Livro Letras e Linguagens pelos caminhos do sertão 3 de abr. de 2018

Uma idéia prática e eficiente tem o componente fundamental da simplicidade. Foi essa característica básica do Programa Arca das Letras que permitiu aos colaboradores do Agência ECCOM Pontão de Cultura Rede Comunitária desenvolver Oficinas Vivenciais de Produção Audiovisual com seus Agentes de Leitura, gerando registros de manifestações artísticas e culturais em diversas comunidades visitadas, onde quer que se avistasse uma placa com os dizeres "Arca das Letras - Biblioteca Rural", no sertão percorrido por três grandes afluentes do Rio São Francisco , os rios  Paracatu, Urucuia e o Carinhanha que divide Minas Gerais e Bahia.  
                   Estas arcas visitadas são uma pequena parcela das mais de 8.000 bibliotecas rurais implantadas pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário desde 2003 em todo o território nacional, instaladas em assentamentos de reforma agrária, comunidades de agricultura familiar, de remanescentes de quilombos, indígenas, ribeirinhas e em colônias de pescadores. "O Arca das Letras é um programa destinado prioritariamente às populações do campo, sempre esquecida pelas políticas públicas de acesso à cultura," reafirmam como profissão de fé os colaboradores da Rede Comunitária. Formados na lida dos programas de inclusão social, alimentam as bases do programa, exercitando a experiência no envolvimento de iniciativas comunitárias com  ações governamentais e não governamentais na  implantação das bibliotecas.
                     A articulação de ações convergentes com outros  programas da sociedade civil tem sido um dos pilares que sustentam a dinâmica de construção coletiva buscada pela Agência ECCOM na sua missão de levar o livro e a leitura a todos os territórios. Esta articulação de forças parceiras foi também a base para a realização das Oficinas  Vivenciais de Produção Audiovisual pela Rede Comunitária, produzidas com o suporte de Pontos de Cultura."Está no DNA dos pontos funcionar como agente articulador de várias iniciativas," diz Ellen Parrela, coordenadora do Ponto de Cultura CinePoesia, da TV Geraes de Montes Claros, MG. De vocação inequívoca para o registro e veiculação da cultura regional, o CinePoesia, com seu canal aberto de teleradiodifusão, transformou-se na vitrine para os produtos gerados nas oficinas."Registrar e dar evidência pela TV, vai mostrar de fato o que existe de mais autentico da cultura tradicional do norte de Minas," completa Antônio Raposo, produtor executivo da Cultuarte, entidade que trabalha com a divulgação da cultura regional em São Francisco, cidade às margens do rio do mesmo nome, no norte de Minas Gerais. Foi o próprio Rio São Francisco que descreveu um  itinerário natural para a série de ações desencadeadas por essa rede de parcerias para o registro audiovisual de inúmeras expressões culturais locais. Cabe ressaltar, neste contexto, a importância do projeto Folias, Foliões e seus instrumentos musicais, desenvolvido pela Cultuarte por um circuito de onze cidades mineiras. Sua itinerância leva pelo estado um comboio de exposições, oficinas e apresentações do universo das Folias de Reis, temática intrinsecamente ligada às manifestações da cultura popular de origem rural.
                 Com esse comboio foram alcançadas comunidades ribeirinhas do São Francisco, as chamadas "cidades barranqueiras", onde o livro e a leitura revelou-se uma senha para o estabelecimento de parcerias com gestores municipais, artistas e grupos locais de cultura popular. Em Januária, MG, antigo porto do rio, o evento  Rua da Cultura foi um estuário de ações integradas, ancorado pelo Ponto de Cultura Centro do Artesanato. Foram dois dias de oficinas, exposições, rodas de leitura e apresentações do rico folclore regional, como a Dança de São Gonçalo, Rei dos Cacetes/Marujada, Pastorinhas de Maria da Cruz, entre outros. Na programação, um encontro de Agentes de Leitura do Norte/Noroeste mineiro foi articulado com jovens agentes de leitura que viajaram por longos trechos de estradas de terra para participar da Rua da Cultura,  onde puderam falar de suas experiências como embaixadores da leitura no mundo rural, reconhecendo-se um ao outro como representantes orgulhosos de suas comunidades que voltariam para casa com um reforço especial para suas bibliotecas: o kit  de gibis e álbuns de figurinhas que funcionam como isca para a pescaria em rede de novos leitores.
                 Cantigas de roda de Dona Dazinha no município de Manga e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Mathias Cardoso, uma das mais antigas construções de Minas, foram mais algumas das preciosidades barranqueiras  que as câmeras oficineiras registraram de um lado e de outro do São Francisco, acompanhando o cortejo de folias e foliões da Cultuarte. Em novo movimento, embrenharam sertão adentro para alcançar as divisas em que o Rio Carinhanha separa o território mineiro da Bahia. Uma viagem de páginas a folhear leituras visuais de recônditos cenários magistralmente descritos por Guimarães Rosa no Clássico Grande Sertão:Veredas, que não por acaso funcionou como bíblia e guia a conduzir os viajantes do Arca das Letras, da cidade de Urucuia até a Comunidade do Retiro dos Bois, para cumprir a missão de entregar mais três bibliotecas.
                  Atolando em estradas  de areia no meio do cerrado, banhado-se em veredas de buritis tal como Riobaldos Diadorins, a comitiva alcançou um pedaço de Brasil onde nem o Luz Para Todos havia chegado. A solenidade de entrega das arcas que iniciou pela tardinha  adentrou a noite, proporcionando uma bela cena protagonizada pelos capacitadores, que realizaram, à luz de lamparinas, o treinamento dos agentes de leitura. As câmeras registraram o simbolismo daquele momento único: a luz do conhecimento de uma  arca  repleta de livros chegando na frente da luz elétrica, iluminando novas fronteiras do saber para aquela comunidade. Tão expressivo como este momento, foi a acolhida pela alegria da gente do Retiro dos Bois na roda da Dança do Manzuá, curiosa expressão da comunidade em que só participam mulheres, que no ritmado de tambores, dançam e cantam versos de repente, equilibrando uma trouxa de roupas na cabeça, à moda de lavadeiras ancestrais.
                   A festa durou a noite toda e ganhou o dia. E assim, soletrados pelo sertão roseano, seguiram todos da comitiva pra ver Das Neves sorrir do outro lado do Velho Chico.

