As primeiras bandeiras adentraram o planalto central ainda no sec. XVI, vindas dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Já em 1682, sob o comando de Bartolomeu Bueno da Silva, chegaram até o Rio Araguaia atrás de índios de diversas etnias que até então habitavam estas terras. Estas bandeiras escravizavam os índios e os transportavam para os engenhos do sudeste e norte do país. Num segundo momento os Bandeirantes passaram a realizar incursões atrás de minas de ouro, onde muitos se estabeleciam (VAZ, 2009). Com o surgimento dos primeiros povoados foram criadas rotas de transportes de mercadoria entre estes e o sudeste. Assim, movimentações de tropeiros que transitavam entre os povoados de Vila Boa (Cidade de Goiás), Meia Ponte (Pirenópolis), Bomfim (Silvânia), Corumbá de Goiás e Santa Cruz deram origem à povoação das margens do Rio das Antas ainda no século XVIII. Mas as áreas banhadas por este rio e seus tributários não forneciam o cobiçado ouro, produto do lendário Eldorado Brasileiro. Então, o que atraiu os forasteiros a esta remota área do planalto central? Por que este era considerado um lugar de descanso? O que o Rio das Antas oferecia que saltava aos olhos dos que por aqui passavam?
Os registros sobre o Rio das Antas remontam ao início do século XIX. Estes evidenciam o que de fato atraiu os primeiros moradores que aqui se instalaram e revelam a intensa ligação entre essas pessoas e a exuberância do vale das Antas. Os escritos do francês Auguste de Saint-Hilaire, datados de 1819, constituem nos mais antigos registros escritos sobre a origem de Anápolis, onde nas páginas 191, 192 e 193 ele diz:
[...] a tres leguas de Forquilha, apeei-me na Fazenda das Antas, situada acima do rio do mesmo nome, ainda um dos affluentes do Rio Corumbá. Essa fazenda era um engenho de assucar que me pareceu em pessimo estado, mas da qual dependia um rancho muito limpo e bastante grande, no qual nos alojámos. Como o de Areas, de que fallei num dos capítulos precedentes (28), este rancho estava cercado de grossos mourões da altura de um homem, que formavam uma espécie de parede e preservavam os viajantes da visita muito importuna dos cães e dos porcos.
[...] Depois de ter deixado a Fazenda das Antas, vi alguns campos onde a terra, de um cinzento amarellado, não produz sinão arvores pouco 31 numerosas, pertencentes a especies corriqueiras e que attingem apenas a metade da estatura corrente.
[...] Então fiquei bastante surpreendido de ver massiços de arvores em algumas elevações, pois que não se encontram ordinariamente sinão nas partes baixas do terreno.
Observe os elementos naturais e as informações geográficas registradas pelo autor. Já neste tempo ele chama o Antas de Rio (Rio das Antas e não Ribeirão das Antas) e o identifica como um afluente do Rio Corumbá. Também é destacada a presença de Cães e Porcos do mato que invadiam as moradias da região à época. Percebe-se também a prevalência de duas fitofisionomias comuns na região: as exuberantes matas ciliares ao longo dos canais fluviais que, em certos pontos, se projetavam até as áreas mais altas do relevo, se entremeado com o Cerrado, predominante nestas áreas. Já em março de 1844, o naturalista francês Francis Castelnau e sua equipe, quando perderam-se da estrada que ia de Bomfim para Meia Ponte, relatou o seguinte:
Ao raiar do dia nos achávamos numa formosa paragem, cheia de agradável vegetação, onde se viam tucanos em grande número, refugiados nas árvores. Nossos companheiros gastaram todo o dia em percorrer o campo à procura da estrada, surpreendendo-os assim a noite. Os guias tinham perdido o caminho e não houve outro remédio senão acamparmos ao ar livre, num lugar próximo da cabeceira de vários córregos afluentes do Corumbá. ... No dia 17 os viajantes tiveram apenas, como almoço, carne de tucano. Enquanto comiam, os tropeiros estavam na perseguição dos burros transviados, só alcançaram, porém, após légua e meia de marcha. ... Continuaram no dia 18 a procurar ainda a estrada real, que afinal conseguiram descobrir. Saindo da fazenda, atravessa-se um bonito ribeirão chamado Antas, nome também da localidade. Lança-se este no Rio Corumbá (CASTELNAU, 1949, pag. 216).
As descrições de Castelnau destacam a beleza do Rio das Antas e faz menção à grande quantidade de tucanos encontrados na região. Também é possível perceber que o naturalista deixa claro que a sede da Fazenda das Antas não estava na rota que ligava Bomfim à Meia Ponte, ou estas à cidade de Vila Boa. Significa então que os atributos ambientais faziam com que os viajantes mudassem suas rotas para se estalarem no rancho da Fazenda das Antas.
O pernambucano Oscar Leal, em sua obra “Viagem às terras Goyanas – Brasil Central”, quando em passagem pelo Vale do Antas, em1887, suspira:
Antas!!! Sepultada no meio do deserto, longe das grandes estradas que ligam a capital goiana (Vila Boa) às principais praças do sul do Estado, a vila ou povoação das Antas surge à vista do forasteiro, depois que se desce a chapada, em extenso vale, cercado de um muitíssimo, tão belo e sedutor arvoredo que seria o bastante para ali fundarem um estado os poetas da antiga Babilônia. Na vila das Antas há meia dúzia de pessoas com as quais se pode travar conversação e uma destas é o Sr. José Batista... Consta de duas ruas paralelas que atravessam o largo da matriz, a qual fica situada bem no centro da povoação... Sua população, segundo os meus cálculos na falta de estatística, orça por uns 800 habitantes... Tem umas seis lojas de fazendas mal sortidas e algumas tabernas que vendem fumo, cachaça e mantimentos. O clima é saudável e as águas magníficas (LEAL, 1887).
Quando Leal passou pelo Vale das Antas muito já havia mudado em relação à paisagem natural de 150 anos antes, quando provavelmente se instalaram os primeiros moradores na região (provavelmente na primeira metade do sec. XVIII). Aquele era um momento histórico, de diversas transformações na pequena Vila das Antas (Vila de Santana ou Freguesia Santana dos Campos Ricos), já que estavam presentes dois grandes ícones da história de Anápolis, Zeca Batista e Souza Ramos. Com aproximadamente 800 habitantes em 1887 o povoado estava prestes a se tornar município e, em 1907, passaria a ser chamada Anápolis. Desde então muitas foram as transformações no cenário ambiental que encantou por várias décadas a todos que por aqui passava, mesmo os mais acostumados com as exuberantes paisagens do Brasil.
Num outro relato, de 1935, a abundância da fauna do vale do Antas e cercanias ainda pode ser notada, porém já se percebia a intensificação de sua degradação em função da instalação da via férrea no município. A essa altura, além de não se ver mais relatos sobre as antas, também os porcos do mato estavam sendo dizimados para a retirada e exportação de suas peles. Estes são relatos de memórias da americana Joan Lowell. Quando mudou para Goiás, vindo morar próximo à Anápolis, quando registrou o seguinte:
[...] Pela trilha, vinha vindo uma tropa de bestas. Pedimos ao tropeiro que viesse falar conosco. Cada animal tinha um carregamento de peles negras. Eram peles de porcos do mato.
- Que vai fazer com elas? Há mercado para essas peles?
- Vamos levá-las até a estação e, de lá, seguem para São Paulo. De São Paulo vão para um lugar chamado Alemanha.
- Para que usam os alemães essas peles?
- Não sei ao certo. Ouvi dizer que fazem máscaras contra gás venenoso. A pele de porco do mato é tão grossa que o ar venenoso não passa por ela.
[...]
Naquele sertão pouco conhecido os caçadores tinham encontrado um negócio da China. Apenas com espingarda calibre 28, dizimavam manadas de porcos do mato (LOWELL, 1935, pag. 62).
Nesse processo histórico, o espaço do Vale das Antas foi marcado pela exploração dos recursos naturais destinados ao fornecimento de matérias-primas, à substituição das coberturas vegetais naturais pelas culturas de algodão, que dominaram as paisagens de Bom Fim, da qual o vale fazia parte. É preciso destacar que no início do sec. XX, a já então cidade de Anápolis, se tornou num grande produtor e distribuidor de café e arroz do centro oeste para o sudeste e países industrializados. Embora o desenvolvimento tecnológico tenha resultado em melhorias, desencadeou, por conseguinte, uma mudança ambiental significativa com a devastação das coberturas vegetais naturais, e consequente diminuição da biodiversidade local, para o estabelecimento de plantações e o crescimento da mancha urbana.
É importante notar como o espaço geográfico, com seus elementos naturais, atrai o homem, e este, como que insatisfeito, modifica o espaço ao seu modo. Nessa direção, os elementos constitutivos da paisagem natural contribuem para a compreensão dos processos de produção do espaço no qual se estruturou a cidade de Anápolis. Pois, segundo Santos (1997, pag. 51) “o espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoados por sistemas de ações igualmente atribuídos de artificialidades e cada vez mais tendentes a fins contrários à paisagem natural”.
1 DIONE INÁCIO DA SILVEIRA PRESSÃO URBANA SOBRE AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RECURSOS HÍDRICOS – UM ESTUDO DE CASO DA MICROBACIA DO RIO DAS ANTAS, ANÁPOLIS, GO. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente do Centro Universitário de Anápolis – UniEvangélica como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais. Anápolis – GO 2015
http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/240/1/Dione%20In%C3%A1cio%20da%20Silveira.pdf
Quando existiram as antas por estas bandas. Anta em Cerrado devastado pelo agronegócio
O Tapirus terrestris, nome científico da anta, é o maior mamífero brasileiro. Sua origem remonta 50 milhões de anos, das espécies sucedãneas dos dinossauros extintos, surgidas na época da pangéia, quando a Austrália se desligava da Antártida, entre outros movimentos de afastamento dos continentes.
Sua ocorrência no planalto central brasileiro está ligada a existência de matas densas como a vegetação do mato grosso goiano, identificadas como manchas de mata atlântica, diferenciadas das grandes extensões de cerrado do tipo savana onde dominam planícies abertas de pequenos arbustos e típicas árvores retorcidas, com a presença de nascentes de água formando veredas de buritis.Herbívoras, são consideradas as jardineiras da natureza pela importante função dispersora de sementes ao caminhar longas distancias alimentando-se de frutos e espalhando sementes a partir de seus excrementos.
Por ser um animal de grande porte,seu corpo mede de 1,70 a 2,00 m e pode pesar até 300 kg. Sua coloração é marrom escura e o focinho tem uma pequena tromba móvel. Nas patas anteriores possui quatro dedos e nas patas posteriores três dedos. herbívoras
Além da importante função de dispersora de sementes, sua passagem pela paisagem vai formando caminhos naturais, aproveitado pelos antigos povos autóctenes na formação dos peabirus.Os peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes do descobrimento pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente.
Ser um animal de grande porte na savana aberta é um perigo por causa dos predadores, inclusive os hominidaes. Buscar as matas facilita a sobrevivência, inclusive dos filhotes, que até uma certa idade mantém listras na pelagem assemelhando-se a folhagem.
As fêmeas têm um filhote por gestação. Os filhotes nascem com uma camuflagem de listras e manchas que desaparece até os 8 meses de vida.Frequenta diversos ambientes florestais, desde que se sinta segura nessas áreas. Tem hábitos solitários e geralmente é vista durante a noite.
Historia de Anápolis
1365 palavras 6 páginas
História de Anápolis
Em 1819, o viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, hospedou-se na região, a qual mencionou de Fazenda das Antas. Um conhecido desbravador da região, o marechal Raimundo de Cunha Matos, chegou a afirmar em suas andanças a citada propriedade, encravada no rio das Antas, nome este por sinal, face o local na época ter grande quantidade de antas.
A origem dessa localidade é quase certa que fica nas redondezas do Córrego Góis, Ribeirão das Antas, Córrego dos Nunes, Córrego Capuava, Córrego Cesário, Córrego Água Fria, Córrego João de Aí, tinha como residência os senhores Joaquim e Manuel Rodrigues dos Santos, José Inácio de Sousa, Manuel e Pedro Rodrigues (Roiz), Camilo Mendes de Morais, Manuel Rodrigues da Silva, todos lavradores e mais comunidade por volta de 1865. Por ser um local aprazível, com bom pasto e muita água, tornou-se logo um ponto de encontro entre viajantes e tropeiros surgindo em seguida casas e palhoças.
Percorrendo a extensa faixa de terras entre Jaraguá e Silvânia, alguns viajantes fixaram ali residência, principalmente na cabeceira do rio/riacho das Antas
A representação de Raimundo José da Cunha Mattos sobre a Província de Goiás na Corografia Histórica da Província de Goiás (1874) revela que a Província de Goiás fora: “descoberta, e povoada por aventureiros, que só procuravam riquezas”
Anta em Cerrado devastado pelo agronegócio
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