terça-feira, 2 de dezembro de 2025

'A IA não cria sozinha. Autor negocia com tecnologia' IA toma decisões pelo artista; Os frustrados com arte feita por IA; Quem é dono de obra feita com IA?; 'Vivemos no download da internet'

 https://youtu.be/PmCDHgGuM40 

Deu Tilt

Giselle Beiguelman: 'A IA não cria sozinha. Autor negocia com tecnologia'

Helton Simões Gomes e Diogo CortizColunistas de Tilt

02/12/2025 08h00


(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts). Nesta semana: IA toma decisões pelo artista; Os frustrados com arte feita por IA; Quem é dono de obra feita com IA?; 'Vivemos no download da internet')


O debate sobre autoria na arte ganhou novos contornos com a chegada da inteligência artificial. No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, os apresentadores Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz recebem a artista e professora Giselle Beiguelman para discutir como o criador segue no centro do processo criativo, mesmo com a presença da IA.


De cara, ela alerta: nas artes visuais, a tradição sempre foi enxergar o artista como figura única e solitária. A IA quebra esse padrão e traz a ideia de autoria compartilhada, tanto que Giselle compara o novo tipo de produção com IA à do cinema, onde vários profissionais colaboram para um filme sair do papel.


"Quem cria a IA é quem negociou os resultados com a IA. Portanto, o artista ainda existe. (...) O cinema é um grande paradigma para pensar a arte e tecnologia, porque o cinema não só é arte de equipe, mas é arte industrial. Tudo influi. Não é só a câmera em si, é o circuito de distribuição, é o produtor, é tudo"

Giselle Beiguelman


Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes puxam para o centro a pergunta que não quer calar: quem é o autor da obra criada com IA? Helton provoca: "O artista, a máquina, a plataforma ou todo mundo que alimentou o sistema [com dados]?" Para Giselle, a resposta está na negociação: o artista orienta, refina, decide os rumos e compartilha a autoria com a tecnologia e 


"O que tem de assustador e fascinante, ao mesmo tempo, na inteligência artificial, é que é uma tecnologia capaz de tomar decisões e fazer coisas. Isso é meio óbvio quando falamos de vigilância, quando uma câmera de reconhecimento facial não deixa você entrar em um lugar. A priori, você percebe que tem uma máquina pensando a partir de alguns dados e tomou uma decisão. No campo da criação artística, isso é algo inédito." Giselle Beiguelman


Giselle Beiguelman explica por que público se frustra com arte feita por IA

Antes, Giselle trabalhava com tecnologia, mas quase que de forma quase artesanal: criava ou customizava modelos, montava datasets próprios e acompanhava cada etapa manualmente.  Agora, a criação é uma conversa ininterrupta com a IA: múltiplas plataformas entram no fluxo e o ajuste dos prompts -as instruções que dão sentido à obra- virou peça-chave.

"Hoje, é um processo, por um lado, mais projetual e mais anárquico, porque ele é uma grande conversa. Falo que é mais uma metodologia talmúdica, que é um bate-volta de perguntas. E, a partir desses resultados, [precisa] reprocessá-los, renegociá-los. E eu dificilmente trabalho com uma plataforma só. Eu pego o resultado de uma, coloco em outra, volta para a primeira. Vou mudando, porque elas têm muitas semelhanças, mas têm algumas particularidades".Giselle Beiguelman

Giselle Beiguelman: 'Fizemos o download da internet e agora vivemos dentro dela'

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A cada novo ciclo de tecnologia, cresce a discussão sobre impactos ambientais e sociais das inovações digitais. O novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, recebe a artista visual Giselle Beiguelman para discutir o duplo papel da inteligência artificial: por um lado, pode antecipar desastres, mas, por outro, contribui com o consumo acelerado de recursos naturais.

Beiguelman chama atenção para a contradição: a IA pode prever enchentes e antecipar diagnósticos médicos, mas faz parte de uma engrenagem que exige troca constante de equipamentos e serviços. Essa lógica, diz, foi construída sem planejamento, o que impõe desafios pouco discutidos sobre futuro, responsabilidade e memória coletiva.