UM BURITI NO MEIO NO CAMINHO

                   E Das Neves sorriu, algo que pouco faz, alegando a falta de alguns dentes para iluminar largos sorrisos. Mas os lábios a traíram quando segurou nas mãos os primeiros livros e o estandarte da Arca das Letras. Emocionada, agradeceu em nome da sua comunidade de remanescentes de quilombos, pequenos produtores de tradição oleira, organizados em associação na região do Buriti do Meio, município de São Francisco. A força da gente do Buriti do Meio está impressa em potes, vasos, travessas e botijas, rico artesanato em barro daquela região.



Proposta de abordagem - Documentário Livro Letras e Linguagens pelos caminhos do sertão

TV SAGARANA - CONTANDO ROSA NO CAMINHO DO SERTÃO Em Sagarana,(Distrito de Arinos MG) existe um permanente clima evocando a literatura de Guimarães Rosa. Por ocasião do encontro de avaliação e planejamento do "Caminho do Sertão", evento de caminhantes realizado a partir de 2014, autodeclarou-se o Ponto de Cultura TV Sagarana. E sob os auspícios da Biblioteca Rural Arca das Letras implantada no local, o contador de histórias Elson Barbosa contou um trecho de Grande Sertão:Veredas. Primeiro passo da caminhada!

