Estudo analisou 182 propagandas e entrevistou 691 pais de crianças de até 12 anos. Os resultados mostram que os pais são excessivamente confiantes na capacidade dos filhos resistirem a persuasão
Francisco BrasileiroDa Secretaria de Comunicação da UnB
Pais de crianças pequenas precisam ficar atentos ao modo como as propagandas influenciam seus filhos. Estudo da Universidade de Brasília identificou 21 estratégias para convencer os pequenos a comprarem produtos em 54 propagandas exibidas durante intervalos de um programa infantil de grande audiência. Mais da metade dos anúncios eram de brinquedos, mas havia também de roupas e lanchonetes. A pesquisa entrevistou ainda 691 pais de crianças de até 12 anos e constatou que a maioria acredita que os próprios filhos são muito menos influenciáveis às táticas do que os filhos dos outros.
Uma das perguntas do questionário pedia que eles classificassem os próprios filhos, os filhos de amigos e os filhos de outros com relação ao grau que a publicidade influencia o consumo das crianças. Em uma escala que variava de 1 (não influencia) a 10 (influencia totalmente) a média das respostas ficou em aproximadamente cinco no primeiro caso, sete no segundo e oito no último. “As questões incluíam perguntas sobre quanto de mesada os filhos ganhavam e as influências positivas e negativas que eles vêem na exposição dos filhos à televisão”, explica o psicólogo Fábio Iglesias, coordenador do estudo. Segundo ele, um resultado mais completo – com 1,5 mil pais – será divulgado antes do próximo dia das crianças.
ANÚNCIOS - A amostra completa de propagandas analisadas incluiu também os anúncios que se repetiram durante as duas semanas anteriores ao dia das crianças do ano passado – o que totaliza 182 peças. As táticas associação, controle do fluxo de informação, justificativas placebo, apelo vívido, distração e humor positivo apareceram em todas, mas ficaram de fora da análise. “A nossa ideia foi fazer uma comparação entre as propagandas, por isso não fazia sentido usar essas, que foram iguais para todos”, explica Stela Lemos, aluna do curso de psicologia que participou do estudo. Dentre as demais se destacaram as de definição de critério de decisão, consenso social, contar uma história e modelagem social.
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Marcelo Jatobá e Ana Grilo/UnB Agência
Para identificar as estratégias a equipe partiu de uma lista de táticas pré-definidas na literatura especializada. A análise foi repetida duas vezes: uma feita por Stela em parceria com o professor Fábio e outra realizada por Lucas Caldas, também aluno da psicologia. “Depois confrontamos as duas análises e fizemos as modificações necessárias”, conta Stela.
Para o professor Fábio, a pesquisa vem acrescentar conhecimento ao debate. “Se fala muita besteira sobre o assunto e ainda existem poucos estudos”, afirma. “Com dados como esse, é possível orientar a criação de políticas públicas para a área”. Ele acredita que a culpa pelo consumo desenfreado entre as crianças não deve ser colocada inteiramente na publicidade. “Vários fatores influenciam, é preciso saber, por exemplo, como a criança está na escola ou se está assistindo muita televisão”, pondera.
O estudo foi financiado por uma parceria da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) com o Instituto Alana.
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