A gente vive nesses espaços. E esses espaços estão aqui. Eu tenho, hoje, alergia à discussão sobre, 'Ah, eu não gosto de IA porque é virtual'. Gente, isso não existe. Já ficou. O André Lemos tem uma frase ótima que é, 'nós fizemos o download da internet, ela está aqui, nós estamos dentro dela'.Giselle Beiguelman

domingo, 30 de novembro de 2025

Lula anuncia isenção do IR até R$ 5 mil, critica privilégios da elite e avisa: taxar super-ricos é só o "primeiro passo"

 

Lula anuncia isenção do IR até R$ 5 mil, critica privilégios da elite e avisa: taxar super-ricos é só o "primeiro passo"

Segundo o presidente, a isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais irá injetar 28 bilhões de reais na economia

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante pronunciamento à Nação sobre a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para quem ganha até R$ 5 mil, no Palácio do Planalto - Brasília (DF) - 30/11/2025
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante pronunciamento à Nação sobre a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para quem ganha até R$ 5 mil, no Palácio do Planalto - Brasília (DF) - 30/11/2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Leonardo Sobreira avatar
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247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez neste domingo (30) um pronunciamento à Nação em que destacou a sanção da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais por mês, reforçando que a medida de seu governo e aprovada por unanimidade no Congresso é um passo na correção da histórica "injustiça tributária" no país, segundo discursou. 

Lula destacou que a compensação à renúncia fiscal será feita por meio da taxação da elite financeira, que historicamente, segundo o presidente, se beneficiou de privilégios. 

Contudo, agora, "os privilégios de uma pequena elite financeira deram lugar a conquistas para a maioria do povo brasileiro", disse Lula. "A compensação virá da taxação super-ricos, que vão contribuir, que quase não pagam nada de imposto, dando um alívio para a população desse país", detalhou o presidente

"Mais que uma correção, a medida ataca a principal causa da desigualdade, a injustiça tributária", frisou Lula. 

O presidente também afirmou que a classe trabalhadora é quem "constrói de fato a riqueza desse país" e afirmou ser injusto que eles paguem mais impostos que os bilionários e "quem vive de renda". 

Ainda segundo o presidente, a isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais irá injetar 28 bilhões de reais na economia. 

"A mudança do IR é um passo decisivo, mas é apenas o primeiro. Combateremos os privilégios de poucos para os direitos e oportunidades de muitos", disse Lula

https://redeccom.blogspot.com/2025/11/blog-post_75.html

Ato pró-Bolsonaro reúne poucos, e ameaça de convulsão social não se cumpre

Opinião


Ato pró-Bolsonaro reúne poucos, e ameaça de convulsão social não se cumpre

Leonardo Sakamoto

30/11/2025 14h29

Ato pela liberdade de Jair Bolsonaro e em favor da aprovação do projeto de anistia a golpistas, marcado hoje para o Museu Nacional, em Brasília, teve baixo comparecimento, com algumas dezenas de pessoas.


O ex-presidente está preso na carceragem da Polícia Federal no Distrito Federal, desde sábado passado. Nesse período, passou a cumprir pena de 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado. Durante anos, seus aliados e seguidores prometeram que, caso fosse condenado e preso, uma comoção popular paralisaria o país. Isso não aconteceu, e o assunto do dia é o tetra do Flamengo na Libertadores.


Isso causou frustração em aliados do ex-presidente, que esperavam multidões nas ruas protestando contra o encarceramento. Apontam que uma das razões para a flopada é que a prisão de Jair foi feita aos poucos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF — bloqueio de redes, prisão domiciliar, tornozeleira, prisão preventiva e, finalmente, cumprimento de pena.


Dessa forma, Jair não teve uma "despedida" tal como Lula, que juntou uma multidão de seguidores no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, quando recebeu a ordem de prisão após condenado no âmbito da operação Lava Jato em abril de 2018.


Não há dúvida de que a ação do STF reduziu a margem de operação do bolsonarismo em usar a prisão para reforçar a influência de Jair Bolsonaro, mas dar todo o crédito a Moraes acaba por isentar a extrema direita de seu erro de cálculo e de sua falha na análise de conjuntura.


Não é por medo de punições que os brasileiros não vão às ruas protestar, como alega parte dos aliados do ex-presidente. Até porque se o ato não descambar para violência contra instituições, como um 8 de janeiro de 2023, não há motivo para se preocupar. Movimentos sociais que pedem reforma agrária há décadas vão às ruas reivindicar por terra para plantar, são recebidos com bala da polícia e de jagunços e, nem por isso, deixaram de protestar. Não deixa de ser irônico, portanto, que aqueles que dizem que fariam de tudo por sua "liberdade" recuam.


Sim, a realidade, essa danada, se impôs.


