terça-feira, 5 de outubro de 2010

Reflexões pós eleição na blogosfera

http://napraticaateoriaeoutra.org/
Marina Silva, Sensacional

Marina Silva passou um batonzinho de beterraba nas minhas previsões e as mandou direto para a zona. A “Onda Verde” foi muito maior do que se pensava, e é coisa de entrar em livro de história.

Eu sabia que ela ia vencer o Serra com tranquilidade no Rio, mas 20% em São Paulo? A mesma porcentagem no Brasil afora, quase uniformemente, concorrendo por um partido marginalmente mais organizado do que o PCO, com vários dirigentes evidentemente piores que os do PCO. Marina Silva foi a candidata que, em 2008, sonhávamos que o Gabeira seria: uma verde que tivesse penetração nas áreas mais pobres.

Meus parabéns à companheira Marina, que sempre foi tratada aqui com todo respeito (podem fuçar o arquivo aí o que vocês quiserem) e vamos ao novo cenário, no qual, inclusive, minha audiência deve permanecer alta por mais um mês.

1.

É óbvio que eu, que voto na Dilma, fiquei puto de não termos fechado no primeiro turno, mas, antes de tudo, sou um amante do bom futebol, e, como depois da final de 98, me resta aplaudir o Zidane. Quando parecia que o nível da campanha ia ser determinado pelas butinadas da Veja, Marina Silva apareceu jogando como gente grande.

No começo desse ano, eu disse: quem tiver 10% para oferecer no final do ano vai ser o sujeito mais poderoso do Brasil, e hoje Marina Silva ocupa essa posição. O cenário ainda é amplamente favorável à Dilma, mas Serra, a essa altura, aceita reflorestar São Paulo espalhando adubo com a cara para ter o apoio da candidata verde.

Diga o que quiser do PT, isso aqui resta inegável: que quadros nós formamos ao longo desses anos, hein? Aí a gente faz umas merdas e alguns deles racham com a gente, mas, de qualquer, maneira, que quadros nós formamos. Se bem que do outro lado tem o Rodrigo Maia e o Índio da Costa, tem que ver isso também.

2.

Resta saber ainda que fatores determinaram a onda verde: se tivermos 20% de ecologistas, as notícias são excelentes. Se tivermos 20% de gente que acredita em spam sobre a Dilma, as notícias são ruins.

Marina sempre teve seus 10%, que ela segurou heroicamente em condições bastante adversas. Essa turma não é do spam, e é uma boa notícia. Nós vamos ter que fazer concessões para atrair essa gente, mas, sinceramente, essa é a pior gente que nós tivemos que atrair, essas serão as piores concessões que já tivemos que fazer? Não.

Mas não há como negar que o spam nas caixas de correio e nos púlpitos teve seu papel, inclusive, creio eu, para colocar o Serra nos 30%, que nunca teria tido. A CNBB do Sudeste orientou voto contra a Dilma, e ontem, no Twitter, o Roberto Jefferson se divertia falando do efeito que teriam os sermões de domingo. O Ex-Blog do César Maia (aliás, prefeito, parabéns por ter ficado na frente do Vaguinho!) no sábado comemorava claramente que a “base” que tinha soltado os spams tinha sido muito mais eficaz do que a coordenação da campanha do Serra.

Os religiosos têm todo o direito de serem contra o aborto, como, aliás, são vários agnósticos e ateus: a discussão sobre a humanidade do feto é extraordinariamente complexa, e jamais poderá ser tratada com leveza. Sou da opinião de que devemos determinar um grau de desenvolvimento do feto a partir do qual o aborto seja proibido, como fazem na Europa, e, dentro do período precedente da gravidez, admitir que não sabemos mais do que ninguém, deixando a decisão para quem estiver na situação de tomá-la. Mas admito que haja gente que prefere jogar na defesa 100% e não correr nenhum risco de cometer um assassinato (vale dizer, isso não se aplica ao caso das células-tronco, em que os opositores da pesquisa claramente cometem assassinatos).

Mas é uma pena que esse problema real, que no mundo todo é uma questão candente, tenha sido tematizado aqui como é nos EUA, na base do escândalo e da débil mental da Monica Serra dizendo que Dilma quer matar criancinhas: vale dizer, considero absolutamente impossível que Monica Serra, que era professora de dança na Unicamp, uma dona toda modernosa, realmente acredite nisso. O que torna a coisa duplamente desprezível.

Mas o jogo é jogado. Vambora.

3.

Minha aposta é que Marina fica neutra no segundo turno. Se ela quiser apoiar alguém, consegue o que quiser. Tanto Dilma quanto Serra aceitam botar uma tribo xavante morando no Palácio do Planalto se for para conseguir o apoio da comadre do James Cameron. Mas acho que ela vai escolher a neutralidade.

Por um motivo simples. Hoje, Marina é mais poderosa que Lula. No dia seguinte à eleição, não é mais. Marina não vai ter força para cobrar os compromissos assumidos agora. Se o Serra oferecer acabar com Belo Monte, dois anos depois a bancada conservadora exige Belo Monte e, daqui a dois anos, o que importa o que pensa Marina?

E tem dois exemplos que devem favorecer a neutralidade de Marina, se ela pensar direito sobre o assunto.

O primeiro é Gabeira. Gabeira produziu a primeira onda verde, que, dentro do eleitorado que disputava, foi maior que a de Marina. Mas assim que fechou com a oposição ao Lula, deixou de ser terceira via, e passou a ser visto – injustamente, penso eu – como um tucano um pouco mais moderno do que a média. Ontem, se não fosse o embalo dado pela candidatura de Marina Silva a todos os verdes, Gabeira poderia ter sido o pior segundo colocado do país.

Torço para que Gabeira saiba ainda se reinventar, mas a decisão de se aliar ao DEM esse ano claramente foi desastrosa, e Marina tem que saber que, se fechar com Serra, é isso que estará fazendo, abraçando a Kátia Abreu.

O segundo exemplo, mais distante, mas talvez mais pertinente, é o exemplo da aliança Conservadores/Liberal-Democratas no Reino Unido. Quando acabou a eleição, era possível formar um governo Trabalhista/Liberal Democrata, bastando para isso incorporar os pequenos partidos nacionalistas. Mas a opinião pública foi radicalmente contrária a isso, porque era claro que o recado das urnas era anti-Labour. Seria ridículo se o voto nos LibDems, que era sobretudo uma expressão de um desejo de mudança, servisse para garantir a continuidade.

No Brasil a situação é inversa. O desejo de continuidade é evidente: Dilma chegou perto da maioria absoluta, Serra colocou o Lula na propaganda, e uma das forças de Marina foi ter sido ministra do Lula. A aprovação do governo é altíssima.

O voto na Marina é um voto de continuidade, com cobrança de ajustes de percurso – muitas das quais perfeitamente apropriadas. Se Marina servir para impor uma derrota a Lula, estará claramente subvertendo o sentido do voto que recebeu. Se ela desse a vitória a Serra, quando o novo governo chamasse a legião de senadores do DEM desempregados para o ministério, ou desse a Agricultura para o Ronaldo Caiado, a marca Marina Silva seria ferida de morte.

Marina entende mais de política do que a gente, e é por isso que ela deu um couro em todo mundo e nós estamos aqui escrevendo blog. Mas, se ela quiser meu conselho, é esse que dou: fique neutra, garanta que o PV não vai usar sua imagem quando negociar seu preço (meu palpite: dois vales-transportes e uma ficha telefônica) com Serra, e vá pra Búzios curtir a praia.

4.

Resumindo: fiquei puto de não termos levado no primeiro turno, mas ficarei felicíssimo de fazer concessões a Marina Silva. De agora em diante, podemos dizer à bancada do desmatamento que o outro lado do debate tem 20 milhões de votos, e isso todo mundo respeita.

Parabéns de novo à candidata verde, e fica meu apelo para que o PT dê uma esverdeada, que será muito bem-vinda.

PS: mais uma vez, derrotado por Amiano Marcelino (agora reforçado pelos sempre alertas Alexandre Nodari e Flávia Cera). Maldito. Eu teria conseguido, se não fosse por esses garotos intrometidos [é a deixa para tirarem minha máscara e descobrirem que eu sou o Japajato].

Marina Silva passou um batonzinho de beterraba nas minhas previsões e as mandou direto para a zona. A “Onda Verde” foi muito maior do que se pensava, e é coisa de entrar em livro de história.

Eu sabia que ela ia vencer o Serra com tranquilidade no Rio, mas 20% em São Paulo? A mesma porcentagem no Brasil afora, quase uniformemente, concorrendo por um partido marginalmente mais organizado do que o PCO, com vários dirigentes evidentemente piores que os do PCO. Marina Silva foi a candidata que, em 2008, sonhávamos que o Gabeira seria: uma verde que tivesse penetração nas áreas mais pobres.

Meus parabéns à companheira Marina, que sempre foi tratada aqui com todo respeito (podem fuçar o arquivo aí o que vocês quiserem) e vamos ao novo cenário, no qual, inclusive, minha audiência deve permanecer alta por mais um mês.

1.

É óbvio que eu, que voto na Dilma, fiquei puto de não termos fechado no primeiro turno, mas, antes de tudo, sou um amante do bom futebol, e, como depois da final de 98, me resta aplaudir o Zidane. Quando parecia que o nível da campanha ia ser determinado pelas butinadas da Veja, Marina Silva apareceu jogando como gente grande.

No começo desse ano, eu disse: quem tiver 10% para oferecer no final do ano vai ser o sujeito mais poderoso do Brasil, e hoje Marina Silva ocupa essa posição. O cenário ainda é amplamente favorável à Dilma, mas Serra, a essa altura, aceita reflorestar São Paulo espalhando adubo com a cara para ter o apoio da candidata verde.

Diga o que quiser do PT, isso aqui resta inegável: que quadros nós formamos ao longo desses anos, hein? Aí a gente faz umas merdas e alguns deles racham com a gente, mas, de qualquer, maneira, que quadros nós formamos. Se bem que do outro lado tem o Rodrigo Maia e o Índio da Costa, tem que ver isso também.

2.

Resta saber ainda que fatores determinaram a onda verde: se tivermos 20% de ecologistas, as notícias são excelentes. Se tivermos 20% de gente que acredita em spam sobre a Dilma, as notícias são ruins.

Marina sempre teve seus 10%, que ela segurou heroicamente em condições bastante adversas. Essa turma não é do spam, e é uma boa notícia. Nós vamos ter que fazer concessões para atrair essa gente, mas, sinceramente, essa é a pior gente que nós tivemos que atrair, essas serão as piores concessões que já tivemos que fazer? Não.

Mas não há como negar que o spam nas caixas de correio e nos púlpitos teve seu papel, inclusive, creio eu, para colocar o Serra nos 30%, que nunca teria tido. A CNBB do Sudeste orientou voto contra a Dilma, e ontem, no Twitter, o Roberto Jefferson se divertia falando do efeito que teriam os sermões de domingo. O Ex-Blog do César Maia (aliás, prefeito, parabéns por ter ficado na frente do Vaguinho!) no sábado comemorava claramente que a “base” que tinha soltado os spams tinha sido muito mais eficaz do que a coordenação da campanha do Serra.

Os religiosos têm todo o direito de serem contra o aborto, como, aliás, são vários agnósticos e ateus: a discussão sobre a humanidade do feto é extraordinariamente complexa, e jamais poderá ser tratada com leveza. Sou da opinião de que devemos determinar um grau de desenvolvimento do feto a partir do qual o aborto seja proibido, como fazem na Europa, e, dentro do período precedente da gravidez, admitir que não sabemos mais do que ninguém, deixando a decisão para quem estiver na situação de tomá-la. Mas admito que haja gente que prefere jogar na defesa 100% e não correr nenhum risco de cometer um assassinato (vale dizer, isso não se aplica ao caso das células-tronco, em que os opositores da pesquisa claramente cometem assassinatos).

Mas é uma pena que esse problema real, que no mundo todo é uma questão candente, tenha sido tematizado aqui como é nos EUA, na base do escândalo e da débil mental da Monica Serra dizendo que Dilma quer matar criancinhas: vale dizer, considero absolutamente impossível que Monica Serra, que era professora de dança na Unicamp, uma dona toda modernosa, realmente acredite nisso. O que torna a coisa duplamente desprezível.

Mas o jogo é jogado. Vambora.

3.

Minha aposta é que Marina fica neutra no segundo turno. Se ela quiser apoiar alguém, consegue o que quiser. Tanto Dilma quanto Serra aceitam botar uma tribo xavante morando no Palácio do Planalto se for para conseguir o apoio da comadre do James Cameron. Mas acho que ela vai escolher a neutralidade.

Por um motivo simples. Hoje, Marina é mais poderosa que Lula. No dia seguinte à eleição, não é mais. Marina não vai ter força para cobrar os compromissos assumidos agora. Se o Serra oferecer acabar com Belo Monte, dois anos depois a bancada conservadora exige Belo Monte e, daqui a dois anos, o que importa o que pensa Marina?

E tem dois exemplos que devem favorecer a neutralidade de Marina, se ela pensar direito sobre o assunto.

O primeiro é Gabeira. Gabeira produziu a primeira onda verde, que, dentro do eleitorado que disputava, foi maior que a de Marina. Mas assim que fechou com a oposição ao Lula, deixou de ser terceira via, e passou a ser visto – injustamente, penso eu – como um tucano um pouco mais moderno do que a média. Ontem, se não fosse o embalo dado pela candidatura de Marina Silva a todos os verdes, Gabeira poderia ter sido o pior segundo colocado do país.

Torço para que Gabeira saiba ainda se reinventar, mas a decisão de se aliar ao DEM esse ano claramente foi desastrosa, e Marina tem que saber que, se fechar com Serra, é isso que estará fazendo, abraçando a Kátia Abreu.

O segundo exemplo, mais distante, mas talvez mais pertinente, é o exemplo da aliança Conservadores/Liberal-Democratas no Reino Unido. Quando acabou a eleição, era possível formar um governo Trabalhista/Liberal Democrata, bastando para isso incorporar os pequenos partidos nacionalistas. Mas a opinião pública foi radicalmente contrária a isso, porque era claro que o recado das urnas era anti-Labour. Seria ridículo se o voto nos LibDems, que era sobretudo uma expressão de um desejo de mudança, servisse para garantir a continuidade.

No Brasil a situação é inversa. O desejo de continuidade é evidente: Dilma chegou perto da maioria absoluta, Serra colocou o Lula na propaganda, e uma das forças de Marina foi ter sido ministra do Lula. A aprovação do governo é altíssima.

O voto na Marina é um voto de continuidade, com cobrança de ajustes de percurso – muitas das quais perfeitamente apropriadas. Se Marina servir para impor uma derrota a Lula, estará claramente subvertendo o sentido do voto que recebeu. Se ela desse a vitória a Serra, quando o novo governo chamasse a legião de senadores do DEM desempregados para o ministério, ou desse a Agricultura para o Ronaldo Caiado, a marca Marina Silva seria ferida de morte.

Marina entende mais de política do que a gente, e é por isso que ela deu um couro em todo mundo e nós estamos aqui escrevendo blog. Mas, se ela quiser meu conselho, é esse que dou: fique neutra, garanta que o PV não vai usar sua imagem quando negociar seu preço (meu palpite: dois vales-transportes e uma ficha telefônica) com Serra, e vá pra Búzios curtir a praia.

4.

Resumindo: fiquei puto de não termos levado no primeiro turno, mas ficarei felicíssimo de fazer concessões a Marina Silva. De agora em diante, podemos dizer à bancada do desmatamento que o outro lado do debate tem 20 milhões de votos, e isso todo mundo respeita.

Parabéns de novo à candidata verde, e fica meu apelo para que o PT dê uma esverdeada, que será muito bem-vinda.

PS: mais uma vez, derrotado por Amiano Marcelino (agora reforçado pelos sempre alertas Alexandre Nodari e Flávia Cera). Maldito. Eu teria conseguido, se não fosse por esses garotos intrometidos [é a deixa para tirarem minha máscara e descobrirem que eu sou o Japajato].

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