terça-feira, 9 de maio de 2023

Brasil perde Rita Lee, “Padroeira da Liberdade”

 

Brasil perde Rita Lee, “Padroeira da Liberdade”

“Gosto mais de ser chamada de padroeira da liberdade do que rainha do rock”, dizia Rita Lee. Artista deixa legado de músicas e posicionamentos firmes e irreverentes

Divulgação

Rita Lee partiu aos 75 anos. Artista foi pioneira na defesa das mulheres no cenário do rock brasileiro

A maior cantora de rock do Brasil, Rita Lee, faleceu na noite do dia 8 de maio, em casa, em São Paulo, aos 75 anos. O velório será no Planetário do Parque Ibirapuera, amanhã (10), das 10h às 17h. O corpo será cremado, segundo o desejo da cantora. A artista que marcou o Brasil e foi referência de ousadia. O presidente Lula lamentou a morte da cantora nas redes sociais.

Icônica, Rita Lee foi sinônimo de provocação, irreverência, deboche, inteligência, misticismo. Era mulher livre, artista, compositora, escritora, multi-instrumentista, mãe, esposa, avó e tutora de animais. 

A arte, as músicas, os ensinamentos, tudo será legado de Rita. Com seu espírito livre, a compositora de hinos como “Ovelha Negra”, “Doce Vampiro”,  foi  exemplo para outras tantas mulheres, meninas e jovens. 

Na autobiografia que publicou em 2016, Rita revelou assuntos delicados da vida como o fato de ter sido estuprada aos seis anos por um técnico de máquinas de costura. Na ditadura, foi presa, grávida, em casa, com maconha. 

Para a secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, a artista foi um marco na música brasileira e deixa um vácuo no pensamento crítico. “Rita foi uma artista que marcou gerações e a partir da música dela tivemos os primeiros contatos com o símbolo de uma mulher que não abaixava a cabeça para nada e nem para ninguém. Fará muita falta”, afirmou.

Uma mulher revolucionária 

Rita sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Era vanguardista e feminista quando a palavra nem era tão conhecida. Foi pioneira em um espaço até então majoritariamente masculino, o do rock. Era defensora de que houvesse salários iguais entre homens e mulheres. 

“Nunca carreguei bandeira de feminismo. Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários – e me senti uma igual, gostassem eles ou não”.

Cantava sobre liberdade e sexualidade feminina. Foi a primeira mulher a lançar uma música sobre o prazer feminino, Doce Vampiro, de 1979. Além do hino, a paulistana, junto ao companheiro de vida e de música, lançou outras canções que tinham a mulher e seu poder como inspirações. É o caso de “Luz Del Fuego”, “Doce de Pimenta”, “Perigosa”, “Elvira Pagã”, “Todas as mulheres do mundo” e “Pagu”, que escreveu em parceria com a cantora Zélia Duncan.

Vivi intensamente a minha época sem pensar que futuramente seria considerada revolucionária. Acho que abri, sim, estradas, ruas e avenidas. E vejo que hoje as garotas desfilam por elas, o que me faz sentir um certo orgulho. Ser pioneira teve um preço, mas também fez escola. Naquele tempo eu não tinha distanciamento histórico para me perceber como feminista, libertária, quebradora de tabus. Eu simplesmente subia no palco, matava o pau e mostrava a xana.” 

Trajetória musical de sucesso

Nascida em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947, Rita Lee começou a cantar aos 16 anos no  trio vocal feminino, as Teenage Singers, em 1963. No ano seguinte, sua vida mudaria para sempre ao entrar no grupo de rock chamado Six Sided Rockers que, depois de algumas mudanças de formações e de nomes como O Conjunto e O´Seis deu origem aos Mutantes, em 1966, formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias.

A banda brasileira de rock psicodélico formada durante o Movimento Tropicalista foi decisiva nos rumos da música brasileira. A partir deles, tudo mudou. O conjunto é cultuado até hoje como ícones de uma música criativa, irreverente e que marcou uma geração sendo inspiração para diversos artistas.

O trio teve boom ao participar, em 67, do terceiro Festival de Música Popular Brasileira da Record, e em 68, do terceiro Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968, dois marcos da tropicália. No mesmo ano lançaram o primeiro álbum homônimo.

Após o fim do conjunto, Rita iniciou outra banda chamada “Tutti Frutti”, em 1973. Foi dessa época que surgiram sucessos como “Mamãe Natureza”, “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque Enrow”, “Luz del Fuego”, e “Ovelha Negra”. 

Em 78, Rita parte para a carreira solo ao lado do companheiro de vida, Roberto Carvalho. Ao lado dele escreveu hinos brasileiros “Mania de Você”, “Chega mais” e “Doce Vampiro”. 

Em 2012, decidiu encerrar a carreira de shows. Em sua última apresentação, em Aracaju (SE), foi autuada no crime de desacato e apologia ao crime ou ao criminoso. “Eu sou do tempo da ditadura. Vocês pensam que eu tenho medo?”, disse nossa eterna Ovelha Negra enquanto recriminava PMs por agredirem jovens.  

No pouco mais de quase seis décadas de carreira, Rita lançou 40 álbuns, sendo seis dos Mutantes e 34 na carreira solo. 

Descoberta do câncer 

Em maio de 2021 a paulista foi diagnosticada com um tumor primário no pulmão esquerdo, aos 73 anos. Em abril de 2022, o tumor já não foi detectado.  

“Gosto mais de ser chamada de padroeira da liberdade do que rainha do rock”.

O céu está em baile contigo, Rita, mas agora falta você, que se tornou imortal para todas nós. Tua ousadia e inteligência farão falta. 

Da Redação do Elas por Elas, com informações de Hysteria, d’O Globo, do G1 e da Esquina Musical

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