A imensa maioria das pessoas, mesmo as que simpatizam de leve com Jair, está tocando sua vida, ou seja, tem mais o que fazer. Como, por exemplo, contornar perdas de empregos e empresas trazidas pelas sanções que Eduardo Bolsonaro conseguiu incitar contra o Brasil junto ao governo dos Estados Unidos com o objetivo de livrar seu pai da cadeia.


E os seus apoiadores mais radicais (que perfazem 13%, segundo a Quaest) ou estão cansados ou perceberam que não há muito o que fazer diante de uma Justiça que não se vergou nem com a vara da lei Magnitsky.


O vídeo em que o próprio Bolsonaro confessa que derreteu a tornozeleira eletrônica (uma coisa que espera-se de um bandido comum), também acabou por desanimar muita gente. Afinal, "mito" não foge.


Não à toa, a vigília que o senador Flávio Bolsonaro convocou em frente ao condomínio de luxo em que seu pai morava, em Brasília, reuniu apenas algumas dezenas de pessoas em 22 de novembro, mesmo dia em que Jair foi preso. E a concentração em frente à PF após a prisão lotava apenas um busão.


Ao final, a falta de corpo nas mobilizações, nas ruas e nas redes, torna impossível a aprovação de um projeto de lei que anistie o ex-presidente e mais difícil a proposta que reduz as penas dos golpistas.


Mais do que a sua prisão domiciliar ou seu encarceramento, a proibição de usar redes sociais causou o maior dano à influência política de Bolsonaro. Sem alimentar seus seguidores, eles vão procurando outras pessoas para se guiar, como o deputado federal Nikolas Ferreira. A força de Jair não morre com a sua prisão, claro, mas vai reduzir significativamente, abrindo espaço para ser substituído — processo que vai se consolidar nas eleições do ano que vem.


O sebastianismo é o mito no qual se acreditava que o rei português Dom Sebastião, desaparecido na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, retornaria para salvar o seu país. Há fãs do ex-presidente que, neste momento, acreditam que o mesmo acontecerá com ele, apesar de a condenação pelo STF ter sido o seu epitáfio eleitoral.


Ao fim, a cena brasileira será menos épica que aquela ocorrida no Marrocos do século 16, e mais prosaica do que o bolsonarismo sonhava. Não há levante nacional, apenas manchetes alternando entre política e futebol, como em qualquer outro domingo brasileiro. E enquanto alguns ainda alimentam um sebastianismo tardio, esperando o retorno milagroso do líder condenado, o país segue seu curso, com eleições à vista, novos protagonistas ocupando espaço e uma sociedade que, apesar do barulho nas redes, demonstrou que não está disposta a sacrificar sua rotina por um projeto derretido com ferro de solda.


O mito não desaparece de uma vez, mas vai ficando cada vez mais difícil enxergá-lo em meio à poeira que assenta.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Lula prometeu e cumpriu: pobre no orçamento e rico no Imposto de Renda

 

Lula prometeu e cumpriu: pobre no orçamento e rico no Imposto de Renda

O que parecia impossível se torna realidade nesta quarta-feira 26

Lula
Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

Na primeira metade do terceiro mandato do presidente Lula, o Brasil voltou a colocar os mais pobres no centro das políticas públicas. E não foi apenas retórica – os números apresentados pelo Ipea nesta terça-feira (25) apontam que o Brasil alcançou, em 2024, os melhores indicadores de renda, desigualdade e pobreza desde o início da série histórica, em 1995. Segundo o estudo conduzido pelos pesquisadores Pedro Herculano Souza e Marcos Dantas Hecksher, a renda domiciliar per capita cresceu cerca de 70% em três décadas, a desigualdade caiu quase 18% e a extrema pobreza despencou de 25% para menos de 5% da população.

Os dados mostram que o avanço recente tem origem clara: a combinação entre fortalecimento dos programas sociais – marca dos três governos Lula e dos dois governos Dilma – e um mercado de trabalho aquecido, com mais empregos e salários mais altos. Entre 2021 e 2024, a renda média real cresceu mais de 25%, com redução simultânea da pobreza e da desigualdade. Não é pouca coisa num país que enfrentou recessão, crise política, pandemia e um ciclo prolongado de austeridade – sobretudo após o golpe de estado de 2016, contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Se Lula prometeu colocar o pobre no orçamento, a primeira parte dessa promessa está cumprida. Agora começa a segunda: colocar o rico no Imposto de Renda.

