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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca
Anúncios em sites de emprego exigem variante europeia do idioma. Engenheira
descarta enviar currículo: ʽDiscriminação contra a Comunidade dos Países de
Língua Portuguesaʼ
Profissionais brasileiros têm revelado a obrigatoriedade como fator eliminatório e se queixado de discriminação. Apuração do Portugal Giro confirmou anúncios com a exigência, tanto em sites de busca quanto em publicações no LinkedIn. As vagas são para funções variadas no atendimento ao cliente, telemarketing, marketing digital, trabalhos administrativos, análise de mercado, consultoria de apostas e manutenção de automóveis, entre outros. A engenheira civil Mônica Branco vive desde 2022 em Portugal e notou que a exigência ficou mais evidente desde o fim de 2024. À procura de trabalho, encontrou vários anúncios com o requisito e diz que ficou indignada.
— Já vi diversas vezes, de meados de dezembro em diante, anúncios nestas áreas e com a exigência "FLUENTE PORTUGUÊS EUROPEU (obrigatório)". É assim que vêm os anúncios — disse ela.
Em busca de vagas para cargos no setor comercial, mais especificamente para vendas especializadas, gestão administrativa e de negócios, assistente executiva e secretária executiva, ela afirma que nem envia o currículo:
— Eu nunca enviarei porque é uma forma de as empresas peneirarem. A única população que fala português com sotaque europeu é a de Portugal. Ao colocar a exigência obrigatória, o empregador já diz que só aceita empregados portugueses ou pessoas que foram criadas aqui. A empresa está dizendo que não aceita imigrantes. É assim que interpreto: discriminação contra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Especializada em recolocação profissional de brasileiros em Portugal, a brasileira Cláudia Pinheiro vive em Portugal e disse à coluna ter ficado surpresa. Ela também fez pesquisa e encontrou anúncio com a exigência.
— Com relação à Legislação, parece realmente uma exigência discriminatória. Mas em algumas áreas, como a jurídica, quando coloca o perfil para (contratar) um advogado, exige formação em universidade portuguesa, já para eliminar quem fez a formação fora, ainda que tenha registro na Ordem. Também é uma forma de discriminação — disse ela.
O artigo 26.º da Constituição garante os direitos pessoais e protege legalmente “contra qualquer forma de discriminação”. Com base neste texto da Carta, o artigo 240 do Código Penal, assegura proteção aos “bens jurídicos, identidade cultural e integridade pessoal”.
Na prática, é diferente. Ainda que os brasileiros sejam a maioria dos trabalhadores estrangeiros em Portugal, empresas mantêm o veto ao idioma “brasileiro”.
— Normalmente, não vejo este requisito e fiquei surpresa, porque temos brasileiros em todas as áreas possíveis. O que eu acho é que, para quem vai trabalhar muito com atendimento ao cliente, pode ser exigência — disse Pinheiro.
Especialista em preparar brasileiros para o mercado internacional, Pinheiro explica que a comunicação com o cliente português pode ser difícil no início para quem trabalha na área do atendimento.
— É neste sentido para vagas que exigem uma comunicação mais fluente com o cliente. A gente que é brasileiro, no início, para entender uma ligação no telefone com o português europeu é difícil. Eu levei tempo. Morria de medo de falar ao telefone — contou.
Cláudia sugere aos brasileiros que façam curso e diz que há universidades em Portugal com aulas preparatórias:
— O uso verbal é diferente. Então, é preciso entender o uso dos verbos, pronomes e palavras diferentes. Não quer dizer que vai fazer o sotaque de Portugal, que eu vejo (as pessoas) fazendo e não há o menor sentido.
Empresas de Portugal têm discriminado a variante do idioma português escrito e falado no Brasil nas vagas que são publicadas em sites de emprego. A versão europeia é exigida como obrigatória.
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