O baru torrado na mesa da cozinha, a lua dourada, os pés de pequi apinhados de flores, o pôr-do-sol vermelho-fogo e o cheiro doce de jasmin-manga à noite fazem parte das trilhas de vivências da Vila Sagarana, ponto de partida de nossa caminhada documentário pelo sertão. A pequena Vila, com cerca de 400 pessoas, foi o segundo projeto de assentamento de reforma agrária do Brasil promovido na década de 70 e, desde então, vem gerindo e desenvolvendo importantes ações em direção a práticas sustentáveis e pesquisas em tecnologias sociais do cerrado. Somado a isso, o imaginário de Guimarães Rosa, marcado no próprio nome da Vila, sublinha a realidade das prosas, dos causos e dos ensinamentos dos mestres e mestras que somam o quadro encantado "feito Rosa para o Sertão".

https://redeccom.blogspot.com.br/search?q=Arca+das+Letras+Sagarana




Secretária de Cultura de Urucuia,  Lauzi Durães convida para a Festa do Carro de Boi

  





























15 ARCAS DAS LETRAS ENTREGUES EM MANGA MG ESPERANDO PELA CAPACITAÇÃO, COORDENADAS PELA REDE COMUNITÁRIA
CONSTRUÍDAS PELO ARTESÃO RAPOSO, QUE FABRICA INSTRUMENTOS MUSICAIS DE FOLIAS DE REIS EM SÃO FRANCISCO MG































I ENCONTRO DE AGENTES DE LEITURA DO TERRITÓRIO DO MOSAICO SERTÃO VEREDAS-PERUAÇU

No dia de Folia e Foliões na Rua da Cultura em Januária realizamos com sucesso o I Encontro de Agentes de Leitura do Programa Arca das Letras - MDA.
Contamos com a presença das comunidades: Ribeirão de Areia, Rio dos Bois e Retiro Velho do município de Chapada Gaúcha; Distrito São Pedro das Tabocas do municipio de Pedra de Maria das Cruzes e Conego Marinho - Estes municípios são pertencentes ao Mosaico Sertão Veredas- Peruaçu.
A programação do dia 18 de setembro ficou por conta da RedeCCom na realização do registro audiovisual e na dinâmica de auto apresentação.
Durante a manhã a Roda de Prosa ferveu com os depoimentos dos agentes veteranos do programa e com o entusiasmo dos novos agentes que embarcam neste ano com a missão de levar leitura e arte para suas comunidades rurais.
A lição tirada deste encontro ficou registrada com a fala de D.Valdivia " Precisamos de mais iniciativas destas para seguir o trabalho, sozinhos é muito difícil".

Roda de Prosa com os agentes de leitura
Apresentação do kit encaminhado pelo MDA - Articulação Cultural

Relatos e experiências pela agente de Pedras de Maria das Cruzes - D. Valdivia
Dinâmica de auto apresentação com a RedeCCOM - Agente José Wilson -Comunidade Ribeirão de Areia-Chapada Gaúcha
Agente de Leitura da comunidade Rio dos Bois pela primeira vez em contato com a camera

Este evento contou com a colaboração do Ministério do Desenvolvimento Agrário através da Coordenação e Articulação Cultural, Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha, Instituto Rosa e Sertão e RedeCCOM.

Apoio: Centro de Artesanato de Januária e Família Medeiros Wombral

Oficinas Comunitárias RedeCCom/Outro Olhar/TV Brasil com a Cáritas Diocesana de Paracatu em Unai MG





Vivência em Produção para TV com a Equipe de Produção OUTRO OLHAR/TV Brasil Empresa Brasil de Comunicação, dentro da programação das Oficinas Comunitárias de Produção Audiovisual da Memória Popular Brasileira – Unai - MG.
Data: 04 a 07 de Abril de 2013.
Oficinas Comunitárias de Produção Audiovisual é um processo de ensino aprendizagem apoiado na utilização dos meios tecnológicos de produção videográfica, que teve sua metodologia fundamentada na prática pela Escola de Expressão e Comunicação Comunitária, operando-se em um passo a passo que reproduz a estrutura de uma produção audiovisual, despertando os agentes participantes para visões próprias no trato da informação e possibilitando-lhes a realização de documentos praticando todas as fases que envolvem a confecção de um produto pela linguagem audiovisual.