Nesta quarta-feira (26), às 10h30, o presidente sanciona a lei que promove a mais significativa mudança no Imposto de Renda Pessoa Física em décadas. A faixa de isenção sobe para R$ 5 mil mensais, atendendo a uma demanda reprimida da classe média. Quem ganha até R$ 7.350 também terá direito a descontos simplificados. Cerca de 15 milhões de brasileiros deixarão de pagar Imposto de Renda imediatamente. É um alívio concreto para quem foi esmagado pela defasagem acumulada da tabela.

Ao mesmo tempo, o compromisso de justiça fiscal se materializa com a taxação adicional sobre rendimentos acima de R$ 600 mil anuais em dividendos. É o início da aplicação do conceito de progressividade tributária: quem ganha mais, também paga.

O movimento do governo brasileiro acompanha uma tendência internacional. Países desenvolvidos voltaram a discutir e implementar taxações mais robustas sobre altos patrimônios e grandes rendas. Não há Estado forte sem financiamento adequado, e não há financiamento justo quando o peso recai sobre os trabalhadores, enquanto os rendimentos financeiros ficam praticamente intocados.

Ao tentar restabelecer um equilíbrio mínimo da tributação, Lula resgata o espírito que marcou seus governos anteriores: elevar o padrão de vida das maiorias, reduzir desigualdades e fazer com que os mais favorecidos contribuam proporcionalmente para o financiamento das políticas públicas.

A nova lei é, portanto, mais do que uma mudança técnica. Trata-se de um gesto político que sintetiza um projeto de país – um país em que crescimento econômico e combate à desigualdade caminham juntos.

O estudo do Ipea reforça que a redução atual da pobreza e da desigualdade não é acidental. Ela decorre de duas forças equivalentes: um mercado de trabalho aquecido, gerando mais empregos e melhores salários, e o fortalecimento dos programas sociais, como o Bolsa Família.

De acordo com o estudo do Ipea, ainda há 4,8% da população em extrema pobreza e 26,8% abaixo da linha de pobreza. O mérito do governo está justamente em apontar o caminho para reduzir ainda mais esses números com medidas estruturais – e não com atalhos improvisados.

No dia de hoje, começa a ser cumprida a promessa fiscal do governo Lula 3: tornar o sistema tributário mais justo, aliviar a classe média e fazer com que os muito ricos também contribuam. O que antes parecia impossível tornou-se realidade neste 26 de novembro. Quanto à grande notícia de ontem, sobre o início do cumprimento da pena do inominável e dos militares golpistas, que seja página virada na história do Brasil, que finalmente começa a construir um novo tempo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Deu no New York Times: o Brasil desafiou Trump – e venceu

 

Deu no New York Times: o Brasil desafiou Trump – e venceu

      Lula e Trump (Foto: Ricardo Stuckert)


Maior jornal dos Estados Unidos reconhece a vitória do presidente Lula na guerra tarifária e na resistência às pressões após a prisão de Jair Bolsonaro

24 de novembro de 2025, 15:13 h

247 - A prisão de Jair Bolsonaro marcou um ponto de virada na relação entre Brasília e Washington. O episódio escancarou a limitação da influência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tentou, sem sucesso, intervir no processo judicial do ex-mandatário brasileiro. A análise, publicada nesta segunda-feira (24) pelo jornal estadunidense The New York Times, avalia que o Brasil conseguiu “enfrentar Donald Trump e vencer” ao não ceder às pressões do presidente dos Estados Unidos sobre a prisão de Jair Bolsonaro (PL).

No texto, o jornalista Jack Nicas, ex-correspondente do veículo no país, destaca como Trump utilizou tarifas comerciais e sanções diplomáticas para tentar impedir o avanço das acusações contra Bolsonaro. A ofensiva, porém, não alterou o rumo das instituições brasileiras, que seguiram adiante até a condenação e detenção do ex-mandatário brasieliro. 

A reação de Trump no sábado (22), ao ser informado da prisão de Bolsonaro, resumiu o desgaste de sua atuação. “Que pena”, disse. Questionado se teria sido avisado previamente, respondeu: “Não. Acho uma pena”. A frieza contrastou com o tom agressivo adotado meses antes, quando enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exigindo a retirada das acusações de tentativa de golpe atribuídas a Bolsonaro. Naquele momento, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes, numa escalada diplomática sem precedentes.

