Manoel da Costa Ataíde: Nossa Senhora rodeada de anjos músicos. Forro da Igreja de São Francisco, Ouro Preto
A festa do Rosário de Nossa Senhora no Brasil está ligada a grupos negros que realizam os autos populares conhecidos pelos nomes de Congada, Congado ou Congos. Por essa vinculação aos negros, o Congado se tornou também uma festa de santos de cor, como São Benedito e Santa Efigênia. Embora alguns autores atribuam a gênese do Congado a uma influência européia, ligando-a às lutas religiosas da Idade Média, a hipótese mais forte é que defende a origem afro-brasileira do culto. É importante lembrar que o processo de catequese, através de missionários dominicanos, levara Nossa Senhora do Rosário à África, impondo seu culto aos negros. O acréscimo dos elementos de coroação de reis, lutas e bailados guerreiros é a contribuição africana, numa rememoração das práticas da Terra-Mãe. Mas o traço decisivo da criação do Congado ocorrerá no Brasil colonial, através do processo aculturativo: de um lado, o modelo religioso do branco, de outro, a recriação do negro. Para os Arturos, a festa do Rosário é uma das fases mais importantes para a vida da comunidade, representando o movimento máximo da concretização do amor à Grande Mãe. Há dois grupos nitidamente distintos: as guardas de Congo e Moçambique. A caracterização das guardas pode ser feita através dos seguintes elementos: fundamentação mítica, função, vestuário, símbolos condutores, instrumentos distintos, tipo de movimento e de dança, linguagem dos cantos. Pela fundamentação mítica, as guardas se formaram ainda na África, quando uma imagem de Nossa Senhora do Rosário apareceu no mar. O grupo do Congo se dirigiu para a areia e, tocando seus instrumentos, só conseguiu fazer com que a imagem se movesse uma vez: num movimento rápido, Nossa Senhora se encaminhou para a frente e parou. Então vieram os negros moçambiqueiros, batendo seus tambores recobertos com folhas de inhame, cantando para a Santa e pedindo-lhe que viesse para protegê-los. A imagem veio se encaminhando, no movimento do vai-vem das ondas, lentamente, até chegar à praia. |
A linguagem do Congo expressa a religiosidade e a vida mais recente do grupo, através dos cantos que lembram os problemas sociais com o poder público e a Igreja, a história de guardas visitantes e as brincadeiras ou bizarrias. A estrutura do canto é fixa, limitando-se às improvisações. "Negras Raízes Mineiras: Os Arturos". Juiz de Fora: Editora da UFJF/MINC, 1998. Arturos: Olhos do Rosário". Belo Horizonte: Mazza Edições, 1990 (textos sobre fotografias de Marcelo Pereira). Encontro com o Folclore http://www.unicamp.br/folclore/folc6/festa_rosario.html |
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