Janja defende mais mulheres na política e diz
que demissão de ministras do governo Lula foi 'perda': 'Faz parte’
Primeira-dama concede entrevista exclusiva em que defende mais mulheres
no Congresso e na política, exalta moda nacional e conta detalhes da rotina no Alvorada
Defensora da maior participação feminina na política, a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, afirmou considerar como "perda" a demissão de duas ministras pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o início do mandato, Daniela Teixeira, no Turismo, e Ana Moser, no Esportes, para dar lugar a homens indicados por partidos do Centrão. "Faz parte", afirmou Janja em entrevista exclusiva ao GLOBO.
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Ao tratar do assunto, a primeira-dama propõe que metade das cadeiras do Congresso sejam reservadas a deputadas e senadoras. Ela acredita que a cota de 30% de candidaturas nas eleições não funcionou e diz ser "vergonhoso" o Brasil apresentar um dos mais baixos índices de mulheres no Parlamento.
Na conversa, a primeira-dama contou detalhes da sua rotina com o presidente Luiz Inácio Inácio Lula da Silva e também falou da vontade de ter um gabinete formal no Palácio do Planalto, onde o presidente despacha. Esse plano foi descartado por conselheiros de Lula que viram risco de atrair a fúria da oposição.
Entusiasta do design nacional, Janja fez questão de escolher cada um dos looks que usaria neste ensaio e revelou, em primeira mão, que está organizando um evento de moda e empreendedorismo com a modelo britânica Naomi Campbell.
Janja valoriza a moda nacional na escolha dos looks: 'Quero sempre passar uma mensagem'
Como tem aproveitado a posição de primeira-dama para ampliar a presença de mulheres na política?
Na campanha, falava com a Gleisi (Hoffmann, presidente do PT): “Está difícil, precisamos de mais mulheres”. Já nos recusamos a sair na foto como cota. Na transição, falamos de mais mulheres nos ministérios. Isso de alguma forma foi atendido. Passamos (ela e o presidente) os fins de semana a sós e conversamos muito. Às vezes, a gente tem umas discussões um pouco mais assim... fortes. Mas é isso. Tivemos duas perdas (de mulheres) no governo. Faz parte (a entrevista foi realizada na véspera da terceira perda, a demissão de Rita Serrano da presidência da Caixa). É necessário discutir a participação feminina no Congresso. O Brasil está em penúltimo lugar na América Latina e no Caribe em número de mulheres no Parlamento. Isso é vergonhoso. Precisamos ter 50% de cadeiras. A cota de 30% (de candidaturas) não está adiantando. As agressões que as mulheres sofrem, nas redes sociais e pessoalmente, têm feito muitas desistirem de seguir na política.
Você escreveu ao Le Monde que as mulheres estão mais expostas à violência da guerra. O que poderia ser feito por elas na guerra entre Israel e Hamas?
Quando eu vi que foi uma mulher representante do governo americano (Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas) que vetou a resolução do Brasil, fiquei muito triste. Ela veio ao Brasil em maio e conversamos muito. A gente ia fazer um evento em Nova York sobre mulheres, segurança e paz. Aquele voto me doeu.
O que diria a quem afirma que, por não ter sido eleita, não deveria se meter em política?
Não me incomoda. Quem faz essa crítica não enxerga o mundo em que a gente vive hoje. Vou continuar ao lado do presidente, porque acho que é esse o papel que tenho que desempenhar. Não é uma questão de ser eleita ou não. Existem ministros que concorreram e ganharam a eleição ao Senado ou à Câmara, mas a maioria não foi eleita e está lá. Falam muito de eu não ter um gabinete, mas precisamos recolocar essa questão. Nos EUA, a primeira-dama tem. Tem também agenda, protagonismo, e ninguém questiona. Por que se questiona no Brasil? Vou continuar fazendo o que acho correto. Sei os limites. Eu quero saber das discussões, me informar, não quero ouvir de terceiros. Falaram que fui a única primeira-dama que entrou com o presidente no dia da reunião do G-20. Entrei porque ele não soltou da minha mão e falou: “Você está comigo e vai entrar comigo”. Eu me sinto segura.
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