Mudança de cenário

A análise destaca que, cinco meses depois, o cenário mudou completamente. Bolsonaro, de 70 anos, foi condenado a uma pena de 27 anos  etrês meses de prisão, e Trump retirou parte das tarifas aplicadas ao Brasil após uma reunião cordial com Lula. Analistas citados pela reportagem observam que a pressão da Casa Branca pode ter tido efeito inverso, endurecendo a posição das autoridades brasileiras e ampliando a punição ao ex-mandatário.

A ofensiva comercial de Washington também provocou impactos internos nos Estados Unidos, elevando o preço de itens como carne bovina e café em um momento de forte cobrança por redução do custo de vida. Enquanto isso, Lula emergiu politicamente fortalecido, tendo enfrentado e superado o confronto diplomático com a principal potência global.

Outro desdobramento citado pelo jornal envolve Eduardo Bolsonaro, que agora enfrenta acusações criminais por tentar influenciar a Casa Branca em defesa do pai. Segundo especialistas, o episódio ampliou a percepção de interferência externa e acirrou a resposta das instituições brasileiras.

Prisão de Bolsonaro

Bolsonaro foi preso após autoridades detectarem que ele havia violado a tornozeleira eletrônica instalada durante o regime de prisão domiciliar. À polícia, afirmou ter tentado queimar o equipamento com um ferro de solda e, mais tarde, responsabilizou medicamentos que estaria tomando por supostas alucinações. Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e responsável pelo caso, determinou a prisão ao considerá-lo risco de fuga, destacando sua proximidade com a embaixada dos Estados Unidos — local onde poderia solicitar asilo. Reportagem do NYT revelou ainda que, no ano anterior, Bolsonaro chegou a dormir na Embaixada da Hungria em Brasília com o mesmo objetivo.

Apesar das ameaças iniciais de retaliação, a Casa Branca não avançou contra o Brasil após a condenação. Ao contrário: Trump aproximou-se politicamente de Lula. No discurso que fez na ONU, em setembro, ele improvisou elogios ao encontro que teve com o presidente brasileiro, afirmando que ambos tiveram “grande química”.

Encontro entre Lula e Trump

Já em outubro, antes de nova reunião bilateral, Trump foi questionado sobre Bolsonaro. “Eu sempre achei que ele era direto, mas…”, respondeu, interrompendo a frase. “Ele passou por muita coisa.” Após o encontro, centrou seus elogios apenas em Lula: “Ele é um cara muito vigoroso. Fiquei muito impressionado”, afirmou, desejando-lhe feliz aniversário pelos 80 anos completados naquele dia.

País soberano

Em seguida, Trump assinou a ordem executiva que retirou as tarifas mais pesadas sobre carne e café brasileiros, justificando a decisão pelo “progresso nas negociações” com o governo Lula. O gesto abriu espaço para novas tratativas, inclusive sobre acesso a reservas estratégicas de minerais críticos, algo que Washington tem buscado em países latino-americanos.

Apesar da distensão diplomática, os Estados Unidos mantiveram as sanções contra Alexandre de Moraes. A postura do ministro — que ordenou o bloqueio de contas em redes sociais de aliados de Bolsonaro e conduziu parte das investigações — é alvo de debates sobre os limites de sua atuação. Ao ser questionado, no domingo, sobre os comentários de Trump a respeito da prisão, Lula respondeu de forma contundente: “Trump precisa entender que somos um país soberano”.

por Paulo Emilio

domingo, 16 de novembro de 2025

Brasileiros estão bebendo menos

 

Por Rafaela Zem

Queda no consumo de bebidas alcoólicas vira oportunidade para bares e indústrias

Uma nova pesquisa Ipsos-Ipec, realizada a pedido do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), confirma um movimento que já aparecia no comportamento cotidiano de milhões de brasileiros: 64% dos adultos afirmaram não beber em 2025, um avanço expressivo em relação aos 55% registrados em 2023.

Entre os mais jovens, a mudança é ainda mais acentuada. A abstinência passou de 46% para 64% entre pessoas de 18 a 24 anos e de 47% para 61% no grupo de 25 a 34 anos.

Esses números ajudam a explicar histórias como a de Gabrielle Ribeiro, que aos 23 anos decidiu parar de consumir bebidas alcoólicas. Reuniu todas as garrafas que tinha em casa e as colocou dentro de um saco de lixo.

A influenciadora digital trocou as festas por noites de sono, os dias de ressaca por trilhas matinais e os copos de drinks por suplementos. Perdeu 16 quilos, passou a economizar até R$ 300 por semana e, de quebra, conquistou milhares de seguidores ao compartilhar a sua história nas redes sociais.

