão nos procedimentos finais da parceria estados como Acre, Piauí, Ceará, Bahia e Mato Grosso; além de Alagoas (ainda a assinar o termo de cooperação). Entre as prefeituras em fase de adesão ao projeto, Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Aracaju (SE), Recife (PE), João Pessoa (PB). Em Campinas (SP), está sendo discutida a criação de 18 pontos novos, financiados pela prefeitura. A seleção dos Pontos de Cultura é feita por meio de editais públicos. Já foram realizados quatro, desde 2004. O MinC fornece kits multímidia (computadores, softwares livres, equipamentos para produção e edição de som e imagem, ou recursos para aquisição dos equipamentos (cerca de R$ 20 mil), e oficinas de capacitação. A entidade escolhida se encarrega da gestão. Também são pagas (em geral com atraso) bolsas para os jovens que participam das oficinas, os agentes Cultura Viva.http://www.cultura.gov.br/
Filmar a cultura. E o que é cultura?Karané, um dos realizadores do filme "Das crianças lkpeng parao mundo", premiado no Brasil e no exterior O impacto do audiovisual nas comunidades é enorme, mas não basta dar os equipamento e ensinar a operá-lo. É preciso aprofundar a capacitação para que surjam, de fato, produtos significativos. Essa é a opinião de Mari Corrêa, coordenadora da ONG Vídeo nas Aldeias, que dá oficinas e apoio logístico à produção de filmes em tribos indígenas. “A linguagem oral é muito democrática, e tem a ver com a tradição indígena. Os mais velhos não lêem, não escrevem, e, assim, apreciam muito o filme como forma de expressão. Além disso, estamos numa época essencialmente visual, e o vídeo é um motor de auto-estima impressionante”, avalia.A ONG Vídeo nas Aldeias existe há 20 anos, trabalhando com audiovisual indígena. É uma escola de formação, além de distribuidora e produtora de vídeos. Tem 60 filmes prontos, sempre com temática indígena e a maioria deles feita pelos próprios integrantes das diversas etnias. Desde 2004, tornou-se Ponto de Cultura, com um projeto focado no atendimento a povos do Acre, com os quais já trabalhavam. “A demanda estava grande, e a gente não dava conta”, diz Mari.A área de atuação da ONG cobre, do Mato Grosso para cima, povos da Amazônia. E os vídeos circulam fundamentalmente entre as aldeias, em mostras e festivais. A equipe da ONG realiza, por ano, quatro oficinas (uma parte de campo e outra de edição) — nas aldeias e no estúdio, localizado em Olinda (PE) —, e vai acompanhando o processo de formação. Quando os índios começam a dominar os instrumentos de filmagem, a Vídeo nas Aldeias entra como produtora, discutindo conteúdos, apoiando a divulgação, numa relação de longo prazo. Nas oficinas, a ONG doa câmera de vídeo digital e acessórios — até hoje, já foram doados 40 equipamentos, inclusive uma ilha de edição, no Xingu.Participam de seis a oito indígenas em cada oficina, em geral os mais jovens, embora o vídeo seja uma forma de expressão muito apreciada pelos mais antigos. “Os jovens se apropriam do equipamento, mas, no processo de produção, voltam-se para os velhos, que conhecem mais a cultura. Retomam um vínculo que, eventualmente, pode estar se enfraquecendo”, conta Mari.O propósito das oficinas não é profissionalizar na direção estrita do mercado de trabalho. “Os índios não querem sair da aldeia e virar profissionais. Acumulam outras atividades. Por exemplo, há um professor Ashaninka que filma maravilhosamente, mas é professor, caça, pesca, faz outras coisas”, afirma Mari. Esses realizadores, em geral, são escolhidos pela comunidade. E a expectativa é a de que eles produzam os filmes que a comunidade espera.Quase sempre, o que a comunidade espera é que o cineasta, membro da aldeia, “filme a cultura”. E filmar a cultura significa, na maioria das vezes, registrar rituais e tradições que eles sabem que estão se perdendo. Mas não é só