Lula, aos ministros: “Temos de levar o Estado onde o povo mais precisa”
Na primeira reunião ministerial, Lula resumiu a tarefa “árdua e nobre” do governo: “Precisamos entregar o país melhor, mais saudável do ponto de vista da saúde, da geração de empregos, da educação e da civilidade”
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O processo de reconstrução do Brasil será feito coletivamente, com a contribuição decisiva dos 37 ministros de Lula, comprometidos com a erradicação da fome, da miséria e a geração de emprego e renda. Em clima de otimismo, a primeira reunião ministerial do governo ocorreu nesta sexta-feira (6), com transmissão ao vivo pela TV Brasil e pela TvPT. No encontro, Lula falou de sua lealdade ao povo brasileiro e de seu compromisso em transformar o Brasil em um país desenvolvido, “definitivamente”.
“Nossa tarefa é árdua, mas nobre”, discursou Lula. “Precisamos entregar o país melhor, mais saudável, do ponto de vista da saúde, da geração de empregos, da educação e da civilidade”, disse.
Aos ministros, Lula reforçou o papel do Estado na melhora da vida da população: “Precisamos fazer um esforço para estar presentes onde o povo precisa de nós”, afirmou. “Esse país já foi a sexta economia do mundo, já aumentou o salário mínimo em 74%. No meu governo foram bancarizados 70 milhões de pessoas, colocamos uma Argentina e uma Colombia dentro do sistema bancário”.
Proteção ao trabalhador
“Todos nós sabemos o compromisso extraordinário que nós assumimos durante a campanha com a volta do crescimento, da geração de emprego e com o crescimento da massa salarial”, lembrou o presidente.
“Queremos investir muito no fortalecimento do sistema cooperativo do país, no micro e pequeno empreendedor. Mas queremos que o trabalhador tenha o mínimo de seguridade social, que tenha garantia de previdência, de registro, que quando ele estiver impossibilitado para trabalhar, o Estado garanta o mínimo de segurança”, justificou.
Educação para o futuro
Lula insistiu que a educação é o único passaporte que o país tem para o colocar os dois pés no futuro, com soberania e prosperidade. “Precisamos, de uma vez por todas, dar um salto de qualidade no ensino fundamental, básico”, alertou Lula.
“Se nossas crianças não forem bem formadas no ensino fundamental, elas terão mais dificuldade de amanhã se transformar em alguém intelectualmente mais preparado, em um profissional mais preparado”.
“O Brasil precisa dessa gente bem formada porque não pode passar mais um século exportando minério de ferro, soja ou milho, temos de exportar conhecimento, inteligência, coisas com valor agregado, para que o país dê um salto, que deixe de ser um país em desenvolvimento e passe, definitivamente, a ser um país desenvolvido”, enfatizou o presidente.
Saúde para todos
Lula lamentou que a saúde brasileira esteja aquém do que pode oferecer ao povo brasileiro e condenou o governo anterior pela destruição de programas como Farmácia Popular, Brasil Sorridente, Saiu, Mais Médicos, entre outros.
“Tem cidade nesse país que passa anos sem ver um médico. Muitas pessoas morrem sem ser atendidas por um especialista por falta de vaga”, frisou Lula. “Se nós não resolvermos esse problema, não estaremos fazendo jus ao voto e à expectativa que o povo depositou em nós”.
Respeito ao meio ambiente
Lula falou sobre a relação integrada que a produção agropecuária deve ter com o meio ambiente, sem degradação de áreas verdes. “O empresário que produz de forma muito responsável será muito respeitado por nós e bem tratado. Agora, aqueles que teimam em continuar desrespeitando a lei, invadindo o que não podem, usando agrotóxicos que não podem ser usados, para esses, a força da lei imperará sobre eles”, advertiu Lula.
