Desmonte da Conab e fechamento de fábricas de fertilizantes agravam fome
Em 2020, o ex-diretor da FAO José Graziano já alertava para os perigosos efeitos do desmantelamento da Conab, uma espécie de política suicida do governo Bolsonaro para o setor. O resultado é que Bolsonaro deixou o país mais vulnerável à volta da fome, como de fato acabou acontecendo. “Esse é um alto preço que nós estamos pagando pelo desmonte da política de segurança alimentar que estava em curso pelo atual governo. Não há estoques”, avisou Graziano, em entrevista ao Brasil de Fato.
Recentemente, o atual diretor do Instituto Fome Zero deu um diagnóstico preciso sobre a volta da fome no Brasil: parece um país em guerra“.Uma crise mundial sistêmica advinda das sanções econômicas geradas pelo conflito na Ucrânia afetará profundamente a cadeia do fornecimento de insumos agrícolas, preveem especialistas. O Brasil, atualmente dependente da importação de fertilizantes devido ao fechamento ou privatização de fábricas, sofrerá ainda mais com o desabastecimento e um aumento da fome, que já atinge, sob Bolsonaro, quase 20 milhões de brasileiros. Nesta semana, as Nações Unidas advertiram que o abastecimento global de alimentos está sob séria ameaça. No Brasil, que atualmente não dispõe de um sistema de controle de estoque e abastecimento graças ao desmonte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) por Bolsonaro, as consequências serão catastróficas.
Para se ter uma ideia do tamanho do problema, sozinhas, Rússia e Ucrânia respondem por um terço das vendas de trigo no mundo. Somente no Egito, mais da metade das calorias importadas são fornecidas pelos dois países. Com os cortes, um aumento da fome é dado como certo pelas Nações Unidas. Isso para não falar do papel dos fertilizantes russos no abastecimento global. Só o Brasil importa da Rússia cerca de 25% dos fertilizantes usados no país.
No total, a despeito de ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil importou 85% dos fertilizantes utilizados no ano passado. O efeito imediato da escassez é o aumento dos preços dos insumos, como o ocorrido em 2021, quando somente o cloreto de potássio subiu 185%.
Dependência
Ao abrir mão do controle no mercado de fertilizantes, o Brasil ampliou sua dependência externa. Só no caso dos nitrogenados e potássio a dependência passa de 96%. Em um cenário de conflito externo, um quadro de crise de abastecimento será particularmente agudo no país.
“Metade da população mundial obtém seus alimentos graças ao uso de fertilizantes, e se isso for retirado de alguns cultivos, essa produção pode cair até 50%”, declarou nesta semana à BBC a chefe da Yara International, uma empresa de fertilizantes, Svein Tore Holsether.
“Ficou para atrás a possibilidade de normalização das cadeias produtivas com esse novo choque da guerra”, confirmou à BBC a economista da gestora de recursos GAP Asset , Luana Miranda. “Esse novo cenário pode pressionar a indústria ainda mais, tanto em custos, como em dificuldade de acesso a matérias-primas”.
Abalo mundial no mercado de alimentos
O temor é que o conflito reproduza a crise de 2008, que causou um forte abalo no mercado de alimentos nos anos seguintes, elevando os preços e deixando quase um bilhão de famintos no processo. “O conflito é o principal motor da fome e da insegurança alimentar no mundo”, declarou nesta semana diretor do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, David Beasley.
“Temos agora 283 milhões de pessoas marchando para a fome com 45 milhões batendo à porta da fome aguda”, advertiu Beasley. Ou seja, os poucos avanços da última década no combate à fome no mundo irão por água abaixo. O Brasil, que tem hoje mais da metade da população com algum grau de insegurança alimentar, pagará um alto preço pelo despreparo do governo Bolsonaro.
“Os impactos aqui são o aumento do custo de produção, a redução da margem de lucro do agricultor e o repasse desses aumentos para a mesa do consumidor”, afirmou a consultora da Safras & Mercado, Maísa Romanello, ao site Diálogo Chino. “O produtor não possui muitas alternativas e fica refém da precificação internacional, do dólar, de questões logísticas e políticas internacionais” , lamentou.
Fechamento de fábricas agravará crise
Na semana passada, o ex-presidente Lula alertou para os efeitos nocivos do entreguismo de Temer e Bolsonaro, que fecharam fábricas de fertilizantes. “O governo Bolsonaro aprofunda a dependência de derivados de petróleo importados, como fertilizantes e combustíveis, ao mesmo tempo que destrói empregos e desmonta o setor no Brasil”, afirmou Lula.
Em janeiro de 2020, Bolsonaro encerrou as atividades da fábrica da Petrobras, em Araucária (PR). Dois anos antes, Temer dava o caminho das pedras ao sucessor, fechando a fábrica de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA) e de Sergipe (Fafen-SE). Assim, a Petrobras deixou de ser a maior produtora mundial de nitrogenados, abandonando o Brasil, que é o quarto consumidor mundial de fertilizantes, à mercê dos humores do mercado internacional.
Da Redação, com UOL, Valor, BBC e Diálogo Chinolo
Nenhum comentário:
Postar um comentário