sábado, 26 de agosto de 2023

 

É planeta ou não? Há 17 anos, Plutão foi rebaixado a ‘anão’; entenda

"Estou com vergonha da astronomia. Menos de 5% dos astrônomos do mundo votaram. Essa definição 'fede', por razões técnicas", disse Alan Stern, líder da missão New Horizons, da Nasa, à época.

O que define um planeta?

A decisão não foi um ataque à Plutão em específico. O que rolou, na verdade, foi uma redefinição de planeta, de modo que não houvesse uma avalanche de novos planetas com o avanço da exploração espacial.

São três categorias:

  • planetas (os oito grandes mundos, de Mercúrio a Netuno - o que também inclui a Terra)
  • planetas-anões (objetos esféricos, exceto satélites, que não tenha "limpado" a vizinhança ao seu redor)
  • pequenos corpos (todos os outros em torno do Sol)

Assim, pela definição atualizada, um planeta precisa:


  • orbitar o Sol
  • não ser um satélite de outro planeta
  • ser grande o suficiente para gravidade o tornar esférico
  • ser dominante em sua órbita e não compartilhá-la com outro objeto

O "rebaixamento" de Plutão não ocorreu apenas por seu tamanho, mas por não ser capaz de "limpar sua órbita": ao redor dele há vários objetos.

Isso acontece porque sua gravidade não é forte o suficiente para atraí-los, como ocorre com planetas tradicionais. E, embora cumpra os três primeiros requisitos, não é o objeto principal de sua órbita, que se cruza com a de Netuno.

O ex-planeta tem cerca de 2.370 km de diâmetro — ele é menor que a Lua (3.470 km) e até "caberia" em cima do Brasil. Se desse para fazer uma viagem de carro ao redor do equador de Plutão, ela terminaria em cerca de cinco dias. Mas é o maior dos "anões" conhecidos, o que reforça o limbo do rebaixamento.

Pode voltar a ser planeta?

Perspectiva de Plutão, baseada em imagens de alta resolução feitas pela espaçonave New Horizons, em 2015
Perspectiva de Plutão, baseada em imagens de alta resolução feitas pela espaçonave New Horizons, em 2015Imagem: Nasa/Divulgação via Reuters

A discussão ganhou novos argumentos com a missão New Horizons, que foi lançada também em 2006 e chegou à órbita de Plutão em 2015. A sonda revelou imagens impressionantes do planeta-anão e suas luas: lá tem céu azul, vulcões, montanhas e geleiras; ele também é rochoso, e bem mais parecido com Terra do que os gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno).


"Quando vemos estas estruturas familiares, naturalmente usamos 'planeta' para descrevê-lo. Há um poder psicológico nesta palavra que ajuda as pessoas a entenderem que aquele é um lugar importante do espaço", declarou Stern.

Com estas descobertas, o líder da missão reuniu um grupo que fez uma nova proposta de definição de planeta: "um corpo de massa subestelar que nunca foi submetido à fusão nuclear, e que possui autogravitação suficiente para assumir uma forma esferoidal, independentemente de seus parâmetros orbitais".

Porém, isso implicaria que aproximadamente uma centena de objetos conhecidos seriam elevados à categoria, não apenas planetas-anões, mas também satélites naturais. Todas as luas redondas do Sistema Solar, incluindo a nossa, se tornariam planetas. Isso causaria uma confusão na astronomia e nas escolas.

O debate continua entre a comunidade astronômica internacional, mas, para a tristeza de muitos nostálgicos, é pouco provável que Plutão volte a ser planeta. Só podemos aceitar e nos apegar aos belos 76 anos de reinado, desde sua descoberta.

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