quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Maranhão 66 - Perturbadora atualidade Glauberiana

 Quarenta e cinco anos depois, acho que já cansei deste Redentor.
"Palavras são palavras, nada mais do que palavras. E tenho dito".
Prefeito “Valfrido Canavieira”, encarnado pelo inesquecível Chico Anysio.

Por Vitor Leão

Este filme, Maranhão 66, com pouco mais de 10 minutos de duração é marcante na carreira de Glauber Rocha, embora naquela altura (1966) ele já fosse o autor de O Pátio, Barravento e Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Trata-se de um documentário historicamente muito falado e pouco assistido.
Contratado pelo produtor Luiz Carlos Barreto (pago por Sarney), Glauber documentou a posse de José Sarney, um político jovem que não deixava de representar a renovação, como governador do Maranhão eleito contra a oligarquia de Vitorino Freire no Estado.
Glauber aceitou o empreendimento, mas, no exercício crítico que nunca abandonou, entremeou os atos da posse de Sarney com flagrantes da miséria maranhense. Vejam por que, 45 anos depois, o Maranhão continua campeão da miséria social. E o Sarney hoje..., bem, vocês sabem.
Ao longo do filme, temos o som do discurso barroco e lírico de Sarney, mesmo quando a posse é entremeada por cenas da miséria local.
Depois, Glauber rodou o também barroco Terra em Transe, uma genial denúncia sobre a demagogia política. Nesse filme, ele aproveitou outras cenas que sobraram de Maranhão 66, como as ovações de massa popular a político demagogo.
O Sarney? Até hoje deve adorar o filme, pois é uma peça histórica com a grife Glauber Rocha.
Bom proveito.

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PIB per capita segundo as unidades da federação - 2008
Em 2008, oito estados brasileiros tiveram o PIB per capita acima da média brasileira, que foi de R$ 15 989,75; Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso, todos os estados da Região Sul, três da Sudeste e dois da Centro-Oeste. O Distrito Federal que tem o maior PIB per capita brasileiro, R$ 45 977,59, representa quase três vezes a média brasileira e quase o dobro de São Paulo, R$ 24 456,86, o segundo maior. Entre os estados com PIB per capita menor que a média nacional, o Piauí com R$ 5 372,56 de PIB per capita situa-se como o de menor valor, cerca de 30,0% do valor do PIB per capita brasileiro. O Maranhão tem o segundo menor PIB per capita, R$ 6 103,66, apesar de ser o 16o maior PIB brasileiro em 2008, tem a décima maior população brasileira.
Fonte: IBGE - Contas Regionais do Brasil 2004-2008, pag. 22
Tabela 5 - Produto Interno Bruto, população residente e Produto Interno Bruto per capita, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação - 2008

Veja aqui também a lista do IBGE de estados do Brasil por PIB per capita
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_estados_do_Brasil_por_PIB_per_capita


Posição

em 2008    Estado        PIB per capita em R$
25                          Alagoas      6.227
26                          Maranhão    6.104
27                          Piauí           5.373

MARANHÃO 66


No palanque, José Sarney falou ao povo com tom poético. "O Maranhão não suportava nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes e de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome", disse quando assumiu o governo daquele estado dois anos após o golpe de 64. Para registrar o momento, o ex-presidente chamou Glauber Rocha, que completaria 70 anos no último dia 14. A ousadia rendeu surpresas. Rejeitado no discurso, o contraste explode em ‘Maranhão 66', curta-metragem resultado da inusitada parceria.

No filme, as promessas de Sarney servem como uma estranha trilha sonora para as imagens, que se alternam entre cenas de extrema pobreza e tomadas da posse. Em 1966, Glauber Rocha já era um dos cineastas de maior destaque nacionalmente e começava a preparar "Terra em transe", lançado um ano depois. A experiência de seguir de perto uma campanha eleitoral influenciou diretamente o filme posterior.

Glauber usou dois planos de 'Maranhão 66' no 'Terra em transe'. Curiosamente, são as cenas de comício do líder populista Felipe Vieira. "Em algumas tomadas de multidão, ele insere imagens reais de campanha política, mas a montagem é feita de forma que ninguém percebe", explica Ivana Bentes, organizadora de "Cartas ao mundo", livro com correspondências do diretor baiano.

Mesmo feito sob encomenda, ‘Maranhão 66’ não abre espaço para condescendências. “O Sarney não era o Sarney de hoje. Era uma aposta, um político jovem. No filme, Glauber confronta o discurso Sarney com a situação real do Maranhão. Funciona como um contraponto. Dificilmente se vê promessas assim em cima de imagens tão fortes”, diz Ivana.

Em entrevista ao Jornal do Brasil em 1981, José Sarney reconheceu a subversão de Glauber Rocha. “Ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza (...) e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse (...) como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado”, afirmou.

Mas o tom de denúncia não afetou as relações entre ambos. Em 1986, como presidente da República, José Sarney ajudou a família do cineasta a conseguir o terreno para o Tempo Glauber, espaço de memória dedicado ao ícone do cinema novo.

Atualmente, José Sarney é Senador e, volta e meia, vê seu nome ligado à denúncias de corrupção. Se no cenário político não foram tantas as mudanças, a cobertura dos fatos está longe de ser a mesma. Hoje, a rede de mídia da família Sarney, o Sistema Mirante de Comunicações, acompanha o governo do Maranhão com olhar deveras menos crítico do aquele registrado em “Maranhão 66”.

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