Globo demite autores e entra em 2024 à procura de talentos para escrever novelas
Direção de Dramaturgia do canal comete equívocos que carecem de respostas
Cena do remake de Renascer; Globo terá um 2024 agitado para organizar suas novelas - Foto: Fábio Rocha/Globo
A Globo vai entrar em 2024 com uma demanda importante para resolver, a partir de uma série de equívocos que ela mesmo cometeu em sua dramaturgia. Com escassez de autores, o canal da família Marinho se move com urgência para definir as próximas novelas das 18h, 19h e 21h, depois de enxugar seu banco de roteiristas, a exemplo do que fez com o casting.
Os três horários contam com no máximo três novelas programadas, o que dá uma margem pequena de dois anos. A faixa das nove, por exemplo, terá a releitura de Renascer, Mania de Você e o remake de Vale Tudo na sequência de Terra e Paixão. Não se sabe o que virá depois. O destino de Gloria Perez é uma incógnita.
Às 19h, a Globo aprovou Família é Tudo como sucessora de Fuzuê, mas ainda não cravou Conta Comigo, de Mauro Wilson, o mesmo autor de Quanto Mais Vida, Melhor!. Apesar de constar no plano comercial divulgado no Upfront 2023, a trama ainda não é uma certeza, o que abre brechas para as sinopses de Claudia Souto e Maria Helena Nascimento (como adiantou Duh Secco).
Mas é às 18h que reside a maior preocupação. Mário Teixeira volta ao vídeo com No Rancho Fundo pouco mais de um ano depois do fim de Mar do Sertão. Com o cancelamento de O País de Alice, de Lícia Manzo, a fila foi pelos ares. Alessandra Poggi, autora de Além da Ilusão, pode suceder a substituta de Elas por Elas.
A situação do primeiro horário de inéditas é peculiar, pois a falta de autores e, na opinião da direção da Globo, de boas histórias faz com que o canal corra contra o tempo para formar novos roteiristas. Veteranos como Ricardo Linhares, Duca Rachid e Rosane Svartman foram convocados para lapidar esses talentos.
Na lista, constam autores de séries, como Carla Faour e Julia Spadaccini (Segunda Chamada), Renata Corrêa (Rensga Hits!), Martha Mendonça e Nelito Fernandes (Filhas de Eva) e Jaqueline Souza e Renata Martins (Histórias Impossíveis), e colaboradores de algumas tramas, como Wendell Bendelack, Cleissa Martins, Dino Cantelli e Mariani Ferreira.
Globo busca autores ao mesmo tempo que promove demissões e recusa projetos
O movimento para formar novos autores é legítimo, mas chama a atenção os atropelos cometidos pela direção de José Luiz Villamarim. Se por um lado a Globo desloca roteiristas para outras funções, do outro, demite talentos e recusa sinopses.
Além de Lícia Manzo, a emissora engavetou um projeto de Thelma Guedes em parceria com Thiago Dottori. Também recusou sinopses da dupla Marcílio Moraes e Flávio de Campos e de Christiane Fridman e Vivian de Oliveira. O Grande Golpe, de Ricardo Linhares e Maria Helena Nascimento, virou lenda.
Uma ideia de Vincent Villari, que escreveu Ti-Ti-Ti, Sangue Bom e A Lei do Amor, entre outras, ao lado de Maria Adelaide Amaral também não prosperou, a exemplo de trabalhos de Paula Amaral, Isabel de Oliveira, Marcos Bernstein e Daniel Adjafre.
Nomes gabaritados, como Alcides Nogueira e Elizabeth Jhin simplesmente tiverem os contratados encerrados. Já Maurício Gyboski, colaborador de alguns folhetins de Aguinaldo Silva, tenta mais uma vez vender seu peixe e aguarda um posicionamento do canal.
Há curiosidades também quanto ao nome de Carlos Lombardi, disponível desde que deixou a Record, em 2017. Há algum veto pesando contra o autor de Quatro por Quatro, Uga Uga e Kubanacan? E por que a dupla George Moura e Sergio Goldenberg não emplaca nada além da faixa das 23h e do Globoplay?
A Globo também não deu maiores detalhes se ficou interessada ou recusou a sinopse apresentada pelo diretor Jayme Monjardim, focada em romeiros e disputas familiares. O profissional entregou o argumento na expectativa de a emissora repassá-lo a algum autor.
Diante de tantas incertezas e perguntas sem respostas, a Globo necessita superar essa fase em que remake virou a solução para tudo. É preciso investir em novos talentos, mas ao mesmo tempo valorizar os que contribuíram para a dramaturgia da emissora até aqui. Essa dependência em Mário Teixeira, Rosane Svartman e Walcyr Carrasco também limita muita coisa.
Por João Paulo Dell Santo
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