A proposta de realização das Oficinas Comunitárias de Produção Audiovisual da Memória Popular Brasileira junto ao programa ATES/Cáritas – Núcleo Operacional Unaí MG, com a parceria Outro Olhar/TV Brasil, Cáritas Diocesana de Paracatu, Programa Arca das Letras/MDA, visa formatar o projeto da Agência Escola de Expressão e Comunicação Comunitária, em convergência com metodologias de inclusão digital, ações culturais e comunitárias desenvolvidas no município de Unaí - MG.
Desenvolver atividades de produção audiovisual para abordagens de temas relacionados à Memória Popular Brasileira no contexto da realidade social, cultural e ambiental do município de Unaí – MG


Identificar e treinar potencialidades individuais e coletivas para a prática da linguagem audiovisual e o desenvolvimento dos temas propostos pelas diversas fases de uma produção em vídeo.
Produzir a Primeira Mostra do Audiovisual Comunitário de Unaí - MG como prática de aprendizagem das Oficinas.
Estruturar a Agência Escola de Expressão e Comunicação Comunitária junto ao Núcleo Operacional da Cáritas Unaí - MG, com editoria permanente, articulando indivíduos e entidades na Rede Comunitária de Comunicação para a realização e veiculação de produtos pela TV Brasil, dentro do projeto Outro Olhar, além de Canais Comunitários, TVs Públicas Regionais e postagem nas Redes Sociais.

Temas:


1. Unaí – Cáritas Unaí, Agricultura Familiar, a Mulher e a Juventude no Campo

2. Unaí - Ação Cultural no Campo, Programa Arca das Letras, Diversidade cultural, Memória Popular, patrimônio imaterial, Quilombolas.

3. Unaí – Turismo, gastronomia


4. Unaí – Patrimônio Ambiental – Os problemas do Agronegócio


5. Unaí – Capital da Bicicleta


6. Unaí – Sustentabilidade, soluções, oportunidades

Programação:

Dia 04 – Abertura da Oficina
Apresentação da Proposta de Jornalismo Participativo com a Equipe de Produção OUTRO OLHAR/TV Brasil Empresa Brasil de Comunicação. 

Dia 05 - Produção dos temas. Edição.  
- Pouso da Folia do Divino Espírito Santo - Casa do Seu Florencio
Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Projeto de Assentamento Papamel

Dia 06
Com a presença de representante do MDA
9 horas – Núcleo Operacional Cáritas Unaí MG
 - Apresentação dos vídeos realizados sobre os temas
1. Unaí – Cáritas Unaí, Agricultura Familiar, a Mulher e a Juventude no Campo
2. Unaí - Ação Cultural no Campo, Programa Arca das Letras, Diversidade cultural, Memória Popular, Patrimônio imaterial, Quilombolas.
- Fala de Representante do MDA/SRA sobre Ação Cultural no campo.

14 Horas
Visita Arca das Letras Casa de Concessa, dinamizadora Cultural – Agente Arca das Letras – Revitalização da Arca das Letras da Comunidade - Paracatu MG 

Domingo
Edição - Finalização 

BOI DE REIS DE SÃO FRANCISCO MG


Fotos: Antonio Raposo
          Guilherme Souza
Produção: CULTUARTE
BOI-DE-REIS “1”:
em TIPOLOGIA DOS REISADOS BRASILEIROS: Estudo Preliminar
Ulisses Passarelli