isso, destaca a coordenadora. Ela questiona, nas oficinas, os próprios limites da idéia de cultura. Apropriar-se da tecnologia para filmar a cultura também é quebrar o paradigma do “índio pelado com pena na cabeça”. Deve envolver um debate na comunidade sobre o ritual, sobre a sua idealização, os valores que representa, as contradições, as reclamações dos jovens contra o rigor dos ritos de passagem, o avesso dos espetáculos. Na verdade, busca-se a construção de uma intimidade entre quem está sendo filmado e aquele que filma, para chegar a uma identidade nova — entender quem é você, hoje —, e a um novo ponto de vista. Por não ter mais suas festas tradicionais, um índio chegou a declarar, numa oficina, que acreditou não ter “nada” para filmar. Em artigo publicado no site da ONG, intitulado “Vídeo das Aldeias”, Mari Corrêa descreve o processo de captura desse “nada”, e do surgimento de uma nova perspectiva cultural: (...) “ao compartilhar com a família o prato de macaxeira cozida com peixe, fluía entre Marú e Kowiri, no ritmo manso do balanço da rede, uma deliciosa conversinha sobre coisas corriqueiras da vida, causos engraçados sobre caçadas, mulheres, aventuras passadas. A câmera, tranqüila e próxima, movia-se do prato de comida investido pelas mãozinhas das crianças para o rosto de Kowiri. No fundo do plano, mulheres enchendo e depois servindo a cuia de caissuma. Assistíamos, entusiasmados, ao início de uma cumplicidade entre eles, de um verdadeiro diálogo, enfim, os primeiros sinais do surgimento de um filme.”Especificamente da parceria com o MinC, já foram produzidos três filmes de autoria indígena. O primeiro conta o dia-a-dia numa aldeia Kaxinauá, no margem do rio Jordão, e um pouco da história do povo: tiveram que trabalhar como escravos, depois como peões de seringalistas que os proibiam de falar o próprio idioma. O “A gente luta”, de origem Ashaninka, trata da conquista do território e de manejo ambiental. O terceiro, em fase de finalização, acompanha a gravação de um CD com cantos tradicionais Kaxinauá, que será lançado com o vídeo e um livro, patrocinados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). “Os índios se sentem valorizados, frente à sociedade, por poderem criar um produto bonito. A imagem é um fetiche na cultura, capaz de grande afirmação étnica”, destaca Mari.O trabalho da entidade começou em parceria com a Comissão Pró-Índio, com quatro etnias — Ashaninka, Kaxinauá (auto-denominados Huni Kuim), Maxineri e Katukina —, e financiamento da agência norueguesa Norad. Para aumentar o número de tribos e aldeias atendidas, a ONG ingressou no programa dos Pontos de Cultura. O Acre é um estado com pouca via de comunicação terrestre. Os Kaxinauá, por exemplo, estão espalhados entre o Brasil e o Peru. Aqui, concentram-se na região do rio Jordão, onde a demanda dos índios pela produção era mais intensa. “É um rio cheio de voltinhas: da primeira aldeia à última, na cabeceira, leva-se uma semana de canoa”, conta Mari.http://www.videonasaldeias.org.br/ – Vídeo nas Aldeias
www.fotolog.terra.com.br/pcespelho – Ponto de Cultura Espelho da Comunidade (TV Ovo). http://www.fabricadofuturo.org.br/ – Ponto de Cultura Fábrica do Futurohttp://www.oficinadoparque.org.br/ (em manutenção)- Ponto de Cultura Eduardo Abelin/Oficina do Parque – 21 2616.6358 e 21 2611.6832http://www.acartes.com.br/ – Acarteshttp://www.encine.org.br/ (em construção); contato com Ives Albuquerque, em (85) 262.5356 ou 262.5129, e-mail ives@encine.org.brRede Comunitária de Produção Audiovisual/Programa “Rede Comunitária” — e-mail: redeccom@gmail.com http://www.abcom.com.br/ – Associação Brasileira de Canais ComunitáriosAmanda-Associação Mundo Animado das Artes – rua Meton de Alencar 106 - Centro/Fortaleza-Ceará CEP: 60035-160 Fortaleza-CE

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