“Iremos exigir que a lei seja cumprida. Porque, nesse país, tudo vale. O que não vale é um cidadão bandido achar que pode desrespeitar a boa vontade da sociedade brasileira, a nossa Constituição e a nossa legislação”, avisou.
Harmonia entre Poderes
“Nós não mandamos no Congresso”, pontuou o presidente. “Por isso, cada ministro tem a obrigação de manter a mais harmônica relação com o Congresso Nacional”, pediu Lula.
“Quero dizer aos líderes, vocês terão um presidente disposto a fazer quantas conversas forem necessárias com as lideranças, partidos políticos, com os presidentes Rodrigo Pacheco e Arthur Lira. Não tem veto ideológico”, garantiu.
Democracia e sonhos
Lula ressaltou que o resultado eleitoral permitiu que o Brasil volte a viver a democracia em sua plenitude. “Esse país vai voltar a viver em democracia, e isso foi mostrado na nossa posse. Nenhum de nós jamais tinha visto um povo emocionado, tão motivado, como vimos. Há muito tempo a gente não via tanta alegria, tanto sorriso estampado na fisionomia de homens, mulheres, crianças, velhos. As pessoas estavam se encontrando consigo mesmas”, comemorou.
“Nossa posse mostrou que é possível a gente fazer esse país voltar a sorrir, é possível fazer as pessoas voltarem a sonhar. É nossa obrigação transformar esse sonho em realidade”, destacou o presidente. “É o compromisso de cada companheiro e companheira que assumiu o ministério”.
“O bom filho a casa retorna. 12 anos depois, nós estamos de volta com o compromisso de unificar o povo brasileiro, acabar com o ódio”, celebrou o petista. “Não acabar com as divergências, mas fazer política de forma civilizada e unificar o Brasil em torno dos interesses do próprio país”.
Gratidão ao povo e ao presidente
“Temos aqui duas gratidões siamesas, que se complementam: ao povo brasileiro e ao presidente Lula”, saudou o vice-presidente Geraldo Alckmin. “O povo brasileiro deu uma aula. Em quase 50 anos de vida pública, eu nunca tinha visto um uso e abuso da máquina pública como ocorreu nessa última eleição. O que podia e o que não podia foi feito para ganhar a eleição. Mas a resiliência, o espírito correto, prevaleceu. O povo deu uma aula, os mais simples e desfavorecidos, uma aula de democracia”.
Segundo o vice-presidente, o agradecimento também deve ser estendido ao presidente porque apenas ele tinha condições de vencer a eleição. “Gratidão a gente retribui com trabalho. Por isso, nossa responsabilidade, de cada um nós, é enorme, frente ao presidente, que nos proporcionou essa oportunidade de trabalharmos pelo povo, e frente ao povo brasileiro, que deu uma aula nesse processo”, agradeceu.
Da Redação
Presente de Natal
Telma é envolvida nos movimentos sociais e tem ligação com o PT, participando de ações públicas junto a minorias, como a população em situação de rua. Sempre dividiu com o filho quem era Lula e sua importância coletiva.
Francisco faz questão de lembrar de um arrependimento. Em 2019, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) organizou uma partida de futebol com aliados do movimento, como o atual presidente, o cantor Chico Buarque, artistas, políticos e juristas, tendo o jornalista Juca Kfouri como árbitro. No jogo na cidade de Guararema (SP), algumas crianças pularam as grades para abraçar Lula, mas Francisco não topou ser ajudado e fazer o mesmo. "Fiquei com vergonha e tal. Não quis ir, mas agora eu me arrependo muito, e queria ter ido", lembra.
Em dezembro último, Lula, já eleito, participou do Natal dos Catadores, no Armazém do Campo, na Barra Funda, bairro na zona oeste de São Paulo. Dias antes, sabendo que o ídolo estaria lá, Francisco decidiu escrever uma carta e levar até ele. Pedir para um segurança entregar seria o plano B, mas Francisco conseguiu dar a carta nas mãos do presidente, além de ganhar o abraço, "preso" desde 2019.
