O ex-ministro Juca Ferreira, senhor da cultura no Brasil por longos 8 anos, deu lugar a Ana de Hollanda já passando da hora. Reconhecidamente, ele deixa a herança de um ministério encorpado, com mais presença institucional e orcamentária. Mas deixa, também, um arcabouço fantasmagórico, por dentro do qual se esconde uma estrutura que resiste à mudança de ritmo e que se valia apenas das aparências para vencer seus desafios diários.
Ana de Hollanda vai ter que lidar ainda com outros fantasmas, como podem ser chamados os vários editais lançados no ano passado e para os quais não há orçamento e sequer apoio logístico, parecem ter saídos todos do gogó do ex-ministro, que na ânsia continuista se debruçou demasiadamente na campanha ‘Fica Juca’, que agora deixa suas sequelas para a classe artística arcar.
Outro ‘ponto’ problemático são os vários pontos de cultura espalhados pelo Brasil sem receber a parte que lhes cabe há mais de ano, de dois, de três…
A julgar pelo que se começa a saber depois das portas abertas, somente um choque de gestão, destes diretos de uma Itaipú, é que pode equacionar a demanda ministeriosa desde início de governo Dilma. E ainda assim, será preciso contar com muita criatividade e invenção, não da parte dos artistas, que, como sempre, estão afiados e prontos para ação, mas da equipe ministerial que agora assume. Com o detalhe de que terão que arrumar a casa sem reclamações, sem expor à imprensa os erros domésticos e, sobretudo, sem culpar a gestão anterior, que este governo é continuação daquele. Mas, felizmente, sem direito a repetir os erros, como quer a presidente eleita, para quem “continuar não é repetir”.
Entre os exageros da era de ferro de Juca Ferreira se inclui uma nada discreta perseguição aos seus críticos, chegando às raias das minúcias, destas que sequer vale a pena serem lembradas neste espaço. Também entre seus exageros está a retórica do apoio às culturas populares, enquanto o que se fez na verdade foi o apoio a áreas de interesse regionais e pessoais escolhidas sem os critérios oficialmente ostentados e utilizados simplesmente para criar fachadas e aparências.
Segundo dados apurados pelo CeM, o Ministério da Cultura deu mais dinheiro em um ano para a Cia de Ópera do Neschling (maestro que saiu do governo paulista, onde dirigia a orquestra) do que em todos esses anos via editais ou FNC para a área da cultura popular. Após se contemplado com verba de R$ 12 milhões, Neschling é dos primeiros a abandonar o barco, que vai singrando, espera-se, em águas passadas.
Ao focar seu olhar nos criadores, entende-se que a nova ministra pretende criar uma porta de saída para os agentes culturais que em meio à indigência cultural vieram da era do balconismo pré-Lula e vivem sem muita convicção a era das leis de incentivo e dos editais. A busca desta porta insere-se no esforço governamental equivalente à busca da porta de saída dos programas sociais representados pelo Bolsa Família. O Pac da Miséria é o Pac da indigência cultural. E a nossa porta de saída está na sustentabilidade criativa, que se ainda não sabemos onde fica, ao menos já palmilhamos seu território nas bordas da economia criativa e das indústrias culturais. Que seja muito bem vinda a Ana da hora.
Transmitindo e Comunicando,
Marcelo Arruda
Para o Debate.Como produtor cultural vejo que muito do que foi dito se reflete na Realidade, E refletem no que é feito (ou não é feito) na Base.
Mas sempre coloco um pé atrás com algo que um amigo sempre me falava: "mas este não é o Problema? qual é o problema?"
http://transmitindoecomunicando.blogspot.com/
http://twitter.com/moarruda_
Transmitindo e Comunicando,
Marcelo Arruda
Para o Debate.Como produtor cultural vejo que muito do que foi dito se reflete na Realidade, E refletem no que é feito (ou não é feito) na Base.
Mas sempre coloco um pé atrás com algo que um amigo sempre me falava: "mas este não é o Problema? qual é o problema?"
http://transmitindoecomunicando.blogspot.com/
http://twitter.com/moarruda_
Nenhum comentário:
Postar um comentário