- Sinonímia: Boi-moreno.
- Distribuição: vale do Alto-Médio Rio São Francisco, em Minas Gerais, das cidades de Pirapora a Manga.
- Personagens: Tamanduá, Boi, Vaqueiro(s)-(Pai Francisco), Catirinas ou Catitas, Mulinha (de Ouro), Onça. Em 2000 foi registrado um Dragão, num dos grupos da cidade de São Francisco.
- Características: as mesmas de outros Bumbas em geral. Instrumental de percussão: surdo, tarol, bumbo. Sai às ruas de 1º a 6 de janeiro. Talvez a maior peculiaridade seja o personagem Tamanduá, lembrando o mamífero típico daquela região do cerrado. Apresenta-se envolto numa carocha, espécie de capa, feita de palha de buriti (palmeira comum na região), que os sertanejos usavam para proteger-se da chuva. O Tamanduá dança querendo abraçar as pessoas - alusão ao mecanismo de defesa deste mimercofagídeo.
- Observações: em São Francisco estão se formando muitos grupos infantis. Há dois de adultos, que guardam rivalidades entre si. São herdeiros de um grupo único e afamado que lá havia. Foi registrado um grupo com uma dupla de Bois dançando.
- Bibliografia:
DINIZ, Domingos. As Manifestações Folclóricas no Alto Médio São Francisco. Simpósio sobre o Folclore do  São Francisco / XXVI Encontro Cultural de Laranjeiras (SE), 05 jan. 2001.
MELO, João Naves

BOI-DE-REIS EM SÃO FRANCISCO

"Todo mundo me dizia/ que este boi não saía/ meu boi está na rua/ com prazer e alegria/ saiu, saiu/ saiu daqui agora,/ saiu meu boi moreno/ neste instante, nesta hora".

A alegria invade a rua, despontando com toda volúpia comanda pelas caixas com repique de forte ritmo e o vozerio se levantando aos ares – uns cantando, outros aplaudindo e dezenas de crianças arreliando. É Natal. Os grupos esperam o dia 1º do ano, seguindo a tradição da jornada dos Três Reis Magos, para começar suas andanças, cruzando com os ternos dos foliões de Reis.
Tempos passados o Boi-de-Reis, do jeito da cidade, era mais modesto, menos espalhafatoso e acompanhado por um séqüito quase reduzido aos próprios participantes que levantavam com as precatas a poeira das ruelas da cidade – mais bucólico e romântico, pois se ouvia as caixas, então de cedro ou tamboril, com couro de veado, acompanhadas de violões e violas. A chamada do boi que guardava uma certa distância da casa onde ele era "comprado" já valia o espetáculo. O coral, geralmente de mocinhas e crianças dos bairros pobres da cidade anunciava: "Todo mundo me dizia que este boi não saia..." A letra era uma resposta orgulhosa a quem ousava desafiar que o boi não sairia. Depois da chamada, quando o boi chegava saracoteando e se postava mansamente à frente da casa, uma voz apaixonada ganhava os ares, parecia arrancada do fundo da alma gemendo o primeiro verso:

"Levanta, boi, vem comê capim/ ôi! dona da Casa, tenha dó de mim. Segunda-feira, sábado, domingo choveu, na porta do seu Domingos, foi que meu boi morreu!"

Explodia o coral:


"Ei boi! Levanta meu boi!. Ei! boi, abre a roda meu boi!. Ei boi, arremete o vaqueiro! Ei boi! abra a roda meu boi!"...

e boi ia obedecendo as ordens numa belíssima coreografia, com a chita colorida (o seu couro) se inflando como balão ao sopro do vento nos seus volteios frenéticos, sacudindo como se acometido de violento sezão – avançava no rumo da assistência e se estancava com os chifres em cima do peito da menina espantada; rodopiava e voltava para o meio do terreiro e, depois, arremetia-se para o outro lado da roda, rodando, rodando, até receber a ordem do sossego:

"Amaia meu boi! Amaia, meu boi! Amaia, meu boi!"

era para ele, mansamente, arrear as pernas e descansar um pouco (folga merecida e necessária para o dançarino que, do lado de dentro erguia a pesada armação de varas revestida de panos coloridos e couro, fazendo com que ela tremesse toda, sacudisse violentamente e, ainda exibisse uma terrível coreografia de rodopiar e investir contra vaqueiros e assistentes). Os vaqueiros e as catirinas, na folga, conversavam com os tocadores, outros brincavam com o público, enquanto uma equipe cuidava de reanimar o boi aplicando-lhe injeções e ministrando-lhe doses imensas de elixir. O coral retornava depois do descanso, precedido da mesma voz apaixonada chamando o boi para a lida e tudo se reiniciava até que fosse determinado ao boi:

"Vai saindo, meu boi! Vai saindo, meu boi"

e ele deixava a praça, sacudindo-se todo, para desaparecer na escuridão. Os repiques das caixas redobravam e ficavam mais frenéticos entrando na cadência do "Carneiro", e ecoavam as vozes:

"Olê-lê-lê, Carneiro dê! Olá-lá-lá, Carneiro dá! Quem quisé carneiro manso, manda o vaquero amansá",


e a praça era invadida pelas catirinas que com os vaqueiros repetiam as amarradas dos carneiros no ritmo das caixas e da música. Dançavam e dançavam até serem dispersos pela invasão inesperada do "Bicho Tamanduá" –

"Ei que bicho é aquele que vem acolá? É o bicho Tamanduá”!

E o bicho Tamanduá com sua roupagem de palha, da cabeça aos pés – imitando capa de carocha, vinha rolando no chão, agarrando e arrastando vaqueiros ou catirinas. Era uma dança muito dinâmica, agitada pelas batidas fortes e aceleradas das caixas com o reforço do coral numa cadência onomatopéica:

"que bicho é aquele que vem acolá? É o bicho tamanduá!”.

Estava o bicho a rolar pelo chão com vaqueiros e catirinas, quando adentrava na praça, dançando com graça e leveza, tão mimosa e encantada, a "Mulinha de Ouro" –

"Mulinha de ouro, é ouro só”!...

Depois do seu rápido e belo bailado ela deixava espavorida a praça que era tomada pela onça:

"Oiá a onça no pau! Cachorro nela!. Oiá a onça no pau! Cachorro nela”!...

Começava renhida luta entre a onça e os vaqueiros. Cessavam, enfim, as vozes e as caixas. Os agradecimentos. Meninos curiosos queriam proximidades com o boi e a mulinha – de preferência –, mas se encolhiam quando aproximavam a onça e o bicho tamanduá... O silêncio era de novo quebrado: as caixas voltavam ao repique e o coral retomava o refrão desafiador - "todo mundo me dizia...." – e, se arrastando, o grupo buscava outra praça, deixando saudades.
No dia 6 de janeiro fazia-se uma grande festa na casa do Imperador. Era a matança do boi. Muita dança e muito gole. Noite toda de alegria. Depois, só no começo do outro ano...
Não muito tempo era assim. Hoje, ocorreram muitas mudanças, são muitos grupos. Felizmente a tradição mantém-se firme e no gosto popular, principalmente das crianças (têm, às dezenas, os boizinhos de lata que zoam meses seguidos pelas ruas de seus bairros). Dois grandes ternos fazem a festa no dias atuais: o do Messias, mais tradicional e formoso, que substituiu o de Adão, o mais famoso deles por muitos anos, em São Francisco e outro, o do bairro Sagrada Família. Conquanto guardem muito da coreografia e da música tradicional, eles processaram muitas mudanças no folguedo. O que importa é que, entra ano e sai ano, desponta o boi nas ruas, invade a cidade, ocupa as suas praças e arrasta multidões noite à dentro, todos repetindo com imensa alegria: "Todo mundo me dizia que meu boi não sai..." e o teimoso todo ano sai com prazer e alegria.