Na rápida conversa, Lula disse ao menino que queria abraçá-lo novamente em sua posse, com a faixa. Na carta escrita à mão, Francisco disse que tanto o povo quanto as crianças acreditam no presidente. Ele mesmo já tinha ido a Curitiba gritar "Bom dia, Lula", cumprimento diário dos ativistas em apoio ao petista nos 580 dias em que foi preso na sede da Polícia Federal.
Dias depois do evento, a assessoria do PT procurou a família para saber se realmente iam à posse. E eles iam. Esperançosa pela vitória nas urnas, a mãe já tinha comprado as passagens de avião para ela, o marido — o advogado Francisco Carlos da Silva, 58 — e o filho antes do primeiro turno. "Diante de tudo que vivemos nestes últimos quatro anos, achei que a eleição seria mais fácil do que foi, mas não dava para continuar como estava", justifica Telma.
O convite oficial para participarem da cerimônia veio quando já estavam em Brasília. No dia da posse, foram conduzidos a uma sala do Palácio do Planalto, onde ficaram sabendo que o menino faria parte do grupo a participar da entrega da faixa. A mãe, que já estava emocionada ao ver o cacique Raoni e imaginado que ele daria a faixa, ficou ainda mais feliz quando entendeu que o filho partilharia a função coletiva.
A família participou do jantar no Palácio Itamaraty, onde o menino encarou pela primeira vez a fama repentina. "Estava morrendo de fome, mas me pediram tanta foto que eu nem comi! Até a Fátima Bernardes veio", lembra, rindo.
'Quero bater o Cesar Cielo'
O maior sonho de Francisco está dentro da água. De segunda a sexta-feira, o menino treina nas piscinas do clube Corinthians, onde é um dos atletas inscritos. O interesse pelo esporte veio aos 6 anos de idade, quando começou a nadar em uma escola do bairro. A professora indicou à mãe que ele fosse para um clube maior.
Outra pessoa que o menino admira é o atleta Cesar Cielo, de quem espera bater o recorde nos 50 m livre — "de 20 segundos e 91 centésimos", diz ele de cor.
Com a fama também veio seu outro apelido, "Boca de 09". Francisco foi confundido com Vinicius Oliveira Santos, o Boca de 09, garoto de Salvador que viralizou ao simular, em um vídeo, uma conversa com a covid-19. Na ligação, Vinicius dizia ao vírus que ele atrapalhava a vida das pessoas, e emendava um "Se saia!".
"Essa confusão é o que mais aparece quando eu vou procurar coisas da posse no YouTube, mas estou feliz", afirma.
Nas redes sociais, o menino também foi comparado a Deivinho, personagem principal do filme "Marte Um", e a Lucas, por causa do personagem Lucas Charles Sinclair, interpretado pelo ator Caleb McLaughlin na série "Stranger Things".
'Gosta de ladrão'
De um lado, Francisco tem recebido elogios e declarações positivas. Um deles vem do pároco da Igreja Católica que frequentam na região, Paulo Sérgio Bezerra. "Francisco levou para o presidente Lula o sonho das periferias do Brasil", escreveu o religioso em suas redes sociais.
Por sua ligação com Lula, é na escola que o garoto mais lida com as diferenças políticas. "Tem bastante bolsonarista lá, mas a gente sempre discute também, conversa. Mesmo assim, teve gente que deixou de ser amigo por conta disso", explica.
Foi na escola, aliás, que ouviu que "gostava de ladrão" por ter uma família militante petista. Deixou passar.
Na cabeça de Francisco, apesar das coisas erradas que ouve, ele não acha que é só culpa dos colegas. "Igual quando falam que criança é racista, machista e tal. A criança não nasce assim, mas é conforme a educação que ela tem em casa. Se eles são pessoas bravas e se dão uma educação errada elas vão ser racistas e machistas", afirma, com jeito de gente grande.
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