quarta-feira, 12 de maio de 2010

Exposição conta a história dos quilombos e quilombolas










Mostra organizada pelo professor Rafael Sanzio resgata a saga vivida pelos escravos e seus descendentes no Brasil

Isabela Azevedo - Da Secretaria de Comunicação da UnB

A África deu ao Brasil receitas, palavras, utensílios de cozinha, tradições, a capoeira e montou a mão de obra que construiria o país. Em troca, recebeu preconceito. Até hoje os descendentes de escravos fugidos precisam lutar por reconhecimento e direito à terra. Essa saga de 400 anos está contada na exposição O Brasil Africano: Diáspora – Quilombos – Território – População, organizada pelo professor Rafael Sanzio, do Departamento de Geografia da UnB. A mostra, que está no Museu da República até 13 de junho, resgata a história dos quilombos e mostra o drama fundiário vivido por muitas comunidades quilombolas, ameaçadas por fazendeiros e grileiros.
A exposição traz fotos em preto e branco de comunidades africanas e quilombolas, além de mapas que mostram a trajetória percorrida no Brasil pelos escravos e afrodescendentes. São 25 peças que contam tanto a história da vinda dos escravos quanto a influência da cultura africana no Brasil.
O Brasil abriga mais de 3 mil comunidades quilombolas. Dessas, menos de 300 são titulares da terra que ocupam, como determina a Constituição Federal. Mesmo aquelas que são proprietárias do território ainda enfrentam a ameaça de fazendeiros e posseiros. “Na maioria das comunidades, a origem da terra é contada pela tradição oral. Não há documentos. Isso dá margem a conflitos intensos nessas regiões”, explica Rafael, um dos maiores especialistas brasileiros no tema e diretor do Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (CIGA/UnB). “Terra é fator essencial da identidade”, completa.
A mostra foi montada a partir do livro Quilombos: Geografia Afro-Brasileira – Educação – Planejamento – Territórios. A obra baseou-se no pós-doutorado desenvolvido em 2008 por Sanzio no Museu Real da África Central, em Bruxelas, Bélgica. OBJETIVO PEDAGÓGICO – Quatro estudantes cotistas da UnB vão guiar os visitantes durante a exposição. Convidada a ser uma das monitoras, a aluna do 4º semestre de Relações Internacionais Luana Roeder mudou-se para a África quando tinha seis anos, por causa da mãe, ativista de uma ONG. Morou durante dois anos em Angola e outros dois na Namíbia. “Se quase metade da nossa população é afrodescendente, temos que ter uma educação voltada para a África. Essa exposição é uma forma de cortar o preconceito pela raiz entre as crianças que visitarão o museu”, opina.
“Todos nós somos africanos em algum nível. Nosso grande problema é o preconceito. O Brasil foi o país mais escravocrata do mundo e a discriminação ainda impera”, argumenta o diretor do CIGA. Durante a noite, imagens da exposição serão projetadas nas paredes externas do Museu da República.
PESQUISA – O livro que deu origem à pesquisa traz um panorama dos ciclos econômicos durante os períodos colonial e imperial, e sua influência na formação das comunidades quilombolas. Quase quatro milhões de escravos trazidos ao Brasil entre 1520 e 1850 implementaram técnicas avançadas de agricultura, pecuária, mineração, medicina, nutrição, tecelagem, metalurgia e cerâmica. O grupo de pesquisa coordenado por Rafael coletou dados no Chile, em Portugal, França, Bélgica, Holanda, Itália, Angola, Costa do Marfim e Brasil. O diretor do CIGA prepara novo livro sobre o tema, aprofundando o estudo cartográfico dos quilombos, para ser lançado em 2011.
O geógrafo formado pela UnB Rodrigo Vilela é um dos pesquisadores do CIGA e percorreu várias comunidades quilombolas desde 2005, quando passou a se dedicar ao tema. Ele foi um dos responsáveis pela criação dos mapas expostos no Museu da República. “Para mim, fazer parte dessa pesquisa é uma forma de contribuir para a formação cidadã”, observa.
O evento também conta com a exposição do vídeo-documentário O Brasil Africano I, que aborda a geografia e a historiografia africana, ciclos econômicos coloniais e imperiais no Brasil, os territórios de resistência dos antigos quilombos e o contexto territorial das comunidades tradicionais quilombolas. O filme será exibido no auditório 2 do Museu da República às 19h do dia 21 de maio. A exposição fica em cartaz até 13 de junho. O Museu da República funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 17h.

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