segunda-feira, 17 de outubro de 2022

"Eu nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio", diz Lula a católicos

 "Eu nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio", diz Lula a católicos

Ao participar de encontro com grupos católicos, o candidato petista repudiou ataques a sacerdotes. Vencendo a eleição, Lula prevê dificuldades com o novo Congresso, mas acredita no apoio da sociedade civil

(crédito: Henrique Lessa/D.A Press)(crédito: Henrique Lessa/D.A Press)

São Paulo – Em um dos compromissos de campanha em São Paulo, o candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  Na parte da tarde o presidenciável participou de encontro com padres e religiosos católicos. O encontro aconteceu na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade na capital paulista. O pequeno auditório ficou lotado com os religiosos que, entre cânticos, orações e discursos, prestavam seu apoio ao candidato petista. 

Lula afirmou que pretende trocar o orçamento secreto por um orçamento participativo, modelo já implementado pelo PT na prefeitura de Porto Alegre. Para isso espera o apoio das igrejas na realização de conferências nacionais que devem discutir prioridades do orçamento público. “As igrejas podem suprir uma deficiência do Estado. Eu não vim aqui pedir votos para vocês, eu já sabia que vocês iam votar em mim”, comentou Lula.

O petista acredita que os religiosos podem contribuir para unir e organizar a sociedade. Mas  ponderou que não será fácil construir essa proposta com o novo Congresso eleito, mais conservador, apontou o ex-presidente.

Segundo Lula, o país está dominado pelo ódio. “Eu nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio. Eu tenho ouvido falar sobre padres que estão sendo atacados porque estão falando da fome, porque estão falando da pobreza”, disse. O presidenciável lembrou que é um movimento global, que exemplificou com a recente eleição da extrema-direita na Itália. “A extrema-direita com a cabeça fascista ganhou a eleição na Itália” comentou o candidato.

Candidato a vice na chapa com Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), católico tido como ligado a grupos conservadores da Igreja, criticou a existência de “falsos profetas”.

Ao falar de economia, ele defendeu a suposta habilidade de Lula na crise de 2009. “Lula foi presidente em um período difícil, tivemos a crise bancária em 2008 e 2009. Mesmo assim tivemos frutos, onde mais precisava, e foram bons frutos”, comentou.

Ataques nas redes sociais

O candidato petista recebeu dos religiosos algumas cruzes, uma delas confeccionada com madeira vinda de barracos de pessoas em situação de rua. Entre os presentes vários dos sacerdotes católicos eram participantes dos coletivos "Padres da Caminhada" e "Padres Contra o Fascismo". Somados, esses grupos são constituídos por mais 500 religiosos católicos (padres e bispos), de diversas dioceses brasileiras.

Também participaram do encontro diversas religiosas, irmãs e freiras. Durante as falas, os religiosos homenagearam o padre Zezinho, de 81 anos, muito conhecido no meio católico em razão da sua atuação como músico. Padre Zezinho  anunciou o afastamento das redes sociais após denunciar ataques de bolsonaristas contra ele, o Papa Francisco e a Igreja Católica.

Além de Geraldo Alckmin, o candidato ao governo do estado pelo PT, Fernando Haddad, participou do evento católico. Entre os religiosos, também estava presente o Padre Júlio Lancellotti, conhecido pelas ações assistencialistas e duro crítico do governo Bolsonaro.

Alguns integrantes do PT comentaram a aproximação do partido com grupos religiosos, como resposta às investidas do presidente Bolsonaro nas igrejas católicas. "Nem todo mundo é favor disso, mas é como se a esquerda não falasse com esse mundo", comparou o senador Jean Paul Prates (RN). O parlamentar acreditava que conseguia falar com o mundo religioso por meio de ações públicas. Mas a realidade se impôs. "A religião é um fato novo que a política tradicional está despreparada para lidar", avaliou o petista. 

por HENRIQUE LESSA

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  • Lula cita bolsonarismo consolidado e diz que 'vamos ter problema' após ganhar eleição  Presidente afirmou ainda que é importante conscientizar a sociedade para que o bolsonarismo não vire política definitiva no Brasil
      SÃO PAULO

      ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (17) que ele irá ganhar as eleições e derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas o "bolsonarismo está criado" —e que isso será um problema. Segundo Lula, será preciso conscientizar a sociedade para que o bolsonarismo não vire política definitiva no Brasil.

      "Nós vamos ter um problema, que nós vamos ganhar as eleições, derrotar o Bolsonaro, mas o bolsonarismo está criado. Depois [das eleições] nós temos que conscientizar a sociedade para que ela não crie no bolsonarismo uma política definitiva no Brasil, que é o que a extrema-direita está tentando fazer aqui e em outros países", disse.

      petista já havia alertado para isso em encontro no último dia 27 com intelectuais que não eram do campo do PT, fundadores do PSDB e ministros do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

      Ex-presidente Lula (PT) recebe uma cruz de madeira de presente em evento nesta segunda (17)
      Ex-presidente Lula (PT) recebe uma cruz de madeira de presente em evento nesta segunda (17) - Marlene Bergamo/Folhapress

      Na tarde desta segunda-feira (17), o petista participou de encontro com cerca de 200 padres, freiras e outros religiosos. Em um momento, Lula ganhou de presente uma cruz de madeira. Ao final do encontro, o petista recebeu uma bênção.

      O ex-presidente criticou o que disse ser um "clima de ódio" tomado por parte da sociedade brasileira nos dias atuais.

      "Tenho lido notícias de padres que são atacados durante a missa porque estão falando da fome, da pobreza, da democracia. São atacados por pessoas que sempre conviveram com a gente e que a gente não sabia que essa pessoa tinha tanto ódio dentro dela", disse.

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      Lula também criticou a família de Bolsonaro num momento em que ele citava o resultado das eleições na Itália e a situação atual da Hungria.

      "Vimos o que aconteceu agora na Itália. A extrema-direita com a cabeça fascista ganhou as eleições lá. A gente sabe o que acontece na Hungria. Aqui no Brasil tem representação. E a família do atual presidente representa esse segmento raivoso da direita internacional."

      O ex-presidente criticou ainda o desmatamento no Brasil e disse que não haverá garimpo ilegal em terras indígenas caso ele vença as eleições. "Os verdadeiros produtores rurais, aqueles que são sérios, não derrubam árvore. Quem derruba, derruba não como produtor, mas como transgressor das leis desse país."

      No encontro desta tarde, Lula estava acompanhado de seu vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), do candidato do PT ao Governo de São Paulo, Fernando Haddad, da vice de Haddad, Lúcia França, e da socióloga Rosângela da Silva, a Janja, sua esposa.

      No primeiro turno, embora rechaçasse incluir religião na campanha, o ex-presidente tratou do tema em discursos, se encontrou com evangélicos e viu sua equipe montar uma ofensiva nesse segmento para impedir crescimento de Bolsonaro entre esses eleitores.

      No último dia 4, Dia de São Francisco de Assis, Lula se reuniu com o Frei Davi, coordenador da Educafro, e frades franciscanos. O encontro com os frades era uma resposta à proliferação de vídeos e mensagens que circulam nas redes sociais associando o ex-presidente Lula ao satanismo.

      No dia seguinte, o bispo Romualdo Panceiro, que foi integrante da cúpula da Igreja Universal, se reuniu com Lula para declarar apoio ao petista no segundo turno da corrida eleitoral. Ele gravou vídeo no qual declarava seu apoio ao petista.

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