terça-feira, 2 de dezembro de 2025

'A IA não cria sozinha. Autor negocia com tecnologia' IA toma decisões pelo artista; Os frustrados com arte feita por IA; Quem é dono de obra feita com IA?; 'Vivemos no download da internet'

 https://youtu.be/PmCDHgGuM40 

Deu Tilt

Giselle Beiguelman: 'A IA não cria sozinha. Autor negocia com tecnologia'

Helton Simões Gomes e Diogo CortizColunistas de Tilt

02/12/2025 08h00


(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts). Nesta semana: IA toma decisões pelo artista; Os frustrados com arte feita por IA; Quem é dono de obra feita com IA?; 'Vivemos no download da internet')


O debate sobre autoria na arte ganhou novos contornos com a chegada da inteligência artificial. No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, os apresentadores Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz recebem a artista e professora Giselle Beiguelman para discutir como o criador segue no centro do processo criativo, mesmo com a presença da IA.


De cara, ela alerta: nas artes visuais, a tradição sempre foi enxergar o artista como figura única e solitária. A IA quebra esse padrão e traz a ideia de autoria compartilhada, tanto que Giselle compara o novo tipo de produção com IA à do cinema, onde vários profissionais colaboram para um filme sair do papel.


"Quem cria a IA é quem negociou os resultados com a IA. Portanto, o artista ainda existe. (...) O cinema é um grande paradigma para pensar a arte e tecnologia, porque o cinema não só é arte de equipe, mas é arte industrial. Tudo influi. Não é só a câmera em si, é o circuito de distribuição, é o produtor, é tudo"

Giselle Beiguelman


Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes puxam para o centro a pergunta que não quer calar: quem é o autor da obra criada com IA? Helton provoca: "O artista, a máquina, a plataforma ou todo mundo que alimentou o sistema [com dados]?" Para Giselle, a resposta está na negociação: o artista orienta, refina, decide os rumos e compartilha a autoria com a tecnologia e 


"O que tem de assustador e fascinante, ao mesmo tempo, na inteligência artificial, é que é uma tecnologia capaz de tomar decisões e fazer coisas. Isso é meio óbvio quando falamos de vigilância, quando uma câmera de reconhecimento facial não deixa você entrar em um lugar. A priori, você percebe que tem uma máquina pensando a partir de alguns dados e tomou uma decisão. No campo da criação artística, isso é algo inédito." Giselle Beiguelman


Giselle Beiguelman explica por que público se frustra com arte feita por IA

Antes, Giselle trabalhava com tecnologia, mas quase que de forma quase artesanal: criava ou customizava modelos, montava datasets próprios e acompanhava cada etapa manualmente.  Agora, a criação é uma conversa ininterrupta com a IA: múltiplas plataformas entram no fluxo e o ajuste dos prompts -as instruções que dão sentido à obra- virou peça-chave.

"Hoje, é um processo, por um lado, mais projetual e mais anárquico, porque ele é uma grande conversa. Falo que é mais uma metodologia talmúdica, que é um bate-volta de perguntas. E, a partir desses resultados, [precisa] reprocessá-los, renegociá-los. E eu dificilmente trabalho com uma plataforma só. Eu pego o resultado de uma, coloco em outra, volta para a primeira. Vou mudando, porque elas têm muitas semelhanças, mas têm algumas particularidades".Giselle Beiguelman

Giselle Beiguelman: 'Fizemos o download da internet e agora vivemos dentro dela'

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A cada novo ciclo de tecnologia, cresce a discussão sobre impactos ambientais e sociais das inovações digitais. O novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, recebe a artista visual Giselle Beiguelman para discutir o duplo papel da inteligência artificial: por um lado, pode antecipar desastres, mas, por outro, contribui com o consumo acelerado de recursos naturais.

Beiguelman chama atenção para a contradição: a IA pode prever enchentes e antecipar diagnósticos médicos, mas faz parte de uma engrenagem que exige troca constante de equipamentos e serviços. Essa lógica, diz, foi construída sem planejamento, o que impõe desafios pouco discutidos sobre futuro, responsabilidade e memória coletiva.

A gente vive nesses espaços. E esses espaços estão aqui. Eu tenho, hoje, alergia à discussão sobre, 'Ah, eu não gosto de IA porque é virtual'. Gente, isso não existe. Já ficou. O André Lemos tem uma frase ótima que é, 'nós fizemos o download da internet, ela está aqui, nós estamos dentro dela'.Giselle Beiguelman