“Parar de beber foi a melhor coisa que eu fiz por mim. É mais interessante acordar no domingo e postar foto de uma medalha de corrida do que ficar com aquela ressaca moral”, conta.

Há quase um ano, Gabrielle Ribeiro decidiu parar de consumir bebidas alcoólicas por conta da saúde — Foto: Gabrielle Ribeiro

Há quase um ano, Gabrielle Ribeiro decidiu parar de consumir bebidas alcoólicas por conta da saúde — Foto: Gabrielle Ribeiro

Gabrielle não está sozinha na decisão de não ingerir bebidas alcoólicas. Rayane Moreira, que afirma nunca ter se identificado com o álcool, diz que cresceu vendo os conflitos que a bebida causava em casa.

“Como é que eu vou beber para espairecer e trazer problemas para dentro de casa?”, questionava ainda na adolescência. Mesmo depois de deixar a religião que proibia o consumo, ela manteve a decisão de não beber. Hoje, em encontros sociais, prefere sucos, água ou drinks sem álcool — os chamados mocktails.

Histórias como as de Rayane e Gabrielle mostram um comportamento que tem sido mais frequente em gerações mais novas — e que tem mexido no mercado: os brasileiros estão bebendo menos e, quando bebem, consomem com mais critério.

Os dados também reforçam essa mudança no perfil do consumidor: o número de pessoas que ingerem bebida alcoólica uma vez por semana ou a cada quinze dias caiu 6 pontos percentuais na comparação com 2023. Entre quem ainda bebe, 39% consomem de uma a duas doses por ocasião.

Abaixo, entenda por que o país está bebendo menos, como esse comportamento aparece na vida das pessoas e de que forma o mercado se reorganiza para atender o novo consumidor brasileiro.

Por que os jovens bebem menos?

A geração Z é a que menos consome álcool. Dados de uma pesquisa da MindMiners feita com 3 mil pessoas indicam que, entre os jovens da geração, de 16 a 30 anos, apenas 45% afirmam beber.

O álcool perdeu o papel de símbolo social entre os mais novos, que preferem investir tempo e energia em experiências ligadas à saúde, bem-estar e estabilidade emocional.

Rayane Moreira nunca se sentiu atraída pela bebida — Foto: Rayane Moreira

Rayane Moreira nunca se sentiu atraída pela bebida — Foto: Rayane Moreira

Entre os que não bebem:

  • 58% dizem simplesmente não ter interesse;
  • 34% não gostam do sabor;
  • 30% preferem evitar os efeitos físicos e emocionais da bebida;
  • 19% citam a busca por qualidade de vida;
  • 17% mencionam razões religiosas.

O levantamento da MindMiners também relaciona a queda de consumo a questões financeiras. Entre os motivos apontados pelos jovens para reduzir o consumo, aparecem frases como: "Estou gastando muito dinheiro" e "Menos gasto com bebidas".

Além disso, a geração Z tem menor renda disponível, o que influencia diretamente a frequência e o volume de consumo.

Crise ou oportunidade?

De maneira geral, a mudança no comportamento dos consumidores não necessariamente representa uma ameaça à indústria de bebidas, mas sim uma reconfiguração do mercado, impulsionada por consumidores mais exigentes, moderados e abertos à experimentação.

Dados da Nielsen, por exemplo, indicam que o segmento de cervejas sem álcool é o que mais cresce no país, com desempenho anual três vezes superior ao das cervejas tradicionais.

Mesmo entre quem ainda consome álcool, há sinais de mudança: 41% dos entrevistados disseram ter alterado a frequência de consumo no último ano, e 43% pretendem reduzir ainda mais, motivados principalmente por saúde e questões econômicas, segundo dados da MindMiners.

🍸 Outro indicativo importante da mudança no perfil de consumo é a prática que ficou conhecida como "zebra stripe" — que é quando o consumidor alterna entre bebidas com e sem álcool. A prática, segundo especialistas, tem ganhado força no mercado, especialmente entre os jovens.

"A pessoa vai intercalando e, no final da noite, tomou seis cervejas, mas só três tinham álcool (...) isso permite prolongar o tempo de consumo sem perder o controle, reforçando a ideia de equilíbrio, que não significa restrição total, mas moderação consciente", explica o diretor de estratégia da Ambev, Gustavo Castro,