"...O boi-de-reis de São Francisco guarda muita semelhança com o bumba-meu-boi do Maranhão, conforme descrição da Câmara Cascudo. A diferença existe é quanto a ocorrência. Enquanto em São Francisco se dá no solstício de Verão, mais propriamente no mês de janeiro, no Maranhão ele ocorre de maio a outubro, com o clímax em junho. No Maranhão, segundo registra a Comissão Maranhense de Folclore, o bumba-meu-boi “é um brinquedo de fé e devoção, uma forma de oração. Ainda hoje o boi é concebido e dançado e cantado em homenagem a santos católicos, mas também a entidades espirituais cultuados nos terreiros de tambor de mina, umbanda, pajelança, entre outros. O catolicismo é uma das concepções religiosas mais presentes na brincadeira. Essa ligação é estabelecida a partir da relação dos boieiros com os santos do período junino e, especialmente, com São João.”As personagens do boi-de-reis de São Francisco origem, também, no bumba-meu-boi do Maranhão que refletem a multiplicidade de símbolos ritos e mitos provenientes da ligação estreita entre o universo das religiões afro-maranhense.
O boi-de-reis de São Francisco não guarda nenhum liame com a religiosidade. Não passa de uma recreação, folguedo folclórico. As músicas entoadas não fazem nenhuma alusão a divindades ou entidades, mas tão-somente contam a história do boi e narram as interferências de várias personagens, como numa ópera bufa."

http://joaonavesdemello.blogspot.com.br/2012/01/boi-de-reis-em-sao-francisco.html

















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Januária e Manga em Minas Gerais, celebram a Cultura Popular com Folias e Foliões


Rua da Cultura com folia do Ponto de Cultura Seu Duchim


A Rua da Cultura anunciada aqui e realizada pelo Centro de Artesanato de Januária foi um SUCESSO!
O Ponto de Cultura Seu Duchim: Espaço Geral de Folias e Ponto de Cultura Centro de Artesanato de Januária firmaram mais uma vez a cooperação cultural entre entidades culturais do território do Mosaico Sertão Veredas- Peruaçu durante a realização da Rua de Cultura em Januária-MG.
Com atividades de contação de história, mostra de artesanato, música e Folia de Reis o evento cativou quem estava presente.
Realizamos oficina com músicas ribeirinhas e cantigas. Numa mistura de contação de história e roda trouxemos para dentro da brincadeiras os foliões do projeto Folias e Foliões sob a coordenação de Raposo - Cidade de São Francisco - para tocar o lundu. Ao som de " Zabelê", " Caninha Verde" e "Pisei na barata" o caixeiro do terno e os foliões pularam e tocaram animando a garotada!
O Terno de Folia honrou o verso: " Segura a caixa caixeiro, não deixa a caixa parar a caixa custou dinheiro e dinheiro custou ganhar"
Para cativar você leitor do Blog vai uma mostra do que aconteceu na tarde de sábado com vista para Rio São Francisco e cobertos pelo céu azul de Januária.
Registro fotográfico de Natália Rust

"O fecha a roda tindolelê"
"O abre a roda tindolalá"
As gêmeas do Rosa e Sertão - Diana no sax e Daiana no violão
Damiana soltando a voz



Camila na organização do Cortejo
Agora nossa fotográfa oficial Natalia Rust
Folia e Foliões com a nova geração
Ouvindo histórias!

Realização da Rua de Cultura: Centro de Artesanato Januária - Associação Amigos da Cultura
RedeCCom Rede Comunitária de Comunicação
18 de setembro de 2010

Oiê Cadê o Manzuá? Ainda está lá.

Oiê Cadê o Manzuá? Ainda está lá.
por Damiana Campos - Mestrando em Ciências Sociais - CPDA/UFRRJ - do Instituto Rosa e Sertão
Dona Lorença - Mudou-se da comunidade devido problemas de saúde, mas chora ao lembrar de sua morada.Esta foto acima foi tirada pelas comemorações na comunidade do ´Prêmio Culturas Populares/MinC - 2010
Grupo Manzuá na apresentação em São Jorge/GO.
Cadê o Manzuá? Ainda está lá.

Foi assim que chamei a atenção no Grupo de Trabalho "Comunicação" do IV Encontro Nacional de Comunidades Quilombolas. Este grupo teve por objetivo elaborar encaminhamentos na temática Comunicação para que as comunidades quilombolas tenham meios de se comunicarem e de receber notícias sobre o que está acontencendo nos movimentos sociais e nas políticas públicas.

Como já apresentado neste blog a Comunidade Quilombola Retiro dos Bois fica a 60 km de distância do município de Chapada Gaúcha/MG e 250 km da sua cidade Januária/MG - esta divisão é territorial. Há uma luta abafada a mais de 10 anos pelo reconhecimento deste território como um chão povoado por GENTE e não apenas por terras soltas. Esta busca incessante pela passagem da área das comunidades de Patos, Angical e comunidade quilombola Retiro dos Bois para administração do município de Chapada Gaúcha já deixou muita gente doente ou morrer sem ver uma solução.

O fato é: não há uma política pública e assistência as comunidades que estão mais 250 km de sua cidade. Como fazer esta logísitca de: Assitencia médica, Agentes de Saúde Rural pelo menos 1 vez por semana? Merenda escolar de qualidade pelo sistema do PAA? Professores capacitados e bem remunerados dando aula em um ambiente satifatório? Alunos com uma infraestrutura que garanta a sua permanência na escola e uma boa aula que abram os olhos para um mundo melhor lá? Como dizer a estas pessoas que estão num paraíso, onde o Rio Carinhanha é o seu maior tesouro, sendo que são humilhados e sem chão quando pedem assistência básica e de direito garantido pela constituição? Como garantir que grandes fazendeiros não comprem estas terras por preços abaixo do valor de mercado, sendo que o valor que deveriam ter era apenas de serem reconhecidos como GENTE? E agora?

Este fato é dado por muitos moradores de Chapada e também por aqueles que são “parentes”. Todos são sabedores da interferência nas relações sociais não apenas enquanto o deslocamento como forma física, mas também psíquicas e morais.

Mas é percebido também na fala de alguns moradores da região que o pertencimento a esta terra destinada e sua identidade territorial depende não somente de suas mãos ou vozes:

"Se é tempo de política muitos são Chapada Gaúcha, se é tempo de doença são Januária, mas não dá tempo de chegar até lá e precisam ser Chapada, mas agora tão dizendo que a gente não pode mais ser de Chapada por causa do cartão SUS. Este trem não tá certo não, como é que eu vou lá para Januária se eu tô doente minha irmã?". (moradora da comunidade Retiro dos Bois)

Outro caso de um morador de 60 anos sobre a dificuldade de logística territorial:

"Eu tô pra tirar uma chapra e não posso mais, por que disseram que só atende emergência, agora eu tenho que morrer pra me atender". (morador da comunidade quilombola Retiro dos Bois)

Esta situação é diária no Posto Médico de Chapada Gaúcha que ainda faz muito para com a comunidade, mas devido à burocracia não podem mais realizar os encaminhamentos que já faziam há mais de 10 anos.

Procurando funcionários do Centro Médico fomos informados que devido novo Sistema, este informatizado e que libera os encaminhamentos para exames e consultas fora do município, todos os cadastrados pelo município de Januária tem que encaminhar seus exames para serem feitos no próprio município que faz parte e que apenas casos emergenciais poderiam ser realizados lá.

Foi ainda apresentado o acordo com a Prefeitura de Januária, onde incluí apenas UM paciente mês para atendimento e exames. Isso sim é um desagravo aos direitos constitucionais.

Os moradores pedem SOCORRO!!!

Não podemos deixar isso acontecer com uma comunidade que é referencia cultural e que encanta a todos com sua alegria e seus tambores. As violas estão de luto mais uma vez.

Há um quase um ano a comunidade aguarda retorno sobre a morte de um dos moradores da comunidade - brutalmente morto com 8 tiros por um sargento da PM a paisana numa festa da cidade - este caso também sem notícias ou mesmo soluções.

Estas ações e acontecimentos somente levam a auto-estima a nível zero, mas mesmo assim eles ainda continuam a cantar:

Oiê cadê o Manzuá?

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