"Sou um sobrevivente e não guardo ressentimentos", diz José Dirceu
Ex-ministro afirma que o foco da esquerda deve ser aprofundar a democracia e reduzir as desigualdades
247 – Em entrevista ao programa Reconversa, conduzido por Walfrido Warde e Reinaldo Azevedo, José Dirceu revisitou momentos marcantes de sua trajetória política, refletiu sobre os desafios do Partido dos Trabalhadores (PT) e analisou as transformações no cenário político global. A conversa revela um Dirceu introspectivo, crítico e empenhado em debater temas como segurança pública, desigualdades sociais e o papel do Brasil no mundo.
"Sou um sobrevivente. Vivi situações em que poderia ter morrido. Não guardo ressentimentos, reconheço meus erros e continuo aprendendo," afirmou o ex-ministro, ao relembrar sua prisão e sua extensa experiência política. Durante o tempo em que esteve preso, Dirceu disse ter usado o período para estudar e organizar uma biblioteca: "Reler os clássicos brasileiros foi uma forma de refletir sobre o país e suas contradições."
Da politização ao enfrentamento da ditadura
Ao longo da entrevista, Dirceu relembrou sua infância em Minas Gerais, marcada pela formação recebida dos pais e pela efervescência política da época. Ele destacou que sua politização ganhou força após o golpe de 1964, quando chegou a São Paulo para trabalhar. "Cheguei como office boy, mas o golpe foi um divisor de águas. Quando vi estudantes da elite apoiando a ditadura, percebi que meu lado era o dos trabalhadores e dos que resistiam", afirmou.
O ingresso no movimento estudantil foi outro marco. "A universidade mudou minha vida. Foi lá que comecei a lutar contra a ditadura, apesar de encontrar uma academia limitada e hostil ao pensamento progressista", relatou.
O PT e os desafios contemporâneos
Dirceu destacou a importância do PT como força aglutinadora na política brasileira, mas defendeu a necessidade de renovação. "O PT precisa olhar para o futuro, pensando em 2030 e no próximo ciclo geracional. Nossa base social precisa ser ampliada, e o partido deve se adaptar às mudanças do país e do mundo", afirmou.
Ele também refletiu sobre o papel da esquerda, enfatizando que o aprofundamento da democracia e a luta contra as desigualdades devem ser prioridades: "A esquerda precisa continuar defendendo a ampliação da democracia, combatendo as desigualdades e fortalecendo os direitos sociais. Não estamos falando de revolução socialista, mas de avanços concretos para o povo brasileiro."
Segurança pública e política externa
Dirceu não poupou críticas ao sistema de segurança pública no Brasil, destacando a necessidade de reformulação. "Metade dos presos no Brasil são jovens de famílias pobres. Propus, desde 2003, a criação de uma autoridade nacional contra o narcotráfico, mas a ideia nunca avançou. Sem mudanças estruturais, o crime organizado continuará a crescer," alertou.
Na política externa, ele reafirmou o papel do Brasil como defensor da paz e da autodeterminação. "Nossa estrutura militar deve ser de defesa, nunca de ataque. Somos um país pacifista, e essa é uma posição que devemos manter e reforçar," declarou.
Com 78 anos, José Dirceu se mostrou grato pela vida e pelas oportunidades que teve: "Sobrevivi a muitas situações difíceis e sou grato. Não guardo ressentimentos e sigo olhando para frente." Ele também destacou o impacto de sua geração no cenário político e cultural brasileiro, reconhecendo os desafios que ainda permanecem. Assista:
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