quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Fernando Haddad: “Vamos recolocar a economia no rumo certo

 

Fernando Haddad: “Vamos recolocar a economia no rumo certo”

“Bolsonaro usou 3% do PIB para produzir efeitos na eleição. Esse é o legado: um rombo de R$ 300 bilhões”, disse o ministro da Fazenda ao ‘247’. “Caiu a ficha do mercado sobre a irresponsabilidade fiscal dele”

Haddad e a correção de rota da política econômica: “Temos um trimestre para anunciar as medidas necessárias para recolocar a economia no rumo certo" (Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)

A ficha caiu para o mercado financeiro no que diz respeito ao desastre fiscal provocado pelo desgoverno Bolsonaro. A avaliação foi feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à TV 247, na terça-feira (3). Na conversa com o jornalista Leonardo Attuch, Haddad lembrou que o completo desequilíbrio das contas públicas é resultado direto da irresponsabilidade de Bolsonaro que, em seus esforços para tentar se reeleger a qualquer custo, deixou uma herança maldita ao novo governo. Ele reiterou, no entanto, que o governo irá recolocar a economia “no rumo certo”.

“Bolsonaro usou 3% do PIB, 1,5% de aumento de despesa e 1,5% de renúncia fiscal das mais variadas ordens para produzir o efeito que ele pretendia durante o processo eleitoral”, explicou Haddad, na entrevista. “Os juros foram de 2% para 13,75%. Esse é o grande legado de Bolsonaro: um rombo de R$ 300 bilhões e o maior juro real do mundo”, disse o ministro.

“Muitos não tinham a noção do governo que estavam apoiando”, destacou. “Tinha gente que achava que a economia estava a pleno vapor, com uma grande retomada”, pontuou Haddad. Quando, na verdade, observou, “a economia está desacelerando há dois trimestres”.

Para o ministro, o país vive um paradoxo econômico, uma situação que considera anômala, quando se analisa os indicadores de inflação e a taxa de juros vigente no país. “O Brasil está com taxa de inflação menor do que os Estados Unidos e a Europa, só que estamos com a maior taxa de juro real do planeta”, comparou. 

Haddad observou que cabe ao governo explicar o quadro econômico, com transparência, para que a sociedade saiba o que foi feito por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. “Mas não vamos reclamar, fomos eleitos para corrigir isso”, lembrou o ministro.

“Temos um trimestre para anunciar as medidas necessárias para recolocar a economia no rumo certo e, a partir de abril, com as comissões instaladas na Câmara e no Senado, poderemos endereçar as mudanças estruturais que o Brasil precisa”, informou Haddad.

Relatório da Transição identificou quadro de terra arrasada

De fato, o cenário de terra arrasada identificado por Haddad se espalha por várias áreas, em uma espécie de efeito dominó que atingiu inclusive a própria capacidade administrativa do governo. O caos macroeconômico foi objeto de estudo pelo Gabinete de Transição e consta do relatório final de 100 páginas elaborado pela equipe e divulgado em dezembro.

“Ao final de 2022, os sinais de escassez de recursos para a manutenção dos serviços públicos essenciais e para o funcionamento da máquina pública se fazem visíveis, como nos casos do atraso no pagamento de bolsas de estudo, corte de verbas para educação e falta de recursos para emissão de novos passaportes”, destaca o documento.

“No campo econômico, o legado dos últimos anos foi marcado por baixo crescimento, inflação alta, perda de poder de compra do salário e perda de credibilidade do arcabouço fiscal, que culminou em uma proposta irrealista de lei orçamentária para 2023”, aponta o relatório.

“Pibinho” de Guedes

O documento demonstra em números o crescimento medíocre da economia sob o comando de Paulo Guedes, de apenas 1% nos três primeiros anos, confirmando que o “Pibinho” do ministro-banqueiro, previsto no início do governo Bolsonaro por diversos analistas, se concretizou.

“Para o próximo ano, a expectativa de crescimento do Brasil é de 0,6%, enquanto no resto do mundo é de 2,7%”, informa o GT.  “A inflação acumulada no Brasil durante o governo Bolsonaro supera 26%, uma das maiores do mundo”.

O resultado prático para a economia popular foi o achatamento da renda, com o congelamento do salário mínimo e a inevitável perda do poder de compra do trabalhador. “O rendimento médio real caiu nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, saindo de R$ 2.471,00 para R$ 2.265,00, em 2021. O rendimento real per capita de todas as fontes, em 2021, foi de R$ 1.353,00, também o menor da série histórica”, ressalta o documento.

“Por fim, o atual governo deixa um legado de perda de credibilidade na política fiscal e orçamentária”, diz o relatório, corroborando o que foi exposto por Haddad na entrevista.

“Após alterar por cinco vezes o arcabouço fiscal vigente para permitir gastos que totalizam R$ 800 bilhões acima do originalmente previsto pelo teto de gastos, o governo Bolsonaro apresentou uma proposta de lei orçamentária irrealista para 2023, incapaz de garantir a continuidade das políticas públicas necessárias à garantia da cidadania da população”, conclui o GT